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É sabido que os cristãos crêem em um deus onipotente, onisciente e onipresente. Uma breve leitura do sacro livro levanta sérias dúvidas a esse respeito, pois essa visão abstrata (e escolástica) de deus como uma exorbitação conceitual se choca com as descrições bíblicas dos atos desse mesmo deus (principalmente os relatados no Velho Testamento).
Alguém que possui esses atributos não seria capaz de se surpreender, de se irar ou de se equivocar, não é mesmo? Nada para ele seria novidade, ele saberia de tudo, tanto o que já ocorreu quanto o que ainda ocorrerá, ele poderia tudo.
Um dos muitos trechos que não se conciliam com tal concepção de deus é o de Êxodo 32: 9-14. Como pode um ser com todos esses poderes enfurecer-se (versículo 10), esquecer-se (versículo 13) e, mais paradoxalmente, arrepender-se (versículo 14: Então o SENHOR arrependeu-se do mal que dissera que havia de fazer ao seu povo.)? E, pior, ele ainda por cima é corrigido por uma criação sua – Moisés. Depois que alguém supostamente infinitas vezes mais fraco, ignorante e estúpido que ele o corrige, ele MUDA DE OPINIÃO se arrepende do MAL que iria fazer!!
Patético.
2.9. Justificar o injustificável
Na verdade vos digo, que não passará esta geração sem que todas essas coisas aconteçam. (Marcos, 13:30)
São essas supostas palavras de Jesus. Todo este capítulo (intitulado “O sermão profético”) discorre a respeito do fim do mundo (eis os títulos dos sub-capítulos: O princípio das dores; A grande tribulação; A vinda do Filho do Homem; A vigilância). Daí conclui-se: o texto afirma que o fim do mundo (do princípio das dores à vinda do Filho do Homem) ocorreria NAQUELA geração da qual Jesus foi contemporâneo. Mas nada aconteceu nos últimos 2000 anos.
É cômico como estudiosos da Bíblia tentam consertar essa contradição. Só para citar alguns exemplos, afirma-se, por exemplo, que o discurso profético não se refere ao apocalipse, mas sim ao aparecimento da Igreja (católica, deixe-se claro), ou, ainda, à destruição de parte da cidade de Jerusalém (que realmente ocorreu naquela geração); outros, em arroubo absurdo de liberalismo, têm o despudor de afirmar que Jesus pode, simplesmente, TER-SE ENGANADO (e nesse caso ele errou feio!); há, ainda, outros que afirmam que “esta geração” não se refere àquela em que Jesus viveu, mas sim àquela na qual tiver início o princípio das dores: quando ele começar, vai acontecer tudo em uma só geração.
Todas essa afirmações são subterfúgios que tentam justificar o injustificável: a profecia não se realizou, portanto não há valor divinatório nas palavras do homem que a proferiu. Ele não é “filho de Deus”, tampouco possui “escolhidos” que levará ao “paraíso”, após o “juízo final” por ele profetizado: tudo isso é para multidão o que a cenoura é para o cavalo.
Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
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