sábado, 9 de janeiro de 2010

XCIII - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 16 de 16.

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§ 93






Apêndice: O “testemunho” nas seitas (neo)pentecostais.



Além do louvor, da pregação, do batismo com o Espírito Santo e da expulsão de demônio, outro evento que se repete no cotidiano (neo)pentecostal são chamados “testemunhos”. De forma genérica os testemunhos podem ser definidos como narrativas apresentadas durante os cultos cujo objetivo é reforçar a fé dos presentes mediante o relato de supostas intervenções divinas.

Como as seitas (neo)pentecostais não possuem, efetivamente, um “ritual” – um corpo padrão de rituais – (e por isso mesmo são seitas), cada igreja apresenta os testemunhos no momento em que lhe aprouver; porém, em geral, eles são apresentados no fim da pregação do pastor (como se fossem “provas” da veracidade de tudo que ele acabou de dizer), antes da oração do final do culto.

Quando chega o momento “dos testemunhos” o pastor convoca alguns dos fiéis ali presentes a subirem ao púlpito (quando existe um) e narrarem aos demais supostos fatos que “mostrem a ação de deus/de Jesus em nossas vidas”. As histórias narradas nunca são complexas ou especiais; tratam-se, isso sim, de narrativas nas quais tudo de bom é associado a Jesus e tudo de ruim é associado a Satanás (ou a um teste de deus – é desnecessário repetir que a própria idéia de um deus onisciente que faz testes está desprovida de cabimento). Por “tudo de bom” se entende: curas de doenças, (re)colocação no mercado de trabalho, e, principalmente, a realização de toda sorte de desejos estereotipados e previsíveis: casa própria, casamento, sucesso nos negócios, felicidade... Acontecimentos dos mais comezinhos são atribuídos à mão divina; por exemplo: a pessoa foi despedida sem justa causa, foi sacar o FGTS, e quando descobre que possuía outros saldos para sacar (de outros empregos dos quais ela tinha se esquecido) atribuí essa “benção” a deus. São muito comuns, também, narrativas de casos de conversão, em geral de um parente ou vizinho, e de como o convertido se transformou numa pessoa melhor (não se embriaga mais, ficou atencioso com esposa e filhos, não briga mais com a família, se livrou de qualquer vício, não tem mais “depressão” ou “estresse”, etc.). Por fim, há eventuais narrações de expulsões de demônios, que podem ser “indiretas” (por exemplo: ao ser assaltado o fiel intercedeu “em nome de Jesus” e o assaltante, notadamente tomado por espíritos malignos, fugiu).

Além desses relatos rápidos e comezinhos, há eventualmente relatos mais complexos e cinematográficos (curas de doentes terminais, ressurreições, conversões de supostos satanistas), os quais geralmente são apresentados mesmo no lugar de parte do tempo destinado normalmente a pregação do pastor. Esses relatos são apresentados com pompa, com um prólogo do pastor, em vários igrejas (o fiel é convidado a peregrinar em vários templos da seita repetindo a sua história).

Já nos chamados “retiros” – encontros de lavagem cerebral que geralmente duram três dias – os testemunhos, assim como o louvor e a pregação, são fragmentados por toda a grade horária. Nesses eventos são comuns os testemunhos especiais mencionados no parágrafo anterior, bem como os relatos de missionários (pastores e fiéis imbuídos de disseminar “a palavra” em locais distantes). O motivo dos relatos dos últimos é evidente: além de convencer os fiéis a crer, quer-se convence-los a evangelizar, e assim espalhar esse câncer da humanidade pelo resto do mundo que ainda está livre dele.

Durante os testemunhos, é comum a presença de um “diálogo” entre o narrador e um seleto grupo de ouvintes, notadamente formado pelos mais fiéis da seita, os quais, por sua vez, geralmente, são mulheres idosas. Enquanto o narrador conta as “coisas ruins” esse público fica calado; à medida que são apresentadas as supostas intercessões divinas o seleto grupo passa a glorificá-la, com palavras como “aleluia”, “amém”, “glória a deus”, “Oh glória”,etc.; o clímax do relato e dessa glorificações ocorrem juntamente com a ovação popular incitada pelo pastor.

O objetivo dos testemunhos é, em efetivo, prover os fiéis de supostas “provas” da existência de deus e da sua ação miraculosa, a fim de que eles possam fortalecer a sua fé. Mesmo que se diga que ter fé é acreditar em algo que não pode ser provado, a verdade é que os fiéis estão vendo – e repetindo para si mesmos – provas da existência e da ação de deus em cada canto no qual colocam seus olhos.







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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

2 comentários:

Thomaz disse...

Fundo do baú ein...

Eu ri um monte só de imaginar sua indignação escrevendo esse post. :D

Duan Conrado Castro disse...

Rs, "bons tempos", né Thomaz? Bom te ver por aqui, precisamos nos encontrar um dia para por a conversa em dia.