sábado, 6 de dezembro de 2008

###12 - A cacofonia na Torre de Babel: o labirinto sem saída.

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Por que o Frango Atravessou a Estrada?

Disponível em: http://ateus.net/humor/por_que_o_frango_atravessou_a_estrada.php



O que disseram as grandes mentes?


Platão: porque buscava alcançar o bem.

Aristóteles: é da natureza dos frangos cruzar a estrada.

Freud: a preocupação com o fato de o frango ter cruzado a estrada é um sintoma de insegurança sexual.

Maquiavel: a quem importa o porquê? Estabelecido o fim de cruzar a estrada, é irrelevante discutir os meios que utilizou para isso.

Marx: o atual estágio das forças produtivas exigia uma nova classe social de frangos, capazes de cruzar a estrada.

Einstein: se o frango cruzou a estrada ou a estrada se moveu sob o frango, depende do ponto de vista. Tudo é relativo.

Sócrates: tudo que sei é que não sei.

Parmênides: o frango não atravessou a estrada porque não podia mover-se. O movimento não existe.

Darwin: ao longo de grandes períodos de tempo, os frangos têm sido selecionados naturalmente, de modo que, agora, têm uma predisposição genética a cruzar estradas.

Blaise Pascal: quem sabe? O coração do frango tem razões que a própria razão desconhece.

Sartre: trata-se de mera fatalidade. A existência do frango está em sua liberdade de cruzar a estrada.

Nietzsche: ele deseja superar a sua condição de frango, para tornar-se um superfrango.

Richard Dawkins: na verdade são os genes para atravessar a rua que estão de fato atravessando a rua. O frango é apenas uma forma que os genes encontraram para realizar essa tarefa.

Pavlov: porque antes eu tocava uma sineta e oferecia alimento ao frango do outro lado da rua. Agora, após vários experimentos iguais, basta tocar a sineta sem lhe dar alimento que ele a atravessará.

Clarice Lispector: a essência do frango está nas suas patas. As patas têm o frango. Quem vê as patas, vê o frango. A essência das patas é o correr, o correr abstrato. A estrada é a essência do correr. Quem vê o correr, vê a estrada.

Hipócrates: devido a um excesso de humores em seu pâncreas.

Kant: o frango seguiu apenas o imperativo categórico próprio dos frangos. É uma questão de razão prática.

Estóicos: o frango atravessou a estrada porque esse é um acontecimento necessário. É o destino. Já estava previsto pela ordem universal do cosmos.

Epicuristas: é prazeroso ao frango atravessar estradas. O que você acha, amigo?

Filósofos da escola de Frankfurt: é uma questão medíocre imposta pelos mentores de uma arte de massas que transformou a imagem de um frango em mais um produto da indústria cultural.

Filósofos medievais: para responder a tal questão, devemos primeiro deliberar se a expressão “frango” é puro termo esvaziado de sentido ou se a palavra que expressa a idéia genérica e universal de frango, ou ainda se se trata de um frango concreto em particular.

Martin Luther King: Eu tive um sonho. Vi um mundo no qual todos os frangos serão livres para cruzar a estrada sem que sejam questionados seus motivos.

Schopenhauer: no ato de atravessar, está fugindo de si mesmo numa tentativa de aliviar o tédio e sofrimento que é estar vivo neste mundo sem sentido.

Newton: 1) Frangos em repouso tendem a ficar em repouso; frangos em movimento tendem a cruzar a estrada. 2) por causa da atração gravitacional exercida pelos outros frangos que já estavam do outro lado da estrada.



O que disseram algumas outras mentes...

Agnósticos: é impossível saber se o frango realmente atravessou a estrada. A incerteza há de pairar eternamente sobre esta questão.

Céticos: dizem que ele atravessou, mas será que atravessou mesmo? Precisamos investigar tal questão detidamente antes de fazer qualquer declaração a respeito.

Investigadores forenses: as evidências coletadas no local da travessia indicam fortemente que o frango de fato atravessou a estrada.

Ateus: o frango não atravessou a estrada porque ele não existe. Isso é uma crendice estúpida.

Humberto Gessinger: onde estão as provas? Onde estão os fatos? A travessia era só boato...

Deterministas: o frango não teve escolha. Aliás, nunca terá escolha, o livre-arbítrio não existe.

Parapsicólogos: todos sabemos que ele atravessou a estrada. Entretanto, o frango não o fez com seu corpo material. O fenômeno se deu através de uma bilocação de natureza ectoplasmática possibilitada pelo seu corpo astral que transcende as leis da física. Ele, por desejar intensamente estar do outro lado da estrada, foi capaz de desmaterializar-se e teletransportar-se mentalmente a fim de realizar seu ardente anseio. Pesquisas de cunho científico já provaram que isso é possível. Blá, blá, blá e blá... mais informações em nosso centro de pesquisas www.blablabla.we.lie.

Cristãos: isso é um mistério que somente deus pode responder.

Espíritas: o frango cruzou a estrada porque incorporou um espírito aventureiro.

Evangélicos: porque Jesus o ama.

Jesus: tenha fé em meu pai e ele lhe mostrará a verdade.

Pastores da Igreja Universal: por 10% que eu te conto.

Sabedoria popular: porque o lado de lá é sempre melhor.

Chapolin Colorado: todos os meus movimentos são friamente calculados.

Professora primária: porque queria chegar do outro lado da rua.

Criança: porque sim.

Surfista: o bicho atravessou cara?... que demais... bicho manêro...

Maconheiro: olha isso cara... que viagem...

Fazendeiro: por causa de que arguém deixou a porta do galinheiro aberta.

Feministas: para humilhar a franga, num gesto exibicionista, tipicamente machista, tentando, além disso, convencê-la de que, enquanto franga, jamais terá a habilidade suficiente para cruzar a estrada.

Hemingway: to die alone in the rain.

Moisés: porque uma voz vinda do céu bradou ao frango: “cruza a estrada”. Então o frango cruzou a estrada e todos se regozijaram.

Carla Perez: porque queria se juntar aos outros mamíferos!

Lula: o frango estava fugindo porque o governo deixa o povo passar fome. Nossos companheiros fizeram valer o direito que todo cidadão tem de ir atrás da comida!

Silvio Santos: o frango atravessou a estraaaada lombardi... a-aiiii hi hi....





***

Não existe uma verdadeira comunicação entre as pessoas. Cada um está completamente só, e a vida nos devora enquanto tentamos decifrá-la.

12 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

Schopenhauer (2): O frango atravessou porque aquilo que até agora quis, agora não quer mais. É a grande virada, a mutação transcendental, a redenção do mundo. Donec voluntas fiat noluntas.

Cristão protestante paranóico: trata-se de mais um passo dos Iluminati para viabilizar o satânico reinado do anticristo.

Espiritista-ufólogo-new-age: Com a aproximação de Nibiru, e com a intensificação do processo de exteriorização da hierarquia, as harpias da Cidade Santa, por meio dos espíritos-guia e das crianças-índigo, orientaram sabiamente o frango a atravessar a estrada, a fim de consumar a presente era e permitir o advento, na Era de Aquarius, dos poderes crísticos e carmicos dos portadores, que derramar-se-ão sobre toda humanidade.

Duan Conrado Castro: E o que você entende por “frango”? E o que você entende por “atravessar a estrada” afinal de contas? E quem disse que existe um frango, ou uma estrada, ou esse movimento de travessia?

Anônimo disse...

E se duas pessoas entendem o problema de comunicação? As duas estarão só? ou as duas terão uma idéia sólida em comum?

Duan Conrado Castro disse...

O que eu quis dizer quanto mencionei “torre de babel” e cacofonia é justamente me referir ao problema da linguagem. Assim como é impossível chegar “à verdade” por meio da linguagem e da razão, também é impossível haver um consenso completo entre duas pessoas sobre o que é a realidade (e obviamente está completamente fora de cogitação um consenso das pessoas em geral sobre qualquer coisa que seja). É claro que as pessoas concordam, algumas delas, em alguns assuntos...mas isso parecesse não ser o bastante... A “realidade” que cada um conhece é uma construção, da sua individualidade (do seu ego) e da linguagem – ambas limitadas, imperfeitas, viesadas, etc. Como você espera haver um acordo significativo?
Supondo que nós dois concordemos com a existência desse problema da linguagem. E daí? Isso é o bastante? Isso diminui “a solidão que se deve sentir em um mundo como esse” (Schopenhauer)? E quanto aos milhões de pessoas que negariam veementemente que tal problema existe? Dizer que eles estão errados não é bastante. O “bastante” seria se fosse possível convencê-los definitivamente disso, passando pelas barreiras da linguagem e da individuação e chegando à tal da “verdade”. É claro que, mesmo se todos concordassem com alguma coisa, isso de forma alguma seria suficiente para provar que essa “alguma coisa” é “realmente verdadeira”.

Duan Conrado Castro disse...

Kant (2), na Crítica da Razão Pura, capítulo 1.7.2.1.4.2.3.8.1.1.2.a, IV.

Esta questão da razão pela qual o frango atravessou a estrada é por muitos considerada a verdadeira pedra de escândalo da filosofia. Embora o frando seja um objeto subsumido às leis formais apriorísticas da sensibilidade geral, é impossível à nossa individualidade - desprovida que ela é de qualquer intuição racional - prescrutar as determinações imanentes ao tão controvertido ato da ave, cujo real acontecimento, aliás, muitos pensadores mesmo negam veementemente. Não obstante seja permitido a cada um, se sentir-se bem assim, guardar para si uma convicção pessoal acerda das motivações ocultas do frango, não podemos pretender impô-la aos demais, uma vez que tal convicção, por permanecer adstrita ao domínio da razão pura, não poderia portanto ser definitivamente comprovada no domínio da intuição sensível, isto é, como objeto não transcendental e intuível por um indivíduo qualquer, permanecendo dessa maneira uma razão que ultrapassou ilegitimamente os seus domínios, e que portanto perde-se em anfibologias conceituais e em antinomias insolúveis.

Duan Conrado Castro disse...

Para "reflexões adicionais sobre a cafofonia na Torre de Babel" leia o capítulo LVIII:

http://outsidercaos.blogspot.com/2009/04/lviii-acerca-de-reflexoes-sobre.html

Anônimo disse...

É quase como um eco...

"Duan Conrado Castro: E o que você entende por “frango”? E o que você entende por “atravessar a estrada” afinal de contas? E quem disse que existe um frango, ou uma estrada, ou esse movimento de travessia?"

"Um metafísico é alguém que, quando você lhe diz que dois vezes dois são quatro, ele quer saber o que você entende por vezes, o que significa dois, e o que quer dizer são e por que isto dá quatro. Por fazerem tais perguntas, os metafísicos desfrutam um luxo oriental nas universidades e são respeitados como homens educados e inteligentes." O metafísico, em "O Livro dos Insultos" de H. L. Mencken

Anônimo disse...

Sade, em "Diálogo entre um Padre e um Moribundo e outras diatribes e blasfêmias", Do Inferno:

Por vezes, vemo-nos obrigados, não a admitir, mas a supor certos dogmas, de modo a poder combater outros. Para aniquilar aos vossos olhos o dogma estúpido do frango atravessar a estrada, é preciso que me permitais, por um instante, restabelecer a quimera deísta. Obrigada a usá-la como ponto de apoio nesta importante dissertação, preciso conceder-lhe absolutamente uma existência momentânea: ireis perdoar-me, espero, mais facilmente ainda, por certamente não supordes que eu acredite nesse abominável fantasma.

Confesso que o dogma do frango atravessar a estrada é, em si, tão desprovido de verossimilhança e que todos os argumentos que se pretende estabelecer para sustentá-lo são tão frágeis e contradizem tão manifestamente a razão, que quase enrubescemos de ter de combatê-lo. Pouco importa, arranquemos impiedosamente aos cristãos até a esperança de acorrentar-nos de novo aos pés de sua religião atroz e mostremo-lhes que o dogma sobre o qual se apóiam mais imperiosamente para apavorar-nos, dissipa-se, como todas suas outras quimeras, diante do mais fraco lampejo do archote da filosofia.

Os primeiros argumentos de que se servem para estabelecer essa farsa perniciosa são:

1. Que a atravessia, por ser finita e em consideração ao Ser ofendido, merece, por conseguinte, castigos infinitos; que tendo Deus ditado leis, é parte de sua grandeza punir quem as transgredir.
2. A universalidade dessa doutrina e a maneira segundo a qual é anunciada na Escritura.
3. A necessidade desse dogma para conter frangos e incrédulos.

Eis as bases que precisamos aniquilar.

Ireis convir, lisonjeio-me, que a primeira se destrói naturalmente pela desigualdade dos delitos. Segundo essa doutrina, o mais leve erro seria punido assim como o mais grave: ora, pergunto se é possível, admitindo um Deus justo, supor uma iniqüidade dessa espécie? Quem, por sinal, criou o frango? Quem lhe deu as paixões que os tormentos da estrada devem punir? Não foi vosso Deus? Assim, portanto, cristãos imbecis, admitis que por um lado esse Deus ridículo confere aos frangos inclinações que é obrigado a punir por outro? Será que ignorava que essas inclinações haviam de ultrajá-lo? Se sabia disso, por que então conceder-lhes esse tipo de pendores? E se não sabia, por que puni-los por um erro que compete apenas a ele?

Duan Conrado Castro disse...

- Olá senhor Mencken, prazer. Meu nome é Duan e eu sou um metafísico. Caí no agnosticismo...e atualmente estou cortejando o esoterismo e o ocultismo, continuo preso à fantasias milenaristas...para não falar em teorias da conspiração. Será que ainda tenho salvação?

- O senhor é um caso quase perdido. Ou o senhor abandona todos esses vírus mentais que parasitam seu cérebro e acorda para o pragmatismo (o bom e são pragmatismo estadunidense), ou em breve estará em ruínas. Ficará perambulando por aí ruminando suas fantasias e extravagâncias, desperdiçando a vida real que você tem e que é aqui e agora. Acorde, lute e boa sorte.

- Grato senhor, eu vou lutar para mudar com todas as minhas forças. São as nossas escolhas que nos definem. E essa escolha é minha.

Com relação ao Sade, nada a acrescentar.

Anônimo disse...

*Estadunidense, não: americano!

Duan Conrado Castro disse...

Sim, eu pensei isso enquanto escrevia, deveria ter posto assim: "americano [estadunidense]"

Deus disse...

Se pôde pensar enquanto escrevia mas não pôs, é monstruoso; se quis, mas não pôde, é incapaz; se não pôde nem quis, é impotente e cruel; se pôde e quis, POR QUE NÃO O FEZ?

Duan Conrado Castro disse...

Livre-arbítrio? Estupidez? Preguiça? Cansaço de repetir o mesmo estereótipo textual? Nunca saberei...

Você que responda, já que é onisciente.