sábado, 2 de janeiro de 2010

XCII - Povo em fila (flashback # 9 - 17/05/2007)

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§ 92





Povo em fila.


Fazenda Rio Grande
As nuvens transpassam o horizonte
O tempo escorre como azeite derramado
O vento carrega o pressentimento da morte

Caixa Econômica Federal
O povo adentra à agência bestializado
Parece gado na fila do matadouro
O mecanismo da porta giratória transcende à compreensão
À medula espinhal não cabe entender
Ninguém espera que algo mude
Sem redenção

O descalabro
A mais crassa ignorância
A rotina
Amputação, necrose
Vômito ao chão...
Nada falta para compor as negras cores do cenário

Espetáculo trágico,
Diante do qual Portinari ver-se-ia coagido a retocar " Os retirantes"





***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

Um comentário:

Duan Conrado Castro disse...

Filas que me chamam minha atenção:

A fila para comer no restaurante popular. Ela já está bem longa às 10 horas da manhã, antes mesmo do estabeleciemnto abrir.
A fila para ser atendido no posto de saúde.
A fila para ser atendido na Caixa Econômica Federal.
A fila dos aposentados em frente aos bancos (inclusive bancos privados) no dia de pagamento.
A fila, as 7 da manhã, diante do edifício da Receita Federal.
A fila para comprar sorvete no Macdonald's. Sim, não é apenas em Cuba que o povo se dispõem a enfrentar fila para comprar um sorvete.
A fila do ônibus.
A fila do cinema para assistir ao filme "Eliana e o segredo dos golfinhos".
A fila do caixa rápido do supermercado numa sexta-feira às 18 horas.
A fila para entrar na casa notura. É compreencível, pois o público está a procura justamente de lugares lotados (onde há maior possibilidade de interação social): essa fila, assim, é um chamaris de clientes: quanto maior a fila, mais badalado o lugar, e quanto mais badalado o lugar, mais procurado ele será.
A fila para jantar em restaurantes caros. Sim, fila não é privilégio do povão. Se você for na Avenida Batel e arredores numa noite de sexta ou sábado verá a boa gente da classe média fazer filas homéricas para pagar - e pagar caro - por algumas centenas de gramas de pratos batizados com nomes esquisitos.