sábado, 3 de julho de 2010

CX - Acerca de breve observação sobre o santo na obra de Schopenhauer

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§ 110





Na concepção schopenhauriana a dor é positiva (no sentido em que se faz sentir por si mesma) e o prazer é negativo (no sentido em que seria apenas uma sensação de alívio decorrente da eliminação de um desejo (de uma dor) que se consegue satisfazer). O prazer seria tão negativo quanto a escuridão, que se constitui na mera ausência da luz.

Como o santo consegue suprimir o desejo de forma geral e permanente, ele, supostamente, viveria num estado de gozo contínuo (uma espécie de orgasmo perpétuo - isso seria muito bom, hã?), o que é conhecido na literatura sobre os santos como "êxtase", "arrebatamento", "união com Deus", etc. Ou seja, os santos viveriam num estado de prazer infinitamente superior ao do homem comum.

No § 68 do Tomo I d' O Mundo como vontade e como representação Schopenhauer diz o seguinte: "(...) também o homem que chegou à negação do querer-viver, por mais miserável, triste, plena de renúncias que sua condição pareça, também este homem está cheio de uma alegria e de uma paz celestes.(...) é uma paz imperturbável, uma plena calma profunda, uma serenidade íntima, um estado que não podemos impedir-nos de desejar (...) Sabemos também que os instantes em que, libertos da tirania dolorosa do desejo, nos elevamos de algum modo acima da pesada atmosfera terrestre são os mais felizes que conhecemos. Por isso podemos imaginar como deve ser feliz a vida do homem cuja vontade não está só acalmada por um instante, como na fruição estética, mas completamente aniquilada".

Eis a suprema ironia da "farsa do mundo": ao fugir dos prazeres do "mundo" o que o santo encontra? Um prazer maior que qualquer um que o "mundo" é capaz de oferecer.




Obs.:

1) A imagem que ilustra essa postagem é a capa do primeiro álbum da banda Rage against the machine. Ela se inspira em fatos reais, como pode ser visto no vídeo a abaixo.

2) Recomendo a leitura do capítulo ### 11. Considero esse caso uma evidência de que talvez seja possível atingir o estado de negação do querer-viver.







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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

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