Everyone
Everyone is so near
Everyone has got the fear
It's holding on
It's holding on
(Radiohead, The National Anthem)
Isto é Sansara, o mundo do prazer e do desejo, e, portanto, o mundo do nascimento, da doença, da velhice e da morte: é o mundo que não deveria ser. E isto aqui é a população de Sansara. O que melhor podeis esperar? ( Pensamento budista citado por Arthur Schopenhauer no §156 de Parerga e Paralipomena)
Algum dia de semana do primeiro semestre de 2007. Estava eu trabalhando na Fazenda Rio Grande (FRG), uma cidade na região metropolitana de Cu-ritiba. Quem já esteve lá sabe o quão deprimente é o lugar.
No ônibus, a caminho do trabalho, eu ruminava as seis palavras que eu estabelecera, dias antes, como suficientes para descrever o munícipes daquele lugar: pobreza, ignorância, doença, velhice, sujeira, feiúra.
De repente, fui assolado pela sensação de irrealidade novamente. Mas dessa vez a coisa foi mais intensa. (Em verdade, não passa uma única semana na qual eu não tenha essa sensação pelo menos uma vez; a maior parte das pessoas, saudáveis, passa a vida toda sem sentir isso.)
Eu senti que essa coisa de nascer, morrer, crescer e se reproduzir, que essa coisa de ser um indivíduo, de estar preso em um corpo, eu senti, dizia eu, que nada disso é real. É como se tudo fosse uma farsa, uma ilusão; simplesmente não faz sentido. E quem disse que tem que fazer?
Olhava para as minhas mãos. Embora a manhã estivesse quente e seca, sentia calafrios.
Duan Conrado (à parte): "Eu...eu...existo. Existo?"
Você, leitor, pode imaginar como eu sou um trabalhador produtivo se sou constantemente assolado por esse tipo de perplexidade, que inexiste para a maioria dos mortais.
Hora do almoço. Eu estava de carona com um colega de trabalho (uma insider, é claro), rumo a um dos poucos restaurantes minimamente decente da cidade:
Duan Conrado: "Por que as pessoas morrem?"
Giovan: "O quê?!"
Duan Conrado: "Sabe, esse negócio de nascer e de morrer, não faz sentido."
Giovan: "Eu nunca pensei nisso, Duan." (À parte: "Acorda pra vida, meu deus!!")
Duan Conrado: "Eu sinto que, de alguma forma, tenho que estar acima de tudo isso."
Giovan: "E quem você pensa que é, Neo o Escolhido?" (À parte: "Que falta que uma boceta não faz!")
Duan Conrado:(À parte: "Eu sou um piá de prédio outsider schopenhauriano suicida.") "Realidade...tão...irreal."
Giovan: "Que é real?"
Duan Conrado: "Não sei. Quando souber, juro que lhe digo."
Giovan: "Aguardo ansiosamente."
Ele aguarda até hoje.
***
Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
3 comentários:
quando você tem essa sensação, você também não sente que não há como expressá-la com palavras, porque até mesmo palavras são reais e "mundanas"? Eu sinto isso. Então eu expresso a minha concepção de irrealidade ficando quieto. Mas achei que sua tentativa foi bem frutífera nesse post.
A minha vontade de saber/poder me anima a insistir em tentar denominar um mundo que me espanta.
Sim, eu existo! Não obstante a minha identidade cósmica com os algoritmos gerais da vida e da humanidade, eu possuo uma inalienável individualidade decorrente da particularidade histórica do meu processo de individuação. Ou seja, em uma insuprimível dimensão do real, a da particularidade histórica, eu existo.
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