sábado, 26 de junho de 2010

CIX - Acerca de máximas # 4 - outras máximas (e alguns devaneios).


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§ 109





A rigor, cada frase dessas merecia um capítulo de elucidação, apresentação e aprofundamento. Mas eu não tenho tempo para escrever um capítulo para cada uma delas, e imagino que o leitor não teria tempo para lê-los. Então cabe ao leitor a absurda tarefa de interpretar frases soltas, descontextualizadas.



2. Não há garantias.

3. A vida, a priori, não faz sentido nenhum. Os valores não são absolutos e cabe a cada um escolhe-los e se responsabilizar pela escolha.

4. “O estado de dúvida não é muito confortável, mas o de certeza é ridículo.” (Voltaire)

5. “Uma sociedade de filósofos não precisa de religião. Uma de agricultores sim.” (Voltaire).

6. “Quem vê tudo negro e receia sempre o pior, tomando por isso as suas providências, não se enganará tanto quanto quem vive a dar às coisas belo colorido e risonha disposição.” (Schopenhauer, nos Aforismos... Comparar isso com o livro O poder do pensamento positivo)


8. É a cultura, tolinho.

9. “Dos outros, ou seja, de fora, não se deve esperar muito.” (Schopenhauer nos Aforismos...)

10. “A predisposição é a base da decepção humana.” (Quincas Borba em Memórias póstumas de Brás Cubas)

11. O que faz uma criança alegre e esperançosa é a sua ignorância com relação à situação real do mundo, além do ócio em que vive. Isso para não falar na ausência de responsabilidades...

12. A dicotomia natureza/sociedade: se todos são “vítimas” do ponto e vista social, todos são culpados do ponto de vista natural (instintual). É um jogo de espelhos.

13. Ter opinião é uma coisa, ser capaz de viver dela é completamente diferente.

14. “O objetivo da cidade é que os cidadãos vivam bem. ora, viver bem é viver uma vida harmoniosa e bela.” (Aristóteles) (A dificuldade é por isso em prática...)

15. “A vida é apenas uma camada fina de mofo sobre a superfície da Terra” e “uma alteração na ditosa calma do nada” (Schopenhauer).

16. Atrás do pensamento há o desejo e atrás do intelecto há o instinto. A consciência é apenas a superfície da mente.

17. Somente os animais de sangue frio são venenosos. (Schopenhauer nos Aforismos...)

18. O paraíso onde vivem ou viverão (dependendo das crenças de cada um) as almas dos bons é ridículo. Pois sem trabalho, sem procriação, sem sofrimento, sem pecado, sem catarse (catarse de tudo isso mencionado), o que sobrará para preencher a vida (e vida eterna!)? Eis a única coisa que sobra: o louvor a deus! Assim, vive-se para louvar e se louva para agradecer por viver! Isso é suficiente para revelar o egoísmo do suposto criador, e portanto a imoralidade da criação.

19. Tudo que se populariza se vulgariza.

20. Por mais que desejem viver, por mais que lutem pela vida, por mais que anseiem pela existência, é a morte que terá a última palavra, é fim que triunfará. Tudo que começa acaba.

21. Sem profecia o povo se corrompe. “Um animal carnívoro com uma focinheira é tão inofensivo quanto um herbívoro.” (Schopenhauer)

22. “Os números, quando torturados, revelam qualquer coisa.” (Delfin Netto)

23. O desencanto não vem do conhecimento do real, ele vem da trágica dissonância percebida entre o real e um ideal imaginado. ("Não é a pobreza que causa a dor, mas sim a cobiça" Epícteto.)

24. Quando jovens, somos cheios de sonhos e presunções. Acreditamos que somos importantes e que o nosso futuro será brilhante. Mas a maioria de nós terá que se confrontar com a própria mediocridade e insignificância quando chega à idade adulta.

25. “Aquele que não se move, não sente as cadeias que o prendem.” ( Rosa Luxemburgo)


27. “É uma alegria esconder-se, mas um desastre não ser descoberto” (Winnicott)

28. “Dignidade” é um eufemismo para “presunção”.

29. Para mim o adjetivo “humano” tende a ter conotação depreciativa, não elogiosa.

30. Nada na vida, nem a própria vida, vale muito esforço e preocupação. (Schopenhauer nos “Aforismos...”)

31. “O sofrimento não tem fim.” (últimas palavras registradas de Vincent van Gogh)

32. “Toda vida é sofrimento.” (Schopenhauer, no § 56 do tomo I d’”O mundo...”, plagiando a primeira verdade búdica)

33. “O sentimento mais sórdido da humanidade é a esperança.” (Jorge Luis Borges)

34. “A esperança é um urubu pintado de verde.” (Mário Quintana)

35. Um momento efêmero de felicidade elevado imaginariamente à potência temporal infinita forma a projeção utópica do paraíso.

36. O paraíso cristão busca conciliar duas coisas inconciliáveis: o egoísmo e a virtude.

37. Darei aos meus filhos a maior felicidade que pode existir: não nascer.

38. A vulgaridade é uma variável proxy da imoralidade.

39. O princípio da incerteza nos permite imaginar o universo brotando do nada, proveniente de uma flutuação quântica.

40. As oportunidades não são decentemente igualitárias, mas sim vergonhosamente desigualitárias.

41. O Brasil não tem uma pirâmide social, mas sim uma tábua com um prego na ponta.

42. Sou “anormal” e o que eu gostaria de ser é algo mais anormal ainda: não desejo a normalidade.

43. Alguns têm aparência; outros conteúdo; a maioria não tem nenhum dos dois. E raros - raríssimos - possuem ambos.

44. A falta de autocrítica é a estupidez fundamental. Aliás, vale lembrar do bordão filosófico "conhece-te a ti mesmo". Ora, como é possível conhecer-se a si mesmo sem se autocriticar? "A autocrítica da razão é sua mais autêntica moral." (Adorno)

45. O poder corrompe. E o poder absoluto corrompe absolutamente.

46. Quem está no poder sempre procura mais poder.

47. Os princípios são alienáveis. Alguns se vendem por menos que outros, mas todos têm o seu preço.

48. O medo paralisa a mente, tornando-a dócil e sem exigências.

49. A afirmação de que, do ponto de vista do indivíduo enquanto objeto de estudo, a vida é uma complexificação da gratificação sexual é uma inflexão da afirmação de que, do ponto de vista da vida em geral como objeto de estudo, a vida é um desdobramento contínuo da atividade cuja finalidade é sua própria auto-replicação. Afirmar que os homens fazem tudo, em última instância, para impressionar um mulheres é mera corruptela dessas duas afirmações anteriores.

50. O ódio se assemelha ao amor, pois em ambos o outro é caracterizado como um “destino pulsional”, em ambos há “investimento de libido”, em ambos o outro existe para nós de alguma maneira. Mas na indiferença o outro simplesmente não existe, e é essa ausência de investimento libidinal que trás paz de espírito. Na indiferença, o outro está apenas de passagem (isso quando não atrapalha).

51. Eu já não tenho esperança alguma em nada. Isso pode parecer ruim, mas com o tempo eu percebi que ter esperança é justamente o problema e não a solução. A ausência de esperança significa que eu me libertei do “investimento libidinal” e que alcancei um indiferença estóica, na qual nada pode abalar a minha ataraxia. (Bem...pelo menos é nesse estado que eu pretendo um dia chegar.)

52. Foi o não me importar (com os outros, com o mundo, com o meu passado, com o meu futuro) que fez o meu ódio diminuir e me deu alguma paz de espírito.

53. Não há absolutamente nada que você tenha que você não possa perder. Por isso, é bom não se agarrar muito às coisas.

54. Em oposição à concepção midiática que diz “saúde e paz, o resto a gente corre atrás”, eu, seguindo as recomendações de Schopenhauer (nos "Afororismos..."), considero a saúde e a paz de espírito como fins em si mesmos, e, portanto, como objetivos a serem alcançados, e não como algo que esperá-se receber de fora (de deus, da vida, do destino, da sorte, ou seja lá de quem for).

55. As pessoas geralmente só aprendem a mudar suas atitudes quando sofrem as conseqüências delas. Outras simplesmente não aprendem nunca.

56. As pessoas tendem a achar que os problemas são específicos (o chefe delas, a empresa em que trabalham, o Brasil), quando eles são gerais (todo o capitalismo global, a própria existência humana).

57. A reificação/coisificação/alienação/fetichização não é apenas uma característica que acompanha a relação capitalista, mas sim todas as formas de poder.

58. Quanto menos você precisar depender dos outros e quanto menos tiver que confiar neles, melhor.

59. “Se deus pode acabar com o mal mas não quer, é monstruoso; se quer, mas não pode, é incapaz; se não pode nem quer, é impotente e cruel; se pode e quer, por que não o faz?” (Epicuro)

60. As pessoas criam convicções para poderem se posicionar e agir, pois não conseguiriam fazê-lo guiadas exclusivamente por uma pura racionalidade indiferente.

61. Mas as pessoas também criam convicções para poderem formar um mínimo de consistência interna (individualidade, personalidade) diante da polissemia angustiante do mundo. Sem essa consistência mínima seria impossível manter um processo psíquico individual.

62. A pressa com a qual as pessoas formam seus discursos de mundo, suas convicções, seu real e seu ideal, está associada, também, à vontade de poder: mesmo que seja um conhecimento ilusório, ele traz a ilusão do poder, satisfazendo assim a vontade de poder ao forjar uma vitória do princípio de prazer sobre o princípio de realidade.

63. Toda palavra esconde afetos e julgamentos.


65. Mostrar a realidade tal como é, e não tal como a apresentam os discursos hegemônicos de legitimação do poder, constitui a subversão mais genuína.

66. Duas palavras que eu não costumo usar: interessante e estranho. Por que algo é "interessante"? Por que algo é "estranho"? As pessoas tendem a esconder conteúdos recalcados (crenças irracionias, convicções, preconceitos, dogmas) atrás dessas palavras e seus sinônimos, cujo uso para mim é testemunha da ausência da prática da autocrítica (ver máxima 44).

67. Absolutamente TUDO pode ser questionado e destruído por uma crítica radical e iconoclasta. Todos os aspectos da sociedade podem ser revistos. Não há dogmas ou verdades eternas. O senso crítico pode nos levar além de todos os limites.

68. Uma expressão que eu não costumo usar: "tem que". Por que "teria que"? Novamente, essa expressão esconde conteúdos recalcados, não questionados pelo individuo. Quando alguém diz que algo ou alguém "tem que" ser assim ou se comportar de certa maneira, esse alguém está é enunciando as suas próprias crenças, dogmas, desejos, ideais: fala do outro, mas na verdade está falando de si mesmo.

69. Nada é garantido, e a única garantia é que tudo está condenado à destruição (ou, de maneira mais eufemística: tudo é efêmero).

70. Quanto mais você estuda qualquer assunto (da filosofia à farmacologia, passando pela economia) você descobre que as "pessoas comuns" vivem num mundo ilusório, e que elas tomam as suas decisões de vida com base em referenciais falsos.

71. Uma das poucas convicções que eu tenho, e que é a oposta da maioria das pessoas, é que a realidade, seja lá o que for, não é de forma alguma simples, óbvia, evidente, clara, mas sim o oposto de tudo isso (ver máximas 60 a 62). Se o intelecto pretende, algum dia, decifrar os segredos da realidade ele precisa abandonar o sonho de fazê-lo por meio de argumentos lineares e conceitos simples e bem definidos.

72. As regras são feitas para serem quebradas. Proibido é outro nome para desejado. Todo tabu pede para ser transgredido, todo limite pede para ser ultrapassado, todo ídolo pede para ser derribado, todas as fronteiras pedem para serem abolidas, toda ordem pede para ser transformada em caos.

73. A obscenidade de algumas verdades é insuportável. [“Alguns atos são baixos demais para receberem um nome. Baixos demais para serem discutidos.” (o protagonista anônimo do conto Guts, Chuck Palahniuk )]

74. Uma grande dificuldade para alguém que busca estender imparcialmente um conflito ideológico é que, diferentemente do que pode parecer inicialmente (a partir de um pressuposto ingênuo calcado no princípio do terceiro excluído e no fetichismo da razão), a verdade está o tempo todo imiscuída à mentira, a informação está permanentemente misturada à desinformação, de tal forma que é impossível separar fato de argumento.

75. As pessoas reclamam do "falso-moralismo", quase nunca do "moralismo", o que significa que elas acreditam que existe um "verdadeiro-moralismo" (digite "moralismo" na pesquisa de comunidades do Orkut e comprove que todas as comunidades criticam o tal do "falso-moralismo", mas nenhuma critica o "moralismo").


77. Todos têm suas próprias razões.

78. Acho um ato de extrema arrogância (narcisismo ingênuo) se auto-classificar como uma "pessoa boa", "pessoa/cidadão de bem". Mais arrogante ainda porque esse ato classifica automaticamente o outro de "mal". Os cristãos e moralistas de plantão esqueceram dos ensinamentos de Jesus de amar ao próximo e de não julgá-lo?

79. Para legitimar-se, o poder precisa oferecer benefícios aos seus súditos, nem que esses sejam mais ilusórios do que verdadeiros.

80. Não há garantia alguma de que exista, a priori, uma forma de equacionar todas as contradições da vida humana de forma a otimizar a existência e emancipar a humanidade.

81. Se no passado eu tentava calar o meu utopismo afirmando que "vim ao mundo a passeio, e não a trabalho", agora eu até aceito que ele se manifeste, com a condição que esteja condicionado a um pragmatismo, o qual afirma que eu não vou me sacrificar por nenhum ideal e apenas vou participar das "lutas emancipatórias" até o limite no qual elas são-me prazerosas (satisfazem ao meu hedonismo): se essa minha cooperação não for suficiente, somente me resta lamentar.

82. "Os limites de minha linguagem são os limites do meu mundo", Wittgenstein. Comparar com a máxima 71. O que eu estou defendendo é a complexificação da linguagem e dos esquemas de raciocínio, pois o simplismo não dá conta de entender e decifrar a realidade.

83. Se você acha que eu escrevo de forma cifrada (como já me acusaram), então vá estudar os conceitos por mim utilizados, pois esse blog não é um livro didático. Se você não quer estudar, então não leia o que eu escrevo. Aliás, eu escrevo esse blog para mim mesmo, e não para você, para organizar o meu discurso de mundo.

84. Minha vida, e, principalmente, a minha juventude, acabam a cada minuto. Cada minuto perdido - e eu perco tempo demais - é irrecuperável.


86. "Uma vida feliz é impossível: o máximo que o homem pode atingir é um curso de vida heróico." (A. Schopenhauer, Parerga e Paralipomena, cap. XIV - Contribuições à doutrina da afirmação e da negação do querer-viver, § 172)

87. Mudar é divertido. Por que viver apenas uma vida quando se pode viver várias?

88. "Quando me canso das minhas expressões, maneirismos e aparência, dispo-me delas e visto uma nova personalidade." (David Bowie)

89. Defendo a complexificação do pensamento, mesmo sabendo que ela implica numa redução da nossa capacidade de formar convicções e, portanto, identidades.

90. Primeiro viver, depois filosofar.


92. A vida é uma roleta-russa permanente.

93. "Há aqueles que vivem nas trevas, enquanto outros vivem na luz. Somente podem ser vistos os que vivem na luz." (Bertolt Brecht)

94. Eu quero respostas (para falar a verdade, só recentemente eu percebi, não sem surpresa, que isso não é prioridade na vida das outras pessoas). E o mundo inteiro não é suficiente para mim.

95. Loucura ou suicídio (ou ambos): eis meu destino.

96. "A vida é o pânico num teatro sem chamas." (Sartre)

97. "Há de provar o adágio de que, montado o mendigo, fará o cavalo galopar até morrer." (Shakespeare - Henrique VI)

98. "E, afinal, o que é este ideal da sociedade moderna senão o mais antigo sonho dos necessitados e pobres, que pode ser encantador enquanto sonho, mas que se transforma em felicidade ilusória quando realizado?" (Hanna Arendt - A condição humana)

99. "Ouse, ouse fazer e o poder ser-lhe-á dado." (Goethe)

100. "Mais luz." (palavras finais de Goethe)

101. O político de "direita" é aquele que defende os interesses da acumulação de capital, em detrimento do resto. O de "esquerda", se opõe à acumulação capitalista, ou a relega à subserviência de outras prioridades (p.ex.: "o direito de propriedade não deve se sobrepor ao direito à vida"). O político "conservador" quer que tudo esteja como está - o que incluí manter as atuais relações de exploração e dominação. Mas um político de direita pode ser um reformador e, nesse, sentido, não é um conservador; porém, as reformas vaticinadas pelo político de direita visam a atender os interesses da acumulação de capital e, portanto, da classe capitalista - como essa classe já está no poder, o político de direita é, nesse sentido, um conservador. Já o "reacionário" é aquele que quer um retorno ao passado, às vezes mesmo à teocracia da Idade Média (por exemplo: http://www.orkut.com.br/Main#Community?cmm=727901). O reacionário não é exatamente um conservador, já que defende uma transformação, um retorno a um passado idealizado. Porém o reacionário geralmente afirma que o que ele quer é justamente conservar certos valores que estão se perdendo - nesse sentido, ele é um conservador. O reacionário geralmente é de direita, mas há reacionários de esquerda: aqueles de defendem um retorno a uma vida tribal, ou mesmo ao comunismo primitivo, esses indivíduos geralmente são prosélitos de comunidades alternativas e do "retorno à natureza".

102. A mediocridade é meu passado; caos é meu presente; a decadência é meu futuro. Com todo vapor ao colapso! Eu vou transpor todos os limites, embriagar-me no caos da existência, até não sobrar mais - nada.

103. "A psicanálise é um delírio à espera de uma ciência." (Freud)

104. "Sempre que você tolerar a mediocridade alheia, a sua própria aumentará." (John Mason - Derrotando um inimigo chamado Mediocridade)

105. "Ninguém pode pois escrever sem tomar apaixonadamente partido (qualquer que seja o distanciamento aparente de sua mensagem) sobre tudo o que vai bem ou vai mal no mundo; as infelicidades e as felicidades humanas, o que elas despertam em nós, indignações, julgamentos, aceitações, sonhos, desejos, angústias, tudo isso é a matéria única dos signos, mas esse poder que nos parece primeiramente inexprimível, de tal forma é primeiro, esse poder é imediatamente apenas o nomeado." (Barthes, Crítica e Verdade)

106. Jesus: - "Eu para isso nasci e para isso vim ao mundo, a fim de dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade ouve a minha voz." Pilatos: - "Que é verdade?". Jesus não respondeu. (Ver Evangelho segundo S. João, 18: 37-38, e comparar ainda com o dito no cap. 8:32: "E conhecereis a verdade, e a verdade voz libertará.")

107. "Duvidar de tudo ou acreditar em tudo são duas soluções igualmente cômodas: ambas nos dispensam do trabalho de pensar."( Jules Henri Poincaré)

108. "Onde está a saída para tudo isso? E há uma saída? Devemos reconhecer o fato de que ninguém sabe. Só há uma coisa certa, e é que nenhum dos caminhos oferecidos à humanidade por seus amigos e benfeitores é, em nenhum sentido, uma saída. A vida está se tornando cada vez mais intrincada e complicada, mas mesmo nessa confusão e complicação, ela não assume nenhuma forma nova, mas repete interminávelmente as mesmas velhas formas." (Escrito em 1934 por P. D. Ouspenski e publicado no capítulo XI – O Eterno retorno e as Leis de Manu – do livro Um novo modelo do Universo.)

109. "Existem apenas duas coisas infinitas - o universo e a estupidez humana. E não tenho tanta certeza quanto ao universo." (Einstein)

110. "As teorias de conspiração não podem, é claro, ser aceitas como “fato”. Entretanto, não devem ser reduzidas ao fenômeno da moderna histeria das massas. Tal noção ainda apela para o “grande Outro”, o modelo de percepção “normal” da realidade social compartilhada, não levando em conta que é justamente essa noção de realidade que está sendo minada hoje em dia. O problema não é que ufólogos e os teóricos de conspiração regridem a uma atitude paranóica incapaz de aceitar a realidade (social) – o problema, sim, é que essa própria realidade está se tornando paranóica." (Slavoj Zizek na parte O grande Outro não existe do ensaio Matrix: ou os dois lados da perversão no livro Matrix: Bem-vindo ao deserto do real)

111. "A lucidez é um luxo que nem todos se podem permitir." (José Saramago)

112. "Não penseis que [eu Jesus] vim trazer paz à terra; não vim trazer paz, mas espada." (Evangelho segundo S. Matheus 10:34)

113. "Ouço a ruína de todo espaço, de vidro quebrado e de paredes que caem, e o tempo, uma lívida flama final." (James Joyce)

114. O mundo é dos predadores.

115. É sempre bom ter opções. E quem tem?

116. Viajar pelo mundo colecionando lembranças é uma forma de se apropriar da realidade - é um exercício da vontade de poder. Um outro exercício da mesma vontade é ao qual eu me dediquei nos últimos anos (e que estou em vias de abandonar por perceber a sua vacuidade): o estudo e acúmulo de supostas descrições da realidade contidas em livros científicos e filosóficos.

117. O poço não tem fundo; a luz no fim do túnel é um incêndio.

118. "É tarde demais. Sempre foi. E sempre será." (Doutor Manhattan)

119. "Não há esperança de sobrevivência humana sem homens dispostos a dizer o que acontece, e que acontece porque é." (Hannah Arendt, Entre o passado e o futuro)

120. Às vezes desistir é a única solução.

121. Não espere pelo julgamento final, ele ocorre todo dia! (Camus, A queda)

122. Ser imparcial diante de uma relação assimétrica de poder é apoiar implicitamente o lado mais forte.

123. "Não existem fatos, somente interpretações." (Nietzsche)

124. É uma guerra.

125. Isso não tem fim.

126. O dia de hoje foi realmente necessário?

127. Quem sou eu para julgar?

128. Por que a pressa se não vais a lugar nenhum?

129. E que diferença faz se tudo já foi perdido mesmo?

130. De fome é improvável que eu morra.

131. Mas se morrer, morri. Morrer não é nenhuma tragédia. Existem coisas bem piores que a morte.

132. É compreensível.

133. Isso é passado. Pare de viver no passado.

134. "Poucos sabem pensar, mas todos querem ter opinião."[e ainda querem ter razão!] (Berkeley)

135. "De nada serve partir das coisas boas de sempre, mas sim das coisas novas e ruins." (Bertolt Brecht)

136. "Inventar, deve-se admitir humildemente, não consiste em criar algo do nada, mas sim do caos." (Mary Shelley, Frankstein)

137. "Devemos ser a mudança que queremos ver no mundo." (Mahatma Ghandi)

138. É um alívio se livrar de compromissos e responsabilidades. Idem para ser indiferente e sem afeição.

139. Prefiro acreditar na humanidade do que acreditar em deus.

140. Ninguém é obrigado a não ser imbecil. A estupidez é um direito.

141. "Ah, meu caro, para quem está só, sem Deus, nem qualquer senhor, o peso dos dias é pavoroso." (Camus)

142. "Temos de mergulhar na experiência e depois refletir sobre o significado dela. Só refletir leva-nos à loucura; só mergulhar, sem reflexão, torna-nos brutos." (Goethe)

143. "Quem compreende que o mundo e a verdade sobre o mundo são radicalmente humanos, está preparado para conceber que não existe um mundo-em-si, mas muitos mundos humanos, de acordo com as atitudes ou pontos de vista do sujeito existente." (W. Luijpen)

144. "Quem se arrepende erra duas vezes." (Spinoza?)

145. "A crença é a morte da inteligência." (Robert Anton Wilson, no Prefácio à nova edição d' O gatilho cósmico: O derradeiro segredo dos Illuminati)

146. "A realidade é sempre plural e mutável" (Idem)

147. "De repente os olhos são palavras". (Pablo Neruda)

148. "Um mapa não é o território." (Alfred Korzybski)

149. "O cardápio não é a refeição." (Alan Watts)

150. "O universo é um borrão gigante de Rorschach" (Idem)




151. "Vocês riem de mim por eu ser diferente. Eu rio de vocês por vocês serem todos iguais." (Bob Marley)

152. Deus?? Quem é o rapaz que eu não conheço?

153. Ter disciplina é ter respeito por si mesmo.

154. "Tão importante quanto falar a verdade é saber calá-la." (Baltasar Gracián, A arte da prudência, cap. CLXXXI)

155. Todo mestre já foi um desastre.

156. Pior do que saber-se mortal é saber-se infeliz até a morte, sem escapatória para lugar algum.

157. "A insistência é o nosso esforço, a desistência é o prêmio. A este só se chega quando se experimentou o poder de construir, e, apesar do gosto de poder, prefere-se a desistência. A desistência tem que ser uma escolha. Desistir é a escolha mais sagrada de uma vida. Desistir é o verdadeiro instante humano." (Clarice Linspector)

158. O vazio não é a ausência de algo que nunca existiu e que se busca encontrar- mas sim o espaço deixado por algo existia, que se perdeu e que se busca de alguma forma reencontrar.

159. "O que é, exatamente por ser tal como é, não vai ficar tal como está." (Bertolt Brecht)

160. Prefiro encarar o centro do psiquismo como sendo a vontade de poder, da qual a sexualidade é apenas uma das manifestações.

161. Ter poder é ter liberdade para fazer o que quiser. Essa liberdade - numa vida em sociedade na qual há divisão do trabalho - passa pelo controle sobre a vida alheia (para coagir os outros a satisfazer a vontade do detentor do poder).

162. "Sim, a 'anormalidade' que encaramos é um signo defensivo, algo que pretende evitar-nos uma loucura mil vezes mais dolorosa do que a que conhecemos, loucura que, certamente, causaria a bancarrota e a falência fisiológica de nosso ser." (Ezio Flavio Bazzo, Toaletes e guilhotinas: Uma epistemologia da merda e da vingança, II)

163. O lugar comum-comum que afirma que "a mentira tem perna curta" é, ele mesmo, uma longeva mentira.

164. "Não percamos tempo com discursos vazios. Façamos alguma coisa, enquanto há chance! Não é todo dia que precisam de nós. Ainda que, a bem da verdade, não seja exatamente de nós. Outros cuidariam tão bem do assunto, senão melhor. O apelo que ouvimos se dirige antes a toda humanidade. Mas neste lugar, e nesse momento, a humanidade somos nós, quer nos agrade ou não. Aproveitemos, antes que seja tarde. Representemos dignamente, pelo menos uma única vez, a espécie a que o destino nos meteu." (Vladimir, em Esperando Godot, de Samuel Beckett.)

165. Como seria possível acabar com a escassez se o desejo é infinito?

166. "Tudo no que você acredita o aprisiona." (Robert Anton Wilson, no capítulo Os horrores começam do livro O gatilho cósmico: O derradeiro segredo dos Illuminati)

167. "Uma das lições mais tristes da história é a seguinte: se formos enganados por muito tempo, a nossa tendência é rejeitar qualquer evidência do logro. Já não nos interessa descobrir a verdade. O engano nos aprisionou. " (Carl Sagan, O mundo assombrado pelos demônios).

168. "O mito é um modo de pensar que parte do princípio de que, se não se pode compreender tudo, não se pode explicar coisa alguma." (Claude Lévi-Strauss)

169. Com a solidificação das crenças em nosso psiquismo, elas vão se confundindo com nossa própria identidade pessoal e passamos a defendê-las instintivamente e a nos recusar a questioná-las: nesse ponto a autocrítica torna-se dolorosa - e muitos preferem o comodismo da estagnação e do previsibilidade.

170. "Explicar - explicare - é despojar a realidade das aparências que a envolvem como véus a fim de que se possa vê-la nua face a face." (Pierre Duhem) [A pergunta evidente (para mim) que essa afirmação implica é: "e que é realidade?" A pergunta seguinte (ou anterior...) é "e o que é ser?", o que nos leva a Heidegger.]

171. "Um homem não pode se tornar criança sem se tornar pueril." (Marx)

172. "A miséria religiosa é, à uma, expressão da miséria real e protesto contra a miséria real. A religião é o suspiro da criatura aflita; é o sentimento de um mundo sem coração e o espírito de condições nada espirituais. É o ópio do povo." (Marx, na Introdução da Contribuição para a crítica à filosofia do direito de Hegel)

173. "A razão não é apenas unilateral; pelo contrário, é atribuição essencial sua a de tornar unilateral o mundo, tarefa grande e digna de admiração. Pois é unicamente a unilateralidade que constitui o peculiar, arrancando-o da gosma anorgânica do Todo. O caráter das coisas é um produto do entendimento. Todo objeto deve isolar-se e ser isolado para ser algo. Fixando todo conteúdo do mundo numa determinação firme, como que petrificando a essência fluida, o entendimento dá origem à multiplicidade do mundo, pois o mundo não seria múltiplo sem as muitas unilateralidades." (Marx, Debates sobre a lei dos furtos de madeira)

174. "Somente uma teoria revolucionária cria uma prática revolucionária." (Lenin)

175. "Toda maioria é burra." (Nelson Rodrigues)

176. "Sejamos realistas, exijamos o impossível." (Maio francês de 1968)

177. "Não sei como será a vindoura guerra nuclear, só sei que a guerra seguinte será realizada com paus e pedras." (A. Einstein)

178. Com as redes sociais (web 2.0), houve um aumento da fragmentação e da reificação que caracterizam a pós-modernidade.

179. A internet não aumentou a estupidez - apenas deu maior voz a ela. Todavia, é preocupante o papel que o excesso de informações fragmentadas, reificadas e irrelevantes possa ter na formação intelectual da juventude. Mas, talvez, (sendo otimista), haja (pelo menos para os usuários mais bem instruídos e orientados) a passagem da quantidade para a qualidade e a saturação de informação se transforme em formação.

180. "Se você não fizer hoje o que hoje pode ser feito e tentar fazer hoje o que hoje não pode ser feito, dificilmente fará amanhã o que hoje deixou de fazer." (Paulo Freire)

181. "Ninguém educa ninguém, como tampouco ninguém se educa a si mesmo: os homens se educam em comunhão, mediatizados pelo mundo." (Idem)

182. "É a utopia que impede o absurdo de tomar conta da História." (Leonardo Boff)


184. "Vivi tão pouco que tendo a imaginar que não morrerei. Parece inverossímil que uma vida humana se reduza a tão pouco. A gente imagina, apesar de tudo, que algo, cedo ou tarde, acontecerá. Profundo engano. Uma vida pode ser muito bem, ao mesmo tempo, vazia e curta. Os dias passam pobres, sem deixar nem lembranças; depois, de um golpe, acabam." (O protagonista sem nome do livro Extensão do Domínio da Luta, de Michel Houllebecq)

185. "Às vezes, também, tenho a impressão de que conseguirei me instalar duradouramente numa vida ausente. Que o tédio, relativamente indolor, me deixará continuar a realizar os gestos corriqueiros da vida. Novo engano. O tédio prolongado não é uma posição sustentável. Transforma-se, cedo ou tarde, em percepções nitidamente mais dolorosas, de uma dor positiva. É exatamente o que está acontecendo comigo." (Idem)

186. "Na realidade, aquilo que permite ao leitor consumir o mito inocentemente é o fato de ele não ver no mito um sistema semiológico, mas sim um sistema indutivo: onde existe apenas uma equivalência, ele vê uma espécie de processo causal: o significante e o significado mantêm, para ele, relações naturais. Pode-se exprimir-se esta confusão de um outro modo: todo o sistema semiológico é um sistema de valores; ora, o consumidor do mito considera a significação como um sistema de fatos: o mito é lido como um sistema fatual, quando é apenas um sistema semiológico." (Barthes, Mitologias)

187. "A incapacidade de imaginar o Outro é um dos traços constantes de toda mitologia pequeno-burguesa. A alteridade é o conceito mais desagradável ao 'bom senso'" (Idem)

188. "Só continuo a viver pois posso morrer quando quiser. Se não fosse pela idéia de suicídio, eu já teria me matado há muito tempo." (Cioran)

189. "Sem antagonismo não há progresso." (Marx, Miséria da filosofia, cap. I) Sem contradição não há dialética.

190. "A percepção final é sempre verbal ou simbólica e, portanto, codificada na 'estrutura' preexistente de quaisquer linguagens ou sistemas que tenham sido ensinados ao cérebro. O processo não é um reação linear, é uma transação sinérgica. Esse produto final é uma 'construção neurossemântica', um tipo de metáfora." (Robert Anton Wilson, A nova inquisição - Racionalismo irracional e a fortaleza da ciência)

191. "Nada é permanente, senão a mudança." (Heráclito)

192. "Conforme adquirimos mais conhecimento, as coisas não se tornam mais compreensíveis, mas, sim, mais misteriosas." (Albert Schweistzer) (O que Nietzsche chamaria de "perplexidades do intelecto". O aprofundamento no processo de racionalização gera uma apartação do objeto estudado - e do mundo em geral - e, portanto, um progressivo estranhamento.)

193. "Nenhum problema pode ser resolvido pelo mesmo estado de consciência que o criou. É preciso ir mais longe. Eu penso 99 vezes e nada descubro. Deixo de pensar, mergulho num grande silêncio e a verdade me é revelada." (Einstein) [Puro ocultismo...E por que se dar ao trabalho de pensar 99 vezes em vão antes de mergulhar no silêncio?]

194. "A verdadeira descoberta não consiste em procurar novas paisagens, mas em possuir novos olhos." (Marcel Proust) [Eu acho o turismo a maior perda de tempo possível...Não acredito, por exemplo, que alguém consiga se dar ao luxo de perder seu tempo vindo visitar as "atrações turísticas" de Curitiba. Uma Ópera de Arame aqui, um Jardim Botânico ali, francamente né...]

195. "Tudo que nos irrita nos outros pode conduzir-nos para a compreensão de nós mesmos." (Jung)

196. "O homem é o único ser que se recusa a ser o que é." (Camus, O rebelde)

197. "A humildade é o último degrau para a sabedoria." (Sêneca)

198. "A alma é um luxo." (Gurdjieff)

199. Com exceção do "insider modelo" (WASP), todos são vítimas da repressão da alteridade, a qual todos acabam, com suas discriminações, alimentando. O maconheiro critica o gay, o gay critica o daimista, o daimista critica o gay e o maconheiro, etc. A falta do exercício da tolerância e compaixão pode ser fatal: "Primeiro [os nazistas] vieram buscar os judeus e eu não me incomodei, porque não era judeu. Depois levaram os comunistas e eu também não me importei, pois não era comunista. Levaram os liberais e também encolhi os ombros. Nunca fui liberal. Em seguida os católicos, mas eu era protestante. Quando vieram me buscar, já não havia ninguém para me defender." (Martin Niemoller)

200. "O homem tem um apetite quase infinito por distrações" [por fugir de si mesmo]. (Aldous Huxley) [Isso é uma característica da natureza humana? Ou as pessoas buscam escapismos justamente porque estão inseridas em um sistema opressivo?]

201. "O que sente em mim está pensando." (Fernando Pessoa)

202. O poder se exerce pelo segredo, pelo ocultamento, pela mentira, pela omissão, pela conspiração, pelo estelionato, pela fraude, pelas informações assimétricas, pela esperança, pelo medo e, finalmente, pela força bruta.

203. A vida é um jogo cujas principais regras permanecem ocultas à maioria das pessoas, as quais, assim, movem-se no tabuleiro com base em referenciais falso, reificados. Descobrir e exercitar essas regras (mantendo-as convenientemente ocultas): eis o caminho do poder: o monopólio das verdades ocultas.

204. A parte boa de se especializar em algo é que se tem a sensação de ser sábio, pois realmente se domina uma pequena área do conhecimento. A parte ruim é que esse real domínio tem como custo abdicar do conhecimento superficial de uma série de assuntos, o que pode denegrir a convicção que se é sábio.

205. Para a maioria das pessoas e em geral, a busca por status não é preterida pela busca por conforto. O principal motivo pelo qual as pessoas buscam ampliar sua riqueza material é para aumentar o seu status, e não o seu conforto. O modelo do homo economicus somente é minimamente realista se essa preferência do status em detrimento do conforto for levada em consideração e incluída no mapa de indiferença do indivíduo, o que geralmente não ocorre pois isso não se encaixa com o conceito de racionalidade hipostasiado pelos economistas marginalistas autistas.

206. A constatação de que o amor (Eros) é fruto da vontade de poder não é suficiente para destituí-lo do status de ser uma experiência de vida válida (inclusive como afrodisíaco), embora seja suficiente para derrubar a pretensão dos românticos de transformá-lo no centro ontológico humano. Querer apelar para a acusação de que o amor é um egoísmo disfarçado na tentativa de assim deslegitimá-lo como experiência válida de vida é apelar para o modelo moral romântico e castrador do egoísmo herdado do cristianismo, modelo justamente esse criticado (e com razão) pelo racionalismo autista como sendo ingênuo e alienado da natureza.

207. No Ocidente o inimigo máximo de todas as alteridades é o patriarcalismo monoteísta fundamentalista, cujo epítome é o judaísmo do Velho Testamento e seu demiurgo Jeová. Com o cristianismo o discurso de ódio universalizou-se (abandonou o sectarismo judaico) disfarçado de fraternidade universal e de filosofia grega (plagiou a utopia e o idealismo platônicos e o naturalismo aristotélico).
O fundamentalismo religioso é incompatível com a alteridade em particular e com o multiculturalismo em geral. É impossível haver fraternidade e empatia universais juntamente à presença do fundamentalismo religioso – o qual, portanto, deve ser eliminado. Trata-se de uma doença da qual a humanidade precisa se curar se pretende progredir.

208. A pior inovação de todos os tempos é o conceito de inferno. A segunda pior é o conceito de pecado. E a melhor é... o capitalismo (o que não significa que não possa, e não deva, surgir algo melhor). Desculpe-me.

209. The Matrix Reloaded é melhor do que The Matrix. Desculpe-me de novo.

210. "Do rio que tudo arrasta se diz que é violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem." (Bertolt Brecht)

211. Ao mesmo tempo em que o higienismo aumenta a duração (quantidade de tempo) e a qualidade da vida do corpo, afasta-o de sua condição natural de sujidade e convivência tranqüila com seus próprios fluídos e dejetos. A civilização instaura uma contradição entre afirmação e negação do corpo – rumo à transcendência ou à aniquilação?

212. Estou pronto para morrer. E para viver, estou?

213. Não existem pessoas tímidas. Existem pessoas intimidadas.

214. E se a tragédia for descobrir que não há nada a ser descoberto?

215. Quanto mais eu me afasto do cristianismo menos infeliz eu fico.

216. "Um sim quer dizer um sim; um não quer dizer um sim também." (Freud, não lembro onde) Que adianta dizer não com as palavras quando os atos dizem sim?

217. "Se funciona, aleluia!" (Vendedora de vibradores em um sex shop)

218. "Eu não caibo mais no vazio no qual existo." (pichação de banheiro)


219. "O real é aquilo que resiste." (Lacan? Poderia ser Schopenhauer)

220. Eu já perdi a minha vida mesmo. Doravante o que vier (incluindo a morte) é lucro.

221. Para pessoas analíticas como eu, a vida é, antes de mais nada, um problema a ser resolvido.


222. A questão não é abandonar os discursos de mundo, mas sim não se esquecer de que eles são apenas modelos interpretativos.

223. "A nossa cidadania depende diretamente da nossa capacidade de indignação. Esta, por sua vez, só se concretiza a partir do exercício permanente da perplexidade." (Helena Greco)

224. Como suportar a vida? Como carregar o fardo de existir? Como aprender a viver uma vida sem redenção num mundo em desintegração? O desafio é aprender a viver uma vida sem redenção possível.

225. "O sentido da vida é acabar." (Agente Smith)

226. No pensamento conservador a afirmação da vida se confunde com a afirmação do establishment.

227. "Aos outros, as nossas tragédias são de uma profunda banalidade." (Oscar Wilde)

228. Engraçado como a vida vai desbotando. A vida já perdeu a graça há muito tempo.

229. Às vezes eu consigo perceber que existe um mundo lá fora do meu ego... Ainda há esperança para a humanidade.

230. Primeiro eles lhe ignoram, depois lhe atacam, depois você vence. (Gandi)

231. A pior coisa que fiz na vida foi nascer; a melhor, não ter filhos.

232. Quando eu era adolescente, eu queria engolir o mundo inteiro, submeter tudo aos meus auspícios. Quando fui crescendo fui descobrindo a verdade inevitável: que eu já fui engolido e submetido há muito tempo.

233. Andei meses preocupado em lutar para não perder a minha juventude. Foi então que eu notei que já a perdi.

234. Para os que estão no topo as regras são diferentes.

235. A pós-modernidade é marcada por uma exteriorização de conteúdos interiorizados. Ao tornar tudo explícito há um esvaziamento da esfera do íntimo,e, portanto, uma impossibilidade de se estabelecer uma intimidade.

236. A "fidelidade a princípios" dos microeconomistas é uma racionalização (já que o homo economicus é um zumbi autista) da empatia e do superego, assim como o "interesse próprio" é uma racionalização do princípio do prazer. Não dá para levar a sério a capacidade de análise psicológica dos microenconomistas, por mais que ela seja um avanço em relação ao senso comum.

237. Reclamar é confessar que se acredita na possibilidade de melhoria.

238. "Que tudo se foda, ela disse/ E ela se fodeu toda" (Paulo Leminski)

239. A adulticidade (qualidade de ser adulto de fato, e não mera maioridade jurídica) quase sempre chega tarde demais, e muitas vezes não chega nunca (adultos infantilizados, homens sérios, inautênticos, kidults, hikikomoris, etc.).

240. Nada é simples. A complexidade se esconde atrás de cada aparente simplicidade.

241. "Se uma lei é injusta, o homem não somente tem o direito de desobedecê-la, ele tem a obrigação de fazê-lo." (Thomas Jefferson)

242. "Não me pergunte mais qual é o meu programa: respirar não é um?" (Cioran)

243. O desejo se alimenta da esperança de que ele será em algum momento realizado.

244. Viver não é fácil, mas morrer também não é.

245. "A comunicação da nossa alteridade é o caminho que nosso ser adota em vida." (Christopher Bollas)

246. As pessoas escolhem, mas não escolhem os contextos que determinam suas escolhas. Servo-arbítrio.

247. As frases de efeito não são descrições de fatos externos, mas sim de fatos internos, não da objetividade do mundo, mas da objetividade emocional interna do falante, da sua subjetividade.

248. Somente o fundamentalista é coerente com a religião que pratica, pois todas as religiões são criadas e mantidas por fundamentalista. O religioso não fundamentalista é um hipócrita.

249. E quem sabe a solução não esteja num daqueles livros de auto-ajuda vendidos no supermercado?

250. "Como são admiráveis as pessoas que nós não conhecemos muito bem." (Millôr Fernandes)

251. O satanismo é a forma mais infantil de se opor à opressão cristã.

252. Querer acabar com as religiões é tão utópico quanto querer acabar com o Estado, com a moral ou com o poder em geral.

253. A moral não vem da religião, mas sim da própria natureza humana - da empatia e da compaixão.

254. Se deus existe e nos deu livre-arbítrio, a única forma de honrar essa liberdade é deixando a humanidade em paz e abandonada à própria sorte.

255. Há pessoas inteligentes em todas as escolas ideológicas. Chamar os seus adversários ideológicos de burros e alegar que a razão e a verdade estão do seu lado é pueril e previsível. Se a razão fosse suficiente para se chegar à verdade, não haveria tanta diversidade ideológica. Se a lógica, sozinha, fosse suficiente para se chegar à verdade, os lógicos não só seriam as pessoas mais sábias do mundo (ao invés de serem meros técnicos especialistas, como os pianistas ou os neurocirurgiões) como também deveriam chegar a um amplo acordo ideológico. Na guerra ideológica, a razão e a lógica são meras ferramentas argumentativas utilizadas para defender crenças essencialmente irracionais.

256. O argumento do "gene gay" (crença de que a homossexualidade seja determinada por um ou mais genes) é usado pelo movimento gay, por muitos esquerdistas, e também pelos biologistas do comportamento humano (os quais, afinal, acham que todas a ciências sociais devem estar sujeitadas à biologia) como argumento em favor da afirmação de que a homossexualidade não é uma escolha consciente do indivíduo. (Trata-se de uma falsa dicotomia, pois a possibilidade de a homossexualidade não ser genética não implica que ela seja uma escolha livre e desembaraçada do indivíduo, pois existem outras formas de determinações psicológicas que não somente as genéticas. Além disso, o fato de não ser uma escolha nada tem a ver com o fato da legitimidade ou não dos direitos LGBT, afinal esses direitos poderiam ser exigidos mesmo que se tratasse de uma escolha inconsequente do indivíduo, pois a vida é dele e ele faz o que bem entender com ela.)  O que o movimento gay em geral não percebe é que o gene gay é um cavalo de Troia. Caso ele fosse descoberto (e eu duvido que seja), imediatamente estaria aberta a possibilidade de suprimi-lo da população humana. Nesse caso veríamos, numa inversão política surpreendente, os conservadores e direitistas defenderem a engenharia genética humana, a seleção de embriões e, quem sabe, até o aborto (afinal seria contraproducente generalizar a prática da fertilização in vitro só por causa disso) com o fim de eliminar a herança genética homossexual da sociedade. A situação seria bizarra: o aborto, para os conservadores, continuaria sendo inaceitável em todos os outros casos, inclusive em caso de estupro, de gravidez de risco, de anecefalia, ou de doenças genéticas graves e incapacitantes, mas seria aceito no caso da "abominável" homossexualidade - a sociedade, para esses conservadores, pode, e deve, por ordem divina, tolerar pessoas inválidas permanentes, mas não deve tolerar a homossexualidade (ou o ateísmo).

257. Será que as verdades científicas podem ser manipuladas pela política e pela economia? Tudo indica que sim, pelo menos durante alguns anos ou décadas. Teóricos da conspiração alegam, por exemplo, que o HIV não causa AIDS, que vacinas fazem mal à saúde, que mensagens subliminares funcionam, e que o aquecimento global não é causado pela atividade humana e que a fluoretação da água faz mal à saúde e é inútil como profilaxia contra cáries. Segundo eles, os supostos consensos científicos em tornos dessas questões são na verdades impostos por interesses políticos e econômicos. Cientistas que se opõem ao consenso imposto perdem fontes de financiamento de suas pesquisas e acesso à publicação de artigos nas principais revistas científicas - são relegados ao ostracismo e em alguns casos podem até ser assassinados. Os casos históricos do darwinismo social, da eugenia e do lyssenkismo também parecem indicar a existência, sim, de um poderio, mesmo que limitado, da política e da economia sobre a ciência.

258. Existem tantas formas diferentes da civilização tecnológica e de alta entropia contemporânea colapsar (choque de meteoro, aquecimento global, era do gelo, colapso ecológico, explosão de supervulções, supertempestade solar, explosão de uma hipernova, pandemia mortal, fim de recursos naturais não renováveis, como o petróleo, 3ª Guerra Mundial, 6ª extinção,  etc.) que é difícil acreditar que, abandonada à própria sorte (sem deus ou extraterrestres para protegê-la), ela sobreviverá ao século XXI. Como a natureza foi devastada (impedindo assim o restabelecimento de uma vida baseada na coleta e na caça) e como as técnicas pré-industriais de agricultura e confecção de ferramentas e de roupas foram perdidas (impedindo assim um retorno ao feudalismo, à barbárie ou a pré-história), o colapso da civilização contemporânea provavelmente implicaria na extinção da espécie humana, com a exceção das supostas tribos indígenas que atualmente ainda vivem na floresta amazônica sem contato com o resto da humanidade.

259. A história do misticismo (religiões, esoterismo e ocultismo) parece nos revelar que a imaginação e a fantasia são características mais importantes do que a racionalidade para a constituição psicológica do homo sapiens. A história do misticismo é marcada por supostos contatos de certas pessoas bem-aventuradas com seres sobrenaturais (deuses, anjos, demônios, seres hiperdimensionais, ultraterrestres, espíritos desencarnados, extraterrestres, elementais, etc.). Ocorre que na maioria esmagadora dos casos o conteúdo científico revelado por esses seres está em restrito acordo com o senso comum científico da época (como por exemplo os espíritos que falavam repetidamente a Allan Kardec sobre o "éter universal", hipótese científica corrente no século XIX, mas que foi descartada no século XX), o que parece confirmar que esse supostos seres não passam de invenções da imaginação e do delírio dos indivíduos que foram contatados - caso os seres realmente fossem originados de uma realidade superior à humana, seria de se esperar que eles tivessem um conhecimento mais avançado e que portanto pudessem apontar os erros do zeitgeist científico; por exemplo, os ditos espíritos poderiam ter revelado à Kardec que a hipótese do éter universal estava errada, ao invés de estupidamente recorrerem a ela para fundamentar a cosmologia do mundo dos espíritos. A única exceção a essa regra histórica, em que esses seres fizeram revelações científicas que não poderiam ser acessíveis aos contatados e que só foram confirmadas milênios mais tarde, são alguns poucos casos relatados pelos defensores das teorias dos astronautas antigos, como Robert Temple, Zecharia Sitchin e Erich von Daniken.

260. Sugestões para uma reconfiguração conceitual no âmbito da sexologia e do estudo do erotismo.

A tarefa primária da investigação científica é classificar os fenômenos estudados. A correta definição do fenômeno é essencial para o seu estudo científico apurado. Muitas controvérsias científicas não passam de controvérsias semânticas.
Pois bem, no que diz respeito à sexologia e ao estudo do erotismo percebo que os conceitos básicos estão muito mal definidos, e por isso sugiro uma reconfiguração.
Primeiramente o próprio termo “erotismo” está equivocado e deveria ser substituído por “erotidade”. O sufixo “–ismo” é usado para referir-se a ideologias, e o sufixo “–dade” para se referir a condições. Assim, o estudo do erotismo seria o estudo do movimento ideológico de justificação e promoção da erotidade, a qual diz respeito à condição erótica.
Se a “História da sexualidade” fosse publicada hoje em dia, o termo mais correto seria “História da erotidade”. Já a “sexologia”, que na verdade não estuda a sexualidade mas sim a erotidade, deveria ser rebatizada de “erotologia”.
A erotidade divide-se em duas condições diferentes: a afetividade, que diz respeito à atração psicológica (o amor) e a sexualidade, que diz respeito à atração sexual (o sexo). Uma pessoa pode amar outra mas não sentir tesão por ela, assim como pode desejá-la sexualmente sem amá-la. Um relacionamento monogâmico fechado só pode durar se há tanto afetividade quanto sexualidade. Se um dos parceiros, ou ambos, possui necessidades sexuais não satisfeitas pelo relacionamento, o qual inicialmente está fundado na afetividade (amor), então o relacionamento só pode durar se se transformar em aberto, isto é, se um dos parceiros, ou os dois, consentirem que o outro satisfaça as suas necessidades sexuais adicionais fora do relacionamento. Se não há afetividade, então não há um relacionamento, mas sim uma sexo casual ou amizade colorida.
Então, no caso do que comumente se designa de “heterossexualidade”, a terminologia correta seria “heteroeroditade”, a qual está dividida em “heteroafetividade” e, agora sim, em “heterossexualidade”. No que diz respeito ao que comumente é designado por amizade, isto é, os relacionamentos que não são centrados no erotismo, deve-se usar o sufixo “–filia”. Assim, a maioria dos heteroerotidas é homofílica, isto é, a maioria das pessoas que possui erotidade direcionada ao sexo oposto possui mais amigos do mesmo sexo do que do sexo oposto.


261. Em defesa do policasamento.

O policasamento é uma consequência da polierotidade, a qual vem a ser o fenômeno no qual as pessoas não orientam seu erotismo para uma única pessoa, mas podem orientá-lo para duas ou mais pessoas. O caso clássico de polierotismo é a poligamia, e o seu inverso é a poliandria. Mas também existe a polierotidade bissexual.
Porque os polissexuais não podem ter os seus relacionamentos reconhecidos juridicamente? Se um homem – para citar um exemplo drástico – deseja ter quinze esposas e dois esposos e se todas as dezoito pessoas envolvida são adultas e estão consentindo livremente nessas relação, porque o Estado deveria negar-lhes o reconhecimento?

262. A pedoerotidade na Igreja Católica.

A maioria dos atos de pedossexualidade praticados por clérigos da Igreja Católica não é motivada por pedoerotidade, mas é praticada por indivíduos que, não sendo pedoerotidas, recorrem à pedossexualidade como forma pragmática de contornar o celibato. Esses indivíduos fazem sexo com crianças não porque estejam atraídos afetiva e/ou sexualmente por elas, mas porque é mais difícil de serem pegos cometendo essa infração, uma vez que se fizessem sexo com adultos poderiam ser chantageados, ou poderiam gerar filhos. Trata-se, nesses casos, de um mero raciocínio utilitarista de minimização dos riscos: uma vez que se deseja penetrar (quebrando assim o voto de castidade) é mais seguro fazê-lo com crianças do que com adultos – a lógica é “melhor transar com uma criança do que não transar com ninguém”. De forma análoga, atos homossexuais, ou zoossexuais, podem ser protagonizados por alguns heterossexuais que recorrem à homossexualidade, ou à zoossexualidade, como sucedâneo da heterossexualidade que esteja indisponível no momento – “melhor transar com essa bicha ou com essa cabra do que não transar com ninguém”, é o que passa pela cabeça de alguns heterossexuais.
Voltando aos clérigos celibatários, nos casos em que realmente há pedoerotidade, analogamente é possível imaginar que o erotismo, inicialmente dirigido a adultos, degenera, em função da repressão sexual representada pelo celibato e em função do mesmo pragmatismo já mencionado, à pedoerotidade.
Alguns alegam que a profissão de clérigo atrairia naturalmente os pedoerotidas, uma vez que esses indivíduos, por reprimirem, e com razão, a sua pedoerotidade acabam se identificando com a moral sexual religiosa, a qual é reconhecidamente repressiva, e com – adivinhe? – o celibato. Concordo que isso ocorre em alguns dos casos mas não acho que seja na maioria deles.
Portanto, os atos de pedossexualidade praticados por clérigos da Igreja Católica são, em sua maioria, causados pela instituição totalmente antinatural do celibato.

263. Democracia é quando a maioria ratifica nas eleições os interesses da elite. Quando os interesse do povão ganham as eleições, não temos democracia, mas sim populismo...

264. Os emaranhamentos quânticos implicam na não-localidade e, portanto, na revalidação do tempo universal newtoniano?

265. Tanto a direita quanto a esquerda falam que defendem a "liberdade", mas  na verdade ambas levam à servidão e à supressão da dignidade humana.

266. “A utopia [e a religião...] não tem obrigação de apresentar resultados; sua única função é permitir aos seus adeptos a condenação do que existe em nome daquilo que não existe.” (Jean-François Revel)

267. Tudo é uma gigantesca fraude.

268. "O maior castigo para quem não gosta de política é ser governado pelos que gostam." (Arnold Toynbee)

269. Você não precisa mentir para ofender os outros, porque a verdade ofende mais do que a mentira.

270. "O ódio é o prazer mais duradouro; / os homens amam com pressa, mas odeiam com calma." (Byron)

271. "A recordação da felicidade já não é felicidade; /a recordação da dor ainda é dor." (idem)

272. Toda realidade é virtual.

273. A profundidade sem a futilidade é inútil.

274. A vida é o melhor videogame.

275. A vida é uma sucessão de operações burocráticas.

276. "Honestidade é um presente caro. Não espere isso de pessoas baratas." (Warren Buffet)

277. "Faz-se necessário calçar de veludo a mão de ferro" (Bernadotte)

278. Um colega de trabalho meu reclamou sobre uma atividade que estava fazendo: "Isso é uma perda de tempo". Eu pensei: "Toda a sua vida é uma perda de tempo"

279. "I have become comfortably numb." (Pink Floyd)

280. Toda biologia é química; toda química é física; toda física é cibernética; toda cibernética é lógica; toda logica é matemática; toda matemática é semiótica. Só que não, honey.

281. Nascemos cópias, mas alguns de nós morrem originais.

282. Ninguém me conhece melhor do que os algoritmos do Google e do Facebook.

283. "Eu não vou mais correr/ Nada é pra valer" (Moptop, Desapego)

284. Tudo é para valer.

285. O cúmulo da arrogância é fingir-se de humilde - mas fingir tão bem que os outros de fato acreditem que você o é.

286. O mundo é mais interessante dentro da minha cabeça.

287. Nunca haverá tempo para dizer tudo. Nunca será tarde para ouvir o silêncio.

288. A história de nossas vidas é a história do sucesso do fracasso. Para cada pessoa que 'venceu na vida' usando o 'poder do pensamento positivo' e escreveu um livro de autoajuda sobre há milhares de pessoas que usaram o mesmo poder e fracassaram. Mas a história é contada pelos vencedores.

289. As luzes fluorescentes e os designs arrojados não são capazes de esconder os fatos de que voce é um escravo, a humanidade fracassou e esse mundo já está condenado.

290. "Tenho visto as pessoas tornarem-se frequentemente neuróticas quando se contentam com respostas erradas ou inadequadas para as questões da vida. Elas buscam posição, casamento, reputação sucesso externo ou dinheiro, e continuam infelizes e neuróticas mesmo depois de terem alcançado aquilo que tinham buscado. Essas pessoas encontram-se  em geral confinadas a horizontes espirituais muito limitados. Sua vida não tem conteúdo ou significado suficientes. Se tiverem condições para ampliar e desenvolver personalidades mais abrangentes, sua neurose costuma desaparecer." (Jung)

291. Tudo está enredado em uma teia cósmica de infinito amor.

292. De tanto obedecermos, adquirimos reflexos de submissão.

293. A estrutura patriarcal irá colapsar. A humanidade está morrendo; o patriarcado fracassou.

294. Se Deus odeia os gays, por que os faz tão fofos?

295. A mentalidade da maioria das pessoas está impregnada pela cultura do pecado, da culpa e do castigo. A justiça é interpretada não nos termos dos Direitos Humanos, mas sim nos do Código de Hamurabi. A pena não é vista como uma medida de desincentivo ao dolo, mas como vingança (apenas é feita "justiça" se o sofrimento causado for pago em montante equivalente). Permanece hegemônica a mentalidade judaica sadomasoquista que diz q os pecados só podem ser perdoados com derramamento de sangue. Geralmente só se é pródigo em perdoar a si mesmo.

296. Mesmo que você agrida, sei que erra também quem revida. Esqueça o Código de Hamurami para racionalizar seu mal-caratismo. O amor é a "nova" lei. Um erro não justifica outro. Sofrer não lhe dá o direito de fazer sofrer.

297. "It's too late. Always has been, always will be. Too late." (Dr. Manhattan)

298. Todos os livros de autoajuda não irão esconder a realidade gritante e incontornável do nosso fracasso. A história de nossas vidas é a história do sucesso do fracasso.

299.  Para ser objetivo é necessário não perder de vista as subjetividades.

300. Tudo é sobre mim, o outro só está de passagem, isso quando não atrapalha.

301. "Um ser possuído por uma crença e que não procurasse comunicá-la aos outros é um fenômeno estranho à terra, onde a obsessão de salvação torna a vida irrespirável. Olhe à sua volta: por toda parte larvas que pregam; cada instituição traz uma missão; as prefeituras têm seu absoluto como os templos; a administração, com seus regulamentos -- metafísica para uso de macacos... Todos se esforçam para remediar a vida de todos; aspiram a isso até os mendigos, inclusive os incuráveis: as calçadas do mundo e os hospitais transbordam de reformadores. A ânsia de tornar-se fonte de acontecimentos atua sobre cada um como uma desordem mental ou uma maldição intencional. A sociedade é um inferno de salvadores! O que Diógenes buscava com sua lanterna era um indiferente." (Cioran, Breviário da Decomposição)

302. “O urbanismo é a tomada do meio ambiente natural e humano pelo capitalismo que, ao desenvolver-se em sua lógica de dominação absoluta, refaz a totalidade do espaço como seu próprio cenário.” (Guy Debord, A sociedade do espetáculo)

303. Para mim toda a polêmica em torno dos gays em geral e dos afeminados em particular gira em torno da questão do ser passivo no sexo anal e, portanto, se colocar na posição da mulher, a qual, sob uma ótica machista e patriarcal, é inferior.  Basicamente é isso. Basta só ver a obsessão que Bolsonaros da vida têm com o sexo anal, como os caras "100% héteros" precisam reafirmar repetidamente que nunca deram ou darão o cu. E agora ainda tem esses "g0ys", que por não darem o cu acham que não são gays... Já em relação ao "ser afeminado", eu vejo basicamente duas causas: 1. nos casos em que o sujeito entende que precisa ser afeminado porque essa é a única forma de se afirmar e se aceitar, o que acontece justamente quando o sujeito introjeta o discurso machista vigente que afirma que ele não é homem e sim mulher, ou um "terceiro sexo", logo só desmunhecando geral para se aceitar e impor a aceitação para essa sociedade; esses são os casos das "bichas locas, PAM, PCO, etc.". E, 2., nos casos em que o sujeito simplesmente não precisa, por ser gay, seguir a signagem da masculinidade hétero e, por isso, acaba infringindo-a, não para afrontá-la em busca de uma autoafirmação, mas porque não está nem aí para ela.

304. "Não há despertar de consciências sem dor. As pessoas farão de tudo, chegando aos limites do absurdo, para evitar enfrentar a sua própria alma. Ninguém se torna iluminado por imaginar figuras de luz, mas sim por tornar consciente a escuridão." (Jung)

305. O prego que se destaca é martelado.

306. "Somos sempre um pouco menos que que pensávamos. Raramente, um pouco mais." (Cecília Meireles)

307. "Justo a mim me coube ser eu mesmo." (Mafalda do Quino?)



308.  "A Vida só é possível reinventada." (Idem)

309. "A posse do conhecimento não mata o senso de espanto e de mistério. Há sempre mais mistério." (Annais Nin)

310. "Você não pode salvar as pessoas. Apenas pode amá-las." (Idem)

311. Lendo "A invenção da heterossexualidade" (Jonathan Ned Katz) me ocorreu que "homossexualismo" seria uma palavra mais adequada do que "homossexualidade", justamente por fazer referência a um comportamento (tipo "vegetarianismo") e não a uma identidade. O problema é que "homossexualidade" é a forma politicamente correta na atualidade, por ser ratificada, junto com a noção de identidade sexual, pelo movimento LGBT. A identidade foi instrumentalizada pelo discurso mainstream da legitimação do homoerotismo porque apela para o fatalismo dentro de um contexto aristotélico vulgar de "opção x nascer assim"

312. A minha opinião é a de que, se vivêssemos em um mundo no qual o panorama ideológico hegemônico excluísse o machismo (que reprime as práticas homossexuais masculinas principalmente por causa do papel “inferior” (entendido como feminino) do homossexual quando passivo no sexo anal – aliás, basta ver como Bolsonaros da vida praticamente reduzem a homossexualidade ao sexo anal, e falam de dar o cu o tempo todo – e que reprime as práticas homossexuais femininas por elas excluírem o pênis e o homem – ao ponto de ensejar a prática do "estupro corretivo" como mais uma ocasião na qual o homem ratifica sua superioridade sobre o corpo e a vida da mulher – ; note-se que é o machismo que leva à heteronormatividade: uma sexualidade sem penetração ou na qual o homem é penetrado fere a hierarquia de gênero e portanto só pode ser lida como desviante) e excluísse também a noção de identidade sexual (que obriga a todos a se identificarem como hetero, homo ou, na mais radical das hipóteses, bissexuais (e muita gente, hetero ou homo, duvida da existência de bissexuais) - vivemos em um mundo de "orientação sexual identitária obrigatória"), a maioria das pessoas teria um comportamento que seria descrito - com o aparelho conceitual que usamos atualmente - como bissexual. Mas é claro que na medida em que essa fosse a forma hegemônica de exercer a sexualidade, a ideia de que a maioria das pessoas é bissexual seria substituída pela ideia de sexualidade polimórfica - que diz que as pessoas se atraem por outras pessoas de acordo com características que não passam pelo crivo apriorístico do sexo biológico e do gênero. Ou seja, por mais que possam existir marcadores biológicos que facilitem que certas pessoas a expressem majoritariamente ou mesmo apenas um comportamento heterossexual e outras um homossexual, penso que as principais determinações da questão não estão no domínio da Biologia, mas sim da Sociologia e da Psicologia. Certos determinantes biológicos que facilitem o desejo homossexual podem ou não resultar em comportamento homossexual a se depender de questões culturais/ideológicas e psicológicas/idiossincráticas. Mesmo a genética reconhece a epigenética.
Quanto à repressão ou não repressão, ela são possíveis pouco importando a causa que se atribui ao comportamento homossexual: se fosse encontrada uma causa estritamente biológica, haveria um tratamento/cura/reversão estritamente biológico. Por outro lado, se houvesse um consenso de que o papel de marcadores biológicos é baixo ou insignificante, haveria toda uma repressão cultural no sentido de tentar anular as fontes comportamentais do homoerotismo. Ou seja, reprimir ou não reprimir é um posicionamento que está para além da etiologia da questão.
Uma repressão extremamente forte poderia até eliminar boa parte da expressão, mas não teria condições de eliminar todo o desejo e o imaginário homoeróticos.
(Mais sobre essa questão em: https://devir.wordpress.com/2009/11/30/biologismo-gay-michel-foucault-e-a-questao-da-identidade-homossexual/#_ftn2)

313. "Eu sou o abismo." (Duan Conrado Castro, completando o "arco do personagem")

314. "Estamos sempre correndo o risco de sermos completos imbecis." (PC Siqueira)

315. "Sob esse exterior meio idiota ele esconde um débil mental completo." (Millor)

316. "Às vezes é melhor ficar calado e deixar as pessoas desconfiarem que talvez você seja um idiota do que abrir a boca e acabar de vez com a dúvida." (Abraham Lincoln)

317. "Por que chorar por fatos da vida quando toda ela é motivo de lágrimas?" (Sêneca)

318. "A vida vale a pena quando você torce para que ela não acabar." (Clóvis de Barros Filho)

319. Quanto ao anarcocapitalismo – lixo ideológico promovido pelo Instituto Mises e cia – tenho a dizer o seguinte: é um acinte, é simplesmente a coisa mais ridícula e patética que existe no panorama ideológico hodierno. Os adeptos do anarcocapitalismo – idiotas úteis – , em histeria coletiva alimentada por sua própria psicopatia, estultice e ignorância cínica, têm a petulância, a temeridade e a desfaçatez de vomitar a promoção de uma flagrante distopia suicida (e de uma indigência ontológica escandalosa) como sendo a panaceia para a condição humana e a alternativa estrutural para o estertor da atual civilização em crise final. O anarcocapitalismo reflete o desespero da classe mérdia fascista diante dos escombros de uma realidade sem horizontes e moribunda, exaurida pela bancarrota econômica e biosférica causada pelo despotismo pantagruélico do capital que a tudo reifica e a tudo esmaga sob as engrenagens grotescas de seu maquinismo monstruoso. Estão tão presos ao delírio do deus-capital que atribuem pateticamente ao verdadeiro destruidor desse mundo o papel de salvá-lo da ruína causada por ele próprio.

320. Pontos sobre a querela marxismo x anarcocapitalismo:
O projeto de sociedade do marxismo, assim como o do anarquismo esquerdista (o "anarquismo verdadeiro"), é o total oposto do anarcocapitalismo. Para o marxismo, suprimir o Estado é UM MEIO para suprimir o capitalismo e, assim, a "exploração do homem pelo homem". Para o anarcocapitalismo, suprimir o Estado é UM FIM para aprofundar ainda mais o capitalismo (e, assim, aumentar ainda mais a exploração dos humanos pelos humanos).
O anarcocapitalismo não tem nenhum compromisso em diminuir o sofrimento seja de quem for que não da burguesia, a mesma burguesia à qual o marxismo se opõe (Marx escreveu "O Capital", e não "O Estado", e chamou o Estado de "comitê geral dos interesses da burguesia"). O compromisso do anarcocapitalismo com alívio do sofrimento humano e com o fim da exploração dos humanos pelos humanos é nulo, ao ponto de anarcocapitalistas defenderem a escravidão e todo tipo de barbárie em nome "da liberdade" (isto é, da liberdade total do capital e da burguesia).
De um ponto de vista marxista, esse ideal smithano que alimenta a utopia liberal não se sustenta: o capital entregue a si mesmo (sem um Estado para refreá-lo) leva ao monopólio e à ruína do sistema econômico. O estado estrutural-histórico no qual o ideal smithano foi elaborado não corresponde mais ao estado hodierno do capitalismo, protagonizado pelo capital fictício corporocrata. Os discursos liberais, porém, insistem em se estruturar de maneira ahistórica, apriorística e axiomática, caindo em clássico erro racionalista-positivista de acreditar que eliminando a dimensão histórica da realidade pode-se assim melhor compreendê-la.
A mesma natureza humana corruptível usada por alguns para deduzir a necessidade de um Estado mínimo (ou mesmo nulo) foi usada já no século XVII por Hobbes para deduzir a necessidade da existência do Estado para evitar a exploração  total e cruenta dos humanos pelos humanos e o colapso do sistema social rumo à barbárie.
Por sua pobreza ontológica, o anarcocapitalismo, se fosse colocado em prática, logo ruiria (o mundo viraria uma espécie de cyber-feudalismo-corporocrata).
Do ponto de vista marxista, alguém que não é bilionário e defende o anarcocapitalismo é alguém que vive num estado de completa alienação a respeito do que é a sociedade em que vivemos.
Todos os países que defendem o ideal liberal passaram a fazê-lo apenas após atingirem um papel estrutural dentro da economia mundial; antes de atingirem esse papel, todos esses países exerceram rígidas políticas de protecionismo, intervenção estatal, e também, em sua maioria, exploração colonial. Em vez de olhar-se apenas para o PIB e o IDH dos países atuais e assim inferir que o liberalismo é a melhor deontologia econômica (novamente caindo em típico vício positivista), faz-se necessário - novamente - analisar a estrutura atual da divisão social internacional do trabalho, bem como fazer uma retrospectiva histórica da construção dessa estrutura. Somente assim ter-se-á uma noção clara do papel da ideologia e da prática liberais na economia.

321."A vida é uma doença: sexualmente transmissível, e invariavelmente fatal." (Niel Gaiman)

322. "O mundo social é um imenso reservatório de violência que se revela ao encontrar as condições de sua realização." (Pierre Bourdieu)

323. Se as pessoas precisam ser manipuladas para tomarem decisões contra seus próprios interesses, é porque elas possuem um poder real que precisa ser persuadido para que elas ratifiquem cotidianamente o sistema de dominação no qual vivem. Se as pessoas fossem totalmente impotentes, não seriam manipuladas.

324. "A verdade só pode ser tolerada se descoberta conta própria." (Fritz Perls)

325. "O sofrimento deixa de ser sofrimento quando ganha sentido." (Viktor Frankl)

326. "Somos o que fazemos, mas somos, principalmente, o que fazemos para mudar o que somos." (Eduardo Galeano)

327. “O que é necessário explicar não é que o faminto roube ou que o explorado entre em greve, mas porque razão a maioria dos famintos não rouba e a maioria dos explorados não entra em greve.” (Wilhelm Reich)

328. "O desejo nunca é uma energia pulsional indiferenciada, mas resulta ele próprio de uma montagem elaborada, de um engineering de altas interações: toda uma segmentaridade flexível que trata de energias moleculares e determina eventualmente o desejo de já ser fascista. As organizações de esquerda não são as últimas a secretar seus microfascismos. É muito fácil ser antifascista no nível molar, sem ver o fascista que nós mesmos somos, que entretemos e nutrimos, que estimamos com moléculas pessoais e coletivas" (Deleuze/Guattari)

329. "O adulto é um adolescente mutilado". (O protagonista anônimo de "Extensão do domínio da luta", de Michel Houellebecq)

330. "Objetividade é a ilusão de que as observações podem ser efetuadas sem um observador." (Heinz von Foerster)

331. Assim como as relações entre os três poderes do Estado são promíscuas – quer em níveis locais, quer em níveis globais – , as relações entre os poderosos em diferentes esferas (como a estatal – política no sentido estrito, incluindo os três poderes e as ramificações do poder executivo, como a polícia e as forças armadas –, a corporativa, a financeira, a midiática, a religiosa, a do crime organizado, etc.) mantém-se em equilíbrios simbióticos. Todas as pessoas imbricadas nessas redes do poder constituem a elite política (no sentido lato) mundial (no sentido estrito, seriam apenas os políticos profissionais). O resto das pessoas são "o povo", "a massa"', o "gado humano".

332. "Quem olha para fora, sonha; quem olha para dentro, acorda." (Jung) (resposta para a epígrafe do capítulo II?)

333. (adendo à nota 255) Qualificar o outro de burro e ignorante por não concordar com a sua opinião/ideologia é algo tão fácil quanto é contraproducente. Ninguém vai se deixar convencer por um ad hominen desse, que é uma mera desqualificação do outro e da sua opinião/ideologia e não uma refutação embasada dessa opinião/ideologia.
O fato é que existem pessoas inteligentes e cultas em todas as ideologias relevantes da sociedade, o que significa que todas essas ideologias se constituem em discursos que possuem uma coerência e uma coesão suficientes para convencer pessoas inteligentes e cultas. Acreditar que toda uma ideologia – ou mesmo várias delas – se mantém unicamente em função da burrice e da ignorância é hipostasiar o velho modelo escolástico – um realismo ingênuo já superado historicamente – segundo o qual existe uma verdade absoluta – a qual pode ser descoberta pela razão objetiva e pela inteligência – em oposição a uma série de mentiras – usualmente chamadas de “ideologias” – que são frutos de meros erros de raciocínio (ou seja, da burrice) ou de mera falta de conhecimento (ou seja, da ignorância).
O único resultado prático que se consegue ao qualificar o outro de burro é aumentar o ódio e, assim, as barreiras à comunicação, impedindo o diálogo e, portanto, a possibilidade de acordo e cooperação.

334. A utopia é a versão materialista do paraíso . Enquanto este seria uma realidade sem problemas no além (em um mundo não material), aquela seria uma realidade sem problemas no domínio da matéria – ou seja, aqui mesmo na Terra, ou em algum outro planeta. Tanto o paraíso quanto a utopia se fundamentam na crença (ou no desejo) de que seria possível conciliar o viver com a ausência de sofrimento, ou seja, de que seria possível uma vida sem sofrimento.

335. Para o mundo melhorar é preciso reformar o sistema educacional, mas a reforma do sistema educacional passa por uma decisão política que apenas será tomada e implementada por um mundo já melhorado...

336. "Por princípio, o Estado moderno deve a sua carreira ao fato de que o sistema produtor de mercadorias necessita de uma instância superior que lhe garanta, no quadro da concorrência, os fundamentos jurídicos normais e os pressupostos da valorização – sob inclusão de um aparelho de repressão para o caso de o material humano insubordinar-se contra o sistema. Na sua forma amadurecida de democracia de massa, o Estado no século XX precisava assumir, de forma crescente, tarefas sócio-econômicas: a isso não só pertence a rede social, mas também a saúde e a educação, a rede de transporte e comunicação, infra-estruturas de todos os tipos que são indispensáveis ao funcionamento da sociedade do trabalho industrial e que não podem ser propriamente organizadas como processo de valorização industrial. Pois as infra-estruturas precisam estar, permanentemente, à disposição no âmbito da sociedade total e cobrindo todo o território. Portanto, não podem seguir as conjunturas do mercado de oferta e demanda." (Manifesto contra o trabalho, cap. 12, 1999)

337. "Tudo o que ouvimos é uma opinião, não um fato. Tudo o que vemos é uma perspectiva e não a verdade." (Marco Aurélio)

338. "Cabe lembrar que a filosofia é a arte de mascarar sensações e suplícios íntimos a fim de enganar o mundo sobre as verdadeiras raízes do filosofar." (Cioran, “Nos cumes do desespero”)

339. "Observar sem avaliar é a forma mais elevada de inteligência humana." (Krishnamurti)

340. “Nunca discuta com ignorante. Ele te rebaixará até o nível dele e te vencerá por experiência.” (Mark Twain)

341. "Até você torná-lo consciente, o inconsciente irá dirigir a sua vida, e você vai chamá-lo de 'destino'." (Jung)

342. "A função do historiador é lembrar a sociedade daquilo que ela quer esquecer." (Peter Burke)

343. "Podemos dar atenção ao que é somente quando deixamos de agir para o futuro." (Krishnamurti)

344. "Acordar para quem você é requer desapego daquilo que você imagina ser." (Alan Watts)

345. "Os filhos que não se envergonham de seus pais estão irremediavelmente condenados à mediocridade. Não há nada mais estéril do que admirar os progenitores." (Cioran)

346. Um dos custos da lucidez é a inação.

347. Em algum lugar da "Bíblia", se não me engano no "Apocalipse", é dito que "toda boca confessará que Jesus Cristo é o Senhor". Esse é o plano de Jesus/Jeová?, arrancar, para sua própria gratificação egoica, essa confissão servil de cada um de nós mediante tortura?

348. A parábola é uma forma de sofística. E idem para o texto literário (e ainda mais para o cinema).

349. "A única pessoa com a qual você pode se comparar é com você mesmo no passado." (Freud)

350. Viemos do nada e para o nada voltaremos. Que diferença faz o que ocorre nesse percurso?

351. Quais são os limites da sua adesão às causas autopoiéticas do sistema social atual, da vida em geral e de si mesmo?

352. Um cético não toma a decisão de se matar (fora em caso de eutanásia em face a severas limitações corporais), pois uma decisão como essa é embasada na crença de se possuir um conhecimento suficiente sobre o que é a vida e o que é a morte – crença essa que o cético não possui. Como diria Cioran, "o suicídio é um ato de fé".

353.  Eu: uma vítima da ideia de "sentido" (como síntese das ideias de "verdade" e "salvação").

354. Ao buscar aprofundar-se em sua alteridade (e na sua respectiva ideologia), se você apresentar suas visões de mundo para as pessoas elas reagirão com alguma agressividade (em especial se você mesmo já apresentar a sua visão de forma agressiva), pois o que está em jogo é a estabilidade dos mapeamentos cognitivos delas (e do seu) e, portanto, o conforto egoico de todos os envolvidos. Se você não buscar apresentar a sua visão a elas (apresentação essa que no fim sempre remete a uma tentativa de educá-las a sua imagem e semelhança, de reproduzir a sua visão nos outros, colonizando-os e tornando-os mais parecidos com o você é ou gostaria de ser, e assim reafirmar para você mesmo a correção dos seus valores e opiniões), elas só vão ser indiferentes a "esse cara estranho". Em ambos os casos você termina sozinho. É claro que, no fundo, estamos sempre sozinhos, mesmo que rodeados de gente superficial e simpática: o que muda é a intensidade dessa solidão e da percepção do abismo que há entre todas as pessoas-ilhas. É um trade-off: não há como ser "o diferentão" e ainda se sentir bem em meio às "pessoas comuns" (sendo bem recebido por elas ao exibir sua alteridade), em especial quando se adota um discurso de vilanização dos outros como explicação para a gênese das dores do mundo: por que os outros seriam receptivos a isso, à acusação de que eles são o problema e precisam mudar em direção ao que você já é ou quer ser para aí o mundo ser um lugar melhor? Não há como ter as duas coisas: ou se decide aprofundar-se em sua alteridade ao custo de aumentar a solidão, ou se goza da companhia dos outros ao custo de não aumentar a diferenciação de sua personalidade em relação a deles. A escolha é sua.

355. Por que alguém se dedicaria diuturnamente, de corpo e alma, a uma ideologia/religião/causa se não acreditasse que ela está atrelada à verdade absoluta? Por outro lado, a simples existência do diferente já é ofensiva para quem acredita ter as chaves para a verdade absoluta, para a salvação e para o bem-viver – pois instaura uma dissonância cognitiva que indica que esses valores aos quais se dedica tanto esforço talvez não sejam tão absolutos assim (e de fato não são), afinal outras pessoas parecem viver tão bem, senão melhor, sem eles ou mesmo acreditando em valores opostos. Mas acreditar no relativismo cultural, aceitar que a crença do outro é tão legítima quanto a minha, destrói o fanatismo que é a base da minha dedicação: sem o fanatismo, não há obsessão e portanto não há porque se dedicar a causa alguma.
A existência de uma hierarquia de autoridades ligadas à autopoise de qualquer discurso é a evidência de que ainda existe uma massa de pessoas que toma esse discurso como uma verdade absoluta e que, por isso mesmo, está disposta a dedicar os seus recursos escassos (tempo, energia, dinheiro, saúde) à causa. Não que a culpa seja dos líderes: idólatras por instinto, as pessoas estão à procura de verdades absolutas, de mapeamentos cognitivos que lhes garanta sem dúvidas o que o mundo é, para onde ele vai e o que elas devem fazer para se darem bem: os líderes só oferecem o que a massa neurótica quer: certezas.
Se o relativismo cultural e o Estado Laico, que garantem a liberdade de fé e pensamento, fossem de fato aceitos pelos proselitistas, suas fés desmoronariam: sendo equivalentes e intercambiáveis, sendo ficções úteis, por que se dedicar a elas? Como escolher a melhor? Como viver com a dúvida? O resultado disso é uma situação esquizofrênica, na qual o proselitista alega, para ser politicamente correto, respeitar a opinião dos outros, mas na verdade acha que só ele tem razão e que todos os outros estão errados, inventando argumentos intermináveis para criticar e vilanizar os seus oponentes (todos aqueles que não dispõe de sua fé).

356. Duas características básicas de qualquer conteúdo cultural discursivo que se pretenda profundo: abordar o lado sombrio da vida (a morte, a guerra de todos contra todos, a irracionalidade, as privações, o acaso, etc.) e faze-lo sem maniqueísmo.





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.