sexta-feira, 29 de maio de 2009

LXVI - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 8 de 16.

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§ 66





2.5. Céu e paraíso



E sonhou: e eis que era posta na terra uma escada cujo topo tocava nos céus; e eis que os anjos de Deus subiam e desciam por ela. (Gênesis 28:12)

Essa é apenas uma das muitas passagens bíblicas, e qualquer um que lê o "sacro livro" atentamente sabe disso, que apresentam a seguinte idéia: deus vive, LITERALMENTE, no céu. Tal mensagem está por todo texto bíblico, inclusive no Novo Testamento, como se fosse uma verdade consumada. Não é por acaso que, até hoje, "céu" é utilizado por alguns como sinônimo de "paraíso".

Pensar que as divindades viviam no céu é algo extremamente lícito para a época em que foram escritos os textos bíblicos. Mas atualmente as coisas são bem diferentes.

É difícil de acreditar, eu sei, mas mesmo hoje muitos cristãos - aqueles mais ignorantes - ainda têm em seu subconsciente a visão de um céu-paraíso. Isso é testemunha do quanto "a massa" continua ignorante e infantilizada. E mesmo quando
el pueblo é apresentado à educação formal, ele insiste em não aplicar os conhecimentos aprendidos para questionar as "verdades" bárbaras da religião.

Mas o conceito de paraíso, por ser mais difuso e não especificar um local espacial, não deixa de ser problemático: ele nega a própria Bíblia, que todo tempo insinua, não adianta o leitor insistir que não, que deus vive no céu, o que era aceitável na época em que esses textos foram escritos, mas que hoje é, convenhamos, ridículo e estúpido. Novamente a imagem da Bíblia como a fonte da "verdade" fica maculada.

Este paraíso possui localização ignota: ou está nos confins do universo, ou está em um "universo paralelo", ou em "outra dimensão", ou, por fim, em qualquer lugar imaginável onde possa existir uma ordem de coisas diferente daquilo que conhecemos como "mundo material".

É muito fácil empurrar o esconderijo do nosso deus para cada vez mais longe, à medida que a evolução do conhecimento científico prova que eles não se encontravam onde outrora se pensou. Os deuses gregos não viviam no topo de um monte em cujo cume ninguém conseguia chegar (Olimpo)? É claro que você não vai ficar surpreso se eu lhe contar que ninguém mora no topo dessa montanha... Porém, há um problema em tentar levar a localização do paraíso para "outra dimensão" ou para "um universo paralelo". Novamente, a religião tenta se apropriar de conceitos científicos para tentar consertar um erro dela que a própria ciência demonstrou e jogou-lhe na cara.

O conceito científico de dimensões não possui ligação com "outro lugar", mas sim com "outra dimensão". Segundo as teorias físicas recentes baseadas nas p-branas, estas outras dimensões estariam acessíveis APENAS à força gravitacional, e um universo paralelo poderia surgir como resultado da influência dessa força, através dessas outras dimensões, sobre um conjunto de massa amorfo.

A pretensão de colocar o paraíso em uma "outra dimensão" ou em um "universo paralelo" é uma forma estapafúrdia de insistir no mesmo erro, mesmo depois de provada a sua incorreção.

Alguns, por outro lado, negam a existência de "um lugar" onde deus e os eleitos fiquem (perceberam que querer submeter deus ao espaço-tempo é patético): o paraíso seria o conjunto de divindades espirituais benévolas; assim, ele não seria espacial, e portanto não estaria em lugar algum.

De forma análoga, a Igreja Católica afirmou recentemente que o inferno não existe enquanto "um lugar", mas que ele se caracteriza por um estado de sofrimento causado exclusivamente pela "ausência de Deus". Então, imagino que qualquer um que já viva sem deus já esteja, de certa forma, no inferno, ou bem perto dele. O tal do "Deus" seria, pelo jeito, alguém tão ardiloso, arrogante e malvado que nos deu uma certa configuração "espiritual" feita para nos castigar com um grande sofrimento (tão grande que recebe o nome de "inferno") caso nós decidamos usar o nosso "livre-arbítrio" para nos afastarmos dele, que se julga o nosso senhor e legítimo proprietário. Essa "liberdade" com a qual o rapaz nos brindou se assemelha a uma escravidão. Depois não sabem por que Lúcifer teria se rebelado, e teria se rebelado junto com dois terços dos anjos - convenhamos, é improvável que dois terços de todas as criaturas angelicais teriam se voltado contra seu próprio criador se não houvesse motivos legítimos para fazê-lo.

Algo semelhante ocorre com os conceitos de "espírito" e "alma". Se o leitor não sabe, "psicologia" quer dizer estudo DA ALMA. Ocorre que até pouco tempo, a mente e a alma eram entendidas como uma mesma coisa. Mas agora, que os estudo científicos se apropriaram da "mente" enquanto objeto, a religião descobriu (como?) que o ser humano é um ser material, mental E ESPIRITUAL.

Eles não vão desistir tão facilmente da sua ignorância.

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Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.

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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

2 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

Uma vez, andando por uma calçada - no centro da "civilizada" Curitiba - perto de uma igreja (a Universal...) eu pude ouvir uma mãe tentando "explicar" (?) para seu filho pequeno como é que deus viveria no "céu". Ela disse que deus mora "bem lá no alto", e que não dá para alcançar com nenhuma escada (ela não deve ter lido Gênisis 28:12 - se é que sabe ler)...Eu repito: ainda tem gente no mundo, e eu imagino que seja A MAIORIA da pessoas, que ainda acredita nessas besteiras totalmente toscas, imbecis e repugnantes, e que continuam a ensinar isso para as crianças, não obstante todo o avanço do conhecimento. Vão à merda.

Esses textos que eu escrevi em 2002buscavam criticar a TEOLOGIA POPULAR e não as sutilezas teológicas (que eu não conhecia na época e que eu já critiquei, em parte, nesse blog - ver § 64). E o povo continua estúpido e alheio ao exercício do questionamento das verdades prontas que lhes são empurradas goela abaixo.

Silas disse...

Sou obrigado a concordar com todo o conteúdo. É verdade.

Tem dias que eu fico de saco cheio: o pessoal é ignorante ao extremo e ainda é agressivo. Não se pode questionar com o risco de ouvir um showzinho de gritaria de algum fanático. Não sei se isso algum dia vai mudar: parece que algumas pessoas progridem, mas que a maioria sempre fica estagnada, ignorante e num estado semelhante ao de uma ovelha.

Por algum motivo interno eu continuo insistindo em fazer o possível por essas pessoas, mas vejo o dia em que vou mandá-las à merda.