sábado, 17 de abril de 2010

CI - Acerca de esboços de uma metacrítica de orientação marxista ao livro “O pequeno príncipe”.

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§ 101




Não gosto que leiam meu livro superficialmente. (O pequeno príncipe, capítulo IV)



Antes de ler este capítulo (o mais longo capítulo desse blog, talvez perdendo apenas para o capítulo LXXXIV, destinado à crítica da publicidade), sugiro a leitura do capítulo anterior (100), bem como do capítulo ### 33, os quais servem como um referencial teórico com o que é dito aqui. Recomendo também a leitura do capítulo XCVI, pois veremos aqui, na prática, como funciona a “teoria” do real e do ideal enquanto discursos.

Seria inviável escrever esta metacrítica de orientação marxista sem o conceito de reificação. Caso o leitor não o domine, eu sugiro ao menos a leitura do ### 5. Outros textos complementares: Fetichismo e semiformação numa época de reificação total e o seguinte artigo sobre o livro A sociedade do espetáculo, livro de Guy Debord. Infelizmente eu nunca me dei ao trabalho de expor didaticamente o conceito de reificação, tampouco achei algum dicionário eletrônico ou enciclopédia que fale algo decente (o artigo da Wikipédia está uma m..., por exemplo).



Chamo esse texto de "esboço" pois enquanto o escrevia percebi que, caso me dedicasse o suficiente, seria possível escrever um texto muito maior, mesmo um livro com centenas de páginas, utilizando-se, inclusive, de outras abordagens metacríticas além da marxista. Mas infelizmente eu nunca terei tempo livre o suficiente para me dedicar a um projeto desses que, todavia, eu reconheço ser totalmente exeqüível.

Por fim, antes vejamos o que a Wikipédia diz desse livro:

Le Petit Prince, conhecido como O Principezinho em Portugal e O Pequeno Príncipe no Brasil, é um romance de Antoine de Saint-Exupéry publicado em1943 nos Estados Unidos. A princípio, aparentando ser um livro para crianças, tem um grande teor poético e filosófico. É o livro francês mais vendido no mundo, cerca de 80 milhões de exemplares, e entre 400 a 500 edições. Também se trata da terceira obra literária (sendo a primeira a Bíblia e a segunda o livro o peregrino) mais traduzida no mundo, tendo sido publicado em 160 línguas ou dialetos uma das 11 línguas oficiais da África do Sul. Em Portugal, "O Principezinho" integra o conjunto de obras sugeridas para leitura integral, na disciplina de Língua Portuguesa, no 2º Ciclo do Ensino Básico.

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Toda crítica pressupõe um discurso do real que é admitido como verdadeiro, pois a crítica nada mais é do que a demonstração da inadaptação do discurso criticado ao discurso que se admite como verdadeiro. Como indica o título desse capítulo, o discurso do real pressuposto aqui, nesse capítulo, como fiel descrição da realidade é o discurso marxista. Isso significa que a metacrítica aqui realizada tem por conteúdo comparar esses dois discursos críticos do real (cada qual, por sua vez, associado a um respectivo discurso do ideal) e demonstrar que o primeiro - O pequeno príncipe - não se adapta ao segundo - o(s) marxismo(s) -, que é admitido aqui como descrição "verdadeira" do real. Se é bem-sucedida a pretensão marxista de conhecer a realidade, essa é uma outra questão - certamente digna de consideração - que não é levada em conta no presente trabalho. Se você acha que é "covardia" opor Marx & cia ao pequeno (e ingênuo) príncipe, eu lhe pergunto o que é então um outsider empreender sozinho, no seu blog que ninguém lê, uma batalha contra um dos maiores best-sellers de todos os tempos.

Eu não me considero um marxista: eu sou um outsider, e, por isso, recuso-me a me encaixar em qualque "ismo", recuso-me a abraçar qualquer discurso do real como a verdade última, pronta e acabada. Mas, para todos os efeitos, eu tentei me comportar, nesse texto, "como se" fosse um marxista, assim como em outros textos desse blog eu me comportei "como se" fosse schopenhauriano, ou teórico da conspiração, ou militante das causas do ateísmo e do agnosticismo. Na "verdade" (seja lá o que for isso) eu sou todos esses "personagens" simultaneamente, ao mesmo tempo que não sou nenhum deles, por ser também outro que se sobrepõe a todos: um outsider (com relação ao que eu entendo por outsider, ver cap. CVII).

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Ninguém pode pois escrever sem tomar apaixonadamente partido (qualquer que seja o distanciamento aparente de sua mensagem) sobre tudo o que vai bem ou vai mal no mundo; as infelicidades e as felicidades humanas, o que elas despertam em nós, indignações, julgamentos, aceitações, sonhos, desejos, angústias, tudo isso é a matéria única dos signos, mas esse poder que nos parece primeiramente inexprimível, de tal forma é primeiro, esse poder é imediatamente apenas o nomeado. (Barthes, Crítica e Verdade)


Em vez de elaborar um corpo teórico que lhe permita fazer uma apresentação coerente da condição humana atual, bem como lhe permita apresentar sugestões consistentes para uma transformação política do real, o autor do livro O pequeno príncipe constrói uma crítica reducionista condenada a servir de mero escapismo, mera masturbação mental. Em vez de organizar-se politicamente, o autor (e o leitor), resolveu fugir para um mundo infantil, reificado, e, de lá, ficar resmungando contra o mundo burguês do qual ele é participante e cúmplice, mundo esse tipificado em seu discurso tosco como sendo antropomorfizado em “pessoas grandes”. Essa cumplicidade, a qual ele busca purgar em sua regressão a um mundo infantil, é a verdadeira fonte da “vergonha” que ele alega sentir quando o principezinho o acusa de agir como “as pessoas grandes” (no cap. VII)

A culpa e a frustração sentidas por Saint-Exupéry (o autor do livro) pela execução de uma prestidigitação barata dessas transparece repetidamente n’O pequeno príncipe. Ao remoer esses sentimentos, o autor parece entender que essa crítica inócua do real não irá eximi-lo – nem irá eximir o leitor – de sua responsabilidade para com a reprodução do establishment: em sua futilidade, esse exercício ficcional se esgota numa masturbação mental domesticadora, cujo discurso emancipador se revela totalmente contraproducente, e que, portanto, se reduz a um entretenimento, a um escapismo.

O “mundo dos adultos” (o mundo capitalista, com sua indústria cultural) é um requisito para que Saint-Exupéry escrevesse e divulgasse o próprio livro que ingenuamente acredita compreender a realidade e criticá-la com alguma coerência. Essa incoerência do autor não é mera hipocrisia; é, antes, testemunha da função social da indústria cultural na sociedade capitalista pós-industrial, uma sociedade que se transcende mistificadamente enquanto cultura: a função de promover uma catarse onírica da responsabilidade que cada membro da sociedade tem pela perpetuação da ordem social vigente, para assim desincentivar a transformação política do real, mantendo dessa forma o establishment. A suposta crítica de Saint-Exupéry ao mundo é utilizada por ele (o mundo) para manter tudo tal qual está, para manter o status quo.

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Vamos analisar a história, em seus 27 capítulos, mais de perto. Obviamente o texto a seguir contém spoilers (revelações sobre o enredo), aliás, essa metacrítica será muito melhor entendida por quem leu o livro e lembra dos seus detalhes. Admito que essa não seria a forma mais eficiente de estudar o livro. O melhor seria organizar a metacrítica por eixos temáticos, e não pela cronologia do livro. Mas isso daria muito mais trabalho...


Capítulo I


Aqui o autor apresenta a dicotomia básica de seu sistema crítico do real, que, simultaneamente é a defesa do seu ideal (sobre o real e o ideal enquanto discursos, sugiro a leitura do capítulo XCVI). A dicotomia é a seguinte: “as pessoas grandes” (ou ainda “gente séria”) versus “as crianças”. As primeiras são a antropomorfização do establishment, que é criticado pelo autor, e as segundas são apresentadas como as autoras de um projeto de redenção e de superação do real.

O autor, e seu alter ego aviador, nem preciso dizer, é uma “pessoa grande” (assim como todos os autores de literatura infantil); portanto, ao referir-se aos adultos na terceira pessoa ele apresenta sinais inequívocos de regressão, de infantilização. Ele regrediu pois acredita que, agindo como uma criança, atingirá um ideal de transformação do real; noutras palavras, ele se comporta como criança porque acredita que o problema do mundo são os adultos. Como primeira contra-argumentação, eu saliento que toda a produção material – todo o trabalho (aliás, seguindo a reificação básica das histórias infantis, o mundo do trabalho está ausente na história, como veremos repetidamente abaixo) – necessária para a manutenção biológica da vida é realizada por adultos, e não por crianças, nem desenhistas ou poetas.

Mas cabe salientar que essa regressão não custou esforço algum ao aviador-narrador: ele não precisou se esforçar para regredir pois, por algum motivo não explicado, ele, mesmo sendo um homem, um adulto, naturalmente e espontaneamente não se comporta como as pessoas grandes. No fundo, o que o aviador-narrador, e portanto o autor desse livro, quer é transformar toda a humanidade numa cópia de si mesmo, que ele projeta na figura das crianças: esse é o “caminho” de emancipação proposto por ele: “sejam como eu sou, e tudo será bom”. Bom se a realidade fosse tão simples assim. Mas não é.

O autor afirma que as pessoas grandes têm dificuldade de entender as coisas, e que precisam de explicações detalhadas. Depois ele afirma que essas pessoas o desaconselharam a continuar desenhando – e assim eles culpa os outros (as pessoas adultas, o mundo cruel) pelo seu fracasso profissional (“Foi assim que abandonei, aos seis anos, uma promissora carreira de pintor”). Percebemos que a frustração pessoal do autor é canalizada para a formação de um discurso crítico do real, discurso, como veremos, extremamente pobre e incoerente. Como eu já disse no capítulo VII desse blog, o rebelde não passa de um desajustado.

Em oposição à complexidade e à polissemia do mundo real (ver capítulo LVII), o autor advoga que a realidade é muito simples e evidente, sendo que são as pessoas grandes que a complicam. Não é difícil perceber, já aqui no capítulo I, que a “realidade” à qual o autor se refere é o seu próprio mundo imaginário interno. Quando diz que o mundo é simples, na verdade ele está enunciando um desejo: que o mundo fosse simples.

Veremos constantemente o autor-narrador desprezar os conhecimentos práticos e instrumentais, não raro de forma irônica, sendo que são justamente esses conhecimentos condição social concreta básica para a configuração de uma sociedade na qual ele pudesse se dedicar à sua criação literária e pictórica, e na qual pudesse vendê-la como mercadoria. Vemos a grande incongruência do autor: no fundo ele critica a realidade sem ter um conhecimento mínimo dela.

Vemos, no último parágrafo desse capítulo I que, claramente, as “pessoas grandes” são uma antropomorfização do mundo burguês, do establishment político e econômico. Vemos também como o autor – em seu reducionismo verdadeiramente grotesco – criou um método para separar as “pessoas grandes” dos outros. Ele afirma que, fora as crianças, que já são identificáveis visualmente, não encontrou ninguém, a não ser ele mesmo (que arrogância...), que manteve a inteligência quando adulto (isso mesmo, “inteligência”). Veremos adiante que é essa a explicação que o autor usará para decifrar os enigmas do mundo: os adultos perdem a inteligência e a bondade que possuem quando crianças. Noutras palavras: as pessoas nascem boas e depois ficam más, por isso o mundo é mau. Para resolver os problemas do mundo, os adultos precisam voltar a se comportar como crianças (ou talvez, como os adultos já são um caso perdido, seja o caso de impor uma “ditadura das crianças” (se não me engano isso chegou a ser defendido por Mário Quintana), ou mesmo seja o caso de promover um holocausto como “solução final” para o problema dos adultos). E viveram felizes para sempre. Fim.


Capítulo II


A solidão que o narrador-autor afirma sofrer nos permite inferir que ele é um outsider (falaremos mais do outsider no capítulo CVII, a ser postado em 05/06/10). Mas ele, como veremos, é um outsider totalmente diferente de mim. Enquanto eu sou racional (desenvolvo meu psiquismo por meio da complexificação do pensamento), ele é sentimental, o que reflete no seu discurso de mundo simplório, raso e reducionista (e, portanto, totalmente inútil como ferramenta de transformação do real). Porém, foram os sentimentos e o reducionismo ontológico que permitiram a esse livro se tornar tão popular, inclusive – e nunca é demais insistir nesse ponto – entre adultos, popularização essa que nunca ocorrerá com a literatura intelectualizada.

O aviador-narrador repete que viveu só, pois fora ele não há adultos inteligentes e puros no mundo. Por que ele não buscou mitigar essa sua solidão criando um orfanato? Ou adotando crianças abandonadas? Isso não nos é dito, o que sabemos é que, em vez de agir, fazer alguma coisa, ele ficou se lamentando, roendo a própria alma, e isso enquanto já era detentor do conhecimento dos mais íntimos segredos do funcionamento do universo. Quando a alucinação (o “pequeno príncipe”) aparece, a primeira coisa que chama a atenção é justamente a sua aparência: em incoerência grotesca com a crítica feita às pessoas grandes no capítulo IV (que elas são pessoas superficiais que se importam com a aparência e com as roupas), vemos que o garoto está muito bem vestido. E não apenas isso: vemos que ele é loiro e que porta uma espada (portanto, não só um símbolo fálico, mas uma arma de guerra usada para matar). Como o autor adverte, o garoto, em seu porte e expressões, era “extraordinário” (ou seja, fora do comum) e “sedutor”. Vemos aqui, novamente se repetir o estereótipo idealizado (descrito no capítulo XLIII) segundo o qual os heróis são homens, jovens (nesse caso, criança), ricos (nesse caso, um príncipe), brancos (nesse caso, um ariano – conforme informado no capítulo VII do livro o garoto tem “cabelos dourados”), saudáveis (obviamente o pequeno príncipe está muito bem de saúde), belos e heterossexuais (se bem que, nesse caso, o garoto parece ser assexuado, o que confirma a negação do corpo, da materialidade concreta, como veremos repetidamente abaixo). Todos esses sinais “sedutores” e “extraordinários” são justamente testemunhas da cumplicidade do pequeno príncipe com uma sociedade machista, falocrática, elitista, preconceituosa, violenta, opressiva, etc., enfim, com o establishment, com o “mundo das pessoas grandes”. Em sua vã e ingênua tentativa de libertação, Saint-Exupéry apenas faz afundar-se ainda mais em sua prisão.

Depois da aparência do garoto, outra coisa que chama a atenção – e que também é um componente clássico nas histórias infantis e da indústria cultural – é a ausência de necessidades materiais associada a um idealismo (a mais pura ideologia): o garoto não pede água (eles estão no meio do deserto) ou comida, mas sim pede para desenhar um carneiro: ou seja, a necessidade do garoto é – como ele próprio – ideal, e não material, repetindo o tão desgastado fetichismo. E, como será dito no capítulo IV, o garoto não quis um carneiro por nenhuma necessidade material (como fonte de matérias-primas para ele se vestir e se alimentar), mas sim porque precisa de um amigo. O estado mental do autor é da mais completa e total alienação (no sentido marxista).

Obviamente que o garoto passa no teste que o aviador-narrador usa para encontrar “pessoas inteligentes”. Não surpreende que o garoto seja uma alucinação do aviador, pois mais ninguém passaria num teste ridículo desses, que é apresentado como uma metodologia infalível que decifrou os mais ocultos segredos do mundo.


Capítulo III


A “explicação” da origem do garoto novamente reafirma a mais grotesca reificação, a mais radical indeterminação material, a mais tosca e ridícula caricaturização do mundo real, a destruição absoluta de qualquer referência ao mundo real, concreto e histórico no qual vivemos.


Capítulo IV


Novamente vemos uma caricaturização absurda e radical da realidade material do mundo, associada a uma crítica irônica a todo nobre esforço da civilização em buscar, acumular e sistematizar o conhecimento científico. Um verdadeiro absurdo! Um discurso que vai às raias da loucura furiosa, uma explicação ridícula que destrói toda a polissemia angustiante do mundo real. Como já dito, comparar aqui a crítica que ele faz às pessoas grandes (“ninguém lhe dera crédito por causa das roupas típicas que usava”), com a aparência do pequeno príncipe, conforme descrita no capítulo II. Se a criança, diferente do adulto (e do próprio Saint-Exupéry), supostamente ignora o traje de cavaleiro (“elegante casaca”), é por ignorância da simbologia social, não por virtude, de tal forma que o mérito do ato é significativamente nenhum.

Novamente o autor confirma seu elitismo e seu pensamento burguês. É tão difícil perceber o pobre deslizamento conceitual que existe entre “Vi uma bela casa de tijolos cor-de-rosa, gerânios na janela, pombas no telhado...” e “Vi uma casa de seiscentos mil reais”?

Quando ele afirma que a história absurda da origem do garoto seria aceita pelas pessoas grandes porque ele deu o nome do asteróide, essa afirmação é tão absurda, tão grotesca, tão tosca, tão ignorante, tão radical, que me faz duvidar seriamente da sanidade mental do seu autor. Seja como for, ela é a prova da ignorância extrema que o autor tem acerca do que seja o mundo real e as pessoas que o habitam.

Quando o narrador diz que é preciso “não querer mal” as “pessoas grandes” por suas falhas morais e por sua ignorância, ele está justamente expondo que sente esses sentimentos (e, junto com ele, o autor do livro), que nada mais são que o reflexo de sua angústia existencial diante de sua responsabilidade e cumplicidade para com o establishment que ele odeia e diante do qual está reduzido a um estado de impotência.

No fim do capítulo IV fica clara outra “virtude” infantil que, para o autor, falta nos adultos e explica os problemas do mundo real: a “imaginação”. A idolatria à imaginação é recorrente na literatura infantil e, como nos explicam os autores de “Para ler o Pato Donald”, é sintomática duma concepção da realidade totalmente reificada, que ignora por completo a realidade material de produção e de trabalho necessária para manter nossa materialidade concreta, nossa corporeidade biológica, sem a qual não há imaginação ou sentimentos.


Capítulo V


Novamente, como em todo o restante do livro, a realidade material é amputada e reduzida a uma caricatura burlesca e reducionista, que já não faz mais referência alguma à materialidade concreta na qual vivemos.

As definições de "bom" e "mal" (aliás, esses conceitos tão infantis não poderiam faltar aqui) usadas pelo autor reafirmam sua ingenuidade crassa e seu completo desconhecimento da complexidade da vida numa sociedade capitalista de alta entropia.

Assim como as aventuras (buscas ao tesouro) pelo mundo de Disneylândia são (de acordo com os autores de Para ler o Pato Donald) uma remissão tosca da realidade concreta do trabalho, assim também o trabalho concreto é referenciado pela “toalete do planeta”, servindo, inclusive, à introdução de uma teleologia moral (farei uma breve crítica da teleologia moral no capítulo CXIII desse blog): os preguiçosos acabam se dando mal. Nem é preciso repetir o caráter alienado, reificado, fetichista, da história dos baobás, e como qualquer lição de moral que ela pretenda passar é anulada pelo fato de que ela é válida numa caricatura do mundo real, e não na nossa realidade concreta. Por falar em “toalete”, todo o processo civilizador que essa pressupõe – cuja história secular está tão bem relatada no livro homônimo (O processo civilizador, 1939) de Norbert Elias, com uma bela riqueza de exemplos retirados dos manuais de etiqueta publicados na Europa a partir do século XIII – é reificado, é subsumido como natural, como uma coisa em si mesma, e não como um processo histórico cumulativo multidirecional que, simultaneamente, é determinado materialmente e possui uma dimensão simbólica influenciada por contingências e especificidades locais.


Capítulo VI


Uma das características da reificação presente na indústria cultural, e presente nesse livro também, é a tomada dos produtos da divisão social do trabalho como coisas em si mesmas. Ora, os desenhos que ilustram o livro nos mostram vários produtos do trabalho (roupas, espada, pá, cadeira, regador, cúpula de vidro, frigideira, cercas, trono, mesa, garrafas, papel, lampião, cordas, lupa, etc.) que simplesmente apareceram do nada: a realidade concreta do mundo, a realidade cotidiana e histórica do trabalho, é negada. Como se pode esperar qualquer validade epistemológica dum discurso que nega nossa materialidade básica? Qualquer afirmação moral que o livro contenha (e ele contém várias) é anulada pelo fato dessa afirmação se dar num contexto completamente diverso do mundo real.

Outra característica da reificação presente na indústria cultural é a clássica inversão da determinação histórica dos nossos valores e gostos, que são tomados como coisas em si mesmas, independentes da história e da realidade concreta - caindo-se, assim, num grosseiro e característico etnocentrismo. É o que ocorre, nesse capítulo, com o prazer estético oriundo do pôr-do-sol. Ora, toda a contextualização material e histórica determinante dessa beleza está ausente na realidade do garoto, e mesmo assim ele possui sensibilidade para ela. A beleza do pôr-do-sol obviamente não existiria num asteróide, pois, devido a sua massa pequena, o mesmo não tem força gravitacional para ter atmosfera (ou para manter corpos maiores – como cadeiras, carneiros e meninos – presos a sua superfície). Ademais, a beleza da aurora e do pôr-do-sol não seria levada em consideração se fosse constante (se bastasse afastar nossa cadeira alguns centímetros para renová-la), pois a sensibilidade se acostumaria a ela e não lhe daria atenção (é impossível, no mundo concreto de trabalho, viver, enquanto corporeidade, num estado permanente de embevecimento, de deslumbre estético).

A melancolia causada pela solidão do garoto é, em verdade, a projeção da melancolia sentida por Saint-Exupéry por viver sozinho num “mundo cruel”, o qual ele não entende, o qual ele não consegue mudar, e ao qual ele, como outsider, não consegue se ajustar.


Capítulo VII


É totalmente ridículo e descabido de qualquer racionalidade afirmar – e, no entanto, essa é uma das principais mensagens do livro – que os interesses egoístas, ingênuos e sentimentais de uma criança imaginária são mais importantes que o trabalho de um adulto do qual depende a sua sobrevivência material (sim, cabe lembrar aqui que o autor – diferentemente do menino, que é uma mera alucinação regressiva – possui um corpo com necessidades materiais que precisam ser atendidas constantemente). Aliás, cabe ressaltar que o próprio aviador em momento algum faz referência a sua alimentação – ele só fala que precisa beber água, como se isso fosse suficiente para nutrir o seu corpo e manter a sua consciência e a sua imaginação ingênua.

Mas a tarefa de consertar o avião não remete apenas à materialidade, à concreção, à corporeidade negada a todo instante no livro. Remete também ao retorno à sociedade, ao convívio com as infames "pessoas grandes”. Não por acaso, a alucinação, o pequeno príncipe, surgiu ao narrador quando esse estava isolado num deserto, há milhas da civilização. Pois se tivesse surgido quando este estivesse na cidade, toda a ingenuidade absurda e absoluta do garoto seria esmagada e estilhaçada pela complexidade duma realidade cruel que não lhe daria qualquer crédito ou atenção, justamente porque está ocupada demais com sua materialidade, sua concreção e sua complexidade. O isolamento do narrador num deserto permite-lhe auto-referenciar-se e projetar seu próprio narcisismo ingênuo e superficial na figura do garoto (no capítulo II ele diz que viveu só, até o dia em que encontrou o garoto num deserto: ou seja, a solidão suavizada pela presença do garoto é na verdade uma projeção delirante do narcisismo rasteiro do próprio narrador). O retorno à sociedade é o retorno a uma realidade de dependência (pois existe uma divisão social do trabalho) dos outros – esse retorno é uma re-inserção, uma renovação da cumplicidade, numa sociedade que o autor-narrador despreza, não entende, não consegue mudar, e da qual não consegue se livrar.

“- Então... para que servem os espinhos?” Temos aqui o clássico raciocínio funcionalista, antropocêntrico, teleológico, e narcísico: os espinhos são interpretados como executores de uma função que remete ao ego do ser pensante e desejante que enunciou a sentença.

Nesse capítulo o autor-narrador-aviador afirma duas vezes estar envergonhado da sua condição, o que remete ao seu sentimento de culpa por ser participante e cúmplice da sociedade na qual está inserido, e a qual sem dúvida alguma ele não compreende, não entende nem um pouco, como prova seu discurso absolutamente ingênuo e radicalmente reducionista até o absurdo delirante.

Cabe também salientar o caráter eminentemente narcísico dos sentimentos “puros” do pequeno príncipe. Como eu já discorri no capítulo LIII desse blog, a suposta pureza moral da criança é fruto não de uma virtude abnegada, mas de um desconhecimento da complexidade de interesses conflitantes existentes no mundo burguês. Mas Saint-Exupéry, e junto com ele o senso comum e tantos outros produtos da indústria cultural, compra a aparência pelo conteúdo e utiliza a suposta pureza moral infantil para construir seu ideal ético, o qual desmorona quando percebemos que o principezinho – como ficará definitivamente provado no capítulo XX – é egoísta e narcísico, aliás, tão egoísta e narcísico a ponto de não perceber que a sobrevivência concreta do seu amigo aviador é muito mais importante que suas reflexões superficiais e tolas sobre carneiros e rosas. Mas nada disso é visto por Saint-Exupéry, e o menino é apresentado como exemplo de virtude a ser seguido.


Capítulo VIII


Como em todo o resto desse livro, esse capítulo está cheio da mais grotesca reificação do começo ao fim. O autor afirma que a flor não poderia “conhecer nada de outro mundo”, afirmando que qualquer conhecimento que ela alegasse ter sobre outro mundo seria “uma mentira tão tola”. Mas por acaso a flor já não sabe o idioma do garoto? (Aliás, existe um idioma universal – problemas oriundos da diversidade de idiomas não existem nesse mundo tosco idealizado por Saint-Exupéry; padrão, aliás, que exaustivamente se repete na indústria cultural (O Surfista prateado, apenas para dar um exemplo, chega à Terra, no filme no qual contracena com o Quarteto fantástico, falando inglês fluentemente.)) Por acaso a flor já não sabia o que era sol, o que era café da manhã, o que era tigre, o que era vento, o que era redoma, etc? E tudo isso não é, por acaso, “uma mentira tão tola”?

A flor será o primeiro de uma série de tipos de companhia que se relacionaram com o garoto. Cada um desses tipos compõem um “tipologia crítica”, a qual nada mais é do que uma tentativa ridícula e superficial do autor em sistematizar sua crítica às “pessoas grandes”, ou seja, ao mundo real no qual ele está inserido e do qual é cúmplice. Assim mesmo, a flor representa alguém que é possível amar (e o garoto – que não tem uma materialidade concreta (não sabemos de onde veio, não se alimenta, etc.) – lamenta não ter sido “maduro” o suficiente para amá-la), diferentemente de outros personagens com os quais ele irá se relacionar nos capítulos seguintes.

Capítulo IX

Nesse capítulo somos informados que o garoto, no seu planeta natal, toma “café da manhã”. Mas de onde vêm a comida que ele come? Convenientemente o planeta lhe fornece fogões naturais. Imagino que tenha fornecido as suas roupas e os outros produtos que no nosso mundo real só existem em função de uma intrincada divisão social do trabalho.

Veremos que a motivação para que o garoto deixasse seu planeta não foi, novamente, uma motivação material, que remeta à sua corporeidade (pois esta na verdade está ausente, é mera aparência idealizada), mas sim a sua solidão (que vem a ser a solidão do próprio autor do livro, um outsider sentimental): ele busca um amigo. Só não é dito por que alguém auto-suficiente (e que deve ter brotado do nada) teria a necessidade de um amigo. Temos aqui, novamente, a reificação: a própria necessidade social e psicológica de amizade é tomada em si mesma, completamente descontextualizada de suas condições reais de existência.

Capítulos X a XV

Entre os capítulos X e XV o autor apresenta o restante da sua “tipologia crítica”. O fato dessa tipologia surgir mediante as experiências pessoais do garoto não é mera coincidência: trata-se de um recurso para forjar uma tosca “comprovação empírica” para os raciocínios preconceituosos, superficiais e reducionistas do aviador (alter ego de Saint-Exupéry). Não surpreende que no fim do capítulos X, XI, e XII o garoto conclua exatamente a mesma opinião pessoal do próprio aviador-narrador-autor, forjando-se assim a comprovação duma realidade dividida entre crianças – o "bem" – e pessoas grandes – o "mal", a causa dos problemas da vida.

A metáfora de que cada um vive num planeta até tem algum sentido ao remeter à solidão e ao narcisismo que faz parte das vidas que cada um de nós leva, principalmente numa sociedade capitalista. A reificação do indivíduo-ilha burguês é levado ao seu apogeu caricato: o indivíduo-planeta. Mas, para superar uma reificação grotesca, faltou construir um complexo sistema de inter-relações entre as pessoas, o qual seria a simbolização duma sociedade na qual há uma intrincada divisão social do trabalho e, portanto, uma interdependência anônima entre as pessoas.

Os problemas e suas soluções relatados nessa tipologia crítica seguem o padrão recorrente na literatura infantil e, de resto, na indústria cultural: eles surgem completamente descontextualizados, sem ligação com o mundo real, o que significa que qualquer “lição de moral” que a história tenha se mostra contraproducente e acaba afirmando a realidade que supostamente nega.

Ora, a superficialidade, o reducionismo, o preconceito e o narcisismo que o garoto encontra no rei, e nas outras “pessoas grandes” são, a rigor, as mesmas características que ele próprio tem, mas que não se manifestam de forma desagradável e criticável (para o autor) por meras causalidades, meras contingências do enredo. São essas mesmas características que o aviador-narrador tem e das quais – por sinalizarem sua cumplicidade com o establishment – ele se envergonha.

De forma análoga ao que ocorre em Disneylândia (conforme explicitado pelos autores de Para ler o Pato Donald), os personagens rasos desse enredo lutam para manter a sua própria superficialidade, a sua própria pobreza existencial e previsibilidade, pois o pouco que se movem já ameaça desmontar a sua máscara existencial caricata, fora da qual simplesmente não existem. Esses personagem ficam girando incessantemente dentro de argumentos circulares e paradoxos lógicos, "sabiamente" percebidos pelo princepezinho.

Embora isso já esteja ficando repetitivo, chamo novamente a atenção para a reificação. Por exemplo, no caso do bêbado: de onde vem a bebida que ele consome? Brota do planeta? Certamente não vem da divisão social do trabalho. O que garante que o nosso pequeno herói não seria bêbado ele também caso tivesse, tal qual o bêbado, acesso fácil e rotineiro à bebida?

A caricatura do empresário mostra quão rasa é a concepção que o autor tem do que seria o trabalho (ou o capitalismo), bem como a sua completa alienação da realidade concreta na qual está inserido. Exatamente como ocorre em Disneylândia, e na ideologia burguesa, a idéia, o pensamento, é tido como a fonte da riqueza, e todo o mundo real é caricaturizado para tornar essa concepção "factível"; tanto que, quando o empresário afirma que as estrelas são dele porque ele teve a idéia de as possuir, o garoto, e junto com ele a ideologia burguesa, concorda (o que lhe desagrada não é isso, mas o fato de ser impossível criar um laço afetivo recíproco do empresário com sua propriedade).

Diante do empresário, o garoto (e, portanto, Saint-Exupéry, pois o garoto é mera projeção narcísica do narrador, o qual é alter ego do autor) revela qual é a sua concepção moral de utilidade: a interdependência afetiva. É o afeto que, para o sentimental Saint-Exupéry, realmente importa na vida. Não vou dizer que ele está errado, mas certamente trata-se de uma concepção reducionista e insuficiente. Mais adiante (capítulo XIV) vemos que o autor acrescenta ao seu utilitarismo a beleza. Novamente, isso é insuficiente como ontologia do real e como idealidade ética e estética.

O autor delineia o seu projeto moral no capítulo XIV: o que importa é abandonar o ego, é viver afetivamente com os outros. Mas repito: o próprio garoto é egoísta e narcisista, ou seja, essa suposta virtude nem ele a possui. O problema do acendedor de lampiões é o seu “legalismo”: ele segue cegamente a lei, em vez de perceber que essa supostamente é uma ferramenta para vivermos melhor: ele troca o fim (a felicidade) pelos meios (a lei). Obviamente o autor, mediante contigências, eximiu arbitrariamente o garoto de cair numa armadilha existencial circular como essa, o que, dada a sua ingenuidade, facilmente poderia ocorrer.

Diante do geógrafo, não é de estranhar o desdém do autor para com o acúmulo de conhecimento – sem o qual, aliás, a sociedade opulenta na qual ele vive não poderia existir e sustentar os seus devaneios –, uma vez que esse desdém já aparecera no primeiro capítulo. Na verdade o que o autor não vê é que todos esses personagens da sua tipologia crítica são necessários para o funcionamento de uma sociedade fundada na divisão do trabalho. Por isso, querer reduzir todos a um tipo – o do próprio autor, que é o mesmo do aviador, do garoto, e da rapoza – é uma pretensão narcisista que revela desconhecer a configuração básica (divisão social do trabalho) da sociedade na qual Saint-Exupéry está inserido. Novamente, as “lições de moral” que ele pretende dar se mostram contraproducentes.

Diante do geógrafo, o pequeno príncipe é apresentado à morte. O seu desconhecimento desse fato básico é nova prova de que sua virtude aparente é mera conseqüência de sua ignorância. Para alguém tão afetivo, certamente a descoberta da morte deveria ter sido recebida de forma muito mais trágica do que foi para o garoto, mas, como esse açucarado livro não é drama nem tragédia, mas sim literatura infantil, isso não ocorre.

Por fim, saliento o caráter narcísico, antropocêntrico, e egoísta da afirmação do geógrafo de que a Terra “goza de boa reputação...”. E, assim, por causa dessa frase, o garoto veio parar na Terra.

Capítulo XVI

Esse capítulo é destinado a fazer uma “apresentação” do que seria o planeta Terra e sua população – a qual foi toda ela dividida preconceituosamente de acordo com a tipologia crítica de Saint-Exupéry. Depois o autor apresenta uma descrição tosca e reificada da divisão social do trabalho de acender lampiões...e só isso.

Capítulo XVII

Imediatamente ao chegar na Terra, o garoto, do nada, se depara com uma serpente que, também do nada, tem o poder, completamente reificado, de devolver aquele que ela toca a sua terra de origem. Mas que coincidência mais feliz, não? A serpente, que usará sua magia para devolver o garoto ao seu asteróide no capítulo XXVI, é um artefato deus ex machina, que só não soa mais ridículo e absurdo porque toda a história do livro é ridícula e absurda do começo ao fim. A serpente é um mero remendo do enredo, mas todo o enredo é feito de remendos. Que tipo de magia e de sortilégio inexplicável confere esse poder à serpente? Toda a realidade material, a do trabalho concreto, desmorona diante de um poder absurdo e de uma coincidência delirante. Mas “as crianças entendem” (capítulo XXV)? Na verdade qualquer retardado mental “entende”.

Capítulos XVIII e XIX

Mais reificação, narcisismo e pretensa lição de moral sobre a condição humana.

Capítulo XX

Nesse capítulo fica patente o egoísmo e o narcisismo do garoto, e que, portanto, ele não apresenta uma superioridade moral. Mas a “solução” (o “segredo”) para que o egoísmo do garoto se manifeste de forma “saudável”, de forma diferente das “pessoas grandes”, será apresentada pela raposa no capítulo XXI, embora já estivesse subsumida no utilitarismo que o garoto definiu no capítulo XIII (é que a diferença entre o garoto, a raposa e o aviador é meramente aparente: no fundo é o mesmo personagem – o autor – que se relaciona consigo mesmo num monólogo).

Capítulo XXI

“E foi então que apareceu a raposa”. Sim, as "coisas" “aparecem” do nada, sem qualquer história, sem qualquer sentido, sem qualquer critério.

A raposa, como todos os outros personagens, a começar pelo pequeno príncipe e pelo próprio aviador-narrador, revela ter um discurso de mundo reducionista e totalmente narcisista e ingênuo. Pelo menos a raposa, ao procurar galinhas, remete a uma materialidade concreta, diferentemente do garoto que aparentemente se alimenta de luz e que cruza o sistema solar em busca de um amigo (de fato, no capítulo XXIV somos informados que o garoto realmente vive de luz!). O encontro com a raposa novamente é ocasião para o autor apresentar o seu ideal ético e estético baseado no seu tipo psicológico sentimental. É a raposa quem passa a “sabedoria” tão associada a esse livro: somos responsáveis por quem cativamos (mesmo que a raposa tenha surgido casualmente, do nada), casando, assim, virtude com egoísmo (assim como ocorre no paraíso cristão). O que o autor quer é reduzir a angustiante polissemia do mundo ao transformar todas as pessoas (ou melhor, as crianças – porque os adultos já estão perdidos) naquilo que ele é; no seu narcisismo quer que todos sejam como ele, pensem como ele pensa, priorizem o que ele prioriza. Seu ideal supostamente virtuoso mostra-se o mais puro egoísmo mesquinho e ignorante, a mais cega vontade de poder.

A raposa faz menção à crescente mercantilização da vida, causada pela subsunção do capital no ser social (é claro que ela não usa essas palavras...). Novamente aqui se confirma que o autor pretende se opor ao establishment; pretende, através do livro, expor uma ontologia crítica do real e sinalizar como superá-lo e atingir um ideal ético e estético, um novo projeto de humanidade. Infelizmente, como já cansei de falar, esse projeto mostra-se contraproducente em sua superficialidade (e eu arriscaria dizer que Saint-Exupéry escreveu literatura infantil - antes que me acusem, eu sei que ele escreveu outros livros além desse - por ser simplesmente incapaz de escrever para adultos – por mais que os adultos infantilizados adorem esse livro).

O que é completamente incompreensível – e que só é factível num discurso no qual o real foi amputado – é como uma raposa, que afirma se alimentar de galinhas que caça (e que, portanto, mata, estraçalha e bebe o sangue morno durante o ato necrofágico, isso quando não devora suas vítimas ainda durante a agonia da morte violenta), teria esses sentimentos puros e ingênuos, e teria como “segredo” não a “lei da atração” (que está exposta em um outro livro...) mas sim que “o essencial é invisível aos olhos”. Infelizmente a crença nesse “segredo” não impediu o autor de se mover num mundo reificado, num mundo de superfícies e aparências, no qual ele naufragou definitiva tragicamente.

Pelo discurso da raposa, e do garoto, fica claro que a “formação de laços” continua sendo orientada por um narcisismo egoísta: o “laço” nada mais é do que jogar o seu ego no outro e pegá-lo novamente, com a condição que o movimento seja recíproco.O outro, em si, não importa, não é nada, ele só importa quando me diz respeito, quando é um “destino pulsional” meu, quando eu invisto a minha libido nele. Que belo ideal ético, não? Aliás, nem preciso dizer que esse ideal se opõe ao defendido por Cristo, assim como a prática de "tipologia crítica" se opõe à orientação de Cristo para não julgarmos o próximo. Não por acaso esse livro é tão popular, não por acaso esse livro é tão usado ideologicamente pelo establishment, pois ele reproduz enquanto cultura o nosso isolamento egoísta e mesquinho, contribuindo para que não pensemos nossos problemas coletivamente, contribuindo para que não nos unamos politicamente para lutar por nossa emancipação. E isso é ensinado, disfarçado de discurso emancipador, às crianças – a quem pertence a responsabilidade de construir o futuro –, reproduzindo, assim, historicamente, a nossa tragédia existencial fundamental.

Capítulo XXII

Esse capítulo é muito claro, em seu reducionismo, ao apresentar, simultaneamente, a ontologia do real e do ideal propugnada pelo autor. Em resumo: a vida das pessoas grandes é infeliz porque elas não formam laços. Só as crianças são felizes, porque elas formam laços. Fim. Simples assim. Seguindo uma concepção sartraniana, penso que as crianças são felizes (se é que são) porque não tem responsabilidades, e, portanto, não são chamadas a serem cúmplices da ordem social vigente.

Capítulo XXIII

Esse capítulo é uma nova ilustração para a vacuidade da vida das “pessoas grandes”. Provavelmente não apareceu na “tipologia crítica interplanetária” dos capítulos X a XV porque as pessoas lá eram ensimesmadas, e o vendedor precisa interagir (comprar e vender), e, portanto, precisa viver numa sociedade.

Capítulo XXIV

Finalmente a materialidade concreta se faz presente, e o aviador é obrigado a ir atrás de um poço de água (o que é uma idéia meio estúpida de só se fazer só no oitavo dia). Em nenhum momento é feita menção à necessidade de alimentação, quer do aviador, quer do menino (com exceção do tal "café da manhã" do cap. IX). Seja como for, novamente há a confirmação do que já ficou tão evidente no livro: o garoto não possui materialidade concreta, não possui necessidades físicas, o seu corpo é mero álibi, é mera ilusão, mero simulacro. A única coisa que lhe importa são os sentimentos ingênuos e narcísicos que cultiva.

“- O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.” Novamente percebe-se que a beleza é concebida como meramente funcional em relação ao ego – o que fica ainda mais ridículo quando percebemos que as necessidades fisiológicas não existem na vida do garoto (e que, portanto, ele não precisa do poço). Mas trata-se de se referenciar ao real eufemisticamente como ausência (assim como, nos vídeos publicitários de fraldas e absorventes, os fluidos corporais reais – sangue, urina e fezes – são referenciados por sua ausência na forma de um líquido azul celeste). Com essas palavras do garoto o aviador é levado a uma epifania que lhe revela a “verdade” de que o “que torna belo é invisível”, ou, em outras palavras, que as coisas só nos importam quando se tornam um destino pulsional nosso: eis a sua suprema sabedoria de vida, eis o caminho (insuficiente) idealizado pelo autor para a emancipação humana.

Capítulo XXV

Do nada eles encontram um poço (o que remete a uma teleologia moral do tipo “lei da atração”: pense positivo e você vai conseguir o que quer). O narrador-aviador, remetendo à materialidade concreta, acha isso “estranho”: um poço pronto no meio do deserto. Mas o garoto não acha isso “estranho”. O mundo real do trabalho socialmente necessário para construir um poço está completamente omitido. Não é de surpreender que um garoto imaginário, que vive de objetos desenhados pelo aviador, não tenha achado isso “estranho”.

O narrador-autor dá de beber ao garoto. Agora, no antepenúltimo capítulo do livro, é a primeira vez que o garoto apresenta alguma necessidade material (fora o tal “café da manhã” do capítulo IX). Ou não? “Essa água era muito mais que um alimento.” Pois, na verdade, a água é um mero álibi: ele a bebeu não para atender a uma necessidade material (a alimentação do seu corpo), mas sim para atender sua necessidade afetiva, “provando”, assim, que “o que é belo é invisível”, ou seja, que só damos importância aos nossos destinos pulsionais. A incoerência suprema e insolúvel gerada por essa reificação extrema é que, sem um corpo real e concreto, sem um corpo biológico (e o garoto só tem um simulacro de corpo – como é afirmado no capítulo seguinte), simplesmente não há pulsão alguma para ser destinada, não há libido alguma para ser investida, não há, portanto, laço algum para ser formado. Assim, a idealidade ética que o garoto representa – a “lição de moral” do livro – se mostra um projeto de humanidade totalmente divorciado de nessa realidade materialmente concreta e, por isso mesmo, totalmente irrealizável. Trata-se de pura ideologia, mero escapismo, mera regressão infrutífera como ferramenta de transformação, mero instrumento de alienação, mera muleta existencial, mero lubrificante social.

E depois de “ensinar” esse ideal ético o que o garoto diz ao narrador-autor? “Tu deves agora trabalhar” (consertar o avião)! Depois de omitir e amputar a materialidade concreta ele se remete a ela: depois de destruir completamente o mundo real, ele pretende salvá-lo.

Capítulo XXVI

Aqui a serpente do capítulo XVII volta para remendar a história e levar o garoto novamente ao seu planeta. Fora o blá blá blá sentimental, o ideal ético e estético de Saint-Exupéry, que é repetido, o que chama a atenção, novamente, é a confirmação de que o garoto não tem um corpo de verdade, mas um mero simulacro, o que significa que ele não tem todas as necessidades reais de uma pessoa real, o que significa uma amputação da materialidade concreta do mundo.

O garoto ficou um ano longe de uma flor que ele sabe ser “efêmera” (mortal), e que ele sabe ser frágil e incapaz de se defender do mundo. Ora, se tudo isso é verdade, não é também evidente que a flor, indefesa e depois de uma ano, já nem existe mais? Aliás, um ano em relação a qual calendário? Novamente, está subsumido como natural algo (o calendário gregoriano) que é um produto histórico.

Capítulo XXVII

Repetindo mais uma vez a reificação, a fetichização, o corpo do garoto simplesmente desaparece (tal qual o corpo dos inimigos derrotados nos videogames).

O autor repete seu ideal ético e, para fortalecer sua mensagem, afirma que “jamais nenhuma pessoa grande entenderá que isso possa ter tanta importância!”. O que não fica explicado (e que deveria ser objeto de uma autocrítica, impedida por sua racionalidade fraca - aliás, a ausência de autocrítica é a estupidez fundamental) nesse seu discurso do mundo, sua descrição do real e do ideal, é por que ele, sendo um adulto, está imune aos defeitos das “pessoas grandes”, bem como ele encontrou, no meio do deserto, um garoto imaterial que lhe ensinou uma sabedoria que ele mesmo já tinha e conhecia desde os seis anos de idade.

***

E a aplicabilidade, no mundo real e material, do ideal ético e estético defendido no livro? Talvez um bom exemplo do que ocorreria, no complexo e cruel mundo real, caso alguém se referenciasse por esse ideal, seja dado pelo filme Dançando no escuro, de Lars von Trier (aliás, é o meu filme favorito). Nesse filme vemos o que um mundo cruel faz com uma pessoa ingênua e boa. O destino do pequeno príncipe, caso tivesse aparecido não no deserto do Saara mas sim na sociedade humana, não seria muito diferente do de Selma (a protagonista do filme): ele provavelmente terminaria morto, enforcado, ou talvez crucificado... Falaremos, no capítulo CVI, de outro filme de Lars von Trier, Anticristo.

***




Confira a tradução do presente capítulo para o neo-miguxês:






***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

36 comentários:

Duan Conrado Castro disse...

Eis alguns textos elogiosos ao pequeno príncipe na internet:

http://www.digestivocultural.com/colunistas/coluna.asp?codigo=2168

http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20070610163058AAxA5fj

http://bompraler.blogspot.com/2008/01/ontem-passando-o-tempo-no-shopping.html

Anônimo disse...

Acabeii de descobrir e explorar um pouquinho desse blog genial .Muitoo bom ,de verdade .


:)

g. disse...

Pra começar, embora não tenha lido O pequeno príncipe, tive uma impressão ruim o suficiente para não querer abrir esses links aí acima.

g. disse...

Bom, começo elogiando seu entusiasmo com uma crítica tão feroz (como se eu já não tivesse lido dezenas de outras críticas de mesmo nível nesse blog...) Se bem que achei mesmo essa aqui um bocado mais revoltada. Não sei se desejo ler o livro pra confirmar esta visão ou construir uma visão de outro tipo ou se o que mais quero é justamente colocá-lo na pilha dos "nem se eu pudesse viver 1000 anos". Se bem que eu queria ter lido para poder comentar mais e melhor esta sua postagem.

g. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
g. disse...

Num primeiro momento, o que pensei foi o seguinte: "Mas qual o problema de haver tanta fantasia no livro? Às vezes fantasias aparentemente absurdas são criadas com o intuito de melhor compreender e explicar a realidade, coisa que foi e é feita mesmo por ótimos romancistas, contistas, etc..."
Só que então compreendi que a fantasia do livro não parece ser utilizada para explicar a verdade, mas sim para perpetuar uma fantasia perversa e absurda. Fantasia encontrada, por exemplo, nos livros de auto-ajuda mais vendidos, tal como em "O segredo", que inclusive você mencionou.

g. disse...

Uma pergunta: a frase "o essencial é invisível aos olhos" é do Pequeno Príncipe? Eis uma frase que tem me causado repugnância nos últimos tempos...

[“- O que torna belo o deserto é que ele esconde um poço em algum lugar.” Novamente percebe-se que a beleza é concebida como meramente funcional em relação ao ego...]

hahaha foi exatamente o que eu pensei quando li só a frase, sem ter lido seu comentário. É a mesma lógica da razão instrumental, que quer sempre compreender o mundo com base no que é mais conveniente ao homem. Como por exemplo os ambientalistas paradoxalmente antropocêntricos que dizem: "temos que preservar o urso polar PORQUE senão nossos filhos e netos não os conhecerão" (como se ursos polares não tivessem o direito de viver SIMPLESMENTE por terem direito de viver).

g. disse...

Em diversos momentos, com sequências adoráveis de ofensas tanto aos personagens quanto ao autor (que na verdade são uma coisa só, né?), sua crítica me pareceu fortemente schopenhaueriana, se bem que até "adorno-horkheimeriana", pelas ofensas nem um pouco sutis, que vão direto na ferida, espremendo e cutucando aquilo que, a julgar pela gigantesca popularidade desse livro que é um dos 3 mais traduzidos, para meio mundo seria de uma frieza e insensibilidade cruéis e desumanas. Mas que me parecem perfeitamente racionais. Acabei convencido por sua tese antes de me voltar para o objeto em si (espero que algum ser faça uma crítica feroz da sua crítica feroz para que você possa ter algum divertimento em responder, porque eu de fato não sei o que criticar nessa sua visão, e não quero dizer com isso que achei tudo perfeito, mas que na minha visão limitada me pareceu tudo muito congruente)

g. disse...

Sobre o que mencionei acerca de bons escritores que utilizam a fantasia para retratar a realidade, li um livro do Saramago na semana passada que me fascinou muito. É um livro bem desconhecido, dos mais antigos dele, nunca tinha ouvido falar, e agora é o meu preferido. Se chama "Objecto Quase". É nele em que a paixão do Saramago pelo marxismo pode ser melhor percebida. Suponho que você ia gostar do conto "Coisas", em que a reificação é talvez a principal crítica abordada.

g. disse...

Sobre Objecto Quase:
"Traduzem um capitalismo em agonia, atmosfera de fim de linha, de sociedades em que os bens de consumo circulam às expensas da própria vida. Daí a escrita que se move em ciclos, emulando ritmos alternados de crise e prosperidade, parodiando a circulação também incessante, distanciada e sem sentido das mercadorias. E, apartada do mundo, a consciência elabora sua vingança. Talvez a maior de todas seja a linguagem, que se destina a ferir e referir as coisas a distância. Daí o permanente poder de crítica desses escritos, capazes de fundir, com extrema habilidade e conhecimento de causa, o poético, o político."

"O conto "Coisas", o mais longo do livro, é uma espécie de chave para o conjunto da obra. É uma história de ficção científica. Passa-se numa sociedade futurista, dividida em castas. O que diferencia uma casta da outra é seu poder de consumo, determinado por letras que as pessoas trazem tatuadas na palma da mão. Os objetos são fabricados por um processo que lembra mais a reprodução orgânica do que a manufatura e, de fato, são dotados de personalidades e psicologia próprias. Esses objetos vão ficando cada vez mais temperamentais e, um dia, revoltam-se contra as pessoas. Começam a desaparecer misteriosamente."

g. disse...

"Traduzem um capitalismo em agonia, atmosfera de fim de linha, de sociedades..." (Sobre os contos, são 6 contos no total).

Duan Conrado Castro disse...

Esse livro do Saramago parece muito bom sim. Aliás, não sabia que ele tinha escrito alguma ficção científica. Futurologia e ficção científica são alguns dos meus temas de interesse aos quais eu me dediquei muito pouco até o momento. Comprei "A era das máquinas espirituais" de Ray Kurzweil (perceba a semelhança com o que você falou: "e, de fato, são dotados de personalidades e psicologia próprias"). Reproduzi um artigo de Kurweil no cap #### 29 desse blog. O medo de que as máquinas se revoltem e acabem dominando a humanidade é um dos temas recorrentes da ficção científica e de Hollywood. A partir de uma visão marxista, esse medo seria um reflexo da reificação, seria uma caricaturização da nossa situação real e presente, na qual as pessoas são coisificadas e as coisas são humanizadas (por exemplo: o cara casando com a motocicleta naquela propaganda do Mercado Livre.com). Lembrei também da Dialética do Esclarecimento (que você conhece bem melhor do que eu): o projeto iluminista de emancipação se torna uma prisão em nome da liberdade: a razão instrumental (ou "razão burocrática", como chamaria M. Weber) nos liberta da natureza para nos prender numa "jaula de ferro" (M. Weber), na qual qualquer tentativa de emancipação está condenada ao fracasso. Realmente é difícil vislumbrar uma emancipação no mundo atual (embora eu não negue, a priori, a sua possibilidade). Atualmente, o que está barrando um pouco o recrudescimento desse processo é a crise ecológica. E se, com o deus tecnologia, nós (a humanidade) conseguirmos superar essa dificuldade? Ou seja, se conseguirmos manter um "consumismo sustentável"? Eu não duvido que isso seja impossível...por exemplo, está previsto para 2050 o início do funcionamento das usina de FUSÃO nuclerar. Quando isso ocorrer, teremos uma quantidade de energia quase infinita (que, aliás, poder ser obtida por outros meios, como a energia geotérmica): uma banheira d'água será sucifiente para suprir todas as necessidades energéticas de uma pessoa por toda a vida, sem os resíduos da fissão nuclear. Os problemas climáticos poderiam ser superados por engenharia planetária: o "conflito" com a natureza poderia ser "vencido" tornando essa definitivamente redundante e impotente diante do poderio criado pela razão instrumental. Então o capitalismo estaria novamente livre e desembaraçado para continuar seu processo de dominação, de subsunção total da vida. Poderíamos viver em mundos parecidos com o de Blade Runner, ou de Admirável Mundo Novo, ou esse aí descrito por Saramago...Voltando a Saramago, eu comprei um livro dele: O Evangélio Segundo Jesus Cristo (indicado pelo meu psicanalista, que há dois anos me disse que eu "deveria lê-lo com urgência"). Porém, em função dos meus compromissos com o blog e com minha monografia, eu não tive tempo de ler nem esse, nem o livro do Kurweil. Seja como for, eu vou acrescentar essa sua indição à minha lista. Só não sei quando lerei...

Duan Conrado Castro disse...

Respondendo a sua pergunta: é a raposa que ensina ao pequeno príncipe que "o essencial é invisível aos olhos", e o garoto ensina isso ao aviador. O problema é que essa sabedoria já está implícita na conversa do garoto com o geógrafo, ANTES dele chegar à Terra e conhecer a raposa.

Concordo que "Às vezes fantasias aparentemente absurdas são criadas com o intuito de melhor compreender e explicar a realidade, coisa que foi e é feita mesmo por ótimos romancistas, contistas, etc...". No fundo, estamos lidando aqui com o velho conflito (criticado por muitos pós-modernos - críticas com as quais eu não concordo) entre "erudito" e "popular": de certa forma, os dois foram "tomados pelo capital e transformados em indústria", mas o erudito ainda consegue ter um conteúdo que ultrapassa o senso-comum, em vez de reproduzi-lo (papel da cultura popular). Vejamos o disseram os autores de Para ler o Pato Donald (conforme eu citei no cap ### 33):

"Todo homem tem a obrigação constante de imaginar sua própria situação, e a cultura de massas concedeu ao homem contemporâneo a possibilidade de alimentar-se de seus problemas sem ter que passar pelas dificuldades e angústias temáticas e formais da arte e literatura da elite contemporânea."

Sob esse ponto de vista: Saramago (Kafka, ou tantos outros) é "literatura da elite contemporânea" e pequeno príncipe é "cultura de massas" (como vc sabe, Adorno critica esse termo e o substitui por "indústria cultural"). Eu falei que não gosto de romances (no cap 100), mas obviamente não jogarei Saramago e J.K. Rolling no mesmo balaio: isso é só um "pragmatismo" da minha parte. Eu não sou contra a "literatura da elite contemporânea", só não quero dedicar muito do meu tempo a ela.

Bem, é isso. Se eu fiquei sem responder ou comentar algo que você disse, avise-me.

g. disse...

haha, que recomendação mais sádica do seu psicanalista... Bom, o evangelho é bom, mas é denso... É bom caso você queira se divertir um pouco com uma sátira bem feita da bíblia... mas uma sátira tão densa (e inclusive melhor escrita) quanto a própria bíblia.

pois bem, respondeu todas as perguntas sim, obrigado!

Arieta disse...

Nossa, eu tenho tatuado em francês
"O essencial é invisível aos olhos", o que eu faço?



Mas pelo que eu entendi, essa frase é a mais insignificante hahahaa

Duan Conrado Castro disse...

Arieta,


Pois é, eu já pensei em tatuar "Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit"*, mas não o fiz justamente com medo de, anos depois, não concordar mais com essa frase.

Eu ficaria lisonjeado se você realmente tivesse se arrependido de ter feito essa tatuagem depois de ter lido o que eu escrevi...Seja como for, já é possível remover tatuagens. É possível fazer outra tatuagem em cima. Ou, se você não quiser gastar mais dinheiro, que a tatuagem sirva de lembrança de erros passados...

A frase não é a mais insignificante não. Pelo contrário, ela é uma espécie de síntese de todo besteirol do livro.

Além disso, se você não gostar do marxismo, ou se preferir o pequeno príncipe a ele, você pode acusar o meu texto de ser uma ideologia esquerdista ultrapassada...

* [E sobrevindo o conhecimento, ao mesmo tempo do seio das coisas se elevará o amor] (Upanixades, citado por Schopenhauer na epígrafe do Livro IV d' O mundo como vontade e como representação, tomo I)

Arieta disse...

Imagina, a gente sabe que o Marxismo é O paradigma da sociedade.

Agora, eu já li o livro há muito tempo e não tenho tanta experiência de análise crítica assim.

Tem como você me explicar melhor sobre essa frase especificamente, ou seria muita folga?

Arieta disse...

Imagina, a gente sabe que o Marxismo é O paradigma da sociedade.

Agora, eu já li o livro há muito tempo e não tenho tanta experiência de análise crítica assim.

Tem como você me explicar melhor sobre essa frase especificamente, ou seria muita folga?

Duan Conrado Castro disse...

Arieta,


“o essencial é invisível aos olhos”

Realmente seria impossível para mim explicar de uma forma mais clara do que já está no texto. Mas, isolando essa frase do resto do livro, diria que o que está sendo afirmado é que o que importa na vida das pessoas são os laços afetivos que elas constroem. Tudo o que os personagens vivem - e dizem - no livro é uma argumentação construída para "comprovar" essa frase, que é a conclusão do livro, a "tese" que seu autor pretende "demonstrar".

O problema é que: (i) a argumentação usada é ingênua, infantil, reificada, (ii) isso é evidentemente insuficiente para resolver os problemas da humanidade, (iii) os motivos dessa insuficiência são justamente os determinantes históricas, materiais, estruturais e superestruturais, que o autor subverte em sua narrativa, e (iv) o autor ignora a multiplicidade de personalidades humanas e como essa multiplicidade possui uma relação de determinação e sobredeterminação com a divisão social do trabalho.

Janaina disse...

Olá Duan,
Achei esse seu texto na comunidade do niilismo miguxu. =)
Cara, inicialmente quero dizer que vc aparenta ser uma pessoa muito bem instruída, mas tenho algumas críticas (que suponho construtivas, mesmo q vc não concorde com elas)
Vejo alguns pontos que considero falhos na sua argumentação, por exemplo: vc se propõe a elaborar um paralelo entre as duas obras, porém como vc deve saber, nem a análise do próprio Marx é consensual, quem dirá partir para a segunda etapa de comparar duas obras com propostas tão diferentes. Para mim, isso soa como tentar quantificar usando duas medidas também diferentes, como volume e peso, por exemplo. Aceitando como pressuposto que vc escolha uma das análises marxistas para adotar, não a vejo presente de maneira substancial neste texto. Para mim, o que vc fez foi uma análise do discurso na obra do pequeno príncipe, baseada em sua visão de mundo, que nem é marxista (como é notável e vc mesmo escreveu).
Continuo achando sua proposta interessante, mas acho que precisa delimitar melhor o seu problema e referencial teórico.
Abraço,

Duan Conrado Castro disse...

Janaina,

Agradeço pele leitura e pelo comentário.

"vc se propõe a elaborar um paralelo entre as duas obras, porém como vc deve saber, nem a análise do próprio Marx é consensual, quem dirá partir para a segunda etapa de comparar duas obras com propostas tão diferentes. Para mim, isso soa como tentar quantificar usando duas medidas também diferentes, como volume e peso, por exemplo."

Eu mesmo disse que não me considero marxista mas que nesse texto iria tentar pensar como um. Talvez essa minha tentativa tenha sido frustrada...

O que eu tentei fazer foi basicamente aplicar o mesmo "método" usado pelos autores do famoso "Para ler o Pato Donald – Comunicação de massa e colonialismo".

O conceito de reificação, que eu uso repetidamente nesse texto, é um conceito marxista, por isso a "orientação marxista" que eu afirmo que o texto possui.

Eu sei que as propostas são difrentes. Mas os autores de "Para ler o Pato Donald" também sabiam disso e isso não os impediu de escrever uma ótima análise de orientação marxista.

"Aceitando como pressuposto que vc escolha uma das análises marxistas para adotar, não a vejo presente de maneira substancial neste texto."

Eu não usei o "marxismo tradicional". Usei basicamente o conceito de reificação e mais nada.

Eu decidi transformar esse texto na minha monografia de bacharelado em ciências econômicas. Eu sei que terei que mudar bastante coisa para que fique aceitável para um nível de monografia. Se der certo eu postarei no blog.

Duan Conrado Castro disse...

Esboço do pré-projeto da monografia "Uma metacrítica social de orientação marxista ao livro 'O pequeno príncipe".

Sumário:

Introdução
1. Alienação, fetichismo, reificação.
2. Ideologia, hegemonia.
3. A sociedade do espetáculo.
4. A indústria cultural.
5. A literatura de massa.
6. A literatura infantil.
6.1. O caso Disneylândia.
6.2. O caso super-homem.
7. Antoine de Saint-exupéry e o pequeno príncipe.
8. Uma metacrítica social de orientação marxista ao livro "O pequeno príncipe"
Conclusão.


Referências principais

O amor do pequeno principe (Antoine de Saint-Exupéry)
Antoine de Saint-Exupéry e o pequeno principe - A historia de uma historia (Sheila Dryzun)
Cartas do pequeno príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)
A construção social da realidade (Peter L. berger e Thomas Luckmann)
Crise do marxismo e irracionalismo pós-moderno (João E. Evangelista)
Dialética do esclarecimento (Adorno e Horkheimer)
Dicionário do pensamento marxista (Editado por Bottomore)
Dicionário de ciências sociais (Editado por Benedito Silva)
As idéias de Lukács (George Lichtheim)
Gramsci - Cem anos de um pensamento vivo (org J. Luiz Marques e Luiz Pilla Vares)
Literatura da cultura de massa (Caldas Waldenry)
Literatura e mistificação (Jamil Almansur Haddad)
Lukács - Um clássico do século XX (Celso Frederico)
Lukács e os limites da reificação (Marcos Nobre)
Para ler o Pato Donald - Comunicação de massa e colonialismo (Ariel Dorfman e Armand Mattelart)
O pequeno príncipe (Antoine de Saint-Exupéry)
O pequeno principe em nós - Uma jornada de descobertas com Saint-Exupéry (Mathias Jung)
O pequeno príncipe me disse (Sheila Dryzun)
O pequeno príncipe para gente grande (Roberto Lima Netto)
O que é alienação (Wanderley Codo)
O que é ideologia (Marilena Chauí)
O que é imaginário (François Laplantine e Liana Trindade)
O que é indústria cultural (Teixeira Coelho)
O que é literatura infantil (Lígia Cademartori)
O que é literatura popular (Joseph M. Luyten)
O que é trabalho (Suzana Albornoz)
O que é utopia (Teixeira Coelho)
O que são empregos e salários (Paulo Renato Souza)
Super-Homem e Seus Amigos do Peito (Ariel Dorfman & Manuel Jofré)
A verdadeira historia do pequeno principe (Alain Vircondelet)
Teoria da cultura de massa (Adorno, Barthes, Benjamin, Marcuse, Kristeva, Mcluhan e Panofsky)
Teoria da literatura de massa (Muniz Sodré)

Referências secundárias

Benjaminianas - Cultura capitalista e fetichismo contemporâneo (Olgária Chain Féres Matos)
Condição pós-moderna - Uma pesquisa sobre as origens da mudança cultural (David Harvey)
Eclipse da Razão (Horkheimer)
Economia do mercado editorial (Tupa Gomes Correa)
O fetichismo da música e a regressão da audição (Adorno)
Indústria Cultural e Sociedade (Adorno)
Inimigos da esperança - Publicar, perecer e o eclipse da erudição (Lindsay Waters)
Interpretação e superinterpretação (Umberto Eco)
Lukács e a literatura (Regina Zilberman et al)
Marxismo e teoria da literatura (Lukács)
Nos bastidores do mercado editorial (Vassallo Márcio)
Princípios de Crítica Literária (I. A. Richards)
Prismas - Crítica cultural e sociedade (Adorno)
O que é capital (Ladislau Dowbor)
O que é capitalismo (Afrâncio Mendes Cataini)
O que é dialética (Leandro Konder)
O que é etnocentrismo (Everardo P. G. Rocha)
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O que é marxismo (José Paulo Netto)
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O que é natureza (Marcos de Carvalho)
O que é propaganda ideológica (Nelson Jahr Garcia)
O que é teoria (Otaviano Pereira)
Seis leituras sobre a Dialética do Esclarecimento (Rodrigo Duarte e Marcia Tiburi)
Teoria Crítica da Indústria Cultural (Rodrigo Duarte)
Teoria do romance (Lukács)

Jayane disse...

http://www.dougerbert.com/2010/amargo-59-le-petit-prince/

Igor disse...

Olá Duan!

Amargo! Realmente é muito amargo matar "O Pequeno Príncipe".

Concordo com o que Janaina disse, e destaco o trecho: "Para mim, o que vc fez foi uma análise do discurso na obra do pequeno príncipe, baseada em sua visão de mundo, que nem é marxista (como é notável e vc mesmo escreveu)."

Por mais que você tenha utilizado uma orientação marxista voltada para o conceito de reificação, achei um pouco contraditório em suas palavras.

Acho preciso usar, neste momento, argumentos de um outro filósofo da cidadania, Rosseau:

"O homem nasce livre, e em toda parte é posto a ferros. Quem se julga o senhor dos outros não deixa de ser tão escravo quanto eles."

"A maioria de nossos males é obra nossa e os evitaríamos, quase todos, conservando uma forma de viver simples, uniforme e solitária que nos era prescrita pela natureza."

"O homem é bom por natureza. É a sociedade que o corrompe."

Estou aqui apenas para defender algo que amo, em que não vejo nenhum simplorismo, mas apenas magnificência. Defendo este livro que me abriu as portas para o mundo e me deu vários novos olhares.

Talvez você faça esta crítica também porque você não acredita que o mundo possa ser bom. O livro trata de idéias opostas ao que você acredita. Mas existem pessoas com idéias opostas as suas.

Porém, ainda acho que você poderia aliar o seu pensamento ao de Antoine.

Você fala que o livro "esconde" e depois "mostra" novamente o mundo. Isso não é um simples conformismo, mas sim um conforto. Não podemos fugir deste mundo e não devemos apenas ficar criticando-o. Precisamos tentar fazer a diferença nas pequenas atitudes. Precisamos mudá-lo no que for necessário. Não podemos deixar a sociedade nos corromper. E é essa a abordagem do livro. Lança novos olhares, para o simples, para o bem que nasce com a gente, para o nosso ser natural, bom e puro.

A ingeniudade pode ser perigosa para a gente quando não é escolha nossa.

Algumas vezes tenho pensamentos muito niilistas, mas, entre outras coisas, é n'O Pequeno Príncipe que encontro algumas das belezas e significados da vida.

Igor disse...

Minhas citações favoritas:

'gostaria de repetir o conselho que lhe dei antes: acho que você deveria promover uma mudança radical em seu estilo de vida e começar a fazer corajosamente coisas em que talvez nunca tenha pensado, ou que fosse hesitante demais para tentar. tanta gente vive em circunstâncias infelizes e, contudo, não toma a iniciativa de mudar sua situação porque está condicionada a uma vida de segurança, conformismo e conservadorismo, tudo isso que parece dar paz de espírito, mas na realidade nada é mais maléfico para o espírito aventureiro do homem que um futuro seguro. a coisa mais essencial do espírito vivo de um homem é sua paixão pela aventura. a alegria da vida vem de nossos encontros com novas experiências.' Chris McCandless

'o homem deve criar a sua própria essência; é jogando-se no mundo, lutando, que aos poucos se define. a angústia, longe de oferecer obstáculo à ação, é a própria condição dela. o homem só pode agir se compreender que conta exclusivamente consigo mesmo, que está sozinho e abandonado no mundo, no meio de responsabilidades infinitas, sem auxílio nem socorro, sem outro objetivo além do que der a si próprio, sem outro destino além de forjar para si mesmo aqui na terra.' Sartre

'só se vê bem com o coração. o essencial é invisível para os olhos.' Antoine de Saint-Exupéry

'tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas.' Antoine de Saint-Exupéry

E para quem não consegue se esperançar com o belo trabalho de Antoine, pense nisso:"E eu consegui uma fórmula pessoal para enfrentar o problema do Pequeno Príncipe: me concentro no fato de que é literatura fantástica, quase uma ficção-científica, no final das contas."

Parabéns pelo trabalho, Duan.

Caso queira fazer amizade e tenha facebook ou msn:
http://www.facebook.com/profile.php?id=1563876314&sk=info
igor_gut@hotmail.com

Um abraço.

Duan Conrado Castro disse...

O texto pretendia criticar o pequeno principe a partir de uma visão “realista” do marxismo. Só isso. E mesmo isso eu não acho que fiz muito direito, como confessei no capítulo 118. E também desisti de escrever a monografia sobre esse assunto, como dissse no mesmo capítulo.
Recentemente, enquanto estava internado em um hospital psiquiátrico, eu li três livros sobre o Saint-Exupéry e o pequeno príncipe. Eles me ajudaram um pouco a tentar enterder o que se passava na cabeça do Saint-Exupéry quando escreveu esse livro. Ele escreveu o livro num momento de exílio no qual estava impossibilitado pelas circunstâncias a lutar por sua pátria.
Eu, como alguém influenciado por Schopenhauer, não concordo com Rosseau, partircularmente com essas citações que você colocou aí. Acho-as ingênuas e utópicas.
Lendo sobre Saint-Exupéry, ele me lembrou uma versão teísta e emotiva do Adorno. Ambos foram aristocratas.
Diferente de você, eu sou incapaz de intuir qualquer beleza nesse pequeno príncipe. Ele continua a me cheirar a manipulação. Que crianças apreciem o livro, tudo bem. O problema é o sucesso entre adultos. Mas que seja…

Anônimo disse...

Apenas mais uma analíse pseudo-intelectual mediocre e frustada de uma das obras literarias infanto-juvenis mais densas, filosóficas e profundas que já foi escrita, cuja fama não é por mero acaso e que transmite uma mensagem de valores morais construtivos que não envelhecem... Frustração mesmo só por quem deu seu tempo lendo esses devaneios bócios e putridos de um "outsider" fracassado e onanista. Enfim, se jogue no tal abismo de escuridão infinita do seu mundo tosco e leve esse blog tosco contigo...

Erick Danilo disse...

Quem é você mesmo ???

Juliana disse...

E o que você acha importante, Duan?
Apenas o bem material?
E qual é o problema nas fantasias dos livro?
Me desculpe, mas você me parece ser uma pessoa amargurada, falta o doce e o belo na sua vida! Faça uma terapia e depois leia novamente o livro do Pequeno Príncipe!

Juliana disse...

Anônimo, concordo com você!

Apenas mais uma analíse pseudo-intelectual mediocre e frustada de uma das obras literarias infanto-juvenis mais densas, filosóficas e profundas que já foi escrita, cuja fama não é por mero acaso e que transmite uma mensagem de valores morais construtivos que não envelhecem... Frustração mesmo só por quem deu seu tempo lendo esses devaneios bócios e putridos de um "outsider" fracassado e onanista. Enfim, se jogue no tal abismo de escuridão infinita do seu mundo tosco e leve esse blog tosco contigo...

Anônimo disse...

Absolutamente rídiculo!

Carol disse...

blá blá blá...
Nem todas as obras são feitas para serem uma análise perfeita do real. O pequeno príncipe na minha opinião é um livro fantástico pq ele faz com q o leitor reflita sobre seus laços afetivos e postura diante da vida de uma forma fantasiosa q pode ser apreciado por pessoas de 8 á 80 anos, de qualquer classe social, raça, religião, opção sexual, enfim, um livro ótimo para distrair a mente e refletir sobre a vida, acessível à todos! A realidade já é dura demais pra nós termos q levar uma leitura prazerosa tão à sério. Viva o lado doce e feliz da vida!

Henrique disse...

Genial!

Anônimo disse...

O pequeno príncipe é simplesmente fantástico!
Em cada fase da minha vida que leio esse livro,tenho uma visão diferente das coisas e da vida e de alguma forma ele sempre agrega algo de bom!
se formos seguir a sua linha de raciocínio em criticar e ficar procurando mensagens subliminares onde não tem,não iremos ler mais nada né?
Como descrito em um comentário...
Apenas mais uma analise pseudo-intelectual medíocre e frustada de uma das obras literárias infanto-juvenis mais densas, filosóficas e profundas que já foi escrita, cuja fama não é por mero acaso e que transmite uma mensagem de valores morais construtivos que não envelhecem... Frustração mesmo só por quem deu seu tempo lendo esses devaneios bócios e pútridos de um "outsider" fracassado e onanista. Enfim, se jogue no tal abismo de escuridão infinita do seu mundo tosco e leve esse blog tosco contigo...

Unknown disse...

Sou acadêmica e estou me preparando para um debate sobre o pequeno príncipe e seu argumento é o q eu vou defender; mas para poder usa-lo tenho q saber se VC tem alguma formação Acadêmica??

Duan Conrado Castro disse...

Caroline,

Tenho formação acadêmica em ciências econômicas. Cogitei fazer o meu TCC sobre o tema discorrido aqui (e a minha orientadora chegou a apoiar a pesquisa), mas acabei desistindo porque ficaria uma pesquisa grande demais.