sábado, 29 de março de 2008

XII – Acerca de observações pseudo-sociológicas relativas ao expediente classificatório sócio-econômico das castas concêntricas.

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§ 12






(Distribuição quantitativa.)

Os ricos acham que são classe média, a classe média acha que é pobre, e os pobres não acham nada, pois se achassem já tinham posto fogo em tudo. (Vinícius Torres Freire)



Vivemos em uma sociedade de castas concêntricas. Concêntricas pois os benefícios econômicos convergem para o centro, vão da periferia para o cerne, vão da base para o topo.

Podemos parodiar Audus Huxley em Admirável Mundo Novo e adotar um expediente classificatório sócio-econômico que divide a sociedade em 15 classes. Há cinco grandes classes (ou castas): alfa, beta, gama, delta e épsilon. Cada grande classe se divide em três subclasses: I, II e III.





(Distribuição qualitativa.)

É claro que esses conceitos não são exatos (e, aliás, existe algum conceito exato?); nem sempre é fácil ter certeza em qual subclasse alguém está, embora a classe salte aos olhos do observador. Cada grande classe é facilmente distinguível das demais por um conjunto de inúmeros critérios, dentre os quais cito a título de exemplo: cor da pele, forma do corpo, propriedades da voz (timbre, articulação, intensidade, harmonia, volume, ritmo), linguagem, roupas, postura, crenças, valores, cesta de consumo, etc.

Obviamente, esses conceitos não são estanques. Eles são flexíveis, mudam no tempo e no espaço. Assim, p.ex., ser beta II no Brasil em 2008 não é a mesma coisa que sê-lo no Inglaterra contemporânea, muito menos na vitoriana. É certo que poderíamos tentar fazer uma classificação universal, que se prestasse a todos os tempos e lugares; mas temo que ela seria muito complexa e de pouca utilidade. Um líder tribal pode ter um padrão de vida materialmente inferior ao de um mendigo em uma metrópole.

O que diferencia a priori cada classe é o padrão material de vida, e os seus principais sinalizadores são: a propriedade (medida-estoque de riqueza) e a renda ( medida-fluxo de riqueza), mas não tomadas em absoluto e sim em nível per capita. Assim, com o mesmo nível de riqueza (propriedade e renda) o padrão material de uma família, e portanto o seu lugar na estratificação social, será inversamente proporcional ao número de filhos (mas não esquecer que existe uma coerção social sobre cada indivíduo no sentido de que ele se reproduza). É possível, p.ex., com um mesmo nível de riqueza uma família ser beta III, gama III ou épsilon II se tiver, respectivamente, zero, um ou seis filhos (considerando-se, é claro, os mesmos lugar e época).

Riqueza e renda per capta são, portanto, os balizadores dessa estratificação sócio-econômica.

Apenas alguns exemplos genéricos da atualidade: um gari típico é um épsilon II (um épsilon III seria um catador de lixo típico); um porteiro típico é um delta II; um trabalhador de nível médio, um beta; um milionário, um alfa II; um bilionário, um alfa I. Todos que estão entre os milionários e os betas I são os alfas III. O verdadeiro “excluído social” não faz, por definição, parte da sociedade, e portanto não se encontra em nenhuma das 15 castas.

Um indivíduo gama II está, qualitativamente, no meio da "cadeia alimentar", embora esteja, quantitativamente, acima da média; isso pois a quantidade de alfas, betas e gamas I é certamente menor que a de gamas III, deltas e épsilons.

Com o progresso econômico e com o retorno, após o desmonte do estado de bem-estar social, da aplicabilidade da Lei Geral da Acumulação Capitalista (O Capital, Livro I, cap. XXIII), os gamas se encontram em extinção, alguns subindo e outros descendo na escala social.

Épsilons e deltas, mais uma parte dos gamas, formam aquilo que se convencionou chamar "povão"; alfas, betas e a outra parte dos gamas formam "as elites". Os gamas são a casta cujo status é mais difuso e elástico, alguns sendo "povão", outros sendo "elite".

Grosso modo, a escolaridade dos deltas para baixo é primária, senão nula; a dos gamas é média; a dos betas para cima é superior. Mas o progresso econômico está puxando os trabalhadores de nível médio para a casta delta e os de nível superior já para a gama.

Eis um exemplo típico de família beta II no Brasil atual: pai e mãe possuem formação superior e trabalham na área em que se formaram (a menos que não o façam em troca de alguma atividade mais rentável); há entre um e dois filhos. Esses filhos são preparados, desde o ventre materno, para serem, no mínimo, betas II. Isso significa que caberá aos pais arcar com todos os custos da dispendiosa formação de um beta (quiçá alfa, sonham os pais), que inclui, gastos significativos em educação, saúde, entretenimento, interação social, etc. Essa mesma família, é provável, pularia automaticamente para a casta beta I caso o casal simplesmente resolvesse não ter filhos (o que, na média, obviamente representaria para o casal uma situação desconfortável devido á coerção social já mencionada aqui).

Embora seja politicamente incorreto (isso se chama “preconceito”), é possível identificar com facilidade, a partir da observação dos estereótipos sociais (cuja rica fauna é decorrente dos diferentes padrões materiais de vida), a que grande casta pertence um indivíduo; a probabilidade de acertar a subclasse é menor, embora não seja estatisticamente desprezível.

Comparar a beleza corporal de uma típica caixa de supermercado com uma típica “patricinha” não revela somente todo o gasto de tempo e dinheiro que a segunda tem com sua aparência; reflete, também, séculos de seleção genética, movida à emulação social.





De um modo geral, a satisfação e a felicidade do indivíduo são diretamente proporcionais a sua capacidade de cumprir as atribuições que cabem a sua casta. Por isso a felicidade individual não faz parte do referencial adotado para efetuar a estratificação das castas. É possível ser feliz ou infeliz em qualquer das castas.

Com relação à mobilidade social: qual é, p.ex., a real liberdade que um delta possui para se tornar um beta? A existência de exceções apenas confirma qual é a regra.

Obs.: Doravante utilizarei essa classificação de castas nos demais textos.



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 22 de março de 2008

XI - Acerca das máximas # 1 – máximas curtas e grossas.

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§ 11








1. Tudo não está bem, tudo está o melhor possível.
2. O destino é cruel e as pessoas detestáveis.
3. Não vim ao mundo a trabalho, e sim a passeio.
4. Por que não relaxar e aproveitar quando se sabe que tudo acabará mesmo?
5. Não tenho esperança (que tudo melhore), nem medo (que tudo piore); pois a verdade é uma só: o problema da humanidade é insolúvel.
6. Tudo que existe merece perecer.
7. Quando queremos acreditar em algo, aceitamos qualquer argumento.
8. Só o conhecimento liberta.
9. Se eu não conheço, não existe.
10. Aquilo que eu não sou, para mim é deus.
11. Todo mundo é imbecil.
12. Primeiro lama, lodo; depois, nada.
13. Primeiro viver, depois filosofar.
14. O dia da morte é o dia da libertação.
15. O egoísmo está definitivamente, irremediavelmente e eternamente ligado á vida.
16. O Grande Colapso Biosférico, o Grande Colapso Econômico, a Grande Fome, a Terceira Guerra Mundial - eles vêm vindo.
17. Cada louco com sua mania. Cada um na sua. Free, baixos teores.
18. Quem sabe, não fala. Quem fala, não sabe.
19. O sofrimento não tem fim. A dor não se interrompe.
20. Não há saída, para lugar algum.
21. O sistema é bruto.
22. É preciso cultivar o nosso jardim.
23. A esperança de uma vida melhor: é para a massa ignara o que a cenoura é para o cavalo.
24. Cada um é um fenômeno, uma resultante, e não uma coisa em si mesma.
25. Não é a pobreza que causa a dor, mas sim a cobiça.
26. Tudo leva a nada.
27. Tudo é descartável.
28. Existem muitas pílulas para dormir. E para acordar?
29. O mundo é ridículo; a vida, uma palhaçada.
30. Bem-vindo à vida. Ford EcoSport.
31. Um amigo necessitado não é um amigo, mas um tomador de dinheiro.
32. A vida é um contínuo transpasse, uma queda perpétua na morte.
33. Não é a vida como está, e sim as coisas como elas são.
34. As leis são criadas para serem infringidas. Todo limite pede para ser ultrapassado. Proibido é outro nome para desejado.
35. A vida definitivamente é uma bosta.
36. Por que a pressa se não vais a lugar nenhum?
37. Nada na vida, nem mesmo a própria vida, vale muito esforço ou preocupação.




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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

### 1 – Eppur si muove.

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Eu, Galileu Galilei, filho do falecido Vicenzo Galilei de Florença, com 70 anos de idade, julgado pessoalmente por esta corte, e ajoelhado diante de vós, Eminentíssimos e Reverendíssimos cardeais, Inquisitores-Gerais de toda a República Cristã contra a devassidão da heresia, tendo sob meus olhos os Santíssimos Evangelhos, e colocando sobre estes as minhas próprias mãos, juro que sempre cri, que creio agora, e que com a ajuda de Deus crerei sempre no futuro, em tudo que a Igreja Católica e Apostólica afirma, prega e ensina.

Mas visto que, após receber a admonição da Igreja Católica, abandono inteiramente a opinião falsa segundo a qual o Sol é o centro do universo e imóvel, e a Terra não é o centro do universo e que ela se move, a dita falsa doutrina, na qual não devo crer, defender ou ensinar sob qualquer forma, seja verbalmente ou por escrito, e após ser notificado que tal doutrina é contrária aos escritos sagrados, tento escrito e publicado um livro que trata da doutrina condenada no qual argumento com bastante eficácia a seu favor sem chegar a qualquer solução: fui julgado veementemente suspeito de heresia, isto é, de ter afirmado e acreditado que o Sol é o centro do universo e imóvel, e que a Terra não é o centro do mesmo, e que por sua vez, se move.

Portanto, com o desejo de remover dos pensamentos de Vossas Eminências e de todos os fieis esta veemente suspeita concebida justamente contra mim, abjuro, de todo coração e com verdadeira fé detesto e amaldiçôo os supraditos erros e heresias, e todo e qualquer erro em geral que seja contrário à Igreja Católica. E juro que no futuro não direi nem afirmarei verbalmente ou por escrito tais coisas que venham a colocar-me sob este gênero de suspeitas, e, ao conhecer algum herético ou algum suspeito de heresia, denunciá-lo-ei a este Santo Oficio, ou ao Inquisidor, ou ao Ordinário do lugar onde possa me encontrar.

Juro ainda e prometo cumprir e observar na sua completude todas as penitências que tenham sido ou venham a ser impostas a mim por este Santo Oficio. E se eu vir a transgredir quaisquer de tais promessas, protestos ou juramentos (que Deus me proteja!), eu me submeterei a todas as dores e penas que forem impostas e promulgadas a transgressores pelo Cânones Sagrados e outros decretos em geral. Que Deus e os Sagrados Evangelhos que tenho em mãos me protejam.

Eu, Galileu Galilei abjurei, jurei, prometi, e me obriguei como mencionado acima, e em fé do verdadeiro, de meu próprio punho subscrevi a presente cédula da minha abjuração e a recitei palavra por palavra, em Roma, no Convento della Minerva, neste o vigésimo segundo dia de junho de mil seiscentos e trinta e três. Eu, Galileu Galilei, tendo abjurado como descrito acima, de minha própria mão.






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segunda-feira, 17 de março de 2008

X - Acerca de observações sobre a presença de sugestão niilista em músicas do Radiohead.

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§ 10



EXISTEM CANÇÕES. (Legião Urbana, no encarte do álbum As quatro estações)



Quando ouço Street Spirit (Fade Out) tennho a sensação que a história da música pop chegou ao seu clímax. Passado e futuro convergem para essa que deve ser a música mais obscura, triste e desesperada jamais feita. O videoclip também é um dos melhores que já surgiram.

radiohead - street spirit (fade out)
http://www.youtube.com/watch?v=nPX3u0XJzKM


Rows of houses all bearing down on me
I can feel their blue hands touching me
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out

This machine will not communicate
These thoughts and the strain I am under
Be a world child, form a circle
Before we all go under
And fade out again and fade out again

Cracked eggs, dead birds
Scream as they fight for life
I can feel death, can see it's beady eyes
All these things into position
All these things we'll one day swallow whole
And fade out again and fade out again

Immerse your soul in love
Immerse your soul in love.


O indivíduo, cansado, desajustado, sem sonhos ou utopias, deixa-se levar por sonhos niilistas (Our bodies are floating dow a muddy river, que é mencionado em Like Spinnig Plates) de desvanecimento (fade out).
Creio que o significado de "imersa a sua alma no amor" é o de "abandone o seu ego", o que ,por sua vez, leva ao desvanecimento do indivíduo através da sua fusão com o meio.
Street Spirit fala do desvanecimento, e nisso se aproxima de How to disappear completely, que mimetiza a vertigem que o depressivo sente (se você é um, sabe do que eu estou falando), mesma vertigem que é descrita em Like Spinnig Plates.

Radiohead How To Disappear Completely (perfect audio)
http://www.youtube.com/watch?v=Eq9t2FFh6LA

Radiohead - Like Spinning Plates video
http://www.youtube.com/watch?v=DQBDsNiCCNM


While you make pretty speeches
I'm being cut to shreds
You feed me to the lions
A delicate balance

And this just feels like spinning plates
I'm living in cloud cuckoo land
And this just feels like spinning plates

Our bodies are floating down a muddy river


Somente as músicas do Radiohead conseguem chegar perto de expressar os sentimentos de tristeza e estranheza que eu sinto. Uma ou outra música de seus “filhos”(Colplay, Keane, Travis, Muse, etc.)consegue, também, chegar a esse mesmo nível de expressão. Perceba que eu disse “chegar perto de expressar”; nem mesmo Street Spirit é triste o suficiente, nem Idioteque é estranha o bastante.




Outros exemplos de "sugestão niilista" em Radiohead:

*Creep
(...)
You're so fucking special,
I wish I was special,
But I'm a creep,
I'm a weirdo.
What the hell am I doing here?
I don't belong here
(Esses dois últimos versos são totalmente outsiders. O "aqui" se refere à própria vida, ao próprio mundo.)

*Planet Telex
(...)
But still everything is broken,
Everyone is broken.
Why can't you forget?
Why can't you forget?
Why can't you forget?

*Fake Plast Trees
(...)
It wears her out, it wears her out
(...)
And it wears him out, it wears him out
(...)
And it wears me out, it wears me out

*Subterranean Homesiack Alien
(...)
They're all uptight Uptight.. (x7)
[!]
(...)
I'd tell all my friends But they'd never believe
They'd think that I'd finally lost it completely
I'd show them the stars
And the meaning of life
They'd shut me away
But I'd be all right All right..
I'm just uptight Uptight.. (x9)
[!!]
*Let donw
(...)
Shell smashed, juices flowing
wings twitch, legs are going,
don't get sentimental,
it always ends up drivel.
One day, I'm gonna grow wings,
a chemical reaction,
hysterical and useless
hysterical and
let down and hanging around,
crushed like a bug in the ground.
Let down and hanging around.
Let down,
Let down,
Let down.
(...)

*Karma Police
(...)
Karma Police, I've given all I can, it's not enough
I've given all I can, but we're still on the payroll
This is what you get, this is what you get
This is what you get, when you mess with us
And for a minute there, I lost myself, I lost myself
And for a minute there, I lost myself, I lost myself
For a minute there, I lost myself, I lost myself

*The National Anthem
Everyone
Everyone around here
Everyone is so near
What's going on?
What's going on?

Everyone
Everyone is so near
Everyone has got the fear
It's holding on
It's holding on

*In Limbo
(...)
You live in a fantasy world
You Live in a fantasy world
I'm lost at sea
dont bother me
I've lost my way
I've lost my way
You're living in a fantasy world (x3)
This Most Beautiful world
(...)
(Aqui "fantasy world" remete ao "coud cuckoo land" de "Like Spinning Plates". A figura se repete em "Where I end and you begin": "I am up in the clouds/ And I can't and I can't come down".)

*Idioteque
(...)
I'll laugh until my head comes off
I'll swallow till I burst
Until I burst
Until I
(...)
We're not scaremongering
This is really happening
Happening happening
We're not scaremongering
This is really happening
Happening happening
(...)

*I Might be Wrong
(...)
I used to think
I used to think
There was no future left at all
I used to think
(...)
It's nothing at all
Nothing at all
Dollars and cents
(...)
I can see out of here

All of the planet's dead,
All over the planet, so let me out of here
All over...

*We are the dollars and cents
And the pounds and pence
And the mark and the yen, and yeah
We're going to crack your little souls
(…)

*Bodysnatchers
(...)
I'm trapped in this body and can't get out
(...)
Has the light gone out for you?
'Cause the light's gone out for me
It is the 21st century
It is the 21st century

You can fight it like a dog
And they brought me to my knees
They got scared and they put me in
They got scared and they put me in

All the lies run around my face
All the lies run around my face
And for anyone else to see
And for anyone else to see I'm alive

I've seen it coming
I've seen it coming
I've seen it coming
I've seen it coming
Nude
Don't get any big ideas
They're not gonna happen
(...)





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 15 de março de 2008

IX - Acerca da troca de e-mails ocorrida em janeiro sobre o documentário “Zeitgeist The Movie”, o qual é objeto de promoção mundial na presente data.

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§ 9





I may be paranoid, but no android.
(Radiohead)




E-mails trocados por mim e pelo Gabriel por ocasião do filme Zeitgeist, o qual está sendo promovido mundialmente nesse dia 15/03.

Escrevi em 13/01/2008:
Caro,
Como você sabe eu sou facilmente manipulável, de tal forma que esse filme me pareceu bastante CONVINCENTE.
Zeitgeist - Official Release (Portuguese).
http://pt.wikipedia.org/wiki/Zeitgeist,_o_Filme
http://www.zeitgeistmovie.com/




(...)
But lately ive been blind
You leave me all alone, left in time
You left me here to die, left in time
Leave me all alone, left in time

The arms of time are breaking off
Civilization is on trial
The clocks eliminating time
Do you believe in nothing

But lately ive been blind
Leave me all alone, left in time.



***
Gabriel respondeu em 20/01/2008:

Infelizmente só consegui assistir ao filme ontem.

O filme é bem interessante. Agradeço o envio.
Quanto a questão da religião, os argumentos são bem coerentes, mas parece um grande jogo de "achar coincidências"....assim que são encontradas coincidências astrológica, numéricas ou de qualquer outra natureza, ela nos é apresentada.

Claro, o négocio começa a ficar um tanto sério quanto o número de "felizes coincidências" se torna muito elevado, como é o caso.

Bem, ambos sabemos que a religião é a principal ferramenta de coersão (ou coesão, como preferir) social. Não nos causaria surpresa saber que tudo não passa de uma farsa.

Quanto ao caso dos Estados Unidos, o négócio me pareceu bem mais assustador. Uma conspiração a nivel mundial. Uma grande encenação em que o "mundo é o palco". Parece uma idéia quase louca. O mais louco é que, ao final do filme, não há como discordar da farsa de 11 de setembro. As evidencias são bem claras e convincentes.

Mas aí vem a pergunta: No mundo existem 6 bilhões de pessoas, como é possível uma pequena parcela enganar tamanha quantidade de pessoas sem que a verdade seja revelada? Nenhum erro? Nenhuma falha que faça com que a verdade venha a tona?...Não há mídia que consiga enganar toda a humanidade....ou há?

Está aí um ótimo assunto para debatermos quando voltarmos aos estudos.

Até mais,

Gabriel.

***

Eu respondi em 22/01/2008 (ignorando OSTENSIVAMENTE a última frase da mensagem dele):

Mandei o video para vc pelo seguinte: vc sempre acusa os outros de estar mentindo; como vc reagiria a alguém que acusa os outros de estar mentindo? afinal alguém tem que estar certo (não ser mentiroso): ou que acusa ou o acusado.

O problema é que nós, reres mortais, simplesmente não temos como confirmar a maioria das informações que nos são passadas, de tal forma que o que é verdade e mentira depende mais da CONFIANÇA do que de qualquer outra coisa. Nós confiamos que a mídia noticía o que acontece "de verdade", pois nós não temos como provar ou refutar cada informação que nos é passada.

Um exemplo de como a mídia pode manipular: eu tenho uma revista Carta Capital de março de 2004 cuja manchete é a seguinte: "O EUA grampearam o Alvorada"; no interior da revista há uma entrevista de umas 20 páginas com o ex-diretor do FBI no Brasil na qual ele faz uma série de revelações bombásticas. Foi aberta até comissão de investigação no Senado por causa da reportagem. Pergunta: vc ficou sabendo disso? Se vc não leu a revista certamente não, simplesmente POR QUE TODO O RESTO DA MÍDIA DECIDIU QUE ISSO NÃO ERA IMPORTANTE, que você não precisava saber disso...Porém a mesma revista Veja que simplesmente não reconheceu sequer a suspeita de que isso tenha ocorrido estampou, ano passado, em sua capa a acusação, que depois se mostrou falsa, de que Lula e companhia estariam grampeando o STF...Eu não estou dizendo que a mídia tem que noticiar qualquer acusação como sendo verdadeira, mas perceba que existe uma arbitrariedade em decidir quais acusações são dignas de crédito e quais não são.

Essa é uma das formas pelas quais a mídia pode manipular: pela simples omissão, como está fazendo com essas acusações que aparecem no filme: por que não se debate isso?, por que não se prova que cada uma das acusações é falsa? Como a maior parte das pessoas confia na mídia, é mais fácil simplesmente ignorar os assuntos não convenientes.

Com relação ao fato de que não é possível fazer todo mundo de imbecil todo o tempo, muito me surpreende a sua argumentação, pois nós dois sabemos o quão idiota é a esmagadora maioria das pessoas. Em nosso país há milhões de pessoas cuja ÚNICA fonte da "verdade" é o Jornal Nacional e o Fantástico. Assim fica difícil não ser manipulado...O problema é que quando a verdade vêm a tona apenas algumas pessoas dão crédito a ela (por exemplo: não soa como completa loucura varrida vc realmente acreditar que o governo dos EUA perpretou o 911?; isso porque toda a mídia, na qual você confia noticiou o contrário, e vc é educado para acreditar que os governos, principalmente os do primeiro mundo, são criados para o bem-estar comum; perceba que se isso for verdade é um caso de corrupção muito mais grave que o mensalão ou a máfia das ambulâncias...).

Mas perceba que a maioria das pessoas que trabalha com a mídia também é enganada, ou seja: eles não sabem de nada, eles não são conspiradores (vc viu que o filme mostra um monte de repórtes DA CNN falando NO CALOR DO MOMENTO que os prédios caíram como se tivessem sido demolido; se eles soubessem da verdade e fossem conspiradores eles não fariam isso). Mas o que acontece é o seguinte: a maior parte da mídia simplesmente repassa informações que são fornecidas pelos grandes agências de notícias, que por sua vez repassam o que o governo diz. No exemplo que eu citei há pouco: os mesmos repórtes que achavam que os prédios foram demolidos vão deixar de achar isso, e vão deixar de noticiar isso, quando O GOVERNO afirmar OFICIALMENTE, que os prédios cairam por causa do fogo; eles confiam no governo e repassam a notícia. A Globo, a Veja, etc., elas apenas repassam notícias da CNN, da Reuters e de uns poucos informantes. Perceba que nínguém, na Veja e na Globo, precisa ser um "cospirador", pois eles também são enganados. O Willam Boner e A Fátima Bernardes realmente acreditaram no que diziam quando noticiaram o 911...

Uma das únicas falhas que achei no filme é a seguinte: tá legal, não bateu nehum avião no pentágono e aquele outro que caiu no mato também não caiu...mas ONDE foram parar os aviões que realmente foram seqüestrados (ou os aviões nunca existiram?) e ONDE foram parar as DEZENAS de pessoas, QUE TÊM NOME E PARENTES VIVOS, QUE CHEGARAM A LIGAR PARA ESSES PARENTES AVISANDO DO SEQÜESTRO DOS AVIÕES, onde foi parar toda essa gente, ou elas, seus parentes e suas histórias também nunca existiram?

O fato é o seguinte: quando vc assiste o filme vc fica com essa pergunta: "até onde eu estou sendo enganado?". O surpreendente é que o filme todo pode ser uma farsa bem orquestrada, mas o simples fato de nós não sabermos o suficiente sobre coisas que afetam diretamente as nossas vidas (como o cristianismo e o 911), ao ponto de não sabermos se o filme é falso ou verdadeiro, é preocupante, pois mostra como a "verdade" é frágil e passível de manipulação. Se algumas pessoas, à margem da mídia oficial, fazem um documentário que PARACE sério, que PARECE verdadeiro, a ponto de nos fazer questionar a mídia oficial, então o que é que a própria mídia oficial, na qual tanto confiamos, não é capaz de fazer? Quantos fatos não é capaz de omitir? Quantas versões falsas dos acontecimentos não é capaz de nos passar?

Pelo menos o grande ponto positivo do filme é que ele nos incita a pensar e a questionar, e não a aceitar passivamente tudo que nos dizem.

Abrax.

(...)
You, what do you own the world?
how do you own disorder
Now, somewhere between the sacred silence
Sacred silence and sleep
somewhere, between the sacred silence and sleep
disorder, disorder, disorder

When I became the sun
I shone life into the man's hearts
When I became the sun
I shone life into the man's hearts.


***
Ignorando OSTENSIVAMENTE o meu longo e-mail, Gabriel não forneceu resposta alguma.Nós também não voltamos a falar nesse assunto.
Mas eu ainda tinha algo a dizer. Trata-se do seguinte:

O filme não fala apenas de um fato isolado; ele fala da estatura moral da humanidade, do que o homem é capaz de fazer, até onde pode ele chegar. Se foi possível fazer isso (forjar o 911) uma única vez, então sempre será possível fazer coisas análogas quando as condições o permitirem. Que merda de mundo é esse, afinal?

Quando eu assisti o filme,lá em Janeiro, o contador do Google Video estava em uns 900. Hoje, agora pouco, ele marcava 1266. Das duas uma: ou o Google está mentindo (e você pode imaginar por que, não é mesmo?) ou quase ninguém se importa com isso (o que me chateia embora não me cause surpresa).

Até o meu irmão, Rômulo, que é o único outsider que eu conheço pessoalmente além de mim mesmo, não quiz ver esse documentário pois achou que o conteúdo iria de encontro com novas, espantosas e secretas revelações, descobertas em suas experiências pessoais (sobre as quais prefiro não falar, ao menos no momento), acerca da verdade última das coisas. Ele insiste (não que eu duvide disso) que coisas graves - na verdade gravíssimas - devem ocorrer a partir de 23/12/2012.

Já estamos todos mortos.





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

terça-feira, 11 de março de 2008

VIII - Na Matrix.

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§ 8






-----Mensagem original-----
De: Romulo Castro
Enviada em: segunda-feira, 10 de março de 2008 12:25
Para: Duan Conrado Castro
Assunto: RES: RES: !


Sim... quando ele vai falar com o Oráculo...
ele está no carro e fala: "-eu constumava jantar ali"
Tente fazer com que a sensação seja boa... lembre do mantra "vim a passeio".
Esse tipo de estado deve ser bom e não o contrário.


-----Mensagem original-----
De: Duan Conrado Castro
Enviada em: segunda-feira, 10 de março de 2008 12:22
Para: Romulo Castro
Assunto: RES: !


Encontrei o Gilberto na BPP. Ele se declara oficialmente ateu e está fazendo pesquisas sérias sobre telecinesia.
Hoje, na rua, tive - mais forte que o normal - aquela sensação do 1° Matrix quando a Trinity diz "entramos"...lembra dessa parte?


-----Mensagem original-----
De: Romulo Castro
Enviada em: segunda-feira, 10 de março de 2008 12:13
Para: Duan Conrado Castro
Assunto: !


O Outsider não pode negar a sua natureza!!

Ele deve fazer o que tem que fazer!
Assim seja irmão!!!






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quinta-feira, 6 de março de 2008

VII - Acerca da analogia pseudo-sociológica da "linha de montagem" e da sua contribuição ao entendimento do fenômeno da angústia existencial.

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§ 7





A ideologia hodierna reside em que a produção e o consumo reproduzem e justificam a dominação. Mas o seu caráter ideológico não altera o fato de que seus benefícios são reais. A repressividade do todo reside em alto grau na sua eficácia: amplia as perspectivas da cultura material, facilita a obtenção das necessidades da vida, torna o conforto e o luxo mais baratos, atrai áreas cada vez mais vastas para a órbita da indústria - enquanto, ao mesmo tempo, apóia e encoraja a labuta e a destruição. O indivíduo paga com o sacrifício do seu tempo, de sua consciência, de seus sonhos; a civilização paga com o sacrifício de suas próprias promessas de liberdade, justiça e paz para todos. (Herbert Marcuse. Eros e civilização, capítulo 4)



As diferentes formas de desajustamento social não devem ser vistas como "erros" do sistema, mas sim como "resíduos" do "processo de (re)produção social" (o processo de produzir a vida social, e de reproduzir as suas próprias condições de produção). Esses resíduos - ou "produtos defeituosos" -, por sua vez, surgem naturalmente do desajustamento dos dispositivos de regulação do próprio processo produtivo. Como estes dispositivos, devido à presença de informações incompletas e viscosas, inerentes à realidade material na qual existe uma guerra eterna entre as forças e todas as formas de vida pela disputa do espaço-tempo (e por conseguinte da matéria)-
o bellum omnium contra omnes - , jamais estarão perfeitamente ajustados, um certo grau de desajustamento social é, nesse sentido, "natural", portanto esperado a priori, e de forma alguma "um erro".

Como em todo processo industrial, há um rígido controle de qualidade, que se apresenta na forma de coerções que buscam abafar a atividade dos resíduos e assim minimizar os malefícios decorrentes de sua inevitável presença. Quando e se alguma categoria de resíduo (e uma delas é a do
outsider) sair do controle e ameaçar colocar todo o sistema em crise, a sociedade aciona seus mecanismos de defesa no sentido de regularizar a situação, por meio da eliminação física de parte do próprio organismo.

Como a vida é um desdobramento contínuo e cíclico da atividade, e como o indivíduo está preso ao seu narcisismo, a ele o seu desajustamento é apresentado, por meio de sofismas elaborados por sua racionalidade (
racionalidade essa que não passa de uma ferramenta que se encontra totalmente a serviço da volição individual), como uma qualidade, da qual não deve se envergonhar e a qual deve aceitar e defender, colocando-o, portanto, em desacordo com o sistema, mas em acordo com sigo mesmo.

Devido à coerção decorrente do controle de qualidade, as certezas do indivíduo quanto a correção de sua constituição podem ser colocadas em dúvida, não obstante ele "sinta", pelo já explicado, que ele está certo e que não merece castigo por sua situação,
pela qual, aliás, ele geralmente não é responsável, cabendo-lhe tão somente aceitá-la e afirmar a sua vida dentro das possibilidades que lhe foram fornecidas pelo próprio sistema (isso é, uma facticidade) com o qual agora ele está em conflito justamente em função dessa afirmação que acaba por ser a essência tanto de cada indivíduo, quanto da sociedade, bem como cada uma de suas instituições. Dessa forma, os indivíduos vivem como problemas individuais o que são na verdade problemas sistêmicos; isso por que a ideologia oficial assim trata esses problemas, a fim de eximir o "sistema" das suas responsabilidades - a "responsabilidade" pelos problemas sistêmicos é cobrada de suas vítimas.

Instala-se no indivíduo – reduzido ontologicamente, pelo irracionalismo pós-moderno, a um mero feixe de sensações hedonistas – , portanto, um conflito entre a afirmação, proveniente de seu mecanismo de auto-preservação e de auto-afirmação, e a negação, proveniente dos mecanismos de auto-preservação e de auto-afirmação da sociedade – a qual, aliás, encontra-se constitutivamente transpassada por uma cultura de pulsão de morte – , dessas características anômalas de sua constituição. Características que, se se multiplicarem dentro do sistema, levá-lo-ão ao colapso, dada a sua estruturação e dadas as condições materiais de (re)produção.
O rebelde, portanto, não passa de um desajustado. Aquele que está ajustado não conhece o descontentamento contra o sistema que cria cada indivíduo em si (no seu seio), por si (pelos seus mecanismos) e para si (para transformá-lo em parte do processo (re)produtivo).

O referido conflito no indivíduo causa-lhe frustração e pode, se não administrado corretamente, levá-lo a atitudes desesperadas, geralmente no sentido de reprimir, ou mesmo suprimir, o seu processo de vida. Por mais perspicaz e ardiloso que seja o indivíduo, ele não é forte o bastante para vencer a sociedade.

As engrenagens da sociedade são lubrificadas com sangue, com suor, com lágrimas e com sonhos frustrados.


Para um complemento a esse capítulo, leia: XXXV - Acerca de um pensamento "abominável" que se pode concluir a partir da analogia pseudo-sociológica da "linha de montagem".


O conteúdo desse capítulo VII foi reelaborado e expandido no capítulo CXII.




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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 1 de março de 2008

VI - Acerca da polivalência, do caráter multifacetado e contraditório, da manifestação fenomênica universal.

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§ 6





Hae omnes creature in totum ego sum, et praeter me aliud ens non est.


Se um dia alguém me pedir par
a definir o universo em uma única palavra, eu responderei: POLIVALÊNCIA. Encontra-se de tudo nesse mundo. Encontra-se todo tipo de pessoa nesse mundo. Aqui pobreza, ali riqueza; aqui beleza, ali feiúra; aqui alegria, ali tristeza; aqui esperança; ali desilusão. Etc. E, é claro, todas essa características se misturam nas mais diferentes combinações. Aqui, alguém belo, rico e infeliz; ali alguém feio, pobre e feliz. Etc.

Ontem, eu tinha
acabado de almoçar. Estava mais deprimido que o normal. Perto do cruzamento das Marechais, no centro de Cu-ritiba, um carro estacionado. Uma mulher de uns 30 anos, cabelos curtos, e um rapaz de no máximo 27 retiraram do veículo uma cadeira de rodas, sobre a qual vegetava uma idosa. Podia ter 60, 70, 80, 90 anos. Não sei. Sofria de uma doença degenerativo, ou de AIDS, ou das duas coisas. Parecia ter uns 200 anos. Podia-se ver a dor nos seus olhos. Sem emitir ruído, mantinha-se em estado de agonia e desespero. Parei em um ponto de ônibus, para ver melhor.





Aqueles que levavam a cadeira de rodas conversavam descontraidamente. Olhei em redor. Ninguém percebia nada de diferente. Ninguém notava a cena, o sofrimento. À minha direita, igualmente cego ao acontecimento, passou um garoto forte vestindo uma regata branca A morimbunda foi levada à agência Carlos Gomes, da CAIXA, a poucos metros de onde o carro estacionara.

Esse espetáculo lembrou-me de algo que ocorrera quase um anos antes, no primeiro semestre de 2007. Estava no tubo da linha direta (ônibus cinza chamado de "lijeirinho" pelos cu-ritib-anos) quando adentrou um homem. A pessoa mais feia que já vi na vida. E eu já vi bastante gente feia. Sua mão direita, toda torta e necrosada, (fogo? ácido? hanseníase?); seu rosto, idem. A cada cinco segundos ele, com a mão esquerda, apertava e coçava o outro braço, com cara de dor que eu poderia ver a um quilometro de distância. Quinze minutos depois, jantava eu no Restaurante Universitário da UFPR, rodeado de jovens fortes, saudáveis, de bem com a vida (características que, obviamente, eu não possuo), e jantando comida sub$idiada pelo governo.

Quem dá a mínima?







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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.