§ 63
2.3. Ilusões sensoriais
Imagine que o leitor já vivenciou, em algum breve momento de sua vida, um dos dois fenômenos, senão ambos, que descreverei. É possível que tenha que se esforçar para lembra-se deles - de tão irrelevantes que eles são atualmente.
Às vezes somos acometidos, em um momento qualquer, por um chiado ou zumbido em nossos ouvidos. Às vezes, também, temos pequenas e sucintas deformações nas imagens que vemos do mundo à nossa volta; luzes fortes (brancas ou coloridas) podem nos fazer "névoas" (cujas cores são o inverso da cor da luz inicial), e manchas, as quais surgem em nosso campo de visão e quando nos movemos para enquadrá-las melhor elas "fogem" (se movem junto conosco).
Atualmente esses fenômenos são irrelevantes; e ninguém civilizado, espero eu, deve duvidar que são respostas fisiológicas à alguma ação do meio (na verdade eu sei que há gente que não sabe disso). Porém, quem garante que, no passado, quando não havia conhecimentos biológicos e tampouco aparelhos audio-visuais - que dissipam, com seu dinamismo e colorido, a nossa atenção a esses pequenos acontecimentos -, estes fenômenos não eram interpretados de forma animista como verdadeiras manifestações de espíritos, como o eram os ventos, a chuva, etc.?
2.4. A imutabilidade de deus
Todo o texto de Deuteronômios capítulo 32 é assustador, com destaque para:
"39. Vede, agora, que eu, eu o sou, e mais nenhum deus comigo; eu mato e eu faço viver; eu firo e eu saro; e ninguém há de escapar da minha mão.
"(...) 41. Se eu afiar a minha espada reluzente e travar do juízo a minha mão, farei tornar a vingança sobre meus adversários e recompensarei os meus aborrecedores.
"42. Embriagarei as minhas setas de sangue, e a minha espada comerá carne; do sangue dos mortos e dos prisioneiros, desde a cabeça, haverá vingança do inimigo."
Qual não é a surpresa do leitor ao saber que quem pronuncia estas palavras é nada mais nada menos do que o velho e bom Jeová? Sim, o mesmo cuja benignidade dura para sempre.
Em todo o Velho testamento é construída a imagem de um deus vingativo, irado, ciumento, e que apenas possui alguma (pouca) compaixão para com o seu povo eleito. Como explicar que, de repente, uma figura transcendental, um ser que existia antes mesmo dele ter criado o tempo e o espaço, mude as suas características como a moça muda de vestido?
Acreditar que o sacrifício de deus a si mesmo trouxe nova esperança é uma coisa. Mas é demais acreditar que esse mesmo deus, para não contrariar os princípios e regras por ele criados e válidos para a sua criação (não para ele), se dividiu em três partes, duas das quais ganharam características que ele não possuía e que esqueciam seu pacto com o povo judeu (advogando uma salvação universal), modificando assim as características de um ser eternos. Como um ser eterno que está fora do tempo pode mudar?
Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
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