sexta-feira, 1 de maio de 2009

LXII - Acerca do papel social motriz de indivíduos que dedicam toda sua vida ao trabalho em prol de outrem - Eles movem a sociedade.


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§ 62




Tudo nesse mundo acaba em patifaria e um homem que, por vontade dos outro e não por seu próprio desejo e sua própria necessidade, mata-se de trabalhar por dinheiro, por honra ou qualquer outra coisa, será sempre um tolo. (Werther, em Os sofrimentos do jovem Werther, de Goethe, Parte I, carta de 20 de julho)


Essas pessoas geralmente são homens, homens que trabalham na área das ciências exatas, principalmente nas engenharias. Vivem a vida toda em prol de outrem.

Sacrificam juventude e beleza (se é que um dia a possuíram) em função dos estudos, estudos, estudos.

Tornam-se tecnicistas. Todo o seu ser está voltado para a atuação na área em que se especializaram. Sua vida se resume ao trabalho, trabalho, trabalho, trabalho. Trabalho. Na empresa, tendem a ser contabilizados como "móveis e utensílios". Eles buscam por meio da auto-alienação fornecida pelo trabalho um meio de contornar (esquecer) os seus problemas emocionais não resolvidos.

Podem ser identificados facilmente pelo rosto acinzentado, pelo olhar de andróide, pela falta de idéias originais sobre qualquer assunto que não diga respeito a sua profissão (e às vezes sobre esse assunto também), e pelo mal-gosto com que costumam se vestir (por desconhecerem qualquer coisa acerca de estética).

Casam-se e passam a trabalhar para sustentar as regalias (que não são poucas) dos filhos e, às vezes, também da esposa. Os filhos geralmente não seguem a mesma área do pai (pois ele é um bom exemplo do que eles não devem ser), e quando o fazem é comum que não tenham o mesmo "sucesso" do pai, pois sabem, pelo acompanhamento da experiência do pai, o quanto esse tipo de vida é vazio.

Com o tempo, esses homens tornam-se obesos, doentes, impotentes, depressivos (com direito à medicação de tarja preta) e eternamente mal-humorados. Tudo isso sem perder a subserviência típica de alguém que vive para servir a outrem.





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

4 comentários:

Silas disse...

Um homem que se mata de trabalhar pelos outros está matando a si mesmo, mas o exato inverso também é prejudicial.

A sensação de solidão, de não estarmos conectados com "o todo", nos deixa tão vazios que a vida se torna quase insuportável.

Falo baseado na minha fase Schopenhauer.

Duan Conrado Castro disse...

Sim, também sei (em parte) isso por experiência própria. Digo "em parte", pois apenas conheço o lado do "vazio", mas não a sua negação (que eu apenas conheceria se tivesse saído da minha fase de Schopenhauer). Isso me lembra a "fábula schopenhauriana dos porcos-espinho", sobre a qual falarei no §70 (que só deve ser publicado em julho).

Silas disse...

Acho que sei sobre essa fábula.

Realmente muitas vezes parece que é isso: que estamos querendo calor e que por isso ficamos em volta de pessoas que nos fazem sofrer.

Mas te garanto que nem todos são porcos espinhos.

Nem todas as pessoas são vampiros querendo sugar nossa força vital.

Já achei gente boa por aí. é só ter paciência.

Silas disse...

Quero colocar um link pra essa postagem no meu blog como referência.

Tem problema?