segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

sábado, 27 de dezembro de 2008

XLIV – Acerca de sensação de irrealidade ocorrida na cidade de FRG em 2007 - Não faz sentido - Flashback # 3.

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§ 44







Everyone
Everyone is so near
Everyone has got the fear
It's holding on
It's holding on
(Radiohead, The National Anthem)


Isto é Sansara, o mundo do prazer e do desejo, e, portanto, o mundo do nascimento, da doença, da velhice e da morte: é o mundo que não deveria ser. E isto aqui é a população de Sansara. O que melhor podeis esperar? ( Pensamento budista citado por Arthur Schopenhauer no §156 de Parerga e Paralipomena)


Algum dia de semana do primeiro semestre de 2007. Estava eu trabalhando na Fazenda Rio Grande (FRG), uma cidade na região metropolitana de Cu-ritiba. Quem já esteve lá sabe o quão deprimente é o lugar.

No ônibus, a caminho do trabalho, eu ruminava as seis palavras que eu estabelecera, dias antes, como suficientes para descrever o munícipes daquele lugar: pobreza, ignorância, doença, velhice, sujeira, feiúra.

De repente, fui assolado pela sensação de irrealidade novamente. Mas dessa vez a coisa foi mais intensa. (Em verdade, não passa uma única semana na qual eu não tenha essa sensação pelo menos uma vez; a maior parte das pessoas, saudáveis, passa a vida toda sem sentir isso.)

Eu senti que essa coisa de nascer, morrer, crescer e se reproduzir, que essa coisa de ser um indivíduo, de estar preso em um corpo, eu senti, dizia eu, que nada disso é real. É como se tudo fosse uma farsa, uma ilusão; simplesmente não faz sentido. E quem disse que tem que fazer?

Olhava para as minhas mãos. Embora a manhã estivesse quente e seca, sentia calafrios.

Duan Conrado (à parte): "Eu...eu...existo. Existo?"

Você, leitor, pode imaginar como eu sou um trabalhador produtivo se sou constantemente assolado por esse tipo de perplexidade, que inexiste para a maioria dos mortais.

Hora do almoço. Eu estava de carona com um colega de trabalho (uma insider, é claro), rumo a um dos poucos restaurantes minimamente decente da cidade:

Duan Conrado: "Por que as pessoas morrem?"

Giovan: "O quê?!"

Duan Conrado: "Sabe, esse negócio de nascer e de morrer, não faz sentido."

Giovan: "Eu nunca pensei nisso, Duan." (À parte: "Acorda pra vida, meu deus!!")

Duan Conrado: "Eu sinto que, de alguma forma, tenho que estar acima de tudo isso."

Giovan: "E quem você pensa que é, Neo o Escolhido?" (À parte: "Que falta que uma boceta não faz!")

Duan Conrado:(À parte: "Eu sou um piá de prédio outsider schopenhauriano suicida.") "Realidade...tão...irreal."

Giovan: "Que é real?"

Duan Conrado: "Não sei. Quando souber, juro que lhe digo."

Giovan: "Aguardo ansiosamente."

Ele aguarda até hoje.



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 20 de dezembro de 2008

XLIII – Acerca de “coincidências” falocráticas presentes na iconoclastia religiosa e histórica oficial.

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§ 43






Observe que essas figuras históricas são retratadas de forma bem machista. Ou você acha que as nossas sociedades falocráticas e patriarcais respeitariam-nas se elas fossem mulheres, negras, pobres, doentes, velhas e homossexuais? Aqui no Brasil nós até demos alguma atenção para uma mulher negra e favelada...

Se levarmos em consideração (o que eu sinceramente não recomendo) os “trinta e dois sinais da budidade” apresentados pela dogmática budista (mencionados por P. D. Ouspensky no capítulo XII do livro “Um novo modelo do universo”), verificaremos que Sidarta Gautama era um pós-humano:

1. Uma cabeça e fronte bem formada. [previsível]
2. O cabelo é azul escuro e brilhante. [o loco]
3. A fronte é larga e reta [previsível (2)]
4. Tem um cabelo entre as duas sobrancelhas, voltado para a direita; ele é branco como a neve. [nossa, quanta sutileza]
5. Os cílios são semelhantes aos de um bezerro recém-nascido. [bem delicado o rapaz]
6. Tem olhos azuis escuros brilhantes. [o loco (2)]
7. Tem quarenta dentes, todos uniformes. [ele não é humano]
8. Os dentes são unidos. [mas é claro, tortos que não seriam, não é mesmo?]
9. Os dentes são branco puro. [evidentemente, meu caro Watson]
10. Sua voz é como a de Maha-Brahma. [óbvio ululante, esganiçada é que não podia ser, né Einstein?]
11. Ele tem gosto requintado. [meu deus! alguém teve que lamber, ou chupar, o Buda para descobrir que ele é gostoso? ou estão dizendo que ele é uma pessoas estilosa?]
12. Sua língua é macia e longa [o que fizeram com a língua dele para confirmar que ela é macia?..]
13. Seus maxilares são como os de um leão [ora, por favor, você achou que seriam como os de um cabrito?]
14. Os ombros e os braços são belamente torneados [isso é bastante previsível, ou você achou que ele tem braços finos como os de uma garotinha?]
15. Sete partes do corpo são redondas e cheias [mas é um rapaz ou uma moça? por que sete partes e não seis ou oito?]
16. O espaço entre os ombros é bem dilatado [de novo: ele não seria franzino como uma garotinha, seria?]
17. Sua pele tem cor dourada. [isso é bastante esclarecedor; ele não é branco, mas não é amarelo também, nem mesmo é bronzeado, não: ele é feito de ouro]
18. Seus braços são longos, de modo que quando ele está de pé sem se curvar, suas mãos podem tocar os joelhos. [e como fica o homem vitruviano?]



19. A parte superior do seu corpo é como a de um leão [ora, por favor, me diga algo que eu já não saiba]
20. Se corpo é reto como o de Maha-Brama [corcunda é que ele não poderia ser, né espertalhão?]
21. De cada bolsa de cabelo cresce um único cabelo. [isso é bem sutil...espero que cada fio de cabelo seja verificado ri-go-ro-sa-men-te]
22. Esses cabelos se inclinam para a direita, no alto. [nossa, quanta sutileza (2)]
23. Os órgão do sexo são naturalmente ocultos. [como ele consegue fazer isso? queremos mais detalhes a esse respeito]
24. As barrigas de suas pernas são cheias e roliças. [mas é um rapaz ou é uma moça (2)?]
25. Suas pernas são como as de um cervo. [?!]
26. Seus dedos e artelhos são delgados e de comprimento igual. [definitivamente esse cara não é humano]
27. Seus calcanhares são longos. [que sejam]
28. O dorso de seu pé é alto. [estranho]
29. Os pés são delicados e longos. [que sejam também]
30. Os dedos das mão e dos pés estão cobertos de um epiderme. [isso quer dizer o que? que ele não tem unhas? que ele não tem impressões digitais (que nem o Papai Noel)? ou as duas coisa?]
31. Seus pés são planos e ele fica em pé com firmeza. [ele sofre de pé-chato?]
32. Debaixo das solas de seus pés aparecem rodas brilhantes com mil raios. [essa é foda]

Se essa bobajada estiver certa, então Ram Bahadur Bomjon está muito longe de ser um buda: os vídeos dele nos permitem confirmar que ele não possui nenhuma dessas características (com exceção das de número 11, 12, 21, e 22, que exigiriam “experimentos adicionais” para serem verificadas).

Com relação ao Krishina, o cara é...azul! Outro pós-humano, portanto.




Essa imagem oficial mostra um Krishina particularmente efeminado...Observe também que por ser “colorido” as palmas de suas mãos são brancas, como ocorre com as pessoas “de cor” no “mundo real”. (Já um “crente” repararia primeiramente no fato de que o Krishina está fazendo com a mão um sinal de invocação demoníaca, “provando” assim sua servidão a Satanás...)

Já as imagens de Jesus, cujo físico não é descrito no Novo Testamento (com a exceção da descrição de “um semelhante ao Filho do Homem”, descrito quase tão portentosamente em Apocalipse 1: 13-16 quanto o Buda foi descrito acima), insistem em representá-lo como um homem que tem cabelo comprido, isso apesar de tal coisa ser indecente para as pessoas de época, o que, aliás – pasme amigo! – , é confirmado pela próprio apóstolo Paulo, confira você:

“Julgai entre vós mesmos: é decente que a mulher ore a Deus descoberta? Ou não vos ensina a mesma natureza que é desonra para o varão ter cabelo crescido? Mas ter a mulher cabelo crescido lhe é honroso, por que o cabelo lhe foi dado em lugar de véu. Mas se alguém quiser ser contencioso, nós não temos tal costume, nem as igrejas de Deus.” ( 1° Coríntios, 11: 13-16, ênfases adicionadas)

Quantas conclusões podemos tirar a partir dessa passagem! Todas as igrejas que permitem que as mulheres que insistem em ter cabelo curto orem “diante de Deus” sem véu, ou que permitem que os homens tenham cabelo comprido, ou que representem a figura do próprio Salvador – o próprio deus encarnado – como um homem que usa indecentes cabelos compridos, todas essas igrejas, dizia eu, não são “igrejas de Deus”, logo são igrejas de Lúcifer, pois as “igrejas de Deus” não tem o costume de ter dúvidas quanto ao que é certo ou errado.

Para aqueles que não concordam, cabe recordar:

"Mas, quando vier o que é perfeito, então, o que o é em parte será aniquilado." (1° Coríntios, 13: 10, ênfase no original)

E também:

"Todos aqueles ,pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque escrito está: Maldito aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las." (Galatas, 3:10, ênfase adicionada)

E ainda:

"Porque qualquer que guardar toda a lei e tropecar em um só ponto tornou-se culpado de todos." (Epístola de Tiago, 2: 10, ênfase no original)

O site Espada do Espírito nos fornece um link para o Apocalipse ilustrado. Lá há uma representação artística da “semelhança de Filho do Homem” descrita pelo apóstolo João. Você obviamente não vai ficar surpreso em saber que a figura foi desenhada...com cabelos compridos.

Mas, espere aí, como a Blíblia foi escrita inspirada pelo bom e velho deus (se você ainda não percebeu, eu sempre escrevo "deus" com minúscula de propósito), ela não poderia deixar de ser um conjunto extremamente harmonioso, coerente e mesmo, por que não dizer?, belo, não é mesmo? Senão vejamos:

"Não cortareis o cabelo, arredondando os cantos de vossa cabeça [?], nem danificarás a ponta da tua barba [?]." (Levitico, 19:27)

Esse é mais uns daqueles casos nos quais a Bíblia, na sua pretensão ridícula de tentar controlar todos os pormenores da vida das pessoas, se contradiz. É a cara do velho Jeová, aquele crianção mimado.


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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

XLII – Acerca de mais um exemplo do caos instalado na minha mente.

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§ 42






Eu preciso andar
Um caminho só.
Vou buscar alguém,
Que eu nem sei quem sou.


(Los Hermanos - Primeiro andar)



Há algumas semanas eu estava almoçando antes de ir trabalhar e depois de ficar estudando a manhã toda para uma prova da faculdade. Na hora do almoço eu não conseguia me concentrar em “coisas importantes”, que supostamente seriam aquelas ligadas à faculdade e ao trabalho. Ao contrário, pelo meu cérebro se embaralhavam vários pensamentos difusos e consternadores, enquanto eu observava pelas vidraças do restaurante, não sem surpresas, as pessoas a andar pelas ruas modorrentas de Cu-ritiba.

Os pensamentos estavam confusos e se misturavam e para tentar esclarecer as coisas eu decidi anotar em um pedaço de papel cada uma das coisas nas quais eu estava tentando pensar simultaneamente: Radiohead, Schopenhauer, massacre de Columbine, sexo, homossexualidade, assassinato, UFOs, Protocolos dos Sábios de Sião, ignorância do povo, O Caminho para a Servidão, HAARP, idealidade transcendental do espaço-tempo (kantismo), partículas gêmeas (física quântica), epistemologia, agnosticismo, desilusão, vertigem, e, por fim, absenteísmo.

Tentar pensar em 18 coisas ao mesmo tempo durante um almoço entre os estudos para um prova fútil e uma jornada maçante de trabalho? Isso certamente não deu certo...

Eu já quase aceitei que eu sou um medíocre. Depois será necessário aceitar que o medíocre é alguém digno de existência.


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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 13 de dezembro de 2008

### 13 – Conditionis humanae oblitus.

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Quem vive entre pessoas é seduzido sempre de novo pela hipótese de que a maldade moral e a incapacidade intelectual estão estreitamente vinculadas, na medida em que derivam diretamente de uma raiz única. Que isso não procede, expus detalhadamente no segundo volume de minha obra principal, cap. 19, Nr. 8. Esta aparência, derivada simplesmente do fato de ambas serem freqüentemente encontradas juntas, deve ser explicada totalmente pela ocorrência muito grande de ambas, em conseqüência do que facilmente se conclui que ambas devem residir sobre o mesmo teto. Contudo não há como negar que uma conduz à outra, para proveito recíproco, graças ao que se produz este infeliz fenômeno tal como apresentado por demasiadas pessoas, e o mundo caminha do jeito que o faz. A ausência de entendimento é favorável à revelação clara da falsidade, da baixeza e da maldade; enquanto a esperteza sabe melhor oculta-las. E quantas vezes, por outro lado, a perversidade do coração impede o homem de reconhecer verdades perfeitamente acessíveis a seu entendimento?

(...)

Mas há considerações mais sérias a fazer, e coisas piores a relatar. O homem no fundo é um animal selvagem e terrível. Nós o conhecemos unicamente no estado subjugado e domesticado, denominado civilização: por isso nos assustam as eventuais erupções de sua natureza. Porém, onde e quando a trava e a cadeia da ordem jurídica se rompem, e se instaura a anarquia, se revela o que ele é. Entrementes, quem deseja se esclarecer a respeito também sem uma tal oportunidade, pode colher a comprovação de que o homem não deve crueldade e intransigência a nenhum tigre ou hiena a partir de centenas de relatos antigos e modernos. Um exemplo de importância plena do presente é fornecido pela resposta obtida pela sociedade antiescravista britânica à sua pergunta sobre o tratamento dispensado aos escravos nos Estados escravistas da federação norte-americana, da sociedade antiescravista norte-americana, no ano de 1840: Slavery and the internal Slavetrade in United states of Northamerica: being replies to questions transmitted by the British Antislavery-society to American Antislavery-society! (Londres, 1841, 280 páginas). Este livro constitui uma das acusações mais graves contra a humanidade. Ninguém tirará as mãos do livro sem espanto, poucos sem lágrimas. Pois o que o seu leitor pode jamais ter ouvido ou imaginado sobre a infeliz situação dos escravos, e sobre a dureza e crueza humanas em geral, parecerá irrisório ao ler como aqueles demônios em figura humana, estes patifes religiosos, freqüentadores de igreja e rígidos observadores do sábado, e entre eles inclusive os sacerdotes anglicanos, tratam seus inocentes irmãos negros, que por injustiça e violência caíram em suas garras diabólicas. Este livro, que consiste em relatos secos, porém documentados, revolta todo o sentimento humano em um grau tal que, com o mesmo na mão, poder-se-ia pregar uma cruzada para subjugar e castigar os Estados escravistas da América do Norte. Pois formam uma mancha vergonhosa para toda a humanidade. Um outro exemplo do presente, já que o passado a muitos não mais parece válido, está contido nas Viagens de Tschudi ao Peru,1846 (Tschudi’s reisen in Peru), na descrição do tratamento dado aos soldados peruanos pelos seus oficiais. Contudo não há que buscar os exemplos do Novo Mundo, esta outra face do planeta. Tornou-se conhecido no ano de 1848 que na Inglaterra, não uma vez, mas, em curto espaço de tempo, talvez cem vezes, um cônjuge envenenou o outro, ou ambos em comum os filhos, um após o outro, ou então os levou à morte pela fome e maus tratos, unicamente para receber das sociedades funerárias (burial clubs) os custos do enterro assegurados em caso de morte, para cujo fim haviam registrado uma criança em muitas, até vinte, destas sociedades simultaneamente. Veja-se a este respeito o Times de 20, 22 e 23 de setembro de 1848, jornal que por este motivo insiste na supressão das sociedades funerárias. Repete a mesma acusação com maior veemência no dia 12 de dezembro de 1853.

É claro que relatos deste tipo pertencem às páginas mais negras nas atas criminais da humanidade. Mas a origem disto e de todo similar é a essência interna e inata do homem, deste deus kat’exokhén [por excelência] dos panteístas. Em cada um se aninha inicialmente um egoísmo colossal, a ultrapassar com a maior facilidade os limites impostos pelo direito; tal como se depreende da vida diária, à minuta, e da história, num enfoque mais amplo. Pois já não reside na reconhecida necessidade do equilíbrio europeu tão temerosamente vigiado o fato de o homem ser uma fera, que, tão logo vislumbrando um mais fraco, infalivelmente o ataca? E isto não é cotidianamente confirmado pelas menores coisas? Contudo, ao egoísmo de nossa natureza ainda se alia um estoque existente de ódio, raiva e maldade, reunidos, como o veneno no receptáculo do dente da cobra, aguardando apenas a oportunidade para vir à tona, para então qual demônio libertado bramir com fúria e devastação. Não encontrando nenhum grande motivo, finalmente utilizará o mais ínfimo, ampliado por meio da fantasia.

(...)

Portanto, no coração de cada um repousa efetivamente um animal selvagem, apenas à espera de uma oportunidade para bramir com fúria e devastação, na pretensão de prejudicar outros e mesmo, quando se lhe opõem, de aniquila-los; aqui se origina todo o prazer guerreiro e combatente, e justamente isto, para ser domado e mantido em determinados limites, requer a ocupação integral do conhecimento, seu zeloso acompanhante. Em todo caso, denominemo-lo mal radical, o que servirá ao menos àqueles para quem uma palavra substitui uma explicação. Eu, porém, afirmo: é o querer-viver, que, amargurado mais e mais pelo contínuo sofrimento da existência, procura aliviar seu próprio padecimento causando o dos outros. Mas por este caminho ele lentamente se desenvolve na maldade e crueldade propriamente ditas. Também podemos observar aqui que como, segundo Kant, a matéria existe somente através do antagonismo das forças de expansão e de contração, assim a sociedade humana apenas através daquelas, do ódio, ou da ira, e do medo. Pois a odiosidade de nossa natureza tornaria cada um uma vez em assassino, se não fosse dotado de uma suficiente dose de medo, para restringi-la a limites; e por outro lado, este sozinho o transformaria em motivo de troça e brincadeira por parte de qualquer criança, não mantivesse nele a ira, prontidão e vigília.

A pior feição da natureza humana permanece sendo o deleite pela desgraça alheia, porque estreitamente aparentada à crueldade, se distingue propriamente desta apenas como a teoria da prática, e localizando-se precisamente onde deveria ser o lugar da compaixão, que, como seu oposto, constitui a verdadeira fonte de toda genuína justiça e amor pela humanidade.

(...)

Quando, como feito aqui, enfocamos a maldade humana, e ficamos horrorizados, devemos lançar os olhos à miséria da existência humana; e igualmente, quando esta nos choca, dirijamo-nos àquela: perceberemos que elas se mantêm em equilíbrio, e nos damos conta da justiça eterna, ao notar que o mundo é seu próprio juiz, iniciando por compreender por que tudo que vive deve expiar sua existência, primeiro na vida e depois na morte. Destarte, o malum poenae coincide com a malum culpae. Por este mesmo enfoque também se perde a indignação pela incapacidade intelectual da maioria, que tantas vezes na vida nos causa repugnância. Portanto miseria humana, nequitia humana e stultitia humana se correspondem reciprocamente com perfeição, neste Sansara dos budistas, e são de dimensões idênticas. Por uma motivação especial, encaremos mais de perto uma entre elas, e a examinemos em detalhe; logo parecerá maior do que as outras; mas isto constitui uma ilusão, e simples conseqüência de suas proporções colossais.

Eis Sansara, e tudo em seu interior o anuncia: mais do que tudo, porém, o mundo dos homens, em que moralmente dominam a maldade e a infâmia, intelectualmente a incapacidade e a estupidez, em medidas assustadoras. Contudo nela se apresentam, embora esporadicamente, mas sempre de novo a nos surpreender, manifestações da franqueza, da bondade e mesmo da generosidade, e também do entendimento abrangente, do espírito pensante, e mesmo do gênio. Estas nunca se extinguem completamente: brilham ao nosso encontro quais pontos luminosos isolados da grande massa escura. Devemos tomá-las como garantia de que existe um princípio bom e redentor neste Sansara, que pode atingir o rompimento, e preencher e libertar o todo.

(Arthur Schopenhauer, Parerga e Paralipomena, § 114)

sábado, 6 de dezembro de 2008

###12 - A cacofonia na Torre de Babel: o labirinto sem saída.

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Por que o Frango Atravessou a Estrada?

Disponível em: http://ateus.net/humor/por_que_o_frango_atravessou_a_estrada.php



O que disseram as grandes mentes?


Platão: porque buscava alcançar o bem.

Aristóteles: é da natureza dos frangos cruzar a estrada.

Freud: a preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de insegurança sexual.

Maquiavel: a quem importa o porquê? Estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou para isso.

Marx: o atual estágio das forças produtivas exigia uma nova classe social de frangos, capazes de cruzar a estrada.

Einstein: se o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista. Tudo é relativo.

Sócrates: tudo que sei é que não sei.

Parmênides: o frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. O movimento não existe.

Darwin: ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos têm sido selecionados naturalmente, de modo que, agora, têm uma predisposição genética a cruzar estradas.

Blaise Pascal: quem sabe? O coração do frango tem razões que a própria razão desconhece.

Sartre: trata-se de mera fatalidade. A existência do frango está em sua liberdade de cruzar a estrada.

Nietzsche: ele deseja superar a sua condição de frango, para tornar-se um superfrango.

Richard Dawkins: na verdade são os genes para atravessar a rua que estão de fato atravessando a rua. O frango é apenas uma forma que os genes encontraram para realizar essa tarefa.

Pavlov: porque antes eu tocava uma sineta e oferecia alimento ao frango do outro lado da rua. Agora, após vários experimentos iguais, basta tocar a sineta sem lhe dar alimento que ele a atravessará.

Clarice Lispector: a essência do frango está nas suas patas. As patas têm o frango. Quem vê as patas, vê o frango. A essência das patas é o correr, o correr abstrato. A estrada é a essência do correr. Quem vê o correr, vê a estrada.

Hipócrates: devido a um excesso de humores em seu pâncreas.

Kant: o frango seguiu apenas o imperativo categórico próprio dos frangos. É uma questão de razão prática.

Estóicos: o frango atravessou a estrada porque esse é um acontecimento necessário. É o destino. Já estava previsto pela ordem universal do cosmos.

Epicuristas: é prazeroso ao frango atravessar estradas. O que você acha, amigo?

Filósofos da escola de Frankfurt: é uma questão medíocre imposta pelos mentores de uma arte de massas que transformou a imagem de um frango em mais um produto da indústria cultural.

Filósofos medievais: para responder a tal questão, devemos primeiro deliberar se a expressão “frango” é puro termo esvaziado de sentido ou se a palavra que expressa a idéia genérica e universal de frango, ou ainda se se trata de um frango concreto em particular.

Martin Luther King: Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus motivos.

Schopenhauer: no ato de atravessar, está fugindo de si mesmo numa tentativa de aliviar o tédio e sofrimento que é estar vivo neste mundo sem sentido.

Newton: 1) Frangos em repouso tendem a ficar em repouso; frangos em movimento tendem a cruzar a estrada. 2) por causa da atração gravitacional exercida pelos outros frangos que já estavam do outro lado da estrada.



O que disseram algumas outras mentes...

Agnósticos: é impossível saber se o frango realmente atravessou a estrada. A incerteza há de pairar eternamente sobre esta questão.

Céticos: dizem que ele atravessou, mas será que atravessou mesmo? Precisamos investigar tal questão detidamente antes de fazer qualquer declaração a respeito.

Investigadores forenses: as evidências coletadas no local da travessia indicam fortemente que o frango de fato atravessou a estrada.

Ateus: o frango não atravessou a estrada porque ele não existe. Isso é uma crendice estúpida.

Humberto Gessinger: onde estão as provas? Onde estão os fatos? A travessia era só boato...

Deterministas: o frango não teve escolha. Aliás, nunca terá escolha, o livre-arbítrio não existe.

Parapsicólogos: todos sabemos que ele atravessou a estrada. Entretanto, o frango não o fez com seu corpo material. O fenômeno se deu através de uma bilocação de natureza ectoplasmática possibilitada pelo seu corpo astral que transcende as leis da física. Ele, por desejar intensamente estar do outro lado da estrada, foi capaz de desmaterializar-se e teletransportar-se mentalmente a fim de realizar seu ardente anseio. Pesquisas de cunho científico já provaram que isso é possível. Blá, blá, blá e blá... mais informações em nosso centro de pesquisas www.blablabla.we.lie.

Cristãos: isso é um mistério que somente deus pode responder.

Espíritas: o frango cruzou a estrada porque incorporou um espírito aventureiro.

Evangélicos: porque Jesus o ama.

Jesus: tenha fé em meu pai e ele lhe mostrará a verdade.

Pastores da Igreja Universal: por 10% que eu te conto.

Sabedoria popular: porque o lado de lá é sempre melhor.

Chapolin Colorado: todos os meus movimentos são friamente calculados.

Professora primária: porque queria chegar do outro lado da rua.

Criança: porque sim.

Surfista: o bicho atravessou cara?... que demais... bicho manêro...

Maconheiro: olha isso cara... que viagem...

Fazendeiro: por causa de que arguém deixou a porta do galinheiro aberta.

Feministas: para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá a habilidade suficiente para cruzar a estrada.

Hemingway: to die alone in the rain.

Moisés: porque uma voz vinda do céu bradou ao frango: “cruza a estrada”. Então o frango cruzou a estrada e todos se regozijaram.

Carla Perez: porque queria se juntar aos outros mamíferos!

Lula: o frango estava fugindo porque o governo deixa o povo passar fome. Nossos companheiros fizeram valer o direito que todo cidadão tem de ir atrás da comida!

Silvio Santos: o frango atravessou a estraaaada lombardi... a-aiiii hi hi....





***

Não existe uma verdadeira comunicação entre as pessoas. Cada um está completamente só, e a vida nos devora enquanto tentamos decifrá-la.

XLI - Eles não têm piedade.

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§ 41








(...) Daí resultam resistências que de todos os lados opõem obstáculo a esse esforço, essência íntima de todas as coisas, reduzem-no a um desejo mal satisfeito, sem que, contudo, ele possa abandonar aquilo que constitui todo o seu ser, e o forçam assim a torturar-se, até que o fenômeno desapareça, deixando o seu lugar e a sua matéria imediatamente açambarcados por outros. (Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação, tomo I, §56)


I am up in the clouds
I am up in the clouds
And I can't and I can't Come down.

I can watch but not take part
Where I end and you start
Where you left me alone
You left me alone.


(Radiohead - Where I end and you began)


Eles sempre estão ali,
Em toda parte, à espreita.
Não há paz.
Eles estão me olhando,
Todo o tempo.
A forma é mais importante
Que o conteúdo.

Eles me perseguem.
Atormentam...
...Meu corpo,
Vítima de si mesmo.
Torturado por sua própria cegueira.
Torturado por sua própria presunção.

Eles não têm piedade.
Eles não pedem piedade.


Eu não consigo sonhar.
Ai, se eu pudesse
Eu faria... qualquer coisa.
Se fosse tão fácil assim,
Eu já teria resolvido; mas
Eu fiz tudo o que pude,
E isso não é o bastante.

Somos cúmplices no mesmo crime.
Pagamos por ele todos os dias
Eu posso ver a dor em seus olhos.

Eu trocaria toda a minha vida
Por um único momento, que não virá.

Desperdiçado.
Confundem o que é real.
Sempre se escondendo.

Eles lêem meus pensamentos.
Sabem de tudo.
Deixam-me ver quem eu realmente sou.
Sem que eu consiga entender o que foi
Que eu fiz para merecer isso.
Sem que eu consiga entender como
Tal coisa pode acontecer.

Eu quero esquecer, completamente:
O que eu sei;
O que eu sinto;
O que eu faço;
O que eu sou.

Um dia não haverá mais dor.






***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.