Aquilo que constitui a ocupação de qualquer ser vivo, que o mantém em movimento, é o desejo de viver. Pois bem, uma vez assegurada esta existência, não sabemos o que fazer dela, nem em que a empregar! Então intervém a segunda mola que nos põe em movimento, o desejo de nos livrarmos do fardo da existência, de o tornar insensível, de “matar o tempo”, o que quer dizer fugir do aborrecimento. Arthur Schopenhauer, O Mundo como Vontade e como Representação, Tomo I, §57.
É deprimente saber que centenas de milhões de pessoas passam a maior parte do seu tempo livre agonizando diante da televisão. Isso é escapismo, é uma forma de tornar a vida insensível, uma forma de auto-alienação.
Pense bem: essas pessoas utilizam o seu tempo livre (ou seja: aquele tempo não despendido na luta diária pela sobrevivência) justamente para esquecer - para apagar e não perceber - a mesma vida cuja manutenção delas exige tanto esforço!
Trata-se de uma fuga do real por meio do seu esquecimento e da sua substituição por um hiper-real, por uma idealização do real, por uma falsificação glamurizada e espetacularizada do real. (1)
As pessoas labutam pesado para garantir a própria vida; e quando conseguem isso não sabem o que fazer com essa mesma vida cuja manutenção tanto custa.
Se o “eu” fosse algo que valesse a pena, e que nos orgulhasse, a auto-alienação não seria prazerosa. Igualmente, se a vida fosse boa, não seria satisfatório se esquecer dela.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
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