sábado, 31 de julho de 2010

CXIII - Acerca duma tentativa de "responder" (desconstruir) à pergunta "por que coisas ruins ocorrem às pessoas boas?" - Pensando além do bem e do mal

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§ 113



Fiz-me, acaso, vosso inimigo dizendo-lhe a verdade? (Gálatas 4:16)

A verdade poderá ser um choque, ou uma grande dor e talvez, depois de conhecê-la, tivesse preferido permanecer na ignorância. Pois o que vier a conhecer não poderá lhe dar esperança alguma.

Para que tem um vislumbre da explosão de complexidade e sofisticação alcançada pelo pensamento humano ao longo do século XX é quase inevitável a surpresa diante da forma ingênua pela qual as massas se agarram à religião. O que me leva à pergunta: por que as pessoas ainda, no dealbar do terceiro milênio, se agarram à religião? Ou ainda, uma pergunta mais baixa: o que, francamente, leva alguém à tragicomédia de acreditar em, por exemplo, Virgem Maria?? É possível inventar uma resposta para essas perguntas que não passem por uma crítica do senso comum e da ignorância das massas? (Duan Conrado Castro, caminhando pelas ruas de Curitiba a caminho de um restaurante às 11:08 a.m. do dia 08/07/2010)

"'Sessenta e duas mil repetições fazem um verdade. Imbecis!'" (Bernard Marx, no capítulo III do livro Admirável mundo novo, de Aldous Huxley)



Transcrevo nesse capítulo uma resposta que eu elaborei para essa pergunta, que foi levantada numa comunidade do Orkut (a comunidade se chama R.E.L.A.). O diálogo apresentado a seguir ocorreu em Abril de 2010. Entre [colchetes] estão os meus comentários para esse blog, que não constam no texto original. Depois dessas minhas colocações, eu fui expulso da R.E.L.A. por não seguir as regras de respeito e civilidade...mas não me arrependo do que fiz, se tivesse me arrependido não teria reproduzido isso nesse capítulo.

Cabe esclarecer que quando escrevi o que segue eu estava emocionado porque tive algumas epifanias - isso pode ter me levado a um destempero emocional e epistemológico.


*A pergunta:

Pessoa 1 (LUTO) [Em respeito à intimidade dos envolvidos, eu troquei seus nomes por "Pessoa 1, 2 e 3".]

Por que coisas ruins acontecem às pessoas boas?

Já vi (mas não li) um livro cujo título era o postado acima. O autor, inclusive advertia que esta era uma das perguntas mais difíceis de serem respondidas. Por exemplo, ao adentrarmos num hospital que trata crianças com câncer, perguntamos por que tanto sofrimento a tantos inocentes? Quantas vezes na vida não presenciamos tragédias a pessoas de excelente índole?

A minha resposta a esta explicação é simplesmente "Não sei". No entanto dizer "não sei", não quer dizer que não exista uma explicação.

Bem, deixo a pergunta em aberto aos que se interessarem em tentar respondê-la.
abrs.

(...)

[Alguns fizeram comentários - tão previsíveis que não vou poluir esse capítulo reproduzindo-os aqui.]

[Pessoa 1 de novo, num outro scrap.]

Realmente, a quantidde de sofrimento é tão grande na vida ( é bom observar que o sofrimento também afeta os animais) que isto merece uma explicação. Muitas filosofias, religiões têm tentado explicar a causa do sofrimento. No entanto, não há unanimidade [e há no quê?]. Muito longe disso, as explicações são as mais diversas [como de costume].

Eu tinha um professor de filosofia que dizia o seguinte: "Quando não podemos compreender uma coisa, é melhor termos humildade diante do mistério e simplesmente admitir que não temos o poder de explicá-la"

mas, forçando um pouco a reflexão, talvez tudo que exista na vida seja necessário, ou seja, tenha uma razão de ser.

Dizer qual é esta razão, claro que não vou nem tentar, mas tenho fé que existo num universo racional.

O N.E.I. [outro usuário que escreveu antes dessa segunda participação da Pessoa 1] me socorreu com o título certo do livro, bem como com sua autoria.: "Quando Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas Boas" Autor: Harold S. Kushner.
Agradeço.
Com certeza ainda irei lê-lo. Mas, o título em si já representa uma reflexão universal na história do pensamento humano.

Eu lembrei-me agora da explicação do filósofo Spinoza, no sec. XVII, que mais ou menos dizia os seguinte: "O esforço do homem para preseverar em existência é infinitamente superado pelas causas exteriores." Spinoza salientava para a necessidade de pensarmos o problema de maneira sistêmica, ou seja na relação das partes para o todo, ou do todo para as partes. Primeiro, segundo Spinoza devemos considerar a ordem natural do universo como um todo e sabermos qual nossa inserção nela. Pela ordem natural do universo todas "as coisas se esforçam, enquanto podem para preservar a sua existência.' No entanto, todas as coisas estão determinadas a interagir com causas exteriores. Pode ocorrer de um corpo interagir com alimento e fortalecer sua existência; mas pode interagir com um vírus , uma bactéria ou uma causa mecânica que venha suprimir sua existência. Portanto para Spinoza a questão é simples: sofremos porque somos limitados e determinados pelo todo a interagir com as partes.
Uma bela e simples explicação. Com uma vantagem: em nenhum momento o filósofo recorreu as causas sobrenaturais.
No entanto, nosso ego é ansioso por uma explicação sobrenatural [presumo que o cristianismo não tenha nada a ver com isso...kkkk, eu não ia ficar comentando o texto dele aqui - já vou fazer isso exaustivamente abaixo -, mas não resisti...] para a nossa existência e para as causas do que ocorre em nossas vidas [perceba que a palavra "ego" foi introduzida com o fim sub-reptício de introduzir um juízo depreciativo de valor - ah, o poder das palavras!]. Afinal, quem vai "pagar a conta" [sede de justiça/vingança...como direi, em outras palavras, mais abaixo] dos que sofreram com as doenças, guerras, escravidão, acidentes etc. Como restituir aos que sofream as maiores injustiças e até às vezes perderam a vida de forma tão precoce?
Só um Poder Superior pode realizar tal tarefa [Abrakadabra]. Não é de se admirar que a crença em divindades seja tão universal.
Eu também acredito num poder Superior, mas me declaro agnóstico, ous eja: acredito, embora não tenha como explicá-lo ou entendê-lo.

*A minha resposta:

Duan Conrado

Pessoa 1, uma visão radicalmente diferente da sua [Não é necessariamente verdadeira, é apenas radicalmente diferente]

Bem, eu questionaria a própria estrutura da sua pergunta (aliás, uma pergunta tão imiscuída no senso-comum). O que são "pessoas boas"? O que são "coisas ruins"? Como inferir a existência de um nexo causal entre essas duas categorias? O que é "bem"? O que é "mal"? O exemplo das crianças com câncer é clássico no sentido de ser sintomático de uma estereotipação que não ultrapassa da aparência da realidade. No limite, diria que sua pergunta não pode ser respondida porque está mal formulada, é uma contradição em si mesma, ou, antes, é reveladora da insuficiência do discurso de mundo (1) que a fundamenta.

Novamente (como eu já falei a você em outras oportunidades) esse tipo de raciocínio é sintomático de uma teleologia, duma visão de mundo finalista, onde implicitamente se admite que tudo foi criado com algum propósito que sempre remonta à humanidade . Essa teleologia antropocêntrica é ainda acrescentada duma teleologia moral que advoga que, no fim, o "bem" (as "pessoas boas") é sempre recompensado e o "mal" (as "pessoas más") castigado, por algum mecanismo universal ubíquo e plenamente eficiente garantidor eterno da justiça.

Ora, essas crenças, que servem para consolar o indivíduo diante do caos e do despropósito da existência, são abaladas quando é inserida, mediante a experiência de vida, uma contradição fenomenológica, que releva a insuficiência dos modelos explicativos da realidade até então adotados pelo indivíduo como referenciais para a sua atuação na vida. É diante dessa contradição (p.ex., crianças com câncer) que o indivíduo se angustia ao entrever o caos e a anarquia atrás dos véus criados por seu discurso de mundo, sua descrição de uma realidade ilusória supostamente harmônica moral e esteticamente.

Por exemplo o caso de câncer. Está subsumido na sua fala que o câncer é uma espécie de "castigo", de punição para o mal: eis a teleologia moral implícita ao seu discurso. Se "pessoas más" tiverem câncer, então tudo bem!, isso é visto como nova prova da existência de uma teleologia moral universal. Porém essa teleologia moral desmorona diante da realidade de seres supostamente bons (p.ex., crianças) acometidos por essa doença. Desmonta-se assim o discurso teleológico que conferia coerência à realidade, permitindo ao indivíduo - desesperado de medo diante do vazio da máquina - entrever o caos e a anarquia que regem a realidade em detrimento das crenças sociais e individuais de harmonia e justiça.

As pessoas, ao longo se suas vidas, constroem "laços pulsionais, afetivos, libidinais". Porém o fazem num mundo anárquico no qual nada é garantido, a não ser a garantia de que tudo que existe está condenado à destruição. Então, de repente, sem aviso, sem justificativa moral, sem explicação (e, portanto, em oposição à teleologia moral na qual o indivíduo acredita), esses laços são rompidos pelas causalidades da vida (por exemplo, uma criança com câncer). O indivíduo tem toda sua estrutura psíquica, então alicerçada nesses laços pulsionais, comprometida abruptamente por uma realidade "cruel", que não liga para a moral, para a justiça, para a beleza, para a bondade, ou para qualquer ideal ético ou estético no qual o indivíduo acredita se fundamentar a realidade. Assim, o indivíduo é lançado abruptamente na realidade que ele buscou negar durante toda sua vida. E, dessa maneira, o indivíduo, para reconstruir seu equilíbrio psíquico, busca novas respostas, novos remendos para sua crença numa teleologia moral que nega a essência anárquica da realidade, porque a obscenidade de algumas verdades é simplesmente insuportável.


TODO DIA milhares de pessoas morrem no mundo, muitas delas de fome, sede, doenças facilmente curáveis (como malária e verminoses), câncer, acidentes automotivos (que são sacrifícios humanos socialmente aceitáveis ao deus-automóvel, nosso senhor e algoz de metal, plástico e espuma), acidentes de trabalho, assassinatos, suicídios, gripe, velhice, DSTs, nas guerras, no tráfico (de drogas, de armas, de influência, de pessoas, de órgãos,), etc. TODO DIA milhares de mulheres e crianças (a maioria, presumivelmente "inocente" e "boa") são violentadas, estupradas e mesmo traficadas como escravos (mas façamos justiça: os homens também são traficados como escravos, inclusive como escravos sexuais e eunucos, os quais, vale lembrar, são castrados presumivelmente sem anestesia, assim como ocorre milhares de veses TODO DIA com os animais destinados ao abate). TODO DIA milhões (eu disse MILHÕES) de animais (TODOS presumivelmente inocentes) são sacrificados nos açougues e nos laboratórios de pesquisa mundo afora, em honra do apetite humano e do "progresso" da ciência e da civilização (além dos animais mal-tratados, mortos, estuprados, torturados e comidos por seus donos). TODO DIA milhares de laços afetivos são rompidos abruptamente por um "destino cruel", infligindo angústia existencial a milhares de pessoas. Se tudo isso ocorre TODO DIA só podemos inferir que o sofrimento não é a exceção, mas sim A REGRA na vida humana (e na dos escravos animais). "Toda a vida é sofrimento" (Arthur Schopenhauer, plagiando o budismo no § 56 do tomo I de O mundo como vontade e como representação).

As pessoas, porém, presas no seu narcisismo (que apenas reconhece o que ocorre na sua experiência pessoal, ignorando a totalidade da vida universal [comparar com o que foi dito pela Pessoa 1 acima: "necessidade de pensarmos o problema de maneira sistêmica"]), e em sua tentativa covarde de fugir a essa realidade (pois ela, tal como é, lhes é insuportável) criam discursos de mundo que abolem o conflito, ou ao menos o legitimam, advogando a existência duma teleologia moral harmoniosa, perfeita, ubíqua, eterna, racional, justa, bela. Porém, mais cedo ou mais tarde, o "mal", a "realidade cruel, avassaladora e anárquica", negada pelo indivíduo a todo instante, acaba batendo à porta de TODOS NÓS (ninguém escapa [ - talvez alguns escapem sim...]). É esse o momento do encontro trágico do indivíduo (princípio de prazer) com a verdade (princípio de realidade) da qual ele buscou evadir-se ilusoriamente, mediante as elaborações discursivas do seu psiquismo, ao longo de toda sua vida, até esse fatídico momento: o caos reina! [ O que é dito aqui é reelaboração do conteúdo já apresentado no capítulo XXXVI.]

Um exemplo de reducionismo ontológico.

Divido aqui com vocês reflexões que me foram suscitadas por ocasião do conteúdo aqui discutido nesse tópico. Trata-se de um mero exemplo de reducionismo ontológico, que me ocorreu e que descreverei a seguir.

Vamos analisar a afirmação, tão recorrente no senso-comum, de que "tudo tem seu lado bom e seu lado ruim".

Novamente, vemos aqui um reducionismo ontológico preso ao princípio do terceiro excluído. Mas já há aqui alguma sofisticação do pensamento: em vez de advogar radicalmente uma realidade dualista dividida estaticamente entre "bem" e "mal", admite-se agora alguma contradição na realidade. Todavia, o reducionismo permanece, pois não se questiona as próprias definições de "bem" e de "mal", e mantém-se um dualismo que ignora: (i) que o que é "bom" (condizente aos interesse egoísticos do indivíduo que enuncia o juízo de valor) para alguém agora pode não ser bom logo antes ou logo depois; (ii) que o próprio julgamento que a pessoa é capaz de elaborar sobre o que lhe é "bom" está sujeito a sua limitação de consciência, de intuição, de informação, de racionalidade; (iii) que esse julgamento pessoal pode mesmo ser simplesmente incapaz de ser emitido: ou seja, a pessoa pode simplesmente ser incapaz de avaliar sua realidade momentânea em termos de maximização da sua utilidade pessoal; (iv) que, em função dos custos (de tempo e energia) dos processamentos cerebrais necessários aos juízos de valores, as pessoas acabam por adotar comportamentos maquinais (“rotinas”, “costumes”) que podem opor-se aos seus reais interesses (à maximização da utilidade pessoal) momentâneos, ou mesmo de médio e longo prazos; (v) que a própria identidade pessoal (em referência à qual são realizados os juízos de valor) é fluída, fugidia, mutante, incerta, permanentemente (re)construída, ficcional; (vi) que o que é "bom" para uma pessoa não necessariamente é, no momento, "bom" para uma outra, embora possa ter sido num passado ou possa ser num futuro (e essa multiplicidade anárquica é expressa pelo próprio senso-comum: "o remédio de uns é o veneno de outros"); (vii) que o futuro, ainda mais numa sociedade capitalista de alta entropia, é incerto e impossível de se prever com a precisão geralmente necessária para se executar qualquer planejamento de longo prazo; (viii) que o passado, e portanto a identidade do indivíduo, é permanentemente esquecido e relembrado e que, nesse processo, ele é permanentemente reconstruído e constantemente (re)definido; (ix) que muitas das decisões são irreversíveis (para repetir o chavão: “na vida não se pode voltar atrás”) e cumulativas; (x) que um único acontecimento ou decisão, mesmo tomada no curto prazo, é capaz de mudar completamente o curso de uma vida.

Ou seja, toda a complexidade da realidade, a angustiante polissemia do mundo, é destruída por uma fórmula racional e simplista: "tudo tem seu lado bom e seu lado ruim". O caos reina, mas esse caos é abolido, enquanto discurso, por uma racionalidade ingênua, despótica, arrogante e prepotente que desconhece suas próprias limitações (que não realiza a autocritica, tão necessária para evitar a estupidez), bem como desconhece sua função de mero instrumento do ego, do narcisismo e do hedonismo, sujeita ao imaginário e ao desejo.

As pessoas se apressam em falar da realidade, mas não percebem que as palavras roubam e reconstroem o real: elas não são uma descrição efetiva, perfeita, da realidade (que, em si, é irredutivel à palavra, e, portanto, à razão: é inominável). As pessoas falam palavras achando que estão falando da realidade. Não percebem que a linguagem, e portanto a razão (e principalmente uma razão que não se autocritica), não dá conta do real: ela não é o real, mas apenas uma mera interpretação. “Um mapa não é o terreno que ele representa, é apenas um mapa” (Alfred Korzybski) [ou, como diria Alan Watts, "O cardápio não é a refeição].

Mais uma tragédia qualquer

Acabei de assistir, enquanto almoçava, num telejornal uma notícia que relatou um caso em que dois bebês foram trocados na maternidade (aparentemente de PROPÓSITO, por uma decisão de uma enfermeira (isso é típico da síndrome do pequeno poder), que ao que tudo indica já fez isso antes OUTRAS VEZES). Como o bêbe era branco e o pai negro, o casamento (contraído recentemente) acabou sendo desfeito porque o marido achava que o filho não era dele, e que portanto fora traído. Vemos aqui a típica dramaturgia que enche a vida das pessoas nesse “mundo cruel”: por causa de uma decisão da enfermeira (a “pessoa má”) o casamento foi destruído, o amor do casal foi destroçado, os laços afetivos foram rompidos abruptamente, gerando grande sofrimento psíquico para o casal (a reportagem só entrevistou a esposa, desolada). Só depois dessa destruição do casamento é que a mulher fez um teste de maternidade e descobriu que ela também não é mãe da criança. Mas a tragédia não acaba aí: a polícia está fazendo investigações, está atrás do paradeiro do outro casal cujo filho foi trocado (segundo os registros da maternidade, há apenas outros três casais possíveis) e quando encontrar a outra criança trocada a justiça irá determinar A RETROCA das crianças: eis outra destruição abrupta dos laços afetivos que foram construídos no psiquismo dos pais das duas crianças ao longo de meses: de um dia para o outro, terão as crianças trocadas, e terão que reconstruir os laços libidinais. A mãe entrevistada diz que não quer fazer isso, pois já se afeiçoou à criança que agora sabe não ser sua (o que, convenhamos, é bastante compreensível quando entendemos o profundo laço libidinal construído entre mãe e bebê). Mas ela simplesmente NÃO TEM ESCOLHA: segundo a lei (que protege as crianças) a troca DEVE ser desfeita, e se ela, a mãe entrevistada, se recusar a fazê-lo estará cometendo um crime e será punida por isso. Por fim a mãe na entrevista solta o típico raciocínio finalista, sintomático da crença, agora colocada em dúvida, numa teleologia moral garantida por deus (conforme eu disse nos scraps acima): “eu me pergunto a deus o porquê".

Guerra à Besta Logocêntrica



Criei uma comunidade intitulada “Guerra à Besta Logocêntrica”. KKKKKKKKKKKK. Não é algo “sério”, mas apenas um desabafo, um grito de liberdade.

Segue descrição da comunidade:

Para aqueles que estão fartos do reducionismo ontológico forjado por uma razão despótica, ingênua e arrogante, que não se autocritica, e que ainda insiste em desconhecer suas limitações, bem como que não passa de uma ferramenta do psiquismo individual, sujeita à ação do desejo, do imaginário, da limitação intuitiva, e das contingências associadas à corporeidade.

Para aqueles que reconhecem que o real não é racional e que a realidade, em si, é inominável, irredutível à palavra. A palavra não é representante perfeita da realidade, que em sua complexidade e anarquia é irredutível aos esquemas simplórios de interpretação construídos pela lógica clássica (2).

Para aqueles que odeiam os infames princípios da identidade e do terceiro excluído, bem como outras fantasias que foram construídas pela lógica clássica e impostas pela Besta Logocêntrica - o Pensamento Ocidental - aos incautos, temerosos e ingênuos como sendo verdades apriorísticas.

Rebelar-se contra esse despotismo majestoso é a única opção digna!



Está na hora de acordar

Postei nos vídeos do meu perfil um série de vídeos chocantes sobre o sofrimento humano: crianças deformadas, miseráveis na África e na Ásia, exploração dos animais na indústria da carne e derivados, tortura de animais em nome da ciência, etc. Tudo SEM CENSURA (quem tem estomago fraco nem pense em assistir...). Quem tiver culhão que assista. A verdade tem que ser dita, doa a quem doer. SOMENTE ASSIM as coisas podem mudar, pois só sabendo a verdade as pessoas podem tomar alguma atitude transformadora do real (a Bíblia não diz, por exemplo, que "conhecereis a verdade e a verdade vos libertará"?). As pessoas, em sua covardia, egoísmo e comodismo, recusam-se a saber a verdade sobre o sofrimento absurdo que se reproduz todo o tempo em todo o mundo - para além do bem e do mal. Está na hora de acordar!

* Segue resposta dada pela Pessoa 1

Você voltou ao "Apeiron! Parmêndes , filósofo grego, também afirmava que a realiade última do universo era indizível, inominável.
Claro que você dá sustentação ideológia [perceba o uso da palavra ideologia para introduzir o juízo de valor e descartar a validade de tudo o que eu disse] numa linguagemmoderna e daseada snos conhecimentos científicos atuais o que sobremaneira enriquece o tema.

Spinoza já chamava a atenção entre a interaçãod os entes de razão ( nosso conceitos ) e os entes reais, usegrindo que nem sempre o que conceituamos corresponde a realidade, Não passam de dogmais verbais.


Descuple-me se minha definição é simplicista demais.
Parabéns pel iniciativa e já solicitei participação [na comunidade Guerra à Besta Logocêntrica]


* Daí eu aproveitei e chutei o pau da barraca de vez:


Racionalismo e o conceito mais vulgar de filosofo

Todos aqui conhecem a definição de filosofo: amigo da sabedoria. O que os racionalistas – que não são amigos da sabedoria, mas sim idólatras da razão – não percebem é que a própria definição mais vulgar de filosofia esconde um afeto (a amizade) e, portanto, uma irracionalidade.

Os idólatras da razão querem acreditar que a beleza e a virtude são derivadas da razão, e que todas as outras faculdades humana (chamadas de “sentimentos”) devem ser abolidas e reprimidas. Eles pensam que são “racionais”, mas não percebem que criaram um novo deus, um novo fetichismo, em louvor ao qual se curvam e fazem sacrifícios humanos e de animais.

Isso significa que o próprio projeto racionalista – que, vale lembrar, é uma construção histórica ocidental –, ao abandonar e reprimir a afetividade humana acaba por servir para a construção de um mundo despótico, maquinal, impiodeso, sem amor, sem compaixão – compaixão (empatia) que é a verdadeira fonte da moral (e não o deus-razão).

Em sua cegueira, os idólatras da razão contribuem para a destruição dos próprios ideais de beleza e justiça, substituindo-os, na prática, pelo látego de um despotismo que a tudo domina e reifica, que reduz tudo ao status de engrenagem do seu maquinismo.






A falta de autocrítica é a estupidez fundamental

Eu não sou uma pessoa de meias-palavras. Já que eu comecei a falar aqui, eu direi tudo (depois fiquem à vontade para me expulsar por não cumprir as regras sagradas da comunidade [como foi feito]). Em minha defesa, respondo antecipadamente a qualquer acusação citando a Bíblia (que, pelo que percebi, é respeitada por muita gente nessa comunidade [mas não por mim, embora eu já tenha citado tanto ela aqui nesse blog]):

Fiz-me, acaso, vosso inimigo dizendo-lhe a verdade? (Gálatas, 4:16)

Penso que as pessoas ficam presas num reducionismo ontológico porque não têm o hábito da autocrítica. A falta de autocrítica é a estupidez fundamental [A autocrítica da razão é sua mais autêntica moral", Adorno]. Assim, as pessoas [ou seja, o senso-comum] apressam-se em “explicar” a realidade reduzindo-a a formas simplistas, fundadas nos princípios da identidade e do terceiro excluído. Eis alguns exemplos clássico dessas formas simplistas (que enchem os “debates” dessa comunidade, que se considera tão sábia): Bem x Mal, Verdade x Mentira, Certo x Errado, Sim x Não, Alma x Corpo; Espírito x Matéria, Liberdade x Fatalismo, Eu x O outro, Nós x Eles, etc. (eu poderia escrever vários scraps apenas enumerando esses dualismos [ver capítulo CXVI]). As pessoas ficam girando em seus argumentos circulares, sem perceber que para sair desse ciclo vicioso precisam questionar “verdades” que se recusam a discutir.

Citando novamente a Bíblia (e eu gostaria de lembrar que eu sou ateu):

(...) antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato de obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. (Romanos, 1:21-22)

Os tópicos criados por muitos membros dessa comunidade – que se acham tão inteligentes (e que não percebem que ao afirmar isso – julgando a si mesmos e por conseqüência ao outro (que é burro) – caem numa falta de autocrítica e num desrespeito ao próximo) – estão cheios desse reducionismo. Vamos pegar apenas um exemplo qualquer, o tópico chamado “Homossexualismo”.

“Questão” levantada (perceba o uso reducionista do princípio do terceiro excluído): “A pessoa já nasce [homossexual] ou opta por ser?” (definiu-se uma questão com sete palavras!) (foi usada a dualidade liberdade x fatalismo).

O título do tópico revela que a pessoa que formulou a questão não estudou minimamente o assunto, pois não sabe a diferença entre homossexualismo e homossexualidade (como apontado pelo Osvaldo, que, aliás, se vocês não perceberam, deixou a comunidade – por que será?). Continuando no reducionismo ignorante, estúpido (ausência de autocrítica), a pergunta formulada e as respostas giram em torno de dualidades ingênuas, como a de gênero (homem x mulher). Acham que o homossexual masculino é, no fundo, um ser insatisfeito com seu sexo biológico, não sabendo, portanto, que esse é o conceito de transsexualidade, e não de homossexualidade. Ora, francamente...

Em seu reducionismo simplista, pretendem decifrar os segredos dessa questão com algumas poucas palavras: pergunta de sete palavras e respostas de poucas linhas (se ler já dá preguiça, imagine escrever!).

Em vez de estudarem a questão minimamente – e, francamente, nós estamos na internet, se não pesquisaram é por preguiça e comodismo –, o que exige esforço e autocrítica (e, portanto, coragem e humildade), pretentem resolvê-la com poucas palavras (porque insistem em alimentar a cômoda crença de que a realidade é simples e não complexa), não percebendo a arrogância e a falta de autocrítica em que caem. Isso porque para eles a verdade não importa, mas sim importa construir uma opinião (um achismo) o mais facilmente possível (com alguns silogismos – de preferência apenas um), de forma rápida e indolor, para assim satisfazerem seus egos criando a ilusão de terem algum controle da situação (estou me referindo ao conceito foucaltiano de vontade de saber/poder).

Em seus “discursos” (tenho até vergonha de chamar de discurso um ou dois silogismos baratos) reducionistas provam que não superaram o senso comum, do qual, em sua arrogância infantil, acreditam ter se libertado há muito tempo (de novo, a ausência de autocrítica). Provam que não conhecem conceitos básicos para entender a questão da sexualidade humana (conceitos que estão disponíveis de graça na internet, bastando um pouco de boa vontade para achá-los e compreendê-los): sexo, gênero, identidade sexual, orientação sexual, posição sexual, etc. (e, pelo que eu percebi, nem mesmo o membro que, no referido tópico, teve a coragem de se admitir bissexual não se deu ao trabalho de dominar esses conceitos). Toda a diversidade da sexualidade humana é reduzida à dualidade de gênero: um mundo multidimensional é transformado à força numa monolítica e eterna dualidade criada por uma razão ingênua com o auxílio do princípio do terceiro excluído: Homem x Mulher. Nossa, como a realidade é simples e como nós somos inteligentes...

Depois de afirmar que a ausência de autocrítica é a estupidez fundamental, eu poderia fazer um “juízo moral” (não considero moral pois usarei as palavras a seguir com isenção de juízo de valor) e me perguntar porque as pessoas não se autocriticam. Eis algumas possibilidades de resposta: porque são arrogantes (acham que sabem a verdade), porque têm medo de destruírem as verdades prontas e acabadas que escoram seu psiquismo e que usam para tomar decisões no dia-a-dia. Não acredito que seja por falta de inteligência (falta de capacidade de processamento cerebral) [talvez acredite sim...], mas sim por preguiça, comodismo, ingenuidade (falta de acúmulo informacional), medo e arrogância.

“Poucos sabem pensar, mas todos querem ter opiniões.” (Berkley)

Não estou lhes dizendo para acatarem as verdades eternas enunciadas por autoridades intelectuais. O que eu estou é, do fundo do meu coração, incitando-lhes à autocrítica: será que vocês sabem pensar? (o que eu penso disso já deve ter ficado claro...) Não está na hora de rever certas verdades (talvez insuportáveis) que, em seu dogmatismo, vocês se recusam a discutir?

Agora podem me expulsar por ter dito tudo isso aqui (me acusem de ter desrespeitado as regras da comunidade), e aproveitem para apagar tudo o que eu escrevi. Ou simplesmente finjam que não leram (se é que leram – afinal eu escrevo "demais"...) nada disso e continuem a viver num mundo ilusório, mas simples e gratificante ao ego.

Vida longa à R.E.L.A! Uuuuuuuuuuuuuuuu


*Pessoa 2 afirmou:

Eu não entendo porque desejariam ti expulsar, essa comunidade tem um patrulhamento ideológico?
Caso isso seja verdade não cabe a minha presença também, mas o fórum é para debater, neste sentido distorções e erros são corrigidos pelos contra argumentos prevalecendo a sensatez, ou será que alguém tem a resposta para tudo?
Pelo que percebi há duas vertente bem claro nesta comunidade: os religiosos ou filosofias espirituais e os mais agnósticos e voltado pela política social, penso que ambos podem conviverem e extraírem grandes ideias, mas já percebi que no
calor do debate, aparece um moderador sempre com as regras do R.E.L.A. , até entendo que não desejam serem uma comunidade como tem várias que ofensas e grosseriass prevaleçam, mas acabar em uma censura prévia também não é positiva, e tem tópicos que parecem discutir física quântica com a anti-matéria, isto é, não leva a lugar nenhum, delirando como a ingestão de um chá do Santo Daime ou um Absinto do Belle Epoque.

* Eu respondi:

Pessoa 2,

Bem, resta saber se realmente existe um diálogo, um debate, nessa comunidade, ou se há apenas encontros de monólogos. Eu repito aqui o que o Osvaldo disse antes de se retirar da comunidade (no tópico "Fico triste"):

"Eu não concordo com seu ponto de vista, pois como moderador você poderia ao menos levar em consideração, em uma comunidade de “autoconhecimento”, algumas das premissas básicas da teoria do conhecimento, que se faz necessário para atingirmos um grau satisfatório acerca de uma suposta "metodologia" dialética, na qual há a tese, antítese e síntese, o que não ocorre nesta comunidade por falta de adequada moderação para que possamos ir além de postagens iniciais e ficar o dito pelo não dito.
Meu discurso está longe de ser totalitário, mas sim focado naquilo que conhecemos dentro da diversidade que nos constitui e de comunicação clara e sem devaneios, com balizadores e norteamento claro para o desenvolvimento do bom debate.
Todos nós aqui sem exceção, inclusive eu, carecemos de informações, reflexões, contrapontos e também irmos para mais longe daquilo que pressupostamente determina nosso condicionamento pensante e subjetivo.
A impressão que tenho é que você [um dos moderadores da comunidade] simplesmente passa a mão na cabeça de todos dizendo que amanhã as coisas ficarão bem, e não se preocupem com nada, como em uma canção de ninar. "

*Pessoa 1 (LUTO) respondeu:

Duan, você interpretou muito mal o meu post. E talvez não tenha lido alguns comentários que fiz, citando Spinoza.

Agora é preciso que observemos a ordem requerida para filosofar; é preciso partir do todo para as partes, das causas para os efeitos [ou seja, ele está defendendo o método dedutivo]. O homem é uma parte da natureza e está submetido a interagir com causas internas e externas. Algumas coisas na natureza são úteis ao homem, outras prejudiciais, outras neutras. Portanto, o sofrimento é uma consequência necessária e inevitável da relação do homem com o universo e portanto consigo mesmo, visto que somos parte deste uiverso Nunca interpretei o sofrimento como castigo... A natureza nem é boa, nem é má; ela é um conjunto de causas efeitos .

era o que gostaria de esclarecer

*Eu respondi:

Pessoa 1,

De forma alguma eu "interpretei muito mal o post".

Pois é, eu li TUDO o que você escreveu. Por isso mesmo a minha "surpresa": basta a fatalidade abater-se sobre sua pessoa que, em detrimento do spinozismo, você se coloca a questionar "por que coisas ruins ocorrem a pessoas boas?" O que eu lhe propus é ir além dessas "verdades" (bem, mal, pessoas boas - e as pessoas más que são sua contrapartida necessária - , justiça, razão, blá, blá, blá) e aproveitar o seu luto para entrever o caos e a anarquia da realidade, que não se curva à teleologia moral. Não é curioso que você tenha se posto a questionar a teleologia moral e a afastar-se do cômodo "ponto de vista do infinito" [spinozismo] justamente quando a desgraça lhe bate à porta? Pois bem, o que eu estou afirmando (e eu acredito, diferentemente de você, que você realmente leu tudo o que eu escrevi), é justamente que esse sofrimento é permanente [do ponto de vista universal], e que as pessoas comodamente fecham os olhos para ele até o momento fatídico em que ele lhes bate à porta.

Você disse: "Agora é preciso que observemos a ordem requerida para filosofar; é preciso partir do todo para as partes, das causas para os efeitos."

Gostaria de saber de onde você retirou esse método infalível (o método dedutivo) para decifrar a verdade...(isso é uma pergunta, favor responder).

Você disse: "Nunca interpretei o sofrimento como castigo... A natureza nem é boa, nem é má; ela é um conjunto de causas efeitos."

Se você nunca interpretou o sofrimento como um castigo, então me esclareça por que ficou surpreso com o fato de "coisas ruins ocorrerem a pessoas boas?".

Talvez você que tenha "interpretado muito mal" tudo o que eu escrevi.

Você disse:

"No entanto, nosso ego é ansioso por uma explicação sobrenatural para a nossa existência e para as causas do que ocorre em nossas vidas. Afinal, quem vai "pagar a conta" dos que sofreram com as doenças, guerras, escravidão, acidentes etc Como restituir aos que sofream as maiores injustiças e até às vezes perderam a vida de forma tão precoce?
Só um Poder Superior pode realizar tal tarefa. Não é de se admirar que a crença em divindades seja tão universal.
Eu também acredito num poder Superior, mas me declaro agnóstico, ous eja: acredito, embora não tenha como explicá-lo ou entendê-lo."

Ora, tudo isso se resume a uma expressão: TELEOLOGIA MORAL. Se você não conhece, sugiro que pesquise.

Se você não concorda com minha argumentação, ótimo! Agora não venha me acusar de "interpretar muito mal" [o que não deixa, em parte, de ser um vício racionalista que acredita que as palavras são uma descrição exata e imediata do real].

* Respostas da Pessoa 1

Bem Duan vamos por partes:

1. "Pois é, eu li TUDO o que você escreveu. Por isso mesmo a minha "surpresa": basta a fatalidade abater-se sobre sua pessoa que, em detrimento do spinozismo"

R-) estudo a filosofia de Spinoza muito antes do meu luto, aliás há mais desde de 1988 e portanto a sua argumentação acima foi precitada. [Ah é? Que isso sirva-me de lição para entender a vacuidade de tentar dialogar]

2 "...sofrimento é permanente, e que as pessoas comodamente fecham os olhos para ele até o momento fatídico em que ele lhes bate à porta."
R-) Não acho que o sofrimento seja permanente; pelo contrário há muitos momentos que conseguimos superá-lo e quanto mais compreendemos as suas causas, mas fortes seremos para combatê-lo.

3. "Você disse: "Agora é preciso que observemos a ordem requerida para filosofar; é preciso partir do todo para as partes, das causas para os efeitos."
Gostaria de saber de onde você retirou esse método infalível..."
R-) Na verdade este o ponto de partida da filosofia spinozista: temos que interpretar natureza como um todo. Como um todo ela é um conjunto de causas e efeitos e destituída de finalidade ou teleologia. O homem não é algo diferente da natureza ; ele é natureza na natureza é uma parte da natureza e está determinado a interagir com causas exteriores e interiores. Como o poder que homem tem de preservar a sua existência é infinitamente superado pelas causas externas, resulta daí a vulnerabilidade do homem aos sofrimentos. Portanto esta é uma explicação mecânica e não teleológica [concordo plenamente!].

"Se você nunca interpretou o sofrimento como um castigo, então me esclareça por que ficou surpreso com o fato de "coisas ruins ocorrerem a pessoas boas?".
R-) Nas realidade este não é um questionamento pessoal meu; mas uma indagação universal da filosofia. Citei até um livro que pormenorizava melhor esta situação [o leitor percebeu as estratégias argumentativas usadas aqui?] Como sou spinozista defendo que a nossa vulnerabilidade ao sofrimento resulta não de algum castigo, mas é uma consequência necessária da forma como a natureza funciona e da nossa inserção nela - como expliquei acima.

4.
"No entanto, nosso ego é ansioso por uma explicação sobrenatural para a nossa existência e para as causas do que ocorre em nossas vidas. Afinal, quem vai "pagar a conta" dos que sofreram com as doenças, guerras, escravidão, acidentes etc Como restituir aos que sofream as maiores injustiças e até às vezes perderam a vida de forma tão precoce?
Só um Poder Superior pode realizar tal tarefa. Não é de se admirar que a crença em divindades seja tão universal.
Eu também acredito num poder Superior, mas me declaro agnóstico, ous eja: acredito, embora não tenha como explicá-lo ou entendê-lo."
R-) Mais uma vez me referi às indagações que a humanidade faz à séculos a tais situações que descrevi e na crença existente em muitas culturas da necessidade da existência de um Poder Superior para restituir aos que sofreram .
No final relatei a minha posição com agnóstico; ou seja que não tínhamos uma base sólida para afirmar que tal Ser Superior Exista, mas também que não temos como negar esta possibilidade de forma definitiva

"Ora, tudo isso se resume a um expressão: TELEOLOGIA MORAL. Se você não conhece, sugiro que pesquise."
R-) Eu sei de há muito que o postulado básico do conhecimento científico é a recusa de explicar a natureza em termos de causas finais, ou seja como algo projetado para atingir tal finalidade. O princípio científico é, portanto, o da objetividade
A teleologia moral se restringe mais a posicionamentos religiosos e há algumas filosofias. Mas, não é levado muito a sério pela ciência. No entanto - e atente bem para isso - não é possível para a ciência afirmar categoricamente e em definitivo a não existência de uma teleologia moral na natureza, até porque é impossível se imaginar uma experiência científica que a refute totalmente.
Por exemplo Darwin desenvolveu a Teoria da Evolução baseada no princípio da objetividade, mas declarou´ser agnóstico em relação a natureza ter ou não um sentido moral, dela ter sido criada ou não por um Deus.

Se você não concorda com minha argumentação, ótimo! Agora não venha me acusar de "interpretar muito mal". DUAN
DUAN,
Quando me referi a você não interpretado bem o meu post, eu quis dizer o seguinte: nele eu não só manifestei minha opinião pessoal, mas fiz algumas conjecturas e especulações que o pensamento religioso e filosófico tem em relação a este assunto

perceba que eu dissertei sobre diversos pontos de vista: explicação teleológica, explicação mecanicista, agnosticismo etc.

Então, nem tudo que escrevi representava uma opinião particular, mas um brevíssimo relato de algumas mundivisões.

Sobre sua opinião, ela me parece uma defesa da filosofia de Schopenhauer. Como tal , tudo que você escreveu é legítimo de se defender. Mas a filosofia do "Schop", embora brilhante está longe de ser recebida com unanimidade; alguns concordam outros discordam, outros "ficam no muro"... isso ocorre com todas filosofias [não diga...]

Portanto, você tem o direito de exprimir a sua opinião mas não de reivindicar para ela o status de irrefutabilidade. [comparar com o que foi dito acima: "Agora é preciso que observemos a ordem requerida para filosofar", e depois: "Na verdade este o ponto de partida da filosofia spinozista"]

Então, vamos pesquisar juntos porque a existência de ideias diferentes levará a seleção cultural das mais adequadas e isto é o que promove a evolução cultural.


* Minhas respostas

Vamos às devidas respostas....

1) Não entendi o que você quis dizer, caro Pessoa 1, senão vejamos: você afirma estar estudando Spinoza há 22 anos...e mesmo assim, quando ocorre uma desgraça em sua vida, você se põe a questionar, e a tentar entrever porque a teleologia moral na qual você acredita A PESAR DE SPINOZA não funciona perfeitamente. Isso CONFIRMA o que eu disse, e não nega...favor esclarecer, pois não estamos conseguindo chegar a um acordo nesse ponto...(ler o resto antes de responder isso aqui, pois eu repetirei argumentos nos tópicos seguintes).

2) Quando eu afirmei que o sofrimento é permanente, eu afirmei que ele é JUSTAMENTE DO PONTO DE VISTA DA TOTALIDADE EXISTENCIAL, conforme DESCRIÇÃO que eu inclusive fiz num dos scraps. Mas você continua a ver do ponto de vista do indivíduo (é claro que nas nossas vidas pessoais o sofrimento não é permanente). Concordo que essas minhas afirmações foram influenciadas pela filosofia schopenhauriana.

3) Pois é, é um pressuposto spinozista, e não uma verdade eterna e inquestionável que nós devemos seguir sem questionar. Concordo que não há teleologia moral na descrição mecânica de Spinoza. PORÉM NÃO CONCORDO que não haja teleologia moral na pergunta com a qual você criou esse tópico. É justamente por isso a minha consternação: COMO É QUE VOCÊ, spinozista há 22 anos, me levanta uma questão dessas?

4) Lamento informá-lo, mas essa NÃO É UMA INDAGAÇÃO UNIVERSAL DA FILOSOFIA. Aconselho-o a estudar FILOSOFIA CONTENPORÂNEA (a partir de Nietzsche), e você descobrirá que estas questões JÁ FORAM SUPERADAS, justamente pelo caminho que eu indiquei (QUE NÃO É SCHOPENHAURIANO): foi "demonstrado" que essa perguntas não podem ser respondidas porque simplismente NÃO PODEM SER FORMULADAS. O livro que você citou NÃO É FILOSOFIA, pelo menos não para mim, mas sim é uma AUTO-AJUDA BARATA E BURGUESA DAQUELAS QUE SE VENDE EM SUPERMERCADO JUNTO COM "CREPÚSCULO" E "MARLEY E EU".

"Como sou spinozista defendo que a nossa vulnerabilidade ao sofrimento resulta não de algum castigo, mas é uma conseqüência necessária da forma como a natureza funciona e da nossa inserção nela - como expliquei acima."

Repito de novo: se você REALMENTE pensasse assim, não teria criado esse tópico (não é evidente?). O fato é que a sua experiência de luto pessoal levou-o a QUESTIONAR JUSTAMENTE ISSO, pelo motivo que eu já discorri longamente: quando o sofrimento bate à nossa porta é que nos percebemos a insuficiência de nossas "verdades". O fato é que, para amainar o seu sofrimento pessoal, VOCÊ QUER ACREDITAR que existe uma teleologia moral que justifique a sua perda.

5) "A teleologia moral se restringe mais a posicionamentos religiosos e há algumas filosofias. Mas, não é levado muito a sério pela ciência."

O quê????? Hahahahahhahahhahahahaaaa. Você só pode estar de brincadeira, né? MESMO QUE a ciência não possa provar que não existe teleologia moral (e realmente não pode - assim como não pode provar que deus não existe), NENHUMA teoria científica decente e confiável recorre a QUALQUER teleologia moral. Se eu estou errado, então me DÊ UM ÚNICO EXEMPLO. E não me venha falar DA OPINIÃO PESSOAL DE DARWIN OU DE QUALQUER OUTRO CIENTISTA, eu estou falando de CIÊNCIA, não de CIENTISTAS.

Finalizando)

Lamento informá-lo mas eu NÃO ESTOU fazendo uma defesa da filosofia de Schopenhauer, por um motivo simples: ela TAMBÉM CONTÉM UMA TELEOLOGIA MORAL [Ohhhh]. O primeiro filósofo moderno a abandonar a teleologia moral foi Nietzsche. E, depois dele, praticamente toda a FILOSOFIA CONTEMPORÂNEA fez o mesmo. Então, se você quiser saber mais, e se quiser conhecer a “evolução cultural” eu o convido a ABANDONAR O SÉCULO XVII estudar filosofia pós-Nietzsche.

“Então, vamos pesquisar juntos porque a existência de ideias diferentes levará a seleção cultural das mais adequadas e isto é o que promove a evolução cultural.”

Mas adequadas para quê? Evolução cultural para onde? Para se chegar à ‘verdade”? Ou para escorar o psiquismo individual em seu cotidiano de família e trabalho? Será que a “verdade” é realmente “suportável” para quem quer levar uma vida da maneira mais confortável possível?

Eis alguns nomes de filósofos e pensadores contemporâneos (além, é claro de Nietzsche, Marx, e Freud): Sartre, Camus, Foucault, Derrida, Adorno, Horkheimer, Marcuse, Arendt, Debord, Baudrillard, Habermas, Deleuze, Benjamin, Jung, Lacan, Reich, Fromm, Adler, Reich, Lukács, Gramsci, Barthes, Wittgenstein, Heidegger, Bergson, Russell, Husserl, Zizek, Kurz, Harvey, Durkhein, Weber, Engels, Kuhn, Cioran, Berger, Gorz, Bourdieu, Bachelard, Chomski, Khun, Wiener, Dewey, Popper, Lipovetsky, Vattimo, Lyotard, Canevacci, Lévi-Strauss, Morin, Touraine, [ver P.S.] etc., etc.

* Resposta da Pessoa 1:

Duan esta não é uma comunidade spinozista e por isso não me sinto na obrigação de fazer indagações partindo apenas da mundivisão de Spinoza.
Estudei Spinoza e vários outros pensadores e portanto não me sinto na obrigação de me ater apenas a ponto de vista de um só filósofo.

Você afirma que meu post não é uma indagação universal da filosofia. Eu entendo por filosofia "amor á sabedoria" e é claro que o questionamento sobre o porquê do sofrimento está presente no ego das pessoas. Não podemos conceituar "filosofia" apenas as idéias que foram publicadas por pensadores famosos [com certeza o "filósofo" autor do livro "Quando coisas ruins..." é bem mais famoso do que muitos que eu citei - que são conhecidos apenas nos círculos acadêmicos, e não por pessoas que ficam filosofando no Orkut].
Você citou alguns pensadores que parecem não se importar muito com este tema [realmente SÓ PARECEM não se importar]; eu poderia citar vários que se interessam, ous e interessaram entre eles Einstein . Em vários momentos de sua obra Einstein faz referências a existência de Deus e aos porquês da vida (aliás defendendo a mesma hipótese de Spinoza) Não vejo nenhum destes que você citou ter superioridade intelectual em relação a Einstein

Em nenhum momento eu disse que a ciência recorre a teleologia moral para explicar o universo; antes pelo contrário disse que a ciência se fundamentava no Princípio da Objetividade que é exatamente recusar qualquer explicação finalista.

Sobre evolução cultural eu convido você a estudar a ciência que há muito tomou o lugar da filosofia [pois é...]. Leia Sobre o DNA, o Código Genético, a Teoria da Evolução, A Teoria da Relatividade, A Teoria Quântica A teoria da Endossimbiose Sequencial, a microbiologia etc etc [e depois compre no supermercado o livro "Quando Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas Boas" do "filósofo" Harold S. Kushner - pois, afinal, a sagrada ciência continua não sendo suficiente para a "sede de respostas" de alguns]

A verdadeira evolução cultural apontada por Auguste Comte traz a seguinte sequência de estágios do conhecimento em sequência ascendente de complexidade
1. conhecimento religioso.
2.conhecimento filosófico
3.conhecimento científico

Eu estudo há 22 anos Spinoza e o considero um dos melhores filósofos. Mas não fiquei no Spinozismo; eu procurei dar o salto intelectual da filosofia para ciência e procuro entender as teorias científicas, claro dentro das minhas limitações interpretativas [e por algum motivo prefere não saber o que a filosofia do século XX têm a dizer sobre a religião e sobre o pensamento teleológico e universal].

A ciência superou a filosofia porque não ficou apenas fazendo especulações abstratas, mas procurou compreender experimentalmente a natureza e a a partir deste conhecimento trazer melhorias à qualidade de vida da humanidade.
A ciências deu à humanidade os antibióticos, as vacinas, a eletricidade, as técnicas cirúrgicas, os mais diversos tratamentos médicos, a tecnologia moderna.. vais nos dá muita coisa ainda como as revolucionárias terapias com células-tronco, nanotecnologia etc.
Além de tudo a ciência através do seu método experimental deu à humanidade um conhecimento muito mais apurado do universo e da evolução e desenvolvimento da vida na terra.

Se queres evoluir culturalmente amigo, não fiques apenas na filosofia. Embora a filosofia seja uma das mais prazerosas fontes de conhecimento e intelectualidade, o conhecimento científico é, sem dúvida ( como disse Einstein ) "a melhor ferramenta que temos para conhecer a realidade"

Mas, como saudosista que sou, às vezes curto muito debater filosofia...[A filosofia anterior ao século XX, ou a de algum "filósofo"de auto-ajuda.]

* Resposta da Pessoa 3 (um dos moderadores da comunidade - finalmente chegou!)

Duan Conrado!

Meu amigo! (jovem até acredito) quantas expectativas lhe atormentam, acalme-se!!

Primeiramente:

É um prazer ter você aqui, fique a vontade, escreva o que lhe faz bem, se essa linha dialética e seu modo de tratar as opiniões alheias desta forma lhe traz descanso a sua consciência, continue...

Suas opiniões são bem interessantes, gosto do modo que escreve, "esteticamente" é bem legalzinho.

Esse é seu estilo? OK! As diferenças são e sempre serão bem vindas aqui!

Se o conteúdo me agrada, isso eu não sei ainda, talvez não ou sim, mas e dai? Afinal...sou apenas um moderador "irresponsável" que insiste em acreditar nas pessoas, hunnn...talvez outra coisa além daqui, não esteja legal para você, mas, só talvez né? São tantos talvez na vida que me dou ao habito de me preocupar com coisas menos importantes, como no motor do meu fusca 1970 que está com um barulho diferente de uns dias para cá, pois é...já faz uns dias e não corri para ver isso ainda... Cara chego a conclusão que nem o carro que me leva toma minha atenção ou a Paz como "talvez" deveria, é... nem isso. Tenho momentos de raiva, mas na maioria das vezes estou em Paz.

Espero que você melhore se estiver com problemas, você e meu fusca... é talvez melhore.

De qualquer modo fui aceito na sua comunidade e agradeço e por respeito as pessoas não farei de lá um palanque moralista com base no que acredito ser o ideal! criticas podem ser redigidas de modo respeitoso, fique em Paz.


* Minha resposta

KKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKKK

Vocês são uma piada mesmo. Agora vêm falar de de ciência! Só faltou falar que o livrinho de auto-ajuda é filosofia sim (se é que não é ciência...). Realmente não sei o que a biologia tem a ver com o que estamos falando aqui, a menos que seja para o Pessoa 1 mostrar que o pensamento dele vai além de Spinoza (o que eu sei, pois já o conheço de outros carnavais...).

Com relação ao que disse o Pessoa 3. Agradeço pelo elogio. Saiba que eu vou muito bem, obrigado! Aliás, nunca estive melhor. Como eu estava de férias no trabalho eu acabei "bobeando" e caindo nessa comunidade (para qual fui convidado à época de sua criação). Assim como eu vim, "do nada", eu vou aproveitar esse momento para me retirar novamente às minhas atividades (trabalho, faculdade, blog, etc.).

Abraços a todos!

Au revoir!

(P.S.: Peço que encerremos a discussão aqui, senão eu serei obrigado a responder. A menos que me expulsem...)

* Resposta da Pessoa 1

Eu falei de ciência porque vc relatou que meus estudos tinham parado em Spinoza e que precisaria ler autores contemporâneos. Lembre-se que dentro deste tópico você refutou a necessidade de pesquisarmos para chegarmos a uma evolução cultural [????]. Para mim evolução cultural e saltarmos intelectualmente da filosofia para ciência, sem ,é claro a necessidade de abandonarmos de todo a filosofia. [Ou seja, continuamos a usar a filosofia anterior ao século XX - que é uma filosofia em geral mais leve e inteligível - como muleta existencial para as indagações que a ciência não é capaz de responder devido às limitações do seu método. Confundir auto-ajuda com filosofia é um erro ingênuo e fatal.]

A biologia tem tudo a ver com o conhecimento humano, pois como afirmou Jacques Monood ( prêmio Nobel de Fisiologia): "Todo conhecimento que verse sobre o homem tem que partir da biologia." [isso se chama biologismo - uma "ideologia"...] As próprias condições que nos levam a pensar têm base biológica em células especiazadas...
Aliás, a Teoria da Evolução é uma das principais teorias que dão conhecimento em relação a nós mesmos e que que contextualizam o homem dentro da natureza.

Sem o devido conhecimento biológico da natureza humana e da sua relação com a natureza, teríamos que apelar para especulações abstratas e sem respaldo experimental [como as de Kushner & cia, com seu livros cujos títulos são friamente planejados para serem exposto em livrarias e supermercados e serem comprados por ingênuos e incautos leitores da pequena-burguesia].

Mas, é isto ai Duan. É muito importante que os debates se formem em torno de ideias diferentes. Como já frisei algumas vezes, "se todos tivéssemos o mesmo pensamento, morreríamos de tédio" Então, é melhor fazermos uma "guerra intelectual" (rss).

* Minha resposta

Sim. Mesmo que nós dois permaneçamos "irredutíveis" em nossas opiniões, amigo Pessoa 1, é possível que esse debate tenha sido muito instrutivo para outras pessoas que o leram, e que, de repente, não concordam nem comigo nem contigo.

P.S.: Quando eu escrevi tudo isso, eu não conhecia o pensamento da complexidade, tampouco a obra de Edgar Morin. Se eu conhecesse, teria citado-os amplamente. Afinal, a minha luta nesse texto foi justamente contra o pensamento linear, simplista, reducionista.

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(1) Nota para este blog: Passei a usar a expressão "discurso do mundo" para substituir a expressão "visão do mundo" (mundivisão, cosmovisão), que eu usava antes (por exemplo, usei no capítulo LVIII). É importante entender por que eu mudei essa expressão: eu pretendo com isso salientar o caráter processual e subjetivo da formação da visão de mundo. Embora a visão obviamente seja um processo biológico, está implícito no uso corrente dessa palavra um caráter de "dado empírico", de "objetividade", de descrição fiel da realidade. É por isso que substituí, nesse caso, a palavra "visão" por "discurso".

(2) Nota para este blog: Um dos motivos pelos quais as pessoas são levadas aos extremos ontológicos (exemplo: “a sociedade controla o indivíduo” x “o indivíduo é totalmente livre”, ou ainda “o gay nasce assim” x “o gay escolhe ser assim” – ou seja “fatalismo” x “livre-arbítrio”) é porque assim elas podem – ao adotarem como verdade absoluta uma das posições antitéticas – forjar para si uma relação lógica básica – simplista e reducionista – linear do tipo “A implica em B” (A → B). Ora, para alguém que tem um mínimo de treinamento em crítica da razão, é demasiada visível a ingenuidade da maioria das pessoas, que realmente acredita que a realidade pode ser descrita pela lógica clássica, aristotélica – embora essa ingenuidade já tenha sido, no século XX, definitivamente superada pela filosofia e pelas ciências, ela permanece arraigada no senso comum da cotidianidade reificada. Igualmente, é demasiado visível o predatismo da razão, animada pela vontade de saber/poder, sobre o real, levando a razão a falsificar a realidade para que ela se submeta aos seus ditames. Também é fácil entrever, por detrás dessas polarizações dualistas, o velho conhecido princípio do terceiro excluído, acompanhado do seu amigo do peito, o princípio da identidade. Kant – no século XVIII, ou seja, há bastante tempo – chamaria esses extremos ontológicos antitéticos de “antinomias da razão pura” (vide Crítica da razão pura).





***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

5 comentários:

g. disse...

Essa sua resposta foi de certa forma uma síntese de vários pontos de vista que poderiam ser coletados em vários posts do seu blog. Bastante "duaniana" RS. O que eu reparei, não sei se corretamente, é que a pessoa 1 adaptava suas palavras conforme lia as suas objeções. Engraçado que tudo terminou "em paz". Te baniram da comunidade mesmo assim?

"Sobre evolução cultural eu convido você a estudar a ciência que há muito tomou o lugar da filosofia"

Essa pra mim (e a continuação disso) foi a pior parte... Por que será? Deu uma dor profunda ler isso. Dor também ao lembrar que certos professores do departamento de filosofia da UFPR pensam isso, pois pensam que a filosofia no século XXI alcançou o status de ciência, e eles pensam que isso é uma coisa maravilhosa, como se a filosofia tivesse sido promovida a uma posição mais digna.

g. disse...

"As pessoas falam palavras achando que estão falando da realidade. Não percebem que a linguagem, e portanto a razão (e principalmente uma razão que não se autocritica), não dá conta do real: ela não é o real, mas apenas uma mera interpretação."

"A verdade buscada pela filosofia, embora tenha uma relação íntima com a linguagem, não é idêntica à linguagem" (Adorno, Dialética Negativa, p.117)

Duan Conrado Castro disse...

Gabriel,

Eu fui expulso semanas depois (uns 3 meses depois) de ter dito tudo isso. Como não havia feito praticamente nenhuma outra participação na comunidade, só podem ter me expulsado em conseqüência do ocorrido acima. Mas há outra interpretação. Na minha comunidade “Guerra à Besta Logocêntrica”, eu fiquei batendo boca com o proprietário da R.E.L.A., e acabei expulsando ele quando ele tinha “admitido” a derrota no debate que ele travou comigo (expulsei ele para ele não poder apagar tudo que ele escreveu). Então, ele pode ter me expulsado por retaliação. Todavia, a discussão que tive com ele foi justamente sobre a minha má educação na R.E.L.A. – ou seja, uma continuação do que está aí em cima.

Dor profunda, é? O que mais me entristeceu é que ao mesmo tempo em que desdenham a filosofia em comparação com o “deus-ciência”, quando resolvem dar alguma atenção para a “filosofia” acabam confundindo auto-ajuda com filosofia contemporânea (a qual eles desconhecem completamente), e ainda com traços de religião. Em resumo, usam o status de filosofia para abençoar o senso comum e a auto-ajuda...Lamentável.

Usar Comte para defender a supremacia da ciência é com certeza desconhecer (ou ignorar) todo o debate acerca de epistemologia e filosofia/sociologia da ciência que ocorreu no século XX. Usar biólogos para defender a supremacia filosófica da biologia é com certeza insuficiente, já que não se deu ao trabalho de saber o que os filósofos do século XX disseram sobre isso.

Thomaz disse...

Lembro que estava assistindo um vídeo no youtube que mostrava crianças afetadas por doenças raras e bizarras (se eu me lembrasse o nome do vídeo, e tivesse certeza sobre sua veracidade, mandaria o link pra vc). Mas o fato é que nesse vídeo aparecia um bebê que nasceu com uma doença que causava segueira e desprendia a camada externa da pele dando a impressão de que ele tinha sido completamente esfolado ou que se tratava de um filhote de algum animal extrememente feio. O corpo estava por completo "em carne viva". A pessoa que visse aquilo e ficasse 100% confortável poderia perfeitamente me representar tudo o que vejo de monstruoso na raça humana.

E abaixo do vídeo haviam os comentários.
Alguém comentou assim: "Como pode um castigo tão grande para alguém que é inocente? Não consigo entender pra que isso"
A seguir, alguém (provavelmente um espírita) respondeu a coisa mais IMBECIL que eu já ouvi na vida:
"isso é castigo por que essa criança deve ter feito algo muito grave em sua vida passada".

Pense disso o que quisér, mas eu (que sempre tento ser meio estoicista) acho que nunca odiei tanto as palavras de alguém como odiei o que esse espírita falou.
Meu aborrecimento foi tão grande que sempre que surge a oportunidade eu faço questão de expressá-lo e falar do ocorrido.

Duan Conrado Castro disse...

Pois é, a metempsicose é usada desde tempos imemoriais para fundamentar uma teleologia moral que promova conforto para alguns diante da necessidade de arranjar uma justificação (justificar - tornar justo) para sofrimentos da existência. Diante de casos como os dos bêbes-monstro, única forma de continuar a acreditar numa "justiça eterna" é apelar para doutrinas que pregam a existência de um mundo supra-sensível, espiritual: a idéia de reencarnação é, nesse quesito, bem melhor do que a defendida, por exemplo, pela idéia de limbo na liturgia cristã.

Eu menciono no cap LXXXVI qual foi "a coisa mais absurda que já presenciei". Não por acaso, ela também está ligada à religião.

Eu penso que a solução "adulta" seria simplesmente abandonar a teleologia moral e admitir que fatos como bebês-monstro e crianças com câncer ocorrem justamente pela ausência da existência de uma teleologia moral: ou seja, pelo fato de a natureza e o universo serem amorais, e a moral ser uma invenção cultural humana baseada tanto na empatia/compaixão quanto nos ditames da sobrevivência/propagação da espécie humana.

Agora, quantas pessoas têm o sangue frio necessário para viverem sem a muleta existencial da teleologia moral?