sábado, 22 de novembro de 2008

XL – Acerca de especulações decorrentes da presença da simbólica “2+2=5” tanto no livro 1984 quanto em música homônima do Radiohead.

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§ 40







Capítulo 19 de 1984 (George Orwell)

Nesse capítulo, Wiston (o personagem principal, rebelado contra a ditadura do Partido, representada pela figura do Big Brother) é torturado por O'Brien (membro do alto escalão do Partido) para que se convença de que dois e dois são cinco, SE ASSIM O PARTIDO DISSER QUE É.

Ao fim de páginas e páginas de tortura física e psicológica tem-se o resultado:

"O'Brien levantou os dedos da mão esquerda, escondendo o polegar.
"-- Aqui há cinco dedos. Vês cinco dedos?
"--Vejo.
"E viu mesmo, por um instante fugidio, antes de mudar a cena no seu espírito. Viu cinco dedos, sem deformidade."

Nas últimas páginas do livro, Wiston rabisca na poeira de uma mesa: "2+2=5"

Esse livro é distópico e desalentador, como o Radiohead.

Videoclip de 2+2=5



A metáfora visual de associar a classe dominada ao gado e a classe dominante aos porcos lembra outro livro de George Orwell: "A Revolução dos Bichos".

Nesse livro os animais de uma fazenda se rebelam contra a sua exploração pelo homem. Eles tentam construir uma sociedade de iguais, mas com o tempo os animais mais espertos (os porcos) acabam por explorar os demais animais DA MESMA FORMA que o fizeram os humanos.

Se o videoclipe é claramente uma crítica ao capitalismo, a livro de Orwell é, por sua vez, uma crítica à revolução socialista (que se mostrou incapaz de cumprir o que prometera). Ou seja: não há saída, para lugar algum.

Mas tem mais:

Are you such a dreamer
To put the world to rights?
I stay home forever
Where two and two always makes up five


Creio que esse ponto permite que interpretemos o texto, e sua relação com o livro de Orwell, de uma outra forma: o sujeito está dizendo que o mundo real, o mundo onde 2+2=4, é um mundo distópico e que ele prefere fugir da realidade por meio de um mundo de fantasia, onde 2+2=5. (Esse mundo da fantasia é mencionado também em In Limbo, em Like Spinning Plates e ainda Where I end and you begin.)

Nesse caso a mensagem seria, como sempre, negra: o nosso mundo real é algo em melhoria do qual não vale a pena lutar, sendo preferíveis o isolamento e alienação.





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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

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