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Ambos os impérios só conseguiram se estabelecer após a resolução de seus grandes conflitos internos. No caso romano, o conflito entre patrícios e plebeus e no caso estadunidense o conflito entre norte e sul.
Após a resolução de seus conflitos internos, ambos passaram a exercer o imperialismo sobre outros povos. No caso romano havia a subordinação política oficial, com a região subjugada passando a situação de colônia. Os EUA utilizaram-se também da subordinação política tradicional (até a década de 1940), mas posteriormente ela foi substituída por uma forma mais difusa e encoberta de coação que envolve a estruturação do sistema financeiro internacional, as empresas transnacionais e as instituições financeiras multilaterais, além do discurso hegemônico da mídia e da industria do entretenimento de massa.
Não obstante a ação do império estadunidense ser mais velada, ambos os impérios utilizaram a coação militar, dentro de suas respectivas características. Roma dominava abertamente e subjugava explicitamente as outras regiões. A prática de keynesianismo militar é uma constante na história imperialista dos EUA, em virtude dos efeitos multiplicadores que a indústria bélica possui sobre toda a economia do país.
Os EUA têm bases militares por todo o globo e desde o século XIX não pararam de intervir militar e politicamente em outros países, como mostram os casos recentes de intervenção no Haiti (deposição do presidente Jean Bertran Aristides), na Venezuela (tentativa de derrubar o presidente Chaves), além das recentes intervenções militares no Afeganistão e no Iraque. Destaquem-se, ainda, as recentes ameaças à Coréia do Norte, ao Irã e à Bolívia.
Todas as intervenções dos EUA em outras nações são feitas em nome da “democracia” e da “liberdade”, e também da “civilização”, ou mesmo, com todo o maniqueísmo, do “bem” e de "Deus"; essa é a forma atual de justificar as suas ações imperialistas e de esconder os verdadeiros e sórdidos interesses econômicos que estão por trás dessas ações, bem como as tenebrosas relações entre o legal e o ilegal, o mundo e o submundo a justiça e o crime.
Os EUA afirmam que passaram a exercer o papel de “policia do mundo”; a analogia, porém, não é adequada, pois ela só seria verdadeira se os EUA não fossem justamente os principais beneficiados dessa suposta defesa de valores e instituições hipoteticamente maiores e mais importantes que eles próprios.
De forma resumida, pode-se afirmar que ambos os impérios necessitam de um sistema de coação política, econômica e militar; porém o dos EUA, embora também truculento, age de forma mais velada, graças às características implícitas da estruturação do sistema econômico internacional.
Há significativas diferenças entre os dois impérios, pois cada um se desenvolveu sob modos de produção diferentes. O império Romano da antiguidade se estruturou com base no modo de produção escravista, e levou todo esse modo de produção ao seu apogeu e depois, devido às suas contradições internas, ao seu colapso.
Já o império estadunidense se estruturou com base no modo de produção capitalista. Na conclusão de seu trabalho monográfico, Tiago R. L. de Oliveira afirma que “O império do século XXI aparece como a fase superior do sistema capitalista.” (OLIVEIRA, 2004, p. 55). Embora isso possa ser verdade até a época atual, não é possível garantir que o capitalismo não atingirá o seu apogeu décadas ou séculos no futuro, e sem uma estrutura imperialista.
Na verdade, o fato de o capitalismo ainda ser o modo de produção vigente, bem como o fato de os EUA ainda serem a potência hegemônica mundial, dificultam a comparação entre os dois impérios.
Com relação à questão cultural, cabe salientar que a maior reciprocidade de influências ocorrida no Império Romano provavelmente se deveu à maior separação entre as esferas cultural e econômica na época, devido a inexistência da industria cultural, própria do capitalismo, a qual atualmente aufere lucros bilionários espalhando o american way of life pelo mundo.
Uma analogia entre as invasões bárbaras e a grande imigração ilegal (principalmente latina e asiática) para os EUA só poderá ser desenvolvida de forma pormenorizada após o colapso do império estadunidense (quando esse ocorrer), pois só então será possível avaliar o papel desestabilizador desse movimento populacional.
Ao avaliar a retomada da hegemonia estadunidense na década de 1980, Maria da Conceição Tavares afirmou: “Qualquer semelhança com a Inglaterra do século XIX é mera analogia sem fundamento, dado a peso continental dos EUA e a existência da União Soviética.” (TAVARES, 1985, p. 12). De forma semelhante, maiores comparações entre os dois impérios exigiriam uma pesquisa mais extensa e profunda, a qual foge do âmbito deste trabalho.
Mas, afinal, qual é a grande semelhança entre os dois impérios? O que, enfim, permite ao inconsciente coletivo fazer uma analogia entre os EUA atuais e o Império Romano? Essa grande semelhança será apresentada na conclusão deste trabalho.
4. CONCLUSÃO.
Não obstante as diferenças entre as Idades Antiga e Contemporânea, não obstante as diferenças entre os modos de produção escravista e capitalista, não obstante a caracterização implícita ou explícita da coação do centro sobre a periferia, essa é a grande semelhança entre o Império Romano da antiguidade e o império estadunidense contemporâneo: ambos orquestraram, por meio das coações política, econômica e militar, uma divisão internacional do trabalho sob os seus respectivos domínios; ambos arquitetaram um sistema econômico internacional neles centrado e que lhes conferiu uma série de privilégios, os quais determinaram uma transferência de excedente econômico da periferia para o centro, que passou por um fabuloso processo de enriquecimento.
O padrão-dólar é uma das peças-chave do imperialismo estadunidense. No acordo de Breton Woods foi estabelecido o padrão dólar-ouro, no qual o dólar era a moeda internacional de referência, porém o FED tinha a obrigação de convertê-lo em ouro de acordo de acordo com uma taxa fixa. O dólar era lastreado em ouro, e isso significava que a emissão de quantidades adicionais de dólar exigia uma expansão das reservas de ouro do FED (o ouro ficava no famoso Fort Nox). Em 1971, porém, confirmando os rumores de que havia mais dólares em circulação do que ouro nas suas reservas (o que era uma infração ao acordo multilateral de Breton Woods), os EUA decidiram "fechar o guichê do ouro", rompendo assim unilateralmente com um contrato multilateral. Desde então o dólar tornou-se oficialmente uma moeda fiduciária, seu valor depende inteiramente da confiança que os agentes econômicos têm na capacidade do Tesouro Nacional pagar as suas dívidas. Quanto mais dólares o FED ou os bancos privados criam, mais aumenta a dívida pública dos EUA, visto que todo dólar em circulação é dívida de alguém para outrem (em primeira instância, as emissões primárias realizadas pelo FED são contabilizadas como dívidas do Tesouro Nacional para esse mesmo FED). Como se sabe, cobra-se juros sobre a dívida. Assim, sempre é necessário criar mais dinheiro, dívida, para pagar a dívida atual. É claro que esse castelo de cartas não pode durar para sempre. A questão é se desabará ou se será desmontado paulatinamente, com um "pouso suave". Se a dívida pública dos EUA continuar a crescer exponencialmente, um dia haverá tanto dólar em circulação que o Tesouro Nacional não conseguirá honrar os juros da dívida. Haverá tanto dólar em circulação que essa moeda perderá uma de suas funções básicas como moeda de reserva internacional: servir como reserva de valor. A confiança no dólar desaparecerá instantaneamente, desmontando assim todo um sistema financeiro internacional fundado em riquezas imaginárias, criadas contabilmente e dependentes da confiança do público. O colapso do sistema financeiro internacional chegará às economias reais e veremos a maior crise econômica que a humanidade já viu, fazendo as crises de 1929 e 2008 parecerem piadas ingênuas perto do que então poderá ocorrer.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
OLIVEIRA, Tiago Rodrigues de. O Imperialismo e a Economia Mundial. 2004. 57 folhas. Monografia (Bacharelado em Ciências Econômicas) – Setor de Ciências Sociais Aplicadas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
TAVARES, Maria da Conceição. A Retomada da Hegemonia Norte-Americana. Revista de Economia Política. São Paulo, v.5, n.2, p.5-15. Abril- Junho. 1985.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
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