sábado, 26 de setembro de 2009

LXXXI - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 12 de 16.



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§ 81







3. Crítica ao (neo)pentecostalismo

3.1. Introdução



Antes de ser o ateu que eu sou, eu passei a minha vida cristã (que acabou aos meus 16 anos) numa igreja neopentecostal. Por isso me dou ao direito de criticar tais instituições: eu participei delas, não apenas assisti a um desses muitos programas que passam na televisão (que aliás já são bastante instrutivos). Já aqui eu me antecipo a uma crítica previsível que podem me fazer: podem me acusar de criticar a religião porque eu sofri algum trauma dela, em outras palavras, eu estaria "me vingando" de uma religião que não soube me acolher ou à qual eu mesmo não soube me adaptar. Em réplica a essa acusação eu lembro que, se por acaso eu estivesse criticando uma religião a qual eu jamais pratiquei, então iriam me acusar de criticar algo que eu não conheço. Ou seja: aqueles que querem negar a validade do meu discurso (e do discurso contra a religião em geral) sempre arranjam um jeito de desqualificar a argumentação do oponente por meio da crítica à própria pessoa (falácia ad hominen): quando se quer acreditar em algo, aceita-se qualquer argumento. Se eu participei, meus argumentos não têm valor porque eu participei; se eu não participei, meus argumentos não têm valor porque eu não participei. Além disso, e nunca será demais insistir nesse ponto, a verdade NÃO É metodologicamente incompatível ao interesse próprio, de tal forma que me acusar de estar me vingando não é, mesmo que fosse verdade, um argumento eficaz em desfazer o meu discurso.

Não obstante ter eu vivido em um meio neopentecostal, os meus apontamentos serão válidos, creio eu, em sua maioria, também para as seitas pentecostais.

Chamo a corrente (neo)pentecostal de "a mais atroz forma de cristianismo" porque nela a ignorância é elevada à potências infinitas, afirmação que procurarei demonstrar por meio de exemplos que, espero eu, sejam surpreendentes para o leitor (pois isso seria um indicativo da saúde mental de quem me lê). Além disso, essa corrente possui um crescente e preocupante fundamentalismo, o qual se alimenta justamente da própria ignorância (e por isso mesmo tem alimento garantido).


3.2. No Éden


Partamos "do princípio". Estas seitas acreditam que o mito do Jardim do Éden é verdadeiro. Não apenas isso, acreditam na infabilidade da Bíblia e que esta é a fonte de toda a verdade necessária à vida, não faltando nela qualquer coisa de realmente necessário, nem estando qualquer ponto ou vírgula fora do seu divino e eterno lugar.

Pensar que esse mundo existe há apenas 6.000 anos, com todos as incontestáveis e incontáveis provas em contrário, é de uma soberana insensatez e de uma tosquidão abissal.

Nem precisamos ler muito a Bíblia para vermos erros em todo canto. De fato, os primeiros versículos dessa biblioteca, quando encarados como uma descrição do mundo real, mostram-se ridículos para qualquer um que tenha um mínimo, superficial e vulgar conhecimento científico:

* A água existia antes da luz, que é concebida como tendo uma existência à parte em relação ao restante do mundo material.
* A luz tinha um nome antes mesmo de existir, e o nada, ao ouvir e reconhecer as ordens do criador, tirou de si a luz que estava nele estocada (aliás, todo o mundo foi construído mediante um diálogo entre o criador e o nada).
* Há uma clara distinção entre o Sol e as demais estrelas.
* É evidente que o autor desse texto imaginava que as estrelas e todos os demais astros (ou seja: o restante do universo) foram simplesmente "colados" sobre a cúpula do céu.
* A "construção" da Terra e de tudo que nela há levou cinco dias de labor divino. A construção de todo o resto do universo - infinitamente maior e mais complexo que a Terra - levou apenas um dia (o quarto) e ainda por cima fez parte do processo da construção da Terra (o restante do universo não é concebido como tendo uma existência independente da Terra; antes, ele apenas existe para exercer uma função na Terra), isso porque o autor do texto, em sua concepção narcísica e teleológica, imaginou que todo o restante do universo apenas serviria para a iluminação noturna da Terra (leia-se: para a iluminação noturna das pessoas que vivem na Terra - o universo se resume a um abajur para um homem que é a própria imagem e semelhança do criador de tudo).


* No sétimo dia um deus que é onipotente e perfeito e que fez um mundo a partir do nada (sem nenhuma oposição) por algum motivo estava cansado e precisou "descansar".

É claro que tudo isso era razoável e aceitável na época em que foi escrito, e o autor (desconhecido) do texto nunca afirmou que tratavam-se de verdades absolutas; ele apenas escreveu o que, para ele naquele momento, era a melhor explicação disponível. E isso mostra como tivemos progressos incríveis desde então.

A despeito disso, e de muito mais, as autoridades (neo)pentecostais continuam a afirmar que os primeiros capítulos de Gênesis devem ser lidos da mesma forma que todo o restante da Bíblia: como revelações divinas e literais de verdades eternas.



Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.


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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

Um comentário:

Duan Conrado Castro disse...

"Eu li a Bíblia de capa a capa. Chamar aquele livro de 'a palavra de Deus' é um insulto a Deus. Chamar aquele livro de um guia moral é uma afronta à decência e dignidade dos povos. Chamá-lo de guia para a vida é fazer uma piada de nossa existência. E pretender que ela seja a verdade absoluta é ridicularizar e subestimar o intelecto humano." - Friedrich Nietzsche