sábado, 29 de agosto de 2009

LXXVIII - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 11 de 16.

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§ 78




2.10. A gênese de Lúcifer


O diabo é, sem dúvida, a figura mais conturbada do cristianismo. Alguns cristãos, inclusive e paradoxalmente, negam a sua existência; outros, ao contrário, - em arroubo de ignorância e fundamentalismo – culpam-no por tudo de ruim que ocorre sobre a face deste pequeno planeta.

A história da origem e da evolução da figura de Lúcifer é a seguinte. No Velho Testamento Satanás é uma espécie de anjo responsável por fazer o “trabalho sujo” de Jeová. Ele é citado em todo Velho Testamento umas três vezes (e sempre de forma mal-explicada), por exemplo em Jó 1:6.

Ocorreu que o povo judeu, após toda a dominação e a ignomínia que já sofrera, é finalmente dominado pelos romanos (dominados são apenas as tribos de Judá, pois as 10 tribos de Israel foram completamente destruídas – não sobrou um único indivíduo – pelos assírios). Com tanto sofrimento passado e presente o povo judeu passou a maximizar a figura de Satanás, na tentativa de encontrar um culpado para o seu infindável opróbrio – uma vez que o velho e bom Jeová não o poderia ser, pois além de justo, ele lutava pelo povo que escolheu (e se este não conseguia lutar contra o Império Romano era como se os deuses romanos fossem mais poderosos que Jeová).

Assim, alçaram lentamente a figura de Satanás de servo a inimigo de Jeová – responsabilizando aquele pelo sofrimento do povo e livrando esse (e o próprio povo) da culpa. Paralelamente, crescia em importância a já criada figura do messias, do salvador, que iria libertar – para sempre – o povo de toda opressão e que, agora, relacionava-se à figura de Lúcifer.

É surpreendente saber que não há na Bíblia (que, rigorosamente falando, não é um livro, mas sim uma biblioteca) uma descrição clara da origem de Satanás (tá legal, na verdade não há na Bíblia descrição clara da origem de qualquer coisa que seja, isso porque a Bíblia não têm nenhum compromisso em provar nada: ela simplesmente teclara verdades acabadas e eternas e ponto final). Certa vez, caiu-me às mãos uma lista que supostamente contém as passagens bíblicas que tratariam da origem de satã. Ei-la: Ezequiel 28:12-19; Isaías 14: 12-15; Apocalipse 12: 7-9.

Os textos que supostamente descreveriam tal origem (e contariam aquela história do anjo vaidoso, que queria ser mais que seu criador) mostram-se metáforas históricas que pouca ligação possuem com Satanás, tampouco com uma explicação plausível da sua origem. Não sei se quem confeccionou tal lista era ignorante e semi-analfabeto (incapaz de interpretar um texto pelo seu contexto histórico) ou hipócrita (que, diante do silêncio bíblico sobre esse assunto, resolveu forçar a barra).

Ao ler apenas as passagens indicadas, pode-se até imaginar que há alguma ligação com a famigerada história de Lúcifer. Entretanto, ao ler-se os textos completos – Ezequiel cap. 26 a 28 e Isaías cap. 13 a 14 (até o versículo 23) – percebe-se que se tratam de profecias e maldições que Jeová lança contra povos opressores dos judeus (Tiro e Babilônia – cidade que escravizou as tribos de Judá quando as tribos de Israel nem existiam mais). Percebe-se, ainda, que os versículos em questão do livro de Ezequiel contém metáforas – a cidade de Tiro é chamada de “querubim”, “perfeito em formosura”. Coisa semelhante sucede na passagem em que a cidade da Babilônia é chamada “estrela da manhã, filha da alva” e até mesmo de “varão”.

No caso da citação do livro de Apocalipse, apenas com um grande esforço imaginativo é possível ligá-la à suposta história da gênese de Lúcifer. Além disso, o que uma narração sobre um passado longínquo e obscuro faz num livro profético, que portanto se dedica a falar sobre o futuro? Mas, mesmo se tal ligação fosse feita, não é no mínimo estranho que um indivíduo que supostamente atua ao longo de todo o texto bíblico tenha sua origem “explicada” (e é claro que o texto não explica nada, não explica, por exemplo, de onde teria vindo a vaidade de Lúcifer senão do seu próprio criador) apenas no último livro do conjunto? Enquanto as personagens humanas são apresentadas em longas e tediosas genealogias, não há nenhuma explicação razoável sobre a origem de Satanás, nem sobre quem são os tais dos “filhos de Deus” mencionados em Gênesis 6:2 e em Jó 1:6 e entre os quais a segunda citação afirma estar Lúcifer.



2.11. A onipotência, a justiça e a bondade de deus


É sabido que o deus dos cristãos, além de onipotente, onisciente e onipotente, é justo e bondoso. E, afirmam os cristãos, não há contradição alguma nisso.

O deus cuja begnidade dura para sempre é o mesmo de Mateus 25, 41 e de versículos já citados no capítulo 2.4. Se isso parece contraditório, então pense nisto: antes de nos criar deus já conhece toda a nossa vida, porque é onisciênte e onipotente - e, por isso, pode saber o futuro (inclusive, para alguns teólogos, deus nem mesmo está subsumido no tempo: ele está fora dele, num eterno presente). Então suponhamos que deus vá criar um indivíduo que, no futuro, repilirá a crença no cristianismo, ou melhor, a crença em qualquer religião. Como deus - sendo onipotente, justo E BENÍGNO - pode criar este indivíduo se ele sabe que terá de condená-lo à danação eterna no futuro (onde haverá choro e ranger de dentes)? Na verdade, deus está condenando o indivíduo por um ato que ele próprio (deus) fez. Que justiça ou benignidade há nisso? Se ele realmente fosse justo e se ele realmente amasse essa pessoa (e nesse casos a justiça se encontra com a benignidade) o melhor que poderia fazer era simplesmente não criar o indivíduo. Se isso pode se aplicar a uma pessoa em particular, aplica-se - antes - a todo gênero humano, iniciado supostamente com a criação voluntária e consciente de Adão e Eva.

A resposta dessa contradição parece passar pela negação de alguma das características exorbitativas atribuidas ao criador: ou ele não é onipotente (e vive sim na linha temporal), ou ele não é justo nem bom. (1)

Um exemplo de como a lógica é repelida pela fé: quando apresentei este argumento a um conhecido ele me repondeu: "Se você está com algum problema de fé, posso te fazer uma oração". o quê? Nega-se argumentos lógicos com fé? Absurdo! Causuísmo!


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(1) Nota para esse blog: Anos depois de escrever isso, pensei na seguinte forma de solucionar essa "contradição": embora a alma provenha de um ato voluntário de deus, que é o legítimo criador (e proprietário) do indivíduo, a criança, na verdade não nasceria sem uma decisão do "livre-arbítrio" dos pais, que supostamente "decidiram" de boa vontade tê-la. Assim sendo, se deus impedisse, por compaixão, o nascimento de alguém ele estaria ferindo o sagrado livre-arbítrio. Mais uma vez o livre-arbítrio é usado para tentar remendar essa concepção de deus tosca e repulsiva. Da minha parte, não deixo de pensar que esse deus, pelo menos, se realmente amasse a cada um de nós, deveria se entristecer pelo mundo que criou, e se arrepender de tê-lo criado (como se arrependeu em Êxodo 32: 14). As pessoas religiosas ignorantes gostam de ficar vendo a mão de deus em tudo, ele está, para elas, sempre interferindo na vida das pessoas (para avisá-las, abençoá-las, castigá-las, etc.). Pergunta: e isso por acaso não interfere no livre-arbítrio? Quando deus arranja um jeito de duas pessoas se encontrarem, ou coisa parecida, ele não teve que manipulá-las para isso? Eles não sabem o que falam...




Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.

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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

LXXVII - Acerca da simbólica de coerção anal oculta na garrafa de Fanta Uva (a qual me foi revelada por Mefistófeles numa conversa de bar).

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§ 77





Na última madrugada de sábado, eu estava em um bar com o Bebu e o Pikachu. Nós conversamos sobre as coisas horríveis que ocorrerão à humanidade nos próximos anos, sobre as quais eu prefiro nem falar aqui. (Em off: na verdade eu não posso falar aqui, pois "eles" estão lendo e se eu falar "eles" virão atrás de mim tirar satisfação...)
O Bebu estava impossível, só pensava em sacanagem. Eu falava em "chipar" e ele em "chupar"; eu falava em "eleição" e ele em "felação"; eu falava em "chacina" e ele em "vagina".
Como eu estava meio chateado com tudo aquilo pelo qual teremos que passar, Bebu, para me divertir (1), chamou a minha atenção para uma mesa na qual estavam cinco caras, um dos quais estava bebendo Fanta Uva, naquelas garrafas de 666 ml (ele provavelmente era o "motorista da noite" - quanto a nós três, estávamos todos bêbados, pois quem está com o Bebu não precisa de carro...).

Mefistófeles: Sabe, quando eu vejo essa garrafa de Fanta Uva eu lembro de coerção anal...

Pikachu: Chu?


Duan Conrado: Ah! Capaz...Quando eu vejo a garrafa da água Ouro Fino "sabor maçã" (ui, ui...) eu me lembro de uma pica pronta para dar o bote (2).


Pikachu: Pika?


Mefistófeles: Pois é, as duas garrafas se complementam...


Duan Conrado: Uma fode a outra! (risos)


Mefistófeles: E o ato de ler no vaso é um simbolismo para o desejo coprofágico reprimido... (3) (risos)


Pikachu: Pika! Pika! Pika! Pika Chhhhuuuuuuuu! (risos)


Duan Conrado: Arram, mas vamos deixar os círculos ingleses fora disso. Bebu, me explica melhor essa parada de coerção anal...


Mefistófeles: Para entender esse mundo doente criado por Jeová é preciso ser doente também (4), pois, como já disse Empédocles, somente o semelhante conhece o semelhante... A árvore do conhecimento não é a mesma da vida. (5)


Pikachu: Pika...(suspiro)


Duan Conrado: E como disse, com toda razão..., o sábio (Bob) Marley: "Sou louco pois vivo em um mundo que não merece a minha sanidade". Mas, a essa hora, nem vamos entrar, de novo, na questão do mérito.

Nós pedimos uma Fanta Uva daquela que o cara bebia, para o Bebu nos mostrar melhor. Para que você, leitor, possa entender a explicação, eu fiz a fotomontagem que ilustra essa postagem. Ele disse para interpretar os cortes transversais da garrafa como representações, ao longo do tempo, da reação de um ânus à foda. A garrafa deve ser interpretada como um "gráfico" de uma mesma secção transversal ao longo do tempo. "Coerção" anal quer dizer que o ânus é "coagido", é "forçado" à penetração, e ele reage à essa coação de uma maneira muito particular. Muito bem, no número um da figura nós temos o ânus em estado de "repouso", é o estado "pré-foda". No número dois temos a expansão inicial do ânus em reação à pressão do pênis (ou de qualquer outro objeto capaz de ser utilizado para esse fim). Segundo Bebu (e eu não posso confirmar, pois sou ingênuo nesse assunto...), o número três representa uma "contração reativa" do ânus, depois da abetura inicial; os pontinhos colocados nessa parte da garrafa não serviriam (e eu que achei ingenuamente que eles não serviam para nada) "apenas" para representar uma suposta facilidade para que o consumidor a segure; serviriam, também, como uma representação das pequenas dobras de pele da mucosa anal nessa fase de "contração reativa". Porém, com a continuação "do malho" o exfinter anal acaba, por fim, cedendo, e há uma expansão adicional da secção transversal (esse é o número quatro da figura). Por fim, o número cinco é, nas palavras de Bebu, "uma representação pictórica de um cu literalmente fodido", ou seja, é o aspecto do ânus na fase "pós-foda". Mas ele vai se recuperar, e, como tudo na vida acaba bem (isso é uma mentira burguesa e otimista retardada), ele também vai voltar ao "normal". Bem, não exatamente...mas ele ainda poderá exercer, lépido e faceiro, as "suas outras funções naturais" (palavras do Bebu).

Duan Conrado: Se dar o cu é natural, por que o ânus tem que ser coagido?

Mefistófeles: Porque assim é mais gostoso, ora bolas. Não teria tanta graça se ele fosse se abrindo todo com a maior facilidade. Mas nem me venha com moralismo barato, com esse discurso aristotélico de que fazer isso é "contra a natureza". Proibido é outro nome para desejado. O tabu é a sinalização de um limite, mas todo limite pede para ser ultrapassado, toda regra pede para ser transgredida. Todo mundo gosta de dar o cu. Quem não gosta é porque nunca deu ou porque foi mal comido. Você que é uma bichinha serelepe sabe muito bem disso. Dako é bom.



Duan Conrado: Ah, vai tomar no cu Bebu (risos) - todo mundo sabe que eu não sou serelepe. Meu deus! A coisa está difícil hoje, heim? Quando queremos acreditar em algo aceitamos qualquer argumento. Lembra quando a sodomia era um tabu tão grande que a Igreja dizia que nem mesmo você a praticava? Naquela época pré-romantismo você saia pela noite desvirginando donzelas...(risos)


Mefistófeles: Pois é, e onde a sodomia era mais praticada naquela época? Justamente na Igreja... Que hipocrisia, né? Hoje as coisas mudaram e, em termos relativos, a Igreja já perde essa competição para a indústria porno e para as saunas gay.


Duan Conrado: Por falar em Igreja, o que é que têm nas salas privativas do Papa, no Vaticano?


Mefistófeles: Melhor do que dizer-lhes, meu caro, é mostrar-lhes! Vamos lá que vocês verão com esses olhos que a Terra haverá de saborear.


Duan Conrado: Então vamos.


Pikachu: Pika.


Mefistófeles: Todos os segredos ser-lhe-ão revelados. Vocês ficarão mais chocados do que ficaram naquela vez que eu levei-os naquele matadouro chinês... Mas vocês dois terão que ir disfarçados como demônios, senão o Bento vai ficar filho da puta da cara comigo se souber que eu levei um humano e um pokemon nos nossos aposentos privativos.

E nós fomos. Mas o que eu vi eu também não posso dizer, pelo motivo já explicado: "eles" estão lendo.
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1. ‘Divertir” é derivado do latim divertere, que significa “afastar-se”, “apartar-se”. Isso quer dizer que o caráter auto-alienante do divertimento já está confessado no seu próprio nome.


2. Convenhamos, a simbologia fálica dessa garrafa da Ouro Fino é explícita:


Trata-se de uma mensagem subliminar utilizada como artifício publicitário para sensibilizar a sublimação da pulsão sexual mediante o consumo conspícuo e fetichista de uma mercadoria supérflua, viabilizando assim a realização da mais-valia nela contida, e dando continuidade a um movimento de acumulação e autovaloração do capital. Sexo na indústria cultural: a velha promessa, sempre renovada, nunca cumprida.
3. O meu irmão psicanalista afirma que esse tipo de afirmação generalista é sintomatica de um pensamento psicanalista vulgar, e que esse tipo de afirmação deve ser evitado, pois mais confunde do que esclarece. Seja como for, para saber mais a esse respeito ler Some unconscious factors in reading de Strachey, no International Journal of Psycho-Analysis, volume 11, de 1930, páginas 328-30, artigo citado no livro Conceitos da psicanálise - sublimação, de Kalu Singh, Ediouro, 2005.
4. Comparar isso com o que é dito no capítulo VII.
5. Sobre as árvores do conhecimento e da vida, ler Gênesis capítulo 3 (e atente para a malícia de Jeová no versículo 22). (Em Gênesis 3:14 deus castiga a serpente condenando-a a rastejar sobre seu ventre...isso significa que, antes de tentar a mulher, ela tinha menbros (pernas ou asas). É "notável" (ou não) observar que a serpente - com asas (o dragão) ou sem elas - é para muitas religiões asiáticas e pré-colombianas justamente o símbolo do conhecimento, o mesmo conhecimento que a serpente ofereceu à Eva no Éden...).



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sábado, 15 de agosto de 2009

LXXVI - O Império Romano da Antiguidade e o Império Estadunidense contemporâneo - parte 3 de 4 - Breve descrição da história dos EUA e seu império

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§ 76






2. BREVE DESCRIÇÃO DA HISTÓRIA DOS EUA E DE SEU IMPERIALISMO.


2.1. Antes da Independência.



A história dos EUA começa com a história das colônias inglesas de povoamento na América. Essas colônias foram formadas por imigrantes ingleses que saíram de seu país em virtude de perseguições religiosas (aos católicos e aos puritanos), da pobreza e da instabilidade política.

Devido ao processo dos “cercamentos” ocorrido na Inglaterra, houve um excessivo êxodo urbano, o qual não foi absorvido totalmente pelas manufaturas. Parte desse excesso populacional migrou para o nordeste da América do Norte.

As colônias de povoamento eram conhecidas por colônias do norte e colônias do centro e nelas vigorava a pequena propriedade, a livre iniciativa e o trabalho assalariado. Nessas colônias desenvolveram-se a atividade marítima, o comércio e a manufatura; a burguesia surgiu e prosperou, formando uma elite local.

Embora oficialmente sob a tutela da Inglaterra, elas eram praticamente independentes, principalmente, como destaca Cyro Rezende, por uma questão geoclimática : “(...) suas colônias escapam ao controle metropolitano, principalmente devido ao fato de se localizarem na mesma latitude da Europa, o que implicava transformá-las em produtores das mesmas culturas européias, e não de gêneros tropicais.” (REZENDE FILHO, 2005, p.110).

Essas colônias de povoamento foram uma exceção no processo de colonização da América, já que na restante dela formaram-se colônias de exploração, cujo único objetivo era o enriquecimento de sua respectiva metrópole.

As colônias de exploração inglesas na América eram conhecidas por colônias do sul e nelas vigorava o latifúndio, a as grandes monoculturas de exportação e o trabalho escravo. Essas colônias eram dependentes política e economicamente da Inglaterra.

Como destaca Cyro Rezende, as colônias de povoamento exerciam um papel de metrópole informal sobre as colônias do sul, e isso foi fundamental para o seu desenvolvimento e para a sua própria acumulação primitiva de capital (REZENDE FILHO, 2005, p. 111).

Enquanto a Inglaterra não interferiu significativamente nos governos locais das suas colônias de povoamento, os mesmos não exigiram a sua independência. Mas essa situação mudou partir de 1763, quando a França cede suas colônias a leste e a oeste do Mississipi respectivamente para a Inglaterra e para a Espanha. A partir daí, a ingerência inglesa na região passaria a fomentar o movimento de independência.


2.2. A independência.


Os gastos ingleses na guerra dos Sete Anos, contra a França, aumentaram o déficit do governo inglês. Aumentar a tributação e a fiscalização das colônias foi uma das soluções encontradas. Acrescente-se que a concorrência entre a metrópole e as suas colônias de povoamento, tanto no mercado interno dessas últimas quanto no externo, passou por um incremento, de tal forma que não podia mais ser ignorada.

A metrópole passou então a exercer um rígido controle sobre as colônias. Foram editadas as Leis do Açúcar (1764), do Selo (1785) e do Chá (1773), a qual entregou o monopólio da comercialização do chá para a Companhia das Índias Orientais, o que significou o impedimento legal do comércio dessa mercadoria efetuado pelos colonos.

As elites coloniais, tanto a burguesia do norte quanto os latifundiários do sul, insatisfeitos com essa situação, reuniram-se no Primeiro Congresso Continental da Filadélfia, no qual promulgaram a Declaração dos Direitos dos Colonos, que afirmava a igualdade entre os cidadãos metropolitanos e coloniais. Argumentavam que os povos coloniais não poderiam ser tributados, pois não tinham representação no parlamento inglês.

Porém a Inglaterra não cedeu, e as práticas coercitivas só aumentaram. Houve, então, o Segundo Congresso Continental da Filadélfia, o qual revogou as Leis do Chá, do Açúcar e do Selo e ainda declarou a independência dos EUA.

A rejeição da independência por parte da metrópole levou à ocorrência da Guerra da Independência. Para a vitória dos colonos foram essenciais os apoios dos franceses (principalmente), dos espanhóis e dos holandeses, bem como a neutralidade da Rússia, da Dinamarca e da Prússia. Em 1783, por meio do Tratado de Paris, a Inglaterra reconheceu a independência dos EUA.

Durante a formulação da Carta Constitucional (1787) destacou-se o conflito entre os federalistas, associados à burguesia do norte, e os antifederalistas, associados aos latifundiários do sul.


2.3. O século XIX.


Conflitos comerciais entre EUA e Inglaterra, bem como novas tentativas da segunda de controlar os primeiros, determinaram a eclosão de um novo conflito entre as duas nações (entre 1812 e 1815), o qual ficou conhecido como a Segunda Guerra da Independência. Novamente os EUA receberam apoio da França.

Com a vitória na guerra, os estadunidenses conquistaram a região do alto Canadá. A expansão territorial passou a ser incentivada pelo governo. A intenção era criar um território que interligasse os oceanos Atlântico e Índico. Em 1803 as terras da União mais que dobraram com a compra da Luisiânia da França, por 15 milhões de dólares. Entre 1810-1819 houve guerra contra a Espanha a fim de se anexar a Flórida. Houve guerra, ainda, contra o México, na qual mais da metade do território desse país foi anexada aos EUA. O Alasca foi comprado dos russos em 1867. A chamada “marcha para o oeste” foi incentivada pela busca de terras férteis e de ouro. As terras não tinham direito de propriedade: quem chegasse primeiro seria dono, porém o tamanho dos lotes era regulamentado pelo governo (Lei da Homestead). A expansão territorial foi marcada pelo massacre dos índios que habitavam a região e pela construção de estradas de ferro que interligavam o país. Os governantes justificavam a expansão pela doutrina Do Destino Manifesto, segundo o qual era a vontade de Deus que os EUA se tornassem um país continental.

As diferenças estruturais entre os Estados do Norte e os Estados do Sul acabaram levando a eclosão da Guerra da Secessão (1861-1865). O norte, industrial, exigia o fim da escravidão (para ampliar o mercado consumidor) e a intensificação das práticas protecionistas (para fortalecer a indústria interna). Já o sul, ainda inserido em uma economia colonial, exigia exatamente o oposto. Com a vitória do republicano Abraham Lincoln nas eleições presidenciais, os Estados do Sul declararam a sua separação da União e formaram os estados Confederados da América. A superioridade econômica do norte foi essencial para que esse conseguisse se impor ao sul e vencesse a guerra. A escravidão foi abolida, mas as duas regiões do país mantêm diferenças estruturais até os dias atuais.

Após a guerra, a economia estadunidense apresentou um grande desenvolvimento, para o qual foi fundamental o protecionismo governamental. O capitalismo se expandiu, as ferrovias passaram a interligar todo o território, a especialização produtiva regional se aprofundou, o comércio inter-regional se ampliou, a sociedade estadunidense deixou de ser agrária e passou a ser industrial e urbanizada, a produtividade cresceu e houve a formação de trustes (o primeiro fundado por Rockefeller), a nação continental permitiu a formação de ganhos de escala impossíveis nos países europeus. No Sul houve diversificação e mecanização da produção agrícola, a qual passou a depender da indústria para ter acesso a seus insumos.

É a partir do século XIX que os EUA iniciaram sua carreira imperialista. A justificativa ideológica para o imperialismo era dada pela Doutrina Monroe, formulada em 1815 e que afirmava o direito dos povos americanos a sua autodeterminação. Essa doutrina no início caracterizou a política de não-intervenção dos EUA nos conflitos europeus, mas posteriormente foi usada como justificativa do imperialismo. O chamado ”Corolário de Roosevelt”, também conhecido por Big Stick (Grande Porrete), declarava o direito dos EUA intervirem na América Latina a fim de defender a “democracia e a ordem”, na verdade para defender os interesses do capital estadunidense.

A guerra contra a Espanha, em 1898, pela posse de Cuba e das Filipinas, marcou a entrada definitiva dos EUA no imperialismo. Conforme afirma o autor estadunidense Faulkner Underwood, já em 1897 havia nos EUA um excesso de capitais que passou a ser investido no exterior (UNDERWOOD, 1956, p.623).

O imperialismo estadunidense se desenvolveu e se ampliou no século XX.



2.4. O longo século XX.


A instabilidade política na América Central punha em perigo os interesses do capital estadunidense na região. A forma de intervenção dos EUA na região seguia um padrão: tendo por justificativa a defesa da democracia ou da civilização os EUA invadiam o país e, por meio da coação militar, colocavam no poder um governo formado por seus aliados, os quais assinavam “tratados” com os EUA, tratados esses que garantiam os interesses do país na região.

A anexação das Filipinas foi mais difícil de ser justificada, pois a região não pertence ao continente americano. O então presidente dos EUA, Mackinley, em discurso em 16 de fevereiro de 1899, citado por Faulkuer Underwood, assim justificou a anexação:

Las Filipinas, como Cuba y Puerto Rico, quedaron confiadas a nuestras manos a causa de la guerra, y com la ayuda de Dios y en nombre del progresso humano y de la civilización estamos comprometidos a encarganos de esa gran custodia ... No podíamos desechar las responsabilidades que pesaban sobre nosotros hasta que esas colonias fueran nuestras, fuera por conquista o por tratado. No nos preocupaba el territorio ni el comercio ni el imperio, sino el pueblo cuyos intereses y destinos, sin que nosotros lo quisiéramos, habían sido puestos em nuestras manos. (HERALD, apud UNDERWOOD, 1956, p. 626-627).

As intervenções dos EUA na América Central converteram-na em um verdadeiro “lago estadunidense”, a exemplo do mare nostrum romano:

Cualesquiera que hayan sido sus objetivos, es claro hacia el fin de la Primera Guerra Mundial los Estados Unidos abarcaban una esfera de influencia en el Caribe que convirtió a ese mar em um verdadero “lago norteamericano”. Puerto Rico había sido anexado, las Islas Vírgenes compradas, Cuba, Panamá, la República Dominicana, Nicaragua y Haití reducidas al estado de protectorado, y existían bases navales estratégicamente distribuídas em varios puntos del Caribe. Este dominio se había alcanzado durante las dos décadas transcurridas entre 1898 y 1918. (UNDERWOOD, 1956, p.633).

Ao comentar o caso de Porto Rico, Underwood afirma:

Para complicar aún más la situación, la isla se convertió fundamentalmente en un país de dos cosechas dependiente del mercado norteamericano, y cuando este mercado no responde, como ocurrió en 1929, la situación económica se torna intolerable. En los momentos más críticos de la depresión de 1930 el 60% de la población carecía de ocupación. (UNDERWOOD, 1956, p. 628).

Não há como não comparar essa passagem com a descrição dada por Cyro Rezende do verdadeiro caráter colonial das colônias européias na América nos séculos XVI – XVIII: “Se por qualquer razão, uma metrópole não pudesse transportar a produção de sua colônia, ela era simplesmente perdida, não realizada, dada a exigüidade de seu mercado interno. Eis aqui realmente o caráter colonial da economia americana.” (REZENDE FILHO 2005, p.108).

A máxima da Doutrina Monroe, “América para os americanos”, pode, nesse contexto, ser interpretada sob outra ótica: América (o continente) para os americanos (os estadunidenses, especialmente o capital sediado nos EUA).


Os EUA vêem sua economia alavancada pela Primeira Guerra Mundial. A economia de guerra permitiu um grande aumento da produção e uma expressiva queda do desemprego, enquanto que a destruição causada pela guerra ocorreu totalmente fora do território estadunidense. Os mesmos EUA que lucraram com o financiamento da reconstrução européia terminaram a Primeira Guerra mundial como a potência hegemônica mundial. O centro financeiro mundial se transferiu de Londres para Nova Iorque.

A década de 1920 foi marcada pela prosperidade e por isso esses anos ficaram conhecidos como “anos dourados” (igualmente o foram os anos 50, após a Segunda Guerra Mundial). No contexto da libertinagem financeira que se formou na nação, o otimismo virou euforia e uma bolha especulativa foi criada. A bolha estourou e causou uma grande crise de demanda (crise de 1929), a qual se espalhou por todas as economias capitalistas do mundo. Em resposta à crise foram executadas políticas anti-cíclicas de criação de demanda por meio dos gastos governamentais (New Deal).

Novamente a guerra alavancou a economia estadunidense. Novamente os EUA cresceram produzindo armamento bélico que destruiu regiões fora dos seus territórios. Novamente os EUA lucraram com a reconstrução do que a guerra (dessa vez a Segunda Guerra Mundial) destruiu. Por meio do Plano Marshall os EUA impuseram à Europa a tecnologia estadunidense, e com ela o seu padrão de consumo, o american way of life, também difundido em todo mundo capitalista pela indústria cultural, encabeçada por Hollywood.

O sistema financeiro internacional foi reconstruído no pós-guerra, com a substituição do padrão-ouro pelo padrão-dólar. Até a década de 1970 os EUA respeitaram os acordos de Breton Woods e mantiveram a conversibilidade entre dólar e o ouro. Porém, em 1971, o governo estadunidense rompeu com suas promessas e o dólar passou a ser uma moeda não-lastreada, fiduciária, passou a ser, nas palavras de J.W. Bautista Vidal, um “papel pintado” (VIDAL, 2000, p. 32). O mesmo autor comenta o papel do dólar na estruturação do sistema financeiro mundial:

Esse brutal desequilíbrio entre os que consomem e os que detêm as reservas naturais é forjado pelo arbítrio do poder da moeda internacional de referência, que retira desses recursos as vantagens corporativas que deveriam ter. Essa moeda, como suposto símbolo de todas as riquezas, emitida em regime de arbítrio, sobrepõe-se a todos os fatores, principalmente ao que é concreto, ao mundo físico, desvalorizando-o, como ocorre com os escassos recursos minerais estratégicos. Criou-se deste modo uma ditadura financeira de moeda falsa que torna os países detentores de grandes riquezas naturais impossibilitados de serem recompensados pela sua contribuição para o bem estar dos ricos. O poder desse dinheiro fictício retira o valor dos bens essenciais da natureza e leva os povos que detêm esses patrimônios naturais insubstituíveis à miséria. (VIDAL, 2000, p. 33-34).

Já nos anos 60 De Gaulle criticava o padrão-dolar como sendo um “inexplicável privilégio” (VIDAL, 2000, p. 37).


Os EUA abandonaram o imperialismo tradicional pois desejavam ter acesso aos mercados das então colônias européias na Ásia e na África. A produtividade e a competitividade dos produtos estadunidenses eram tais que em um regime de livre mercado os EUA conseguiriam se impor sobre os seus concorrentes. Os EUA, inclusive por meio da ONU, passaram a promover o processo de descolonização também a fim de garantir a manutenção das ex-colônias no bloco capitalista, dado o contexto da Guerra Fria.

Todavia, os mesmos EUA que se opuseram oficialmente ao sistema colonial tradicional, foram a vanguarda do chamado neocolonialismo, assim definido pelo Novo Dicionário Aurélio: “Domínio que um país exerce sobre outro, menos desenvolvido, não por sistema ou orientação política, mas pela influência econômica e/ou cultural.” (FERREIRA, 2004, p. 1395). O poderio militar continuou a ser usado, principalmente no contexto da Guerra Fria. Para Noam Chomsky (Hegemony or Survival, apud Carta Capital, 2003, p.14) "nenhum presidente [estadunidense] desse período [1945 em diante], se julgado pelos princípios de Nuremberg, teria escapado da forca."

Os principais atores do neocolonialismo, do lado dos “neocolonizadores”, são as empresas transnacionais e as instituições financeiras multilaterais.

Empresas transnacionais com filiais em todo mundo, como Ford, GM, Exxon, Mobil Oil, IBM, ITT, GE, Philip Morris e outras, se tornaram responsáveis por um grande crescimento da economia estadunidense. As empresas transnacionais passaram a oligopolizar o mercado mundial e a determinar os preços das matérias-primas exportadas pelos países subdesenvolvidos, destruindo definitivamente o livre mercado e transformando-o em oligopsônio do lado da compra de bens primários e em oligopólio do lado da venda de bens industrializados.

Com o fim do Welfare State, o primeiro choque do petróleo e o conseqüente aumento das taxas de juros dos EUA, os países do Terceiro Mundo se vêem presos na armadilha do endividamento. Como destacam Werner Baer e Donald V. Coes: “Como a maior parte da dívida latino-americana estava contratada em termos de taxas de juros flexíveis, essa evolução das taxas mundiais aumentou o fardo da dívida carregada pela região.” (BAER; COES, 1990, p. 10).

Os paises subdesenvolvidos endividados viram-se obrigados a recorrer às instituições multinacionais de crédito, a fim de evitar o colapso financeiro de suas economias. Essas instituições, principalmente o FMI, impuseram o receituário neoliberal a essas economias subdesenvolvidas. Esse receituário trouxe várias conseqüências negativas para os países atingidos. Uma delas foi o estímulo à recessão econômica. Ao comentar o receituário do FMI, Edmar Bacha afirma:

À queda da demanda interna não corresponderá assim um aumento de exportações ou uma redução das importações supérfluas, mas uma contração do nível de atividade e emprego. Com a recessão, menores serão as importações de bens complementares à produção doméstica, reequilibrando-se as contas externas. A demanda interna deve, nesse caso, cair por um múltiplo do ajuste requerido no balanço de pagamentos, pois as importações só se reduzirão no montante requerido após uma contração acentuada do nível de atividade. Tal é o ônus excessivo imposto aos países deficitários pela forma do ajuste do balanço de pagamentos consagrada pela atual ordem econômica internacional. (BACHA, 1983, p. 5).

Outra conseqüência foi a fuga de capitais da América Latina (BAER; COES, 1990, p. 13). Os mesmos autores acrescentam: “(...) A América Latina se transformou num exportador líquido de capital para os seus países credores, particularmente dos Estados unidos.” (BAER; COES, 1990, p 11). Em 1985 Maria da Conceição Tavares, no artigo ”A retomada da hegemonia norte-americana”, afirmou que todos os países do mundo transferiram “poupança real” para os EUA (TAVARES, 1985, p 11), e ainda acrescentou que “(...) os EUA estão aproveitando esta situação para modernizar sua estrutura produtiva à custas do resto do mundo, inclusive da periferia latino-americana que já transferiu nos últimos anos 100 bilhões de dólares entre juros e perda das relações de troca.” (TAVARES, 1985, p. 12).

As políticas restritivas impostas por estas instituições multilaterais de crédito só agravaram os já graves problemas sociais dos países subdesenvolvidos. Conforme Zaira Machado e Jéferson Assunção:

Moçambique, por exemplo, deveria consagrar mais de 40% de seu orçamento para pagamento do restante da dívida, mesmo sabendo-se que 70% da população vivem abaixo da linha da pobreza absoluta, 60% não têm serviços de saúde, 70% não têm acesso à água potável e 78% das mulheres são analfabetas. (MACHADO; ASSUNÇÃO, 2002, p. 74).

Baer e Coes, ao comentar a situação da América latina, acrescentam:

Esses benefícios de curto prazo [conseguir evitar o default], contudo têm implicado enormes custos de longo prazo, causando atualmente forte queda no padrão de vida da região, que, no futuro – talvez ainda mais sinistro -, poderá ser até mais baixo em função da queda no nível de investimento. (BAER; COES, 1990, p.20).


Com o fim da Guerra Fria e a dissolução da URSS a economia estadunidense fortalece a sua hegemonia mundial, tornando-se efetiva e estruturalmente a economia cêntrica do mundo: “Assim a retomada da hegemonia terminou convertendo finalmente a economia americana numa economia cêntrica e não apenas dominante.” (TAVARES, 1985, p.12). O neoliberalismo e a crescente financeirização do capitalismo marcaram o ressurgimento de práticas e pensamentos mercantilistas.

Porém, a crescente transferência de capitais para o oriente e o crescente déficit em conta corrente dos EUA colocam em dúvida a manutenção do império estadunidense no longo prazo. A esse respeito afirma J. W. Bautista Vidal:

O impacto cumulativo desses efeitos, além da truculência do sistema financeiro internacional, com o controle de abritária e suspeita moeda de referência e suas unilaterais políticas impostas aos países dependentes, explicam o “milagre” da economia norte-americana, que permitiu financiar seus colossais décits em conta corrente. Isso deu a improvisados analistas do terceiro mundo a impressão de grande poder, na realidade de natureza ilegítima e espúria e sem condições de persistir por falta de fundamento concreto no mundo físico que suporta a produção e o poder. (VIDAL, 2000, p. 30)



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.



BACHA, Edmar. Prólogo para a Terceira Carta. Revista de Economia Política. São Paulo, v.3, n.4, p. 5-19. Outubro-Dezembro 1983.

BAER, Werner; COES, Donald. As políticas norte-americanas e a dívida e comércio da América Latina. Revista de Economia Política. São Paulo, v.10, m.3(39), p. 5-21. Julho-Setembro 1990.

Revista CARTA CAPITAL, número 271, de 17/12/2003, p. 14.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 3 ed. Curitiba: Positivo, 2004.

HERALD, Boston, 17 de fevereiro de 1899, p. 2-3. apud UNDERWOOD, Faulker Harol. História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires: Nova, 1956.

MACHADO, Zaira; ASSUNÇÃO, Jeferson. O Papel das Instituições Financeiras Multilaterais no Processo de Desenvolvimento. Porto Alegre: Neraz, 2002.
REZENDE FILHO, Cyro de Barros. História Econômica Geral. 8 ed. São Paulo: Contexto, 2005.

TAVARES, Maria da Conceição. A Retomada da Hegemonia Norte-Americana. Revista de Economia Política. São Paulo, v.5, n.2, p.5-15. Abril- Junho. 1985.

UNDERWOOD, Faulker Harold. História Económica de los Estados Unidos. Buenos Aires:
Nova, 1956.

VIDAL, J. W. Bautista. Brasil Civilização Suicida. Brasília: Star Print Gráfica e Editora , 2000.

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 8 de agosto de 2009

LXXV - Meu deus quanto tempo eu estive sem saber! Isso não poderia ter acontecido # 4 - Harry Potter e o espírito do anticristo.

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§ 75







Foi graças ao Harry Potter que eu conheci o site Espada do espírito. Nunca li os livros de J.K. Rolling, mas assisti aos filmes (os dois primeiros são uma merda, mas as coisas começam a melhorar do terceiro em diante). No fim do terceiro filme o protagonista diz: "Luminus maximus, juro solenemente nunca fazer nada de bom." Isso e a cena de possessão demoníaca retratada no filme (segundo o pastor Bay, o livro apresenta uma descrição real de uma possessão demoníaca real) me fizeram pesquisar o assunto dos boatos de que esses livros estariam condicionando as crianças a abraçarem o satanismo. Foi quando descobri os texto da Cutting Edge dedicados aos livros de Harry Potter, e, na boléia, descobri as outras formulações paranóicas do pastor David Bay e companhia. Em um dos texto, Bay acusa o segundo livro de Potter de retratar "o sacrifício, o corte e o cozimento de seres humanos". Mas o que mais me chamou a atenção foi a acusação de que J. K. Rolling teria feito menção ao número da besta (666 - conforme Apocalipse 13:18) em um trecho do primeiro livro da série. Fiquei surpreso, pois isso seria bastante explícito e, para mim, aparentemente perigoso e comprometedor de se fazer no primeiro livro (ou seja, quando ainda não se arrigimentou uma legião de fãns). Ou será o oposto: a menção aperece no primeiro livro justamente para que ela mostrasse aos "entendidos" qual é o seu propósito oculto, e portanto obtivesse todo o apoio dos "donos do poder" para seduzir as massas? Eis o que o pastor David Bay diz sobre o número da besta em Harry Potter e a pedra filosofal:


Vencendo a Morte. Na falta de uma firme esperança de vida eterna por meio de Jesus Cristo, o satanista vira-se para o Senhor Satanás em busca dessa esperança. Nos dezesseis anos que passei pesquisando o ocultismo, vi inúmeros pretensos caminhos para a vida eterna. Um dos mais comuns é o caminho chamado "Obtenção da Pedra Filosofal", também chamada de "Pedra do Feiticeiro". O primeiro livro da série Harry Potter tem exatamente esse título, pela simples razão que Lord Voldermort está tentando obter a Pedra Filosofal para que possa viver para sempre.

A Pedra Filosofal é o quinto e final estágio na busca ocultista para obter a vida eterna. Em seu livro, Rowling explica corretamente:

"O antigo estudo da alquimia preocupava-se com a produção da Pedra Filosofal, uma substância lendária com poderes fantásticos. A pedra pode transformar qualquer metal em ouro puro. Produz também o Elixir da Vida, que torna quem o bebe imortal. Falou-se muito da Pedra Filosofal durante séculos, mas a única Pedra que existe presentemente pertence ao sr. Nicolau Flamel, o famoso alquimista e amante da ópera. O sr. Flamel, que comemorou o sexcentésimo sexagésimo quinto aniversário no ano passado, leva uma vida tranqüila em Devon, com sua mulher, Perelle (seiscentos e cinqüênta e oito anos)" [HP e a Pedra Filosofal, pg 190; ênfase acrescentada] Você observou que Flamel tem 666 anos?


Eu me dei, mais uma vez, ao trabalho de confirmar essa citação, e realmente isso é verdade (oh!).

Em 2005 a revista Superinteressante (a revista que eternamente está comemorando seu próprio aniversário) publicou o Livro das conspirações 2005. Até onde eu sei não houve livros subsequentes a esse. Também, não é de se surpreender: o conteúdo do livro está muito aquém daquilo que pode ser obtido sem muita dificuldade na internet. O livro menciona alguma teoria de caráter totalizante (uma sistematização de conhecimento, em oposição a um conhecimento fragmentado)? Não. O livro cita alguma coisa sobre a "misteriosa" criação dos bancos centrais? Não. Ou sobre a moeda fiduciária? Não. O livro cita em uma das suas 21 reportagens alguma coisa sobre as suspeitas de que os atentados de 11 de setembro foram forjados pelos mesmo poderosos que dominam o governo dos EUA? Não. Já o pastor David Bay, apesar dos seus textos mirabolantes, e mesmo surpreendente(mente engraçada)s, é mencionado apenas por ocasião justamente do caso Harry Potter.

A reportagem do Livro das conspirações 2005 sobre Harry Potter, porém, fica bem aquém do que Bay afirma em seus textos. Por exemplo, nada é dito sobre essa impressionante aparição do número da besta já no primeiro livro da saga. Mais surpreendente ainda: no fim do livro, na seção "saiba mais - tudo para você ficar por dentro e ler mais sobre o assunto" o livro menciona apenas o site da Cutting Edge em inglês (como se o Espada do Espírito - que contém a tradução para o protuguês da mais de 700 textos da igreja estadunidense - simplesmente não existisse), e apenas como referência para o caso Potter (como se as elucubrações de Bay sobre esse assunto não estivessem relacionadas com uma extravagante e exaustiva teorização sobre o advento da Nova Ordem Mundial. A mesma seção nada diz sobre o livro O poder SECRETO!, livro em portugês e com 840 páginas publicado no mesmo anos por Armindo Abreu; igualmente, o livro da Superinteressante nada diz sobre o conteúdo do livro de Abreu, que apenas é um resumo de teorias conspiratórias mais sérias que as apresentadas pela revista da editora Abril e que, em si, não traz absolutamente nada de novo para alguém que estuda atentamente teorias da conspiração (o que certamente a Superinteressante nunca fez e nunca fará).




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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.