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Um dia de aula numa escola municipal em Curitiba. Ano 1999. Numa aula de ciências da oitava série. Aquele ambiente deprimente de escola pública...Eu não vou mentir para você, eu acho a pobreza feia. Se fosse uma escola privada eu iria dizer que era burguesa, cheia de filhinhos de papais frescos que nunca sofreram de verdade, que não conhecem a privação, e que por isso mesmo são fúteis. E será que eu não sou fútil também? E que diferença isso faz? De qualquer jeito, eu ia reclamar e criticar. Mesmo porque eu não escrevo nada elogioso nesse blog (a não ser para elogiar críticos e suas críticas).
Thomas Robert Malthus (Rookery, perto de Guildford, 14 de Fevereiro de 1766 — Bath, 23 de Dezembro de 1834) foi um economista britânico.
Filho de um culto e rico proprietário de terras, amigo deHume e Rousseau, terminou os estudos no Jesus Colledge de Cambridge a partir de 1784, onde obteve um posto em 1793. Tornou-se pastor anglicano em 1797 e, dois anos depois, inicia uma longa viagem de estudos pela Europa. Casou-se em 1804 e, por isto, abandonou o posto de pastor.
Em 1805, foi nomeado professor de história e de economia política em um colégio da Companhia das Índias, emHaileybury.
Sua fama decorre dos estudos sobre a população, para ele o excesso populacional era a causa de todos os males da sociedade (população cresce em progressão geométrica e alimentos em progressão aritmética), tudo isto estão contidos em dois livros conhecidos como Primeiro ensaio e Segundo ensaio: "Um ensaio sobre o princípio da população na medida em que afeta o melhoramento futuro da sociedade, com notas sobre as especulações de Mr. Godwin, M. Condorcet e outros escritores" (1798) e "Um ensaio sobre o princípio da população ou uma visão de seus efeitos passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona" (1803).
Tanto o primeiro ensaio - que apresenta uma crítica ao utopismo - quanto o segundo ensaio - onde há uma vasta elaboração de dados materiais - têm como princípio fundamental a hipótese de que as populações humanas crescem em progressão geométrica. Malthus estudou possibilidades de restringir esse crescimento, pois os meios de subsistência poderiam crescer somente em progressão aritmética. Segundo ele, esse crescimento populacional é limitado pelo aumento da mortalidade e por todas as restrições ao nascimento, decorrentes da miséria e do vício.
Suas obras exerceram influência em vários campos do pensamento e forneceram a chave para as teorias evolucionistas de Darwin e Wallace. Os economistas clássicos como David Ricardo, incorporaram o princípio da população às suas teorias, supondo que a oferta de força de trabalho era inexaurível, sendo limitada apenas pelo fundo de salários.
Para Malthus, assim como para seus discípulos, qualquer melhoria no padrão de vida de grande massa é temporária, pois ela ocasiona um inevitável aumento da população, que acaba impedindo qualquer possibilidade de melhoria. Foi um dos primeiros pesquisadores a tentar analisar dados demográficos e econômicos para justificar sua previsão de incompatibilidade entre o crescimento demográfico e à disponibilidade de recursos. Apesar de ter assumido popularmente que as suas teses deram à Economia a alcunha da ciência lúgubre (dismal science), a frase foi na verdade cunhada pelo historiadorThomas Carlyle em referência a um ensaio contra a escravatura escrito por John Stuart Mill.
Seus dois ensaios estão permeados de conceitos cristãos, como os de mal, salvação e condenação.
Escreveu também: Princípios de economia política (1820) e Definições em economia política (1827).
Em suas obras econômicas, Malthus demonstrou que o nível de atividade em uma economia capitalista depende da demanda efetiva, o que constituía, a seus olhos, uma justificativa para os esbanjamentos praticados pelos ricos. A idéia da importância da demanda efetiva seria depois retomada por Keynes.
Thomas Maltus representa o paradigma de uma visão que ignora ou rebaixa os benefícios da industrialização ou do progresso tecnológico. Ernest Gellner afirma em Pós-modernismo, razão e religião: "Previamente, a Humanidade agrária vivia num mundo Malthusiano no qual a escassez de recursos em geral condenava o homem a apertadas formas sociais autoritárias, à dominação portiranos, primos ou ambos".
Para o autor, a diferença entre as classes sociais era uma conseqüência inevitável. A pobreza e o sofrimento eram o destino para a grande maioria das pessoas.
Eu já estou ficando cansado desse blog, por isso decidi usar essa postagem para fazer algo um pouco diferente do que eu tinha planejado. Essa postagem já está na minha lista de postagens desde 2008, eu fiquei enrolando e até agora não escrevi nada. Pensei em jogá-la fora (como fiz com tantas outras), mas não joguei. E então eu me peguei agora (dia 12/02/10, 22h11) tendo que escrever esse texto até a 01:35 do próximo sábado. Mas é claro que eu espero terminar isso em cinco minutos, pois não estou com vontade de escrever. Aliás, já faz alguns meses que eu decidi abandonar a vida de pseudo-intelectual. Mas isso não se muda de um dia para o outro. Vou fazer uma mudança gradual. Hoje eu contei quantos livros há na minha biblioteca particular: são 311. Chega de comprar livros! Pelo jeito eu levarei a vida inteira para ler os que já comprei, isso se for realmente lê-los. Não que eu não queira, não que eu já não tenha lido muitos deles. Mas, depois de 9 anos nessa vida de pseudo-intelectual, eu já estou meio cansado. Não é isso que eu quero para a minha vida; eu lembro de uns sujeitos curvados, carrancudos, maquinais, que ficam o dia todo estudando nas bibliotecas da faculdade, que já se tornaram “móveis e utensílios”, e eu não quero ser assim, como eles, daqui a vinte anos. Não que eu possa mudar completamente, mas eu me vejo indo por esse caminho, e não quero continuar a segui-lo. Talvez eu seja fútil demais para segui-lo, talvez eu saiba que não vale a pena desperdiçar minha vida nisso. Talvez eu já saiba que não capaz de seguir esse caminho, talvez a falta de capacidade seja uma desculpa barata para uma atitude motivada por outras razões.
Duan: “Como 'o sistema' funciona? Qual é o 'saldo afetivo' da totalidade existêncial? Afinal, para que tudo isso? A vida vale a pena ser vivida? O que é existir? O que é 'estar no mundo'? Que diferença isso faz? Por que eu insisto em formular perguntas que eu sei que não posso responder? “
Conrado: “Eu devo me importar com algo? Com o mundo? Com os pobres? Com as outras pessoas? Comigo mesmo? Será que isso realmente importa? Se não há catexia libidinal, não faz diferença alguma...Por enquanto eu 'vou levando'...E daí? Até quando? E qual a diferença? Ah..., esquece...”
Duan:
-"Por que eu deveria me importar?"
-"Por que você se importa?"
"POR QUE eu me importo? Com o que eu devo me importar? Se eu sei a resposta...como vivê-la?”
Conrado: “Você vai ter que se posicionar com relação a isso. Na dúvida, jogue na moeda...Não faz diferença mesmo. Mas eu preciso de um posicionamento! E rápido que a minha paciência já está se esgotando.”
Duan: “'O estado de dúvida não é muito confortável, mas o de certeza é ridículo.' Voltaire. Eu sei o que eu tenho que fazer...eu preciso me tornar um oportunista, um egocêntrico. Preciso esquecer os ideais da virtude, da justiça, da verdade, e até o da beleza. O único ideal que deve importar sou eu mesmo. Eu sei que os outros não vão gostar de saber disso, mas eles não precisam saber! E a opinião deles não importa, a menos que os seus atos me afetem de alguma maneira."
Eu ainda lembro daquela escola. Foi lá que eu fui introduzido nas “dores do mundo”. Toda a minha infância anterior fora um “tédio salpicado de sofrimento”. Eu não estarei mentindo se disser que não tenho nenhuma lembrança positiva da minha infância. Mas ruins eu tenho algumas sim (mas não muitas). Mas aquele marasmo existencial mudou quando meus pais se mudaram do bairro pequeno-burguês (habitado por anfas, betas e gamas), para o bairro pobre (habitado por alguns gamas e principalmente por deltas, e alguns épsilons). Eu não sabia o que era sofrimento. Eu achava que sabia o que era solidão.
“A música de entretenimento preenche os vazios do silêncio que se instalam entre pessoas deformadas pelo medo, pelo cansaço e pela docilidade de escravos sem exigências.” T.W. Adorno, “O fetichismo na música e a regressão da audição” (1938)
Algumas pessoas que leram alguns dos textos desse blog dizem que eu não me coloco nos textos, que eu preciso trabalhar a minha interioridade...o que será que elas entendem por isso? Será que querem que eu fale da minha vida mais abertamente como estou começando a fazer (e de forma confusa) aqui nesse texto? Infelizmente, esse tipo de texto nunca foi o objetivo do blog. Os meus “diários” estão cheios desse material que “explora a minha interioridade”. Mas todo esse material foi censurado, por contrariar a “linha editorial” do blog. Eu acho improvável que alguém ainda esteja lendo esse texto [eu não perderia meu tempo lendo isso se estivesse no blog de alguém], mas saiba que ele é “pura enrolação”. Afinal, por que eu estou enrolando? Esse blog já está com os dias contados. Eu espero encerrá-lo quando postar aqui a minha monografia. O problema é que essa monografia não fica pronta nunca (estou enrolando ela desde 2008), e eu insisto em postar alguma coisa aqui toda semana. É claro que isso é despropositado, eu poderia não postar nada, não é? Mas eu já tenho temas para postar até Junho de 2011, e por essa época a monografia já deve estar pronta. O “problema" é que a maioria das postagem desse ano serão uma merda, como essa atual. Eu tive uma semana meio estressante no trabalho; eu continuo a questionar a existência, continuo me assustando com as “perplexidade do intelecto”, só que eu já estou meio cansado disso. Eu não poderia seguir esse caminho para sempre, sem terminar numa tragédia (leia-se suicídio). Em algum momento eu teria que mudar o rumo, e “me ajustar”. Isso inclui parar de questionar e criticar, pelo menos com a veemência com que eu fiz isso nos últimos anos. Eu já superei as dicotomias bem X mal e verdade X mentira. Esse personagem que eu vivo há onze anos – desde que eu entrei naquela escola municipal – já está me cansando. Eu tento fugir de estereótipos, e assim busco mudar de identidade. Mas com isso eu acabo não sendo ninguém. O que eu realmente queria ser, está fora do meu alcance. O que me é permitido ser, não me interessa, pois eu não quero fazer sacrifícios para ser algo, não quero fazer concessões. Resultado: não serei nada. Mas isso não é tão ruim assim. Só é quando você acha que a vida é algo sério. Eu demorei alguns anos para perceber que nada na vida vale o meu esforço – nem mesmo a minha própria vida. Mas ponto para mim: eu vejo gente com cinqüenta anos que ainda não aprendeu isso.
Naquele dia de aula, houve a entrega de parte dos livros didáticos que o MEC compra todo anos (a propósito, o MEC é o maior comprador de livros do mundo). Um dos alunos, um maloqueiro dogrado, que recebia o apelido de Malásia (embora fosse pardo e não tivesse qualquer ascendência asiática) começou a reclamar, disse que o governo deveria dar o material didático também. Foi então que a professora lhe deu uma reposta que eu nunca esquecerei. Elas disse: “O governo deveria ter pago a cirurgia [laqueadura] para que a sua mãe não ficasse grávida e você não tivesse nascido.” Ela corretamente não usou a expressão “laqueadura”, pois sabia que ele não iria entender.
Você sabe por que as séries de investigação criminal fazem tanto sucesso? Eu não consegui pensar numa resposta melhor do que essa: elas fornecem um exercício mental (uma masturbação mental) que é inofensivo ao sistema (aos interesses da manutenção da sociedade capitalista) e elas fornecem também uma catarse da pulsão de morte. O que você acha?
Essa professora era bem irritada e criticava os alunos com uma sinceridade cínica. Mas não poderia ser diferente. Não dá para fazer um trabalho daquele por muito tempo sem ficar arruinado mentalmente. Sem perder a fé no ser humano. Isso eu já perdi naquela época, e depois solidifiquei o meu pessimismo com Schopenhauer. Eu não esqueço de um célebre discurso em que ela (a professora), citando a metáfora bíblica, dizia que ficaríamos chocados quando as escamas caíssem de nossos olhos. Ela sabia que eu era diferente, assim como sabia que as escamas nunca cairiam dos olhos deles. E nunca caíram.
Esse ano as postagens do blog serão bem fraquinhas, salvo algumas poucas. Ás vezes eu me sinto mal por isso: “Porra Duan, você não consegue escrever nada melhor do que isso?” Mas para que ser tão exigente comigo mesmo? As minhas exigências arrefecem quando, novamente, eu percebo que tem gente com cinqüenta anos que nunca entendeu nem nunca vai entender o que eu escrevo aqui. E nunca entenderia, mesmo que vivesse um milhão de anos - todos os meus antigos colegas da oitava série são esse tipo de gente. E que diferença faz? Talvez nenhuma. Não sei. Mas eu me importo, pelo menos um pouco. Se dissesse que me importo muito estaria mentindo.
Teoria Populacional Neomalthusiana é a atualização da Teoria Populacional Malthusiana, criada pelo demógrafo Thomas Malthus.
Para os neomalthusianos, a superpopulação dos países era a causa da pobreza desses países.
Com a nova aceleração populacional, voltaram a surgir estudos baseados nas idéias de Malthus, dando origem a um conjunto de formulações e propostas denominadas Neomalthusianas.
Novamente os teóricos explicavam o subdesenvolvimento e a pobreza pelo crescimento populacional, que estaria provocando a elevação dos gastos governamentais com os serviços de educação e saúde. Isso comprometeria a realização de investimentos nos setores produtivos e dificultaria o desenvolvimento econômico.
Para os neomalthusianos, uma população numerosa seria um obstáculo ao desenvolvimento e levaria ao esgotamento dos recursos naturais, ao desemprego e à pobreza.
Afirmam também que é possível melhorar a produtividade da terra com uso de novas tecnologias, e que é possível reduzir o ritmo de crescimento da população através do planejamento familiar.
Eu sou metafísico demais para discutir política aqui. Sou racional demais para me identificar com algum partido ou projeto político a ponto de “vestir a camisa”. Sou egoísta demais para me sacrificar por um ideal, ou pelos outros. Sou pessimista demais para lutar pela mudança. Sou introspectivo demais para seguir uma multidão. Como eu não me posiciono, o máximo que posso fazer é buscar entender o que está acontecendo (e aqui há lapsos de Foucault: a vontade de saber está intimamente ligada á vontade de poder). Seja como for, esse blog nunca buscou discutir política, pois isso, novamente, contraria sua "linha editorial".
Eu, desde o capítulo I, já falei várias vezes sobre a sensação de irrealidade. Agora percebo que essa sensação é um mero artifício para negar a realidade: como eu não aceito a realidade tal como ela é, ela me parece estranha, irreal. É mais fácil acreditar que esse mundo é irreal do que aceita-lo como ele é. Por "realidade" me refiro à cotidianidade medíocre e mecânica do trabalho, do tédio, da rotina, e da frustração: é dessa realidade que o indivíduo busca evadir-se por meio de delírios megalomaníacos. Quando ele "pressente" que o mundo não é real, o que ele está fazendo é negar essa realidade da cotidianidade medíocre e mecânica, em prol de um escapismo: o real é tão insuportável, é tão assolador para o princípio de prazer, que é preferível advogar a sua irrealidade do que aceitá-lo. De certa forma, a religião faz algo parecido, quando busca desprezar o mundo em favor de um mundo imaginário pós-morte. Em ambos os casos, a negação da realidade é um artifício adaptativo, que serve justamente para inserir o indivíduo na realidade que ele nega. Dessa forma, o indivíduo cria uma ilusão para adaptá-lo ao mundo, e no caso essa ilusão é justamente a irrealidade (ou a irrelevância) desse mesmo mundo que é o único efetivamente existente e, por isso mesmo, do qual o indivíduo não é capaz de evadir-se definitivamente, mas apenas de maneira imaginária.
Malásia começou a xingar a professora e se dirigiu a ela pronto para agredi-la fisicamente. Mas foi segurado por alguns alunos (obviamente que não por mim, eu nunca participaria, eu apenas observo, e isso já é desgastante demais). Malásia for parar na diretoria. Lá ele esfriou a cabeça e, até onde eu sei, a ofensa proferida pela professora ficou sem resposta. Afinal, escola nunca foi importante para ele.
Embora, do ponto de vista do pensamento racionalista ocidental, exista uma ligação íntima entre “valor” e “sentido” é importante salientar que, conforme insiste Schopenhauer, a vida, em si, não tem objetivo algum a não ser se repetir incessantemente, sendo um perpétuo e multifacetado desdobramento da atividade orgânica fundada na replicabilidade infinita. Sob esse ponto de vista, o sentido da vida, enquanto fenômeno biológico, é si mesma. Os animais e demais formas de vida querem a vida sem qualquer questionamento, e o mesmo ocorre com a maioria das pessoas. É a introdução da razão, “das perplexidades do intelecto” como diria Nietzsche, que trará questionamentos às pessoas, mas a maioria delas já fica satisfeita quando se ajusta a um sistema de referenciais protagonizado pelo trabalho, pela família, pela religião e pelo senso comum; se conseguirem se ajustar a esse modelo de paradigmas, nunca vão questionar o valor de existir. É só quando o indivíduo não se ajusta que ele começa a questionar. Mas substituir os referenciais adotados pela “vida comum” da cotidianidade não é nem um pouco fácil, motivo pelo qual tantos que “se rebelam” acabam loucos ou se suicidam (nem que apenas mentalmente), isso quando não são mortos (o que costuma ocorrer em sociedades mais repressivas que a em que vivemos atualmente). Como eu já disse antes, o rebelde é um desajustado, e, desse ponto de vista, a grande fonte de insatisfação do indivíduo não está na “vida”, no “mundo”, no “sistema”, mas em si mesmo, que não consegue (e muitas vezes não quer) se ajustar à realidade em que está inserido. Mesmo que “o sistema” tenha culpa, insistir em culpá-lo não vai aliviar o indivíduo de seu sofrimento, nem tampouco apresentará um caminho viável para superação da sua miséria presente. O indivíduo não precisa se agarrar ao sofrimento e ao passado para conferir um sentido à sua vida, na falta de sentido melhor.
De certa forma Schopenhauer, como eu já disse mais de uma vez aqui, confere um sentido moral de redenção à vida humana com relação ao destino do universo, isso lhe permite inserir (sub-repticialmente) uma espécie de teleologia histórica em sua filosofia (embora ele negue a relevância da história).
A vida também poderia ter um sentido que de forma alguma contribuiria para a sua “desejabilidade”. Por exemplo, o místico Gurdjieff afirmou em um dos seus livros que a função da vida humana é emitir uma espécie de radiação que serve de alimento para a Lua...percebam que a nossa vida pode ter uma finalidade completamente estranha aos nossos interesses individuais. Seja como for, eu repito que a vida em geral é desejada independentemente que qualquer “sentido” que ela tenha. A “perplexidade” está em insistir em querem encontrar um sentido “verdadeiro” em algo que é na verdade um fim em si mesmo (sem qualquer outro sentido a não ser a si mesmo). As metafísicas filosóficas fracassaram retumbantemente em encontrar o “verdadeiro” sentido da vida (como se houvesse um). Do ponto de vista de nossas vidas cotidianas (ou seja, do ponto de vista “concreto”), penso ser muito útil uma espécie de abordagem existencialista que reconheça que somos nós que atribuímos o sentido de nossas vidas, e que essa liberdade está inexoravelmente ligada à responsabilidade. Também pode ser útil uma abordagem eudemonológica (como a sugerida por Schopenhauer) centrada na diminuição da dor em detrimento da busca sofredora pelo prazer. Ter um objetivo de longo prazo (se sentir parte de “algo maior”) pode ser útil, desde que a realidade presente não seja sufocada por promessas futuras.
De todos os colegas da antiga oitava série, palco dessa cena agora relatada, eu fui o único que realmente fez um curso universitário (e numa universidade federal). Depois eu soube que alguns deles fizeram uns cursos técnicos. Agora, 11 anos depois, a maioria deles já teve filhos e está subempregada (o resto está desempregado). Continuam sendo deltas, mas não serei eu a dizer que ascensão social é importante. Esses dias eu soube que Malásia, que já naquela época perdera vários dentes, já perdeu a vida na guerra do tráfico de drogas aqui do bairro.
Lembro de uma aula de geografia nessa escola municipal (na sétima série). A professora deu para cada um uma folha A4 com o desenho do mapa da América do Sul e pediu para pintarmos (isso mesmo, pintarmos na sétima série!) o Brasil nesse mapa. Ela acrescentou que aqueles que não encontrassem o Brasil poderiam marcá-lo a lápis para confirmar depois de estava certo. Você não leu errado não, isso realmente aconteceu. Será que eu quis seguir uma vida intelectual (no que eu fracassei) justamente por ter convivido no meio de tanta ignorância?
Tá legal, o termo “fracassei” não está correto. Eu teria fracassado se eu realmente tivesse uma chance. Mas não tinha. O problema é que eu não sabia disso. Eu me perdi no labirinto da vida. Eu perdi o "jogo da vida". Ainda bem que isso no fim não tem muita importância mesmo. Um rosto infeliz na multidão, que diferença faz para a história do universo?
Agora são 23:07 e eu vou apertar o botão “publicar postagem”.
Depois de 94 textos eu tenho o direito de usar metalinguagem barata, não?
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
2 comentários:
Acho que é pior que fracasso.
Quero ver o que você vai escrever no capítulo final.
Não entendi o que vc acha que "é pior do que fracasso".
Quanto ao capítulo final, continuo juntando observações para um dia conseguir montá-lo (veremos se vou conseguir cumprir o prazo prometido).
Mas o capítulo final tem tudo a ver com fracasso, com resignação, com "começar tudo de novo", e também com utopia.
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