sábado, 28 de março de 2009

LVI - Acerca de uma confissão, #2 - declaração pública por mim firmada no que tange à legitimidade da minha palavra (cumprido conforme o apostado).

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§ 56




Declaração Pública



Tendo eu empenhado a minha palavra e não a tendo cumprido, reconheço, por meio da lavra, em três vias de idêntico teor, desse documento público, cujo conteúdo ratifico integralmente na presença de duas testemunhas e atesto como sendo a expressão exata da verdade factual, livre de emendas, dubiedades rasuras ou contradições, que a minha palavra não possui valor algum e que, portanto, doravante é indigna de crédito e confiança, sendo essa declaração oponível a mim por qualquer um, conforme aposta por mim realizada livremente e na plena consciência das eventuais conseqüências adversas, que agora se consubstanciam, e que perdi, por não ser capaz de cumprir o que prometera, sendo esse justamente o objeto da aposta.


Duan Conrado Castro:

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Lavrado na comarca de Curitiba, Paraná, na data de 02 do mês de março de 2009, na presença das seguintes testemunhas, que ratificam, em três vias de idêntico teor, integralmente o conteúdo da declaração, e atestam ser ela a expressão exata da verdade factual, por eles testemunhada, bem como ser livre de emendas, dubiedades, rasuras ou contradições:


Rômulo Castro:


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Gregory Vilas Boas:



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

sábado, 21 de março de 2009

LV – Acerca do "ensaio" “A prostituta devassa” escrito em 27/06/2003 - Flashback # 6.

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§ 55





Toda palavra exprime uma ideologia, dizia um professor de filosofia. Estava em casa, com muitas idéias imponderáveis na cabeça. "Apenas o incerto é certo; e até a certeza da incerteza é incerta" afirmava a mim mesmo.

A filosofia é alienada (vide Cândido) ; o jornal de domingo, intacto (já era terça-feira). Espantei as reflexões transcendentes (que, afinal, não levam a lugar nenhum); queria pensar em coisas "importantes", tal qual a situação sócio-econômica do globo. Queria saber de juros, diabo de juros; de fome; de greve (encabeçada pela ANDES, sem aprovação da CUT); enfim, queria libertar-me da alienação voluntária.

Eis que abri o dito jornal: "Fed prevê recessão americana". Quê? Concomitantemente, na CNN em espanhol (a televisão estava ligada, esqueci de avisar), uma apresentadora dizia: "Dos soldados estadounidenses morreram hoy en Iraquí".

Já percebe o leitor que, a essa hora, novamente, a minha cabeça não mais queria saber das notícias, mas das palavras. !Estadounidenses! !No me puedo creer!

Corro ao dicionário de português. Não há "estadouniense". Mas espere você, olho mais abaixo; ei-la: "estadunidense".

Então....?

Sim, isso mesmo.

Abro a revista Veja - a eterna tocha da verdade cuja luz ilumina esse país perdido e sem salvação possível. Um ensaio do senhor Alencastro: "O sentimento antiamericano". Páginas à frente: "O poder militar americano." Etc.

Conclui que o brasileiro é vendido; pois até os latinos, da CNN (empresa estadunidense) não utilizam o adjetivo "americano" para se referir aos EUA, já que sabem que americano é todo aquele que vive no continente chamado de América (que não se resume aos EUA). Mas eles, aquela gente, furtaram o continente com uma palavra, com o nosso eternamente cordial beneplácito.

Seria o mesmo, penso, que concordar com a qualificação dos alemães como simplesmente "europeus". Isso não ocorre, provavelmente porque na Europa há vários países "importantes", cujos pés e mãos beijamos com avidez.

Mas não é necessário conjecturar, não. O próprio brasileiro erra de forma análoga ao se referir à África como se fosse um país. Isso deve ocorrer porque lá não há nenhum país "importante"...Ignorância análoga à do sábio povo estadunidense (ne varietur), que acredita ser Buenos Aires a capital do Brasil, isso quando sabe que o Brasil existe (o que, confessemos, já deve ser muito, mesmo um favor da parte deles).

Duvida?

Pois se o senhor leitor se ater melhor ao que lê e ao que ouve, perceberá o óbvio: nós nos vendemos nas esquinas do mundo; o brasileiro é uma prostituta devassa.



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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

quarta-feira, 18 de março de 2009

### 19 - Em complemento ao capítulo XXII – Sexo, mentiras e politicagem.


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Sexo, mentiras e politicagem – estudos flagram insetos enganando parceiras durante o acasalamento e tentando subir desonestamente na hierarquia da colônia. (Escrito pelo repórter Ricardo Bonalume Neto e publicado no jornal Folha de São Paulo de 16/01/2005, caderno Mais!, página 9. Negritos adicionados)

Quando um macho convida uma fêmea para comer, costuma haver uma segunda intenção: sexo. Machos de muitas espécies animais dão os chamados “presentes nupciais” para as fêmeas na forma de um petisco durante o ritual de acasalamento. Ela ganha uma refeição, ele aproveita para copular. Quanto melhor a comida, mais longa a atividade sexual. Mas alguns machos malandros enganam as fêmeas com falsos presentes, que nem mesmo são comestíveis. O sexo não é tão demorado. Mas o macho teve uma chance de passar adiante seus genes.

Dois pesquisadores no Reino Unido, Natasha LeBas e Leon Hockam, da Universidade de Saint Andrews, fizeram experimentos com diversos tipos de presentes dados por moscas carnívoras. Basicamente, eles retiravam o presente genuíno de comida por outro menor ou por um sem valor – uma pequena bola de algodão. E descobriram que, apesar da cópula ser mais longa com um pedaço de comida maior, não havia muita diferença no tempo de sexo com um presente genuíno, mas menor, ou com o algodão, não comestível. O artigo descrevendo os achados foi publicado na última edição da revista científica “Current Biology”.

“Eu especularia que dar presentes às fêmeas durante a cópula provavelmente surgiu por acaso, quando machos se acasalando com parceiras carregavam uma presa que eles próprios estavam comento” diz Lebas. “Esses machos provavelmente consguiram fazer sexo por mais tempo e transferir mais esperma quando a fêmea começou a comer a presa”, afirma a bióloga, hoje na Universidade da Austrália Ocidental.

Essa dupla vantagem seletiva – o macho copula por mais tempo, a fêmea ganha uma refeição de graça – possivelmente fez com que as fêmeas passassem a fazer sexo só com machos que trouxessem presentes.

E como surgiu o comportamento do macho enganador?

“Eu diria que dar presentes nupciais sem valor surgiu quando machos passaram a dar coisas mais fáceis de se obter, mas que mesmo assim permitiam um tempo suficiente de cópula, pois a fêmea esperava receber comida, e vai tentar comer o objeto por algum tempo. Por isso, dar presente sem valor só pode evoluir em espécies que já dão presentes de comida”, declara LeBas, enfatizando tratar-se ainda de uma hipótese.

“Uma explicação alternativa seria que dar o presente inútil surgiu em espécies que não davam comida, com o presente servindo apenas como um sinal sexual. Parece ser algo difícil de começar sem a entrega primeiro de comida, mas não quer dizer que não possa ter surgido dessa maneira”, diz a bióloga.






Polícia

O macho malandro em geral escapa sem punição. Não se pode dizer o mesmo de que comete “crimes” entre insetos sociais, como abelhas e formigas. A pena de morte pode significar a decapitação do infrator.

“Sociedades de insetos também experimentam conflitos internos e pesquisas têm cada vez mais mostrado que o policiamento é importante para resolvê-los”, escreveram os pesquisadores Francis Ratnieks e Tom Wenseleers na revista científica “Science” (http://www.sciencemag.org/).

Ratnieks, da Universidade de Sheffield, Reino Unido, está vindo ao Brasil nesta semana para fazer uma palestra sobre o tema em São Paulo, além de aproveitar para pesquisar abelhas brasileiras, notadamente aquelas sem ferrão, estudadas por Vera Imperador Fonseca, da USP.

Segundo Ratnieks, conflitos em sociedades – humanas ou de insetos – surgem por causa de diferentes interesses de indivíduos. No caso dos insetos, os conflitos envolvem a reprodução. Abelhas operárias podem querer colocar ovos, que em geral terminam destruídos por outras operárias; ou mais fêmeas que o ideal podem querer se transformar em abelhas rainhas.

“Um inseto passaria duas vezes mais cópias dos seus genes se a colônia criar um indivíduo para o qual ele tenha 50% de parentesco, como um filho, em contraste com apenas 25%, no caso de um irmão. O inseto não tem consciência, mas a seleção natural favorece insetos que façam isso, da mesma maneira que favorece os que podem sobreviver melhor, ou coletar comida melhor”, afirmou Ratnieks à Folha.

Na abelha comum (Apis mellifera), o policiamento preventivo é bem feito. Abelhas rainhas são criadas em casulos maiores do que as operárias. Como as operárias adultas dão mais comida para as larvas que estão em casulos maiores, é possível controlar o número de futuras rainhas.

Já na abelha mexicana sem ferrão da espécie Melipoma beecheii, rainhas e operárias têm o mesmo tamanho. Como não há policiamento preventivo, cerca de 20% das larvas viram rainhas, e a maioria termina morta pelas trabalhadoras.

As rainhas da abelha sem ferrão brasileira da espécie Schwarziana quadripunctata são maiores que as operárias e também são criadas em células maiores. No entanto, algumas das larvas de operárias conseguem iludir o sistema e se transformam, nos seus casulos menores, em rainhas anãs. Mas a maioria termina morta pelas sempre vigilantes operárias policiais.


Capítulo XXII – Acerca do caráter soturno da humanidade decorrente da servidão da razão para com a volição egoística instintiva (vontade de poder).





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sábado, 14 de março de 2009

### 18 – Laisser faire, laisser passer – 8.


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(...) Esse processo de produção durante 24 horas ininterruptas existe hoje como sistema em muitos ramos industriais "livres" da Grã-Bretanha, entre os quais figuram os altos fornos, as forjas, laminações e outras indústrias metalúrgicas de Inglaterra, de Gales e da Escócia. Nesses setores o processo de trabalho ordinariamente compreende, além das 24 horas dos seis dias úteis da semana, as 24 horas do domingo. Os trabalhadores são homens e mulheres, adultos, adolescentes e crianças de ambos os sexos. A idade dos jovens percorre toda a escala, dos 8 anos (em alguns casos 6) até os 18 (Chidren’s Employment Comission, Third Report, Londres, 1864, págs. IV, V e VI). Em alguns ramos, as meninas e as mulheres trabalham à noite junto com o pessoal masculino.


Pondo de lado os efeitos geralmente prejudiciais do trabalho noturno, o processo de produção ininterrupto de 24 horas proporciona a oportunidade altamente desejada de ultrapassar os limites da jornada nominal de trabalho. Assim, por exemplo, nos ramos industriais atrás mencionados, extremamente fatigantes, a jornada nominal de trabalho está fixada em 12 horas, diurnas ou noturnas. Mas, em muitos casos, o trabalho extraordinário além desse limite, para usar expressão do relatório oficial inglês, é "algo que realmente horroriza" (L. c., 57, p. XII)
"Ninguém", diz o relatório, "pode pensar na quantidade de trabalho que, segundo o depoimento de testemunhas, é realizado por crianças de 9 a 12 anos, sem concluir irresistivelmente que não se pode mais permitir que continue esse abuso de poder dos pais e dos patrões" (L. c. 4th Rep, 1865, 58, p.XII). "O método de fazer a criança trabalhar alternativamente de dia e de noite leva ao iníquo prolongamento do dia de trabalho, tanto nos períodos de maior volume de negócios quanto nos períodos de movimento normal. Esse prolongamento em muitos casos é mais do que cruel, é inacreditável. Entre os meninos ocorre freqüentemente, por este ou aquele motivo, que um ou mais deixem de vir trabalhar. Um ou mais garotos presentes que já concluíram seu horário de trabalho têm que preencher o claro. Este sistema é tão conhecido que o gerente de uma laminação, quando lhe perguntei como seria substituído o menino que faltara, respondeu: Sei que você sabe tão bem quanto eu como será feita essa substituição. Numa laminação em que a jornada nominal de trabalho ia das 6 das manhã às 5 e meia da tarde, um garoto trabalhava quatro noites por semana até pelo menos 8 e meia da noite do dia seguinte.... e isso durante seis meses. Outro, quando tinha nove anos, trabalhava, freqüentes vezes, três turnos seguidos de 12 horas, e, quando tinha 10 anos, dois dias e duas noites consecutivos. Um terceiro, agora com 10 anos, trabalhava durante três dias, de 6 da manhã até à meia-noite, e os outros três, de 6 da manhã até 9 da noite. Um quarto, com 13 anos, trabalhava ,durante toda a semana, das 6 da tarde até às 12 horas do dia seguinte e às vezes em três períodos consecutivos, por exemplo, de segunda feira de manhã até terça à noite. Um quinto, com 12 anos, trabalhava numa fundição de ferro em Stavely, de 6 horas da manhã até meia-noite e, ao fim de 15 dias, não pôde mais continuar nesse regime. George Allinsworth, de nove anos de idade, declara: ‘Vim trabalhar aqui sexta-feira passada. No dia seguinte tive que começar às três horas da manhã. Por isso fiquei aqui a noite inteira. Moro a 5 milhas daqui. Dormi no corredor sobre um avental e me cobri com um casaco pequeno. Os outros dias estava aqui às 6 da manhã. Este lugar é muito quente. Trabalhava também num alto forno e durante um ano inteiro, antes de vir para cá. Era uma grande usina no campo. Começava também aos sábados às 3 horas da manhã, mas pelo menos podia ir dormir em casa, pois era perto. Nos outros dias começava às 6 da manhã e terminava às 6 ou 7 da noite.’" (L.c., p. XIII)


(Karl Marx, O Capital, Livro I, capítulo 8.4.)








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Os agentes econômicos respondem a estímulos na sua ação racional (i.e., ação capaz de formular estratégias e que não erra sistematicamente) e voltada ao seu interesse próprio (i.e., que busca a maximização de sua satisfação por meio do atendimento ótimo das suas necessidades).

sábado, 7 de março de 2009

LIV - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 4 de 16.


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§ 54





1.2. A inautenticidade


Sobre esse segundo tópico paira um conceito da filosofia existencialista: a inautenticidade. É por inautenticidade (que pode atuar em conjunto com a ignorância) que muitas pessoas preferem acreditar em mentiras, as quais lhes permitem não se responsabilizar por parte dos seus atos. Trata-se da velha estratégia de jogar aos outros a responsabilidade que é nossa.

A inautenticidade pode atacar aquelas pessoas que, com passado, ou ainda presente, ignorante e alienado, entram em contato com o conhecimento filosófico, histórico, ou cientifico que negam as crendices. Ataca, igualmente, pessoas que podem ter um conhecimento profundo da área na qual atuam profissionalmente, mas que ou se negam a refletir e a discutir sobre religião ("religião não se discute") – buscando, assim, não conhecer os argumentos demolidores de suas crenças, cuja existência e efetividade já pressentem – ou simplesmente não têm acesso a esses argumento – isso porque não têm o menor interesse em procura-los (não saem do seu ponto de conforto, pois sabem que se saírem encontrarão férrea discussão, tendo, inclusive, que rever muitos dos mais primordiais conceitos que regem as suas vidas: atacar as crenças de alguém é atacar o próprio alguém).

Em geral, o inautêntico tem medo de um "castigo" eterno, por isso ele não se arrisca a refletir sobre a farsa do seu credo (seu senhor e seu algoz); ele prefere negar-se a esse exercício e se esconder em seu casulo tecido por verdades absolutas. Muitos destes indivíduos, mesmo tendo sérias dúvidas acerca da integridade de seu credo, continuam a freqüentar a igreja, em silêncio (para que não se duvide de suas convicções), o que, além de inautêntico, e soberanamente hipócrita.

A triste verdade é que o inautêntico não tem coragem suficiente para realizar as dolorosas operações que lhe separarão das mentiras que lhe foram impostas autoritariamente quando ele era apenas uma criança.






Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.

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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.