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Diante do abismo, a escuridão infinita do nada, a princípio, aterroriza. Todavia, em pouco tempo, a exposição ao vazio, que,aliás, sempre esteve ali, à espreita, mas não era intuído, é tão desgastante que o outsider, se conseguir, tarefa difícil, sobreviver a si mesmo (e talvez seja melhor ser um insider e morrer de uma vez), perde o medo pois, agora, e pela primeira vez na história da vida universal, não tem mais nada a perder; ao contrário: tem um nada a ganhar.
6 comentários:
Mas ele já alerta no prefácio do Humano demasiado humano, que há perigos e que se libertar das maiores amarras, como família e amores, pode ser uma cilada. Não li a obra, não posso falar o que vem adiante, mas Schopenhauer, se tivesse tido uma boa relação com pai e com mãe, teria simplesmente sido ainda mais “moralista”. O outsider típico (e nesse sentido tudo que é típico ou é ótimo ou é horrível, não tem meio termo!) costuma ter motivos “contundentes” para se sentir ou se jogar meio artificialmente no às vezes submundo (entenda no possível duplo sentido do termo) em que se refugia, e em minhas experiências pseudopsicológicas modestas, porém numerosas, consegui a confissão de quase todos eles de que vivem como outsiders por “vias-sem-coleta-de-lixo” pelo simples motivo de não terem outra opção melhor! Ou seja, há uma ala outsiders que se sente no fundo do poço, e até desiste de pedir socorro para alcançar outro patamar de dignidade, e passam a vida sentindo-se o resto do mundo.. com a clássica e irritante síndrome de coitadinho..
Por outro lado, o grupo de outsiders parece ser impressionantemente heterogêno, e há casos que em nada se assemelham a esses últimos, porém, é preciso investigar a fundo se não há, de fato, faltas, ausências, em comum a todos eles, e que seriam uma espécie de carência-mater, da qual todas as demais vão se seguindo em multicadeia complexa, simultânea às vezes, com progressões e regressões, mas sempre em torno de um leitmotif crescentemente negativo que alimenta a condição de outsiders que por sua vez alimenta esse leitmotif, e assim esse feedback go wild e impera. Digo isso porque parto, intuitivamente, da premissa básica: há uma natureza humana comum, e todos sentem falta das mesmas bases. Podem até lidar de maneira única com as faltas, o grau com que sentem também pode diferir (não muito, pouco o suficiente para “aleijar” a todos), mas a NATUREZA desses ingredientes que faltam é a mesma para todos em todos os tempos. Os insiders, ao viverem a vida insider “comum” , também estão tentando desesperadamente suprir certas faltas, ou seja, é uma forma a mais, como a dos outsiders, de esperar a morte. A vida é a espera da morte, e cada grupo “escolhe”, “elege” a sua forma específica de fazer isso. Vejo desastre a abismo nos dois extremos do espectro (out e in), mas se fosse escolher, confesso que no final, eu penderia para o extremo In. Dos males, o menor. Não vejo outro caminho mais agradável para “levar o óbolo ao barqueiro sombrio” (Ricardo Reis), que o da moderação, e a escolhe adequada dessas duas formas de viver.
Mas é realmente temas dos mais instigantes , para a filosofia, e para a psicologia, psicanálise e todas as demais ciências humanas, traçar um histórico da relação entre essas duas formas conflitantes de vida (menos distintas do pensamos, creio), e enfocar a tensão entre elas, pois me parece ser o “ressentimento”, o sentimento que funda e dá origem aos conflitos. Desse sentimento-pandora sai todas as desgraças possíveis do cotidiano.
Enfim...fui falando desordenadamente, pode dar margens à interpretações caóticas. Divirta-se...E Parabéns pelo blog. O mundo ainda não entregou as chuteiras, espero eu! Ah, no meu youtube vc vê poemas e textos de schopenhauer, recitados, alguns com música clássica, ou com minhas improvisações no piano. Bom proveito! rss
obs: nem parágrafo coloquei!rss
http://www.youtube.com/user/iltonjardim
Como um outsider desde até antes do nascimento (vi o casamento de minha mãe enquanto esperneava e flutuava no líquido amniótico), confesso que não me achei em nenhuma das categorias listadas (pelo autor?). Aliás, nunca me achei em categoria alguma de livros de auto-ajuda, nem até mesmo em livros de filosofia. De fato, devemos reconhecer que o mundo seria chato e sem grandes avanços, não fossem os impulsos criativos dos outsiders. Fernando Pessoa, meu outsider-mor, que está prestes a ficar cravado em todas as paredes do meu quarto, exemplifica bem o quão necessários são. Contudo, vc consegue negar que um mundo 100% outsider é ruína e abismo, logo inviável, autodestrutivo, e que um mundo 100% insider é mais factível, mais duradouro? Pode ser medíocre, com pouco estímulo à sensibilidade, aos afetos mais sofisticados, mas PODE existir por um longo tempo! Assim, se esses extremos estiverem corretamente previstos, fica evidente a necessidade do mundo ser exatamente tal qual já é: uma massa amorfa de insiders, recheada por outsiders que "divertem"(nom bom e no mau sentido) o todo (de outs e ins).
Mas o ponto que me preocupa, e que vem me preocupando muito é que, dado que minha experiência de vida me colocou demasiadamente em contato com outsiders, fui notando um abismo moral que não encontra paralelo nem entre os insiders mais desumanos. Não vamos criar polêmicas com o termo moral, entenda por ele algo simples: um mínimo de valores básicos que visam ao bem-estar e a dignidade humana. Imagine o básico, imagine aqueles ideais de que tanto se fala, e que pouco se vê. (imagine aqueles valores de que fala Schopenhauer em "A arte de Insultar", "A arte de conhecer a si mesmo". (vc citou um trecho dessa obra, e esqueceu de onde tirou, então estou te lembrando, pois li recentemente, e me marcou muito). Retomando a questão, como dizia, ser outsider do ponto de vista moral, pode significar duas coisas: propor uma nova moralidade menos "MORALISTA" que a dos insiders, mas igualmente benéfica, igualmente consolidada, e mais sofisticada (mais refletida, menos ingênua, mais laica), ou, o que é MAIS frequente, significa não propor nada, significa propor qualquer asneira rebelde, revoltazinha vazia pela inveja dos insiders (sim, a relação de inveja entre esses dois pólos com suas gradações é de máxima necessidade para qualquer avanço de compreensão do assunto, da forma como cada grupo faz e refaz sua vida, e a maneira como "compram" um estilo de vida), pois não se pode negar o mérito dos insiders, em manter, a duras penas, relacionamentos estáveis(ainda que raramente) com estruturação familia mínima, aceitável, sem insuportáveis efeitos colaterais para a "prole", e para as partes amantes. Os insiders que se sentem presos (outsiders enrustidos, rss), e que olham pra vida passada com certo arrependimento, também sofrem em ver a relativa alegria-libertina-libertária(essa sensação no fundo é falsa, são os piores reféns do instinto e das possessões do espírito por diversas ervas-daninhas) de alguns outsiders. Ou seja, há uma relação tensa entre esses dois grupos, mas uma relação tensa e ao mesmo tempo dúbia, hesitante, questão de amor e ódio mesmo! Insiders nem sempre escondem fascínio pela história de vida dos dos outsiders, mas estes também frequentemente são abalados pelas vantagens que enxergam nitidamente na vida de muitos insiders. Por essa razão, há muita gente que pertence aos dois grupos, e isso é tanto bom quanto ruim. Eu me sinto assim, e o resultado? Me sinto excluído e incompreendido nos dois grupos. Ou seja, sou um outsider em relação aos próprios outsiders e em relação aos insiders! para piorar, sou outsider nas cotidianidades e formas de convívio em sociedade, mas em questões referentes ao tríptico familia-valores-relacionamentos, sou um insider incomum, ou seja, uma versão mais branda que raramente encontra semelhança entre os insiders.
Nietzsche, quando fala dos espíritos livres, talvez esteja se referindo aos outsiders, ou ao menos, ao que tanto anseiam ser.
Fernando,
Belos comentários. Realmente Nietzsche alerta para o mal e para a decadência do niilismo: não adianta apenas negar os valores, é preciso transvalorá-los. E essa é uma grande tarefa, que cada outsider acaba tendo que enfrentar sozinho, e na qual a maioria fracassa. Eu também, como muitos outsiders, ando meio disposto a fracassar, a desistir dessa empreitada quixotesca.
Com relação a sua observação "consegui a confissão de quase todos eles de que vivem como outsiders por “vias-sem-coleta-de-lixo” pelo simples motivo de não terem outra opção melhor!": pois então receba agora a minha confissão também! Eu tenho certeza que sempre fiz "o melhor", sempre dei o melhor de mim: se me tornei outsider é porque fui "corrompido por um mundo cruel" (espero esclarecer a minha visão sobre esse assunto no cap. CXII).
"que seriam uma espécie de carência-mater, da qual todas as demais vão se seguindo em multicadeia complexa":
Uma vez eu li num livro de psicanálise (e eu - que tanto gosto de colecionar citações - não lembro qual livro foi!) que crianças que não recebem afeto "suficiente" na infância podem se tornar adultos que PROBLEMATIZAM O SIMPLES FATO DE ESTAREM VIVOS. Ora, isso parece bem outsider: a simples existência é desconcertante, ela não é suficiente por si mesma...Mas é claro, essa é só uma interpretação, que pode ser insuficiente ou estar errada (eu sou estudante de economia - tudo que sei de filosofia ou psicologia eu estudei por conta própria).
"mas se fosse escolher, confesso que no final, eu penderia para o extremo In"
Eu, se pudesse escolher, preferiria pender para o extremo "out": talvez terminar como o caso do "Professor", ou afogado no meu próprio vômito, depois de uma overdose: prefiro me afundar no caos do que levar uma vida pacífica - e passiva. Atualmente estou levando a sério a seguinte citação de Schopenhauer:
"Uma vida feliz é impossível: o máximo que o homem pode atingir é um curso de vida curso de vida heróico." (A. Schopenhauer, Parerga e Paralipomena, cap. XIV - Contribuições à doutrina da afirmação e da negação do querer-viver, § 172)
Prefereria ter uma vida "trágica" a uma vida feliz...mesmo porque eu já desisti da “obrigação” de ser feliz.
Concordo que a abordagem do "ressentimento". Se quiser ver o meu ressentimento mais explícito, veja os caps XXXI e CXI (esse último ainda não postado).
“Contudo, vc consegue negar que um mundo 100% outsider é ruína e abismo, logo inviável, autodestrutivo, e que um mundo 100% insider é mais factível, mais duradouro?”
Não nego, mas também acabo achando, junto com Schopenhauer, que uma existência dessas simplesmente não lave a pena.
“dado que minha experiência de vida me colocou demasiadamente em contato com outsiders,”
Como eu gostaria de ter uma experiência de vida dessas...eu estou cercado de insiders...quem mandou cursar economia e trabalhar num banco? E quem disse que eu tenho capacidade para outra coisa além disso? (ou seja, “não tive escolha...”)
Eu sou bastante filisteu...não entendo nada de poesia ou música erutida. Mas darei uma olhada no seu blog e no seu canal do youtube. XD
Obrigado por me lembrar a referência do Schops.
"E quem disse que eu tenho capacidade para outra coisa além disso?"
Você tem, cara. Você tem cacife para ser um professor de filosofia, um verdadeiro mestre da vida, do pensamento. Sua autocrítica excessiva te impede de ver isso.
Talvez até tenha a capacidade...mas não estou disposto a fazer, pela intelectualidade, mais sacrifícios que eu já fiz. Sacrifiquei saúde e vida social para poder desenvolver o meu potencial a ponto de escrever os textos desse blog. A vida social eu não faço questão de ter, mas a saúde deveria ser prioridade, como ensina Schopenhauer nos Aforismos para sabedoria na vida. A saúde nunca foi prioridade na minha vida, mas será em breve. Acho altamente improvável que eu consiga trabalhar, cuidar da saúde e estudar o necessário para ser "um professor de filosofia, um verdadeiro mestre da vida, do pensamento".
Se alguém me "financiasse", me mantivesse só estudando para eu poder fazer mestrado e talvez doutorado no exterior...O fato é que eu, depois de anos trabalhando, juntei dinheiro o suficiente para poder,se quisesse, me manter anos apenas estudando. Mas eu continuo NÃO ACREDITANDO em mim o suficiente para me dispor a correr o risco de ficar desempregado (mesmo que fizesse mestrado, isso não é garantia de emprego).
Eu ainda, daqui alguns anos, vou fazer pesquisas sobre a possibilidade/viabilidade de ingressar na "vida acadêmica". Mas, sinceramente, eu já nem sei mais se quero isso para a minha vida.
No momento, apenas tenho indefinições.
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