sexta-feira, 23 de maio de 2008

XXII – Acerca do caráter soturno da humanidade decorrente da servidão da razão para com a volição egoística instintiva (vontade de poder).

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§ 22







Esta nova consciência, espécie de conhecimento em segundo grau, esta transformação abstrata de todo elemento intuitivo num conceito não intuitivo da razão, comunica só ao homem essa previdência (besonnenheirt) que distingue só tão profundamente a sua inteligência da dos animais, e que torna a sua conduta tão diferente da vida dos seus irmãos desprovidos de razão. Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação, § 8.


John Bowe, jornalista colaborador dos periódicos The New Yorker e The New York Times Magazine, passou cinco anos escrevendo um livro (Nobodies, 2007, Random House ) sobre o trabalho escravo que existe atualmente DENTRO do EUA. A pesquisa colocou em dúvida a sua confiança no gênero humano: "Nós, os homens, pertencemos a uma espécie sombria", declarou.

Não creio que a frase esteja correta. Não é a espécie humana que é sombria, mas TODA A VIDA. Se todas as outras espécies agem diferentemente da humanidade isso ocorre em função do que elas não possuem, do que os humanos têm mas elas não, a saber: uma racionalidade desenvolvida.

A racionalidade, que não cria o interesse próprio e na verdade está a serviço dele, permite aos humanos explorarem-se uns aos outros por meio do ardil e da fraude (e nisso consiste o seu caráter "sombrio").

Não sentir piedade do próximo não é uma característica humana, muito pelo contrário: apenas o humano pode, sob determinadas circunstâncias, senti-la.

Características como egoísmo e vontade de poder - às quais a razão surgiu no homem para servir de ferramenta - se encontram em todos os animais, tal qual se apresentam na espécie humana. A racionalidade, no homem, permite a essas características naturais ganharem novas, e mais dramáticas, formas de manifestação.

Para um complemento a esse capítulo, leia: http://outsidercaos.blogspot.com/2009/03/18-em-complemento-ao-capitulo-xxii-sexo.html



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

domingo, 11 de maio de 2008

XXI - Acerca da comparação odiosa, da emulação pecuniária, do desperdício conspícuo e da impossibilidade da satisfação geral das necessidades humanas.



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§ 21







Nam si nom inesset contentio, unum omnia essent, ut ait Empedocles. Aristóteles, Metafísica, B, 5

(...) a vontade, em todos os graus da sua manifestação, de baixo até em cima, tem falta total de uma finalidade última, deseja sempre, sendo o desejo todo o seu ser; desejo que não termina quando algum objeto é alcançado, incapaz de uma satisfação última, e que para parar tem necessidade de um obstáculo, uma vez que, por si mesmo, está lançado no infinito. Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação, Tomo I, §56.

"A circulação simples de de mercadorias - a venda e a compra - serve de meio para um objetivo final que está fora da circulação, a apropriação de valores de uso, a satisfação de necessidades. A circulação do dinheiro como capital é, pelo contrário, uma finalidade em si mesma, pois a valorização do valor só existe dentro desse movimento sempre renovado. Por isso o movimento do capital é insaciável." (Marx, O Capital, Livro I, capítulo IV)


Certa vez fiquei sabendo de uma pesquisa que revelou a seguinte informação: a maioria das pessoas aceitaria ter o seu poder aquisitivo diminuído, desde que o poder aquisitivo dos outros diminuísse mais que o delas, o que as tornaria, relativamente, mais ricas. Não, a maioria das pessoas não aceitaria perder poder aquisitivo se esse poder fosse repassado a outros; se elas perderem, os outros têm que perder mais.

Thorstein B. Veblen remete a esse tipo de comportamento n' A Teoria da Classe Ociosa (1899); ele o chama de comparação odiosa, no sentido que os indivíduos se comparam uns aos outros de forma a determinar quem é melhor e quem é pior, quem é vencedor e quem é perdedor.



Uma conseqüência comparação odiosa é a emulação pecuniária: a disputa de egos, da vontade de poder, se dá no campo econômico; no clímax da civilização, na sociedade capitalista, mostra-se aos demais que se lhes é superior por meio do poder pecuniário, o qual se apresenta pelo desperdício conspícuo, cujas principais formas de expressão são: (i) o consumo conspícuo, isto é, o consumo cuja função é exibir o poder pecuniário do consumidor, conferindo-lhe status e dignidade; (ii) o consumo vicário, no qual quem consome o faz para mostrar o poder pecuniário de outrem, de quem está financiando esse consumo; (iii) o ócio conspícuo, no qual o individuo se abstém de exercer atividades produtivas (que produzem e reproduzem bens e serviços de consumo de subsistência ou de capital), e passa a se dedicar a atividades não-produtivas, que conferem status (p.ex.: esportes, artes, religião, política, culinária, erudição, etc); e (iv) o ócio vicário, quando alguém é mantido em atividade improdutiva para assim demonstrar o poder pecuniário de quem financia esse ócio (p.ex.: mordomos e esposas que não trabalham).

Em suma, a emulação pecuniária se expressa por meio da prodigalidade, de tal forma que a quase integralidade dos avanços de produtividade são transformados em consumo adicional, sem resolver, portanto, o problema da escassez, uma vez que ajuda a criar mais necessidades, em fez de satisfazer as que já existiam. Assim,

"Pela sua própria natureza, o desejo de riqueza nunca se extingue em indivíduo algum; e evidentemente está fora de questão uma saciedade do desejo geral ou médio de riqueza. Nenhum aumento geral de riqueza na comunidade, por mais geral, igual ou 'justa' que seja essa distribuição, levará mesmo de longe ao estancamento das necessidades individuais, por que o fundamento de tais necessidades é o desejo de cada um de sobrepujar todos os outros na acumulação de bens. Admitem alguns" [está aqui se referindo à teoria econômica ortodoxa e convencional] "que o incentivo à acumulação está na necessidade de subsistência ou de conforto físico; se esse fosse o caso, poder-se-ia conceber que as necessidades econômicas conjuntas da comunidade se satisfizessem num ponto qualquer de progresso da eficiência industrial. A luta é contudo essencialmente uma luta por honorabilidade fundada numa odiosa comparação de prestígio entre os indivíduos; sendo assim, é impossível uma realização definitiva" (A Teoria da Classe Ociosa, capítulo II).
Vamos comparar o que Veblen disse em 1899 com o que a Enciclopédia Barsa disse em 1979 [durante a Guerra Fria] (no verbete "Economia", na parte intitulada "Debate Doutrinário", os negritos não estão no original):
Dentro do nosso ponto de vista, contudo, parece mais significativo o fato de que à luz de uma análise cuidadosa as teses do Socialismo científico surgem como bem menos revolucionárias do que pareciam à primeira vista. Tomemos, assim, a meta final do Marxismo, ou seja, do estágio comunista da sociedade. Esse estágio, segundo seus defensores, se caracterizará pela inexistência de classes, desaparecimento do Estado, supressão de qualquer tipo de propriedade e, sobretudo, pela repartição "a cada um segundo suas necessidades". Ora, melhor exame do assunto mostra que esse estágio comunista só poderá ocorrer, e ocorrerá necessariamente, quando houver sido resolvido o problema econômico fundamental, a saber, o da insuficiência de bens para atendimento de todas as necessidades humanas. Em verdade, quando o aumento da produção fizer com que todos os bens existam em quantidades superiores às necessidades, surgirão, como corolários inelutáveis, aquelas características apontadas para o estágio comunista. Assim, a propriedade, entendida como direito de usufruir de um bem com a exclusão de qualquer outra pessoa, deixa de ter sentido. Em verdade, todos os bens serão superabundantes, como presentemente o ar atmosférico, o que exclui a idéia de apropriação. Desaparecerão, em consequência, as classes sociais, pois, economicamente, se definem pela propriedade dos bens de produção que garantem aos seus titulares privilégios na repartição do produto final. A própria idéia de repartição privilegiada deixa de ter sentido pois que, numa situação de superabundância, cada um tomará simplesmente os bens na quantidade que lhe aprouver. Tal é, diga-se de passagem, a repartição "a cada um segundo sua necessidade", característica central do chamado estágio comunista. Finalmente o Estado, pelo menos no sentido marxista de instrumento de exploração de uma classe por outra, desaparecerá, dada a inexistência de classes. Ora, se o estágio comunista significa simplesmente (e a nosso ver não pode significar outra coisa) essa situação de superabundância, pode-se afirmar, com tranquilidade, que se trata de um objetivo comum ao Capitalismo e ao Socialismo. Tanto um quanto outro procuram, através do contínuo acréscimo da produção, aumentar os bens atualmente disponíveis. Se alguns teóricos do Capitalismo, contrariamente ao que pensam os marxistas, negam que o estágio de superabundância possa jamais ser atingido, dado o constante acréscimo das necessidades humanas, isso não significa que ele deixe de ser um ideal a ser perseguido. As divergências se resumiram, pois, em saber qual o melhor caminho para se chegar ao estágio "comunista": o Socialismo ou o Capitalismo.
Sobre esse suposto estágio de superabundância, Schopenhauer tem o seguinte a dizer (em Parerga e Paralipomena, capítulo XII - Contribuições à doutrina do sofrimento do mundo, § 152):
Se transferíssemos o homem para um país utópico, onde tudo crescesse sem ser plantado, onde as pombas já revoassem assadas, e onde cada um encontrasse, sem dificuldade, a mulher amada, sucederia que uma parte dos homens morreria de tédio ou se enforcaria, e outra parte promoveria guerras, massacres e assassinatos, e dessa forma faria trazer mais sofrimento do que aquele que a natureza impõe. Desse modo, para uma espécie como a dos homens, nenhum outro palco, nenhuma outra existência, se presta.
Quanto a mim, nesse caso em completo desacordo com a comparação odiosa, estaria reconciliado com a civilização se a minha vida, tal qual ela é, fosse a mais desgraçada da face da Terra, pois assim eu poderia acreditar que o sofrimento e o despropósito são exceção e não regra.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 10 de maio de 2008

### 3 – Laisser faire, laisser passer –2

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Regime colonial, dívidas públicas, exações fiscais, proteção industrial, guerras comerciais, todos estes rebentos do período manufatureiro propriamente dito tomam um desenvolvimento gigantesco durante a primeira infância da grande indústria. Quanto ao seu início, este é dignamente celebrado por uma espécie de massacre dos inocentes – o roubo das crianças executado em grande escala. O recrutamento das novas fábricas se fazia como o da marinha real por meio da imprensa!

Por insensível que F. M. Éden se tenha mostrado a respeito da expropriação dos agricultores, cujo horror enche três séculos, qualquer que seja o seu ar de complacência diante deste drama histórico “necessário” para estabelecer na agricultura capitalista “a verdadeira proporção entre as terras de cultura e as de pastagem”, esta serena inteligência das fatalidades econômicas lhe falta desde que se trata da necessidade do roubo das crianças, da necessidade de escravizá-las a fim de poder transformar a exploração manufatureira em exploração mecânica e de estabelecer a verdadeira relação entre o capital e a força operária. “O público, diz ele, faria talvez bem em examinar uma manufatura – cujo bom êxito exige que se arranque de seus lares as pobres crianças que, revezando-se em turmas, trabalham a maior parte da noite e são privadas de seu descanso, o qual, por outro lado, aglomera em tumultuosa promiscuidade indivíduos de diferentes sexos, idades e costumes, de sorte que o contágio do exemplo traz consigo necessariamente a depravação e a libertinagem – se uma manufatura pode jamais aumentar a felicidade individual e nacional.” (Éden, L. c., livro II, cap. i, pág. 421).

“Em Derbyshire, Nottinghamshire e sobretudo no Lancashire, diz Fielden, que era fiandeiro, as máquinas recentemente inventadas foram empregadas nas grandes fábricas, muito perto de correntes de água bastante potentes para porem em movimento as rodas hidráulicas. Foram repentinamente necessários milhares de braços nestes lugares longínquos das cidades, e, em particular, no Lancashire, até então relativamente muito pouco povoado e estéril, que teve, antes de tudo, necessidade de uma população. Dedos pequenos e ágeis, tal foi o grito geral, e logo nasceu o costume de procurar os assim chamados aprendizes das work-houses pertencentes às diversas paróquias de Londres, Birmingham e outros lugares. Milhares destes pobres abandonados de sete a quatorze anos foram assim expedidos para o norte. O mestre (o raptor de crianças) se encarregava de vestir, nutrir e alojar os seus aprendizes em uma casa para esse fim situada próxima à fábrica. Durante o trabalho, eram rigorosamente vigiados. O interesse desses guarda-chusmas era fazer trabalhar essas crianças excessivamente, pois, segundo a quantidade de produtos que eles sabiam extrair, seu salário aumentava ou diminuía. As conseqüências naturais disso foram maus tratos...Em muitos distritos manufatureiros, principalmente em Lancashire, estes seres inocentes, sem amigos nem ajudas, que se tinham entregue aos donos das fábricas, foram submetidos às mais horríveis torturas. Esgotados pelo excesso de trabalho, foram açoitados, acorrentados, atormentados com as mais refinadas crueldades. Muitas vezes, quando a fome fazia baquear o mais forte, o chicote o mantinha no trabalho. O desespero os levou, em alguns casos, ao suicídio!... Os belos e românticos vales de Derbyshire se tornaram negras solidões onde impunemente se cometeram atrocidades sem nome e até mortes!... Os lucros enormes realizados pelos fabricantes não fizeram senão aguçar-lhes ainda mais os dentes. Imaginarama prática do trabalho noturno, quer dizer, que depois de ter esgotado um grupo de trabalhadores pela tarefa do dia, tinham outro grupo pronto para o trabalho da noite. Os primeiros atiravam-se nas camas que os segundos acabavam de deixar e vice-versa. É uma tradição popular: no Lancashire os leitos não se esfriam nunca! ” ( [Na respectiva nota de rodapé: ] John Fielden: The Curse of the Factory System, págs 5 e 6. Reativamente às infâmias cometidas na origem das fábricas, vide Dr. Ankin, (1795), L. c., pág. 219, e Gisbourne: Inquiry Into the Duties of Man, 1795, vol. II. Desde que a máquina a vapor transfere as fábricas das proximidades dos cursos da água, do campo para o centro das cidades, o apropriador de mais-valia, o amante “da abstinência”, encontra à mão todo um exército de crianças sem ter necessidade de requisitá-las aos work-houses. Quando Sir. R. Peel (pai do “ministro da plausibilidade”) apresentou, em 1815, seu Bill sobre as medidas a tomar para proteger as crianças, F. Horner, o amigo de Ricardo, citou os fatos seguintes na Câmara dos Comuns: “É notório que recentemente entre os móveis de um falido, um lote de crianças de fábrica foi, se posso servir-me dessa expressão, posto na massa falida e vendido como formando parte do ativo! Faz dois anos (1813) um caso abominável foi apresentado perante o Tribunal do Banco do Rei. Tratava-se de certo número de crianças. Uma paróquia de Londres as tinha entregue a um fabricante que, por sua vez, as tinha transferido a outro. Alguns amigos da humanidade as descobriram finalmente em completo estado de inanição. Outro caso ainda mais abominável chegou ao meu conhecimento quando fui membro do comitê de inquérito parlamentar. Faz poucos anos apenas: uma paróquia de Londres e um fabricante concluíram um tratado no qual foi estipulado que para cada parte de vinte crianças sãs de corpo e espírito, vendidas ao fabricante, este devia aceitar uma idiota.”)

Com o desenvolvimento da produção capitalista durante o período manufatureiro, a opinião pública européia tinha-se despojado e seus últimos restos de consciência e pudor. Cada nação se vangloriava cinicamente de toda a infâmia própria para acelerar a acumulação do capital. Que se leia, por exemplo, os ingênuos Anais do Comércio do honesto Anderson. Esse bom homem admira como um lampejo de gênio da política inglesa o fato de, quando da Paz de Utrecht, a Inglaterra ter arrancado à Espanha, pelo Tratado de assento, o privilégio de fazer, entre a África e a América Espanhola, o tráfico dos negros que, até então, não tinha feito mais que a África e suas possessões da Índia Oriental. A Inglaterra obteve assim o direito de fornecer à América Espanhola quatro mil e oitocentos negros por ano, até 1743. Isto lhe serviu ao mesmo tempo para cobrir com um véu oficial o seu contrabando. Foi o tráfico de negros que lançou os fundamentos da grandeza de Liverpool. Para esta cidade ortodoxa, o tráfico de carne humana constituiu todo o método da acumulação primitiva. E, até nossos dias, as notabilidades se Liverpool cantam as virtudes específicas do comércio de escravos, “o qual desenvolve o espírito de empresa até à paixão” (vide o livro já citado do Dr. Ankin, 1795). Liverpool empregava no tráfego 15 navios em 1730, 53 em 1751, 74 em 1760, 96 em 1770, e 132 em 1792.

Ao mesmo tempo que a indústria algodoeira induzia na Inglaterra a escravidão das crianças, os Estados Unidos da América do Norte transformavam o tratamento mais ou menos patriarcal dos negros num sistema de exploração mercantil. Em suma, era preciso, como pedestal á escravidão dissimulada dos assalariados no Europa, a escravidão sem véu do Novo Mundo.

Tantae molis erat! Eis aí o preço que temos pago pelas nossas conquistas; eis aí o que custaram as “leis eternas e naturais” da produção capitalista, o preço do divórcio entre o trabalhador e as condições do trabalho; o preço de transformar estas em capital e a massa do povo em assalariados, em pobres laboriosos (labouring poor), obra-prima da arte, criação sublime da história moderna. Se, segundo Augier, é “com manchas naturais de sangue sobre uma de suas faces” que “o dinheiro veio ao mundo” (Marie Augier: Du Crédit Public, Paris, 1842, pág. 265), o capital aí chegou suando sangue e lama por todos os poros.


(Karl Marx, A Origem do Capital, capítulo VI)





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Os agentes econômicos respondem a estímulos na sua ação racional (i.e., ação capaz de formular estratégias e que não erra sistematicamente) e voltada ao seu interesse próprio (i.e., que busca a maximização de sua satisfação por meio do atendimento ótimo das suas necessidades).

sexta-feira, 9 de maio de 2008

XX - Relacionamento.

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§ 20







Homem***Mulher***Casamento***Família
Pênis***Vagina***Fecundação***Multiplicação





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 3 de maio de 2008

XIX – Acerca de especulações delirantes relativas à comparação entre o conteúdo distópico do livro 1984 e um possível futuro lúgubre da civilização.

(Flashforward # 2)

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§ 19






O preço da liberdade é a eterna vigilância. (slogam udenista)

E faz que todos, pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos, lhes seja posto um sinal na mão direita ou na testa, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tiver o sinal, ou o nome da besta, ou o número do seu nome. (Apocalipse 13: 16-17)


No 1984 as pessoas são monitoradas pela teletela e por microfones escondidos. No mundo real as pessoas serão monitoradas de uma forma muito mais eficiente: chips implantáveis.

Inicialmente, o implante lhe servirá para identificá-lo (como o RG atual, que também conterá uma série de dados pessoais, com históricos profissional, de saúde, familiar, sexual, de consumo, criminal, etc.) e para registrar, para a sua própria segurança (afinal você é um cidadão de bem e não deve nada para ninguém), a sua exata localização, em tempo real ou passado.

Próximo passo: para a comodidade universal, o implante passará a servir também como MEIO EXCLUSIVO DE PAGAMENTO. Todos, grandes e pequenos, livres e servos, só poderão comprar e vender por meio do chip.

Imagine o poder coercitivo desse mecanismo sobre os crimes comuns, como assaltos, seqüestros, furtos, violação de arquivos físicos, depredação do patrimônio público, etc. Por meio do monitoramento, todos esses tipos de crime seriam facilmente solucionados, e, portanto, desincentivados.

Ninguém pensará em tirar o implante, pois, a essa altura, todos os aspectos da sociedade, todas as relações sociais, serão mediados por ele. Sem ele não se poderá entrar na própria casa, não se poderá ter um emprego; nem mesmo comprar pão na esquina será possível.

Os implantes se comunicarão por meio de uma rede de internet sem fio (WiMax - um nome melhor seria Skynet...) que cobrirá simultaneamente todo o planeta e não poderá ser desligada. Chegará o momento em que "tudo", até a sua obturação dentária, terá um IP e portanto estará on-line.

Próximos passos ( que serão colocados em prática em função da eterna "guerra ao terror", pela "liberdade" das "pessoas de bem"):

Primeiro. O implante passa a ter um tipo de microfone. Você será o tempo todo "potencialmente monitorado". Tudo que você falar poderá, se o microfone gravar e transmitir, ser registrado e usado contra você. O "engraçado" é que você não saberá quando o microfone estará gravando e transmitindo.

Segundo. Depois do desenvolvimento e do aprimoramento da interface neuro-digital, por fim o implante será capaz de monitorar os seus pensamentos. Nascerá a polícia do pensamento. Por meio do implante, o Regime poderá saber, a qualquer momento, o que você está pensando, falando, ouvindo, vendo, sentindo, e onde você está. Tudo será registrado, sem chance de escapatória.

Por fim, o implante será capaz, por meio da mesma interface neuro-digital, de controlar os seus pensamentos e as suas emoções, além de produzir falsas lembranças se sensações.

Perceba como a ditadura de Orwell parece ingênua perto disso, com suas teletelas e seus microfones escondidos em árvores.

Com relação à manipulação das emoções da população (mundial) há paranóicos que acreditam que ISSO JÁ ACONTECE por meio do sistema HAARP (dê uma olhada nisso: “O Controle Mental por Meio das Ondas Eletromagnéticas HAARP Já Existe e Está Patenteado!”. O mesmo pessoal acredita que implantes capazes de efetuar controle mental também já existem: “O Desenvolvimento de um Microcircuito Implantável Muito Mais Avançado do Que o Digital Angel Está Sendo Financiado Pela DARPA! Ele É Tão Avançado Que Pode Cumprir Apocalipse 13:16-18!”).

A versão oficial acerca do HAARP: http://www.haarp.alaska.edu/ , http://pt.wikipedia.org/wiki/HAARP

O vaticínio acerca da vindoura “chipagem” também é apresentado no documentário laico Zeitgeist The Movie.


P.S.: Comparar esse texto "delirante" com o seguinte:

http://insilasbrain.blogspot.com/2010/06/sobre-escravidao-psicologica-moderna.html



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.