sábado, 1 de março de 2008

VI - Acerca da polivalência, do caráter multifacetado e contraditório, da manifestação fenomênica universal.

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§ 6





Hae omnes creature in totum ego sum, et praeter me aliud ens non est.


Se um dia alguém me pedir par
a definir o universo em uma única palavra, eu responderei: POLIVALÊNCIA. Encontra-se de tudo nesse mundo. Encontra-se todo tipo de pessoa nesse mundo. Aqui pobreza, ali riqueza; aqui beleza, ali feiúra; aqui alegria, ali tristeza; aqui esperança; ali desilusão. Etc. E, é claro, todas essa características se misturam nas mais diferentes combinações. Aqui, alguém belo, rico e infeliz; ali alguém feio, pobre e feliz. Etc.

Ontem, eu tinha
acabado de almoçar. Estava mais deprimido que o normal. Perto do cruzamento das Marechais, no centro de Cu-ritiba, um carro estacionado. Uma mulher de uns 30 anos, cabelos curtos, e um rapaz de no máximo 27 retiraram do veículo uma cadeira de rodas, sobre a qual vegetava uma idosa. Podia ter 60, 70, 80, 90 anos. Não sei. Sofria de uma doença degenerativo, ou de AIDS, ou das duas coisas. Parecia ter uns 200 anos. Podia-se ver a dor nos seus olhos. Sem emitir ruído, mantinha-se em estado de agonia e desespero. Parei em um ponto de ônibus, para ver melhor.





Aqueles que levavam a cadeira de rodas conversavam descontraidamente. Olhei em redor. Ninguém percebia nada de diferente. Ninguém notava a cena, o sofrimento. À minha direita, igualmente cego ao acontecimento, passou um garoto forte vestindo uma regata branca A morimbunda foi levada à agência Carlos Gomes, da CAIXA, a poucos metros de onde o carro estacionara.

Esse espetáculo lembrou-me de algo que ocorrera quase um anos antes, no primeiro semestre de 2007. Estava no tubo da linha direta (ônibus cinza chamado de "lijeirinho" pelos cu-ritib-anos) quando adentrou um homem. A pessoa mais feia que já vi na vida. E eu já vi bastante gente feia. Sua mão direita, toda torta e necrosada, (fogo? ácido? hanseníase?); seu rosto, idem. A cada cinco segundos ele, com a mão esquerda, apertava e coçava o outro braço, com cara de dor que eu poderia ver a um quilometro de distância. Quinze minutos depois, jantava eu no Restaurante Universitário da UFPR, rodeado de jovens fortes, saudáveis, de bem com a vida (características que, obviamente, eu não possuo), e jantando comida sub$idiada pelo governo.

Quem dá a mínima?







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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

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