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§ 115
Críticas sobre o filme
"Teoria Acid-Paula"
Pablo Villaça
CineMMaster
Ana Maria Bahiana
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Após refletir sobre a "teoria Acid-Paula" eu cheguei a uma conclusão que para mim parece mais plausível: Tá legal, Miles realmente tinha um plano para fazer uma inserção em Cobb, mas isso não exigiria necessariamente mais um nível de sonho, exigiria apenas que a Ariadne fosse corretamente instruída para levar a inserção a cabo. Convenhamos... a questão da aliança na mão de Cobb e a questão de serem atores diferentes que fazem o papel dos filhos parecem indicar que Cobb acordou... Caso insistamos que ele não acordou, então já sabemos quem foi capaz de arquitetar o "grande sonho" (que teria começado na África), projetando o aeroporto, o avião e até as crianças mais velhas: ele, o único com habilidade e motivo para fazê-lo: Miles.
Realmente o Cobb não gira mais o pião depois que dorme no Porão do Yusuf. A cena da perseguição em Moçamba ocorre antes de Yusuf fazer a sua aparição. É interessante notar que Cobb é perseguido por apenas três pessoas (que são da empresa Cobol, para a qual ele fracassou em cumprir a missão que tinha que realizar em Saito – Cobb diz no começo do filme que a empresa para qual ele trabalha não tolera erros, e logo depois fala para Arthur que essa empresa – Cobol – já sabe que eles falharam e vai atrás deles), e não pela população inteira: o que teria que ocorrer se ele estivesse no sonho de alguém. Ou seja, a cena de perseguição não pode ser usada como prova de que ele está no sonho de alguém. É inverossímil a hipótese de que Miles conseguiria arquitetar tudo isso sozinho e sempre um passo a frente das escolhas do próprio Cobb, e ainda tão rapidamente (as cenas em Moçamba ocorrem praticamente no início do filme).
A hipótese da aliança está correta: no mundo real ele está sem ela. No mundo dos sonhos está com. Quando ele está se encaminhando para o guichê da imigração do aeroporto, no final, dá para ver que Cobb está sem a aliança. As crianças são diferentes, afinal são interpretadas por outros atores, além disso estão vestindo roupas diferentes. O pião oscila...mas isso é uma questão menor, é um blefe do Nolan, uma provocação para pegar incautos.
O diálogo final de Cobb com Mal é muito claro. No começo dele Mal afirma que aquele mundo (o limbo) é o mundo real e que as crianças que estão ali são reais e não projeções – o que, evidentemente, não é verdade...e isso é evidente pelo ambiente onírico (uma casa que fica dentro de um edifício) – se alguém insistir em negar isso, então obviamente não entendeu nada do filme. Quando ele conta para ela (uma projeção do inconsciente dele) o que fez com ela (ela de verdade), ele está contando a si mesmo, está purgando a própria culpa. Seja como for, Mal, que é uma lembrança da verdadeira esposa e em hipótese alguma é a esposa verdadeira, mostra-se surpresa e confusa com a revelação, e diz algo assim: “seja como for, você pode cumprir a sua promessa e ficar aqui comigo no mundo que construímos”, ou seja, agora ela admite que aquele mundo não é o real.
Ele responde que ela é só uma sombra da verdadeira Mal, que é só uma projeção do inconsciente dele, e que por isso não valeria a pena passar a eternidade com ela (e vale lembra que eles já passaram décadas juntos, o que deve ser suficiente para ele poder discernir a Mal caricata da verdadeira).
Então ele se perdoa e ela, que é uma projeção do inconsciente dele, se acalma e DESISTE de tê-lo ali com ele para sempre: essa desistência é a testemunha de que ele se perdoou, que a catarse está realizada, que a culpa está purgada.
Então ele morre no nível 1 (van), e volta para o limbo, que agora sofreu modificações pois Saito está vivendo lá há décadas. Quando Saito fala sobre morrer velho cheio de amarguras, Cobb se lembra da sua missão. E tudo leva a crer que os dois se matam e acordam no mundo real.
Realmente concordo que a Ariadne se mostra surpresa com tudo e que portanto não seria plausível achar que ela já sabia de toda a verdade sobre Cobb. Creio que nem o Miles sabia toda a verdade, pois quando ele, lá na universidade na França, fala para o Cobb “volte para a realidade” ele o faz justamente quando Cobb afirma que Mal não deixa ele, Cobb, ser o arquiteto do sonhos. Ou seja, quando ele fala em realidade ele está falando justamente da realidade de que Mal está morta, e que portanto Cobb precisa superar a perda.
A própria Ariadne se voluntaria a ir para a missão (a idéia original era de que ela só fizesse o trabalho arquitetônico no mundo real). Quando ela se prontifica a ir Cobb afirma: “eu prometi para o Miles que você não iria”. Mas ela o convence a ir.
Em resumo, eu não acredito que ele estava sonhando no final. E penso que na melhor das hipóteses o que Miles fez – se é que fez alguma coisa – foi simplesmente orientar Ariadne a ajudar Cobb a superar o seu sentimento de culpa (talvez se houvesse uma cena de diálogo entre Miles e Ariadne nos corredores da faculdade resolvesse essa dúvida – mas não há essa cena, ou pelo menos ela foi cortada na edição). Mas, convenhamos, não seria necessário para isso criar mais um nível de sonho e juntar todos no porão do Yusuf – seria um trabalho completamente desnecessário e redundante.
Além disso, cabe lembrar que todos os “sonhos oficiais” (indicados pelo roteirista) ocorreram em espaços relativamente pequenos. Se houvesse um “grande sonho” ele teria que ocorrer em várias partes do mundo...o que, convenhamos, exigiria um enorme trabalho do arquiteto, no caso Miles.
O enredo é simples. A confusão deriva de uma tentativa de inserção que Nolan realiza - muitas vezes com sucesso - na mente dos espectadores, cujo epítome é a cena final, o momento anterior ao nosso despertar do sonho arquitetado por ele.
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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.
Um comentário:
Por problemas burocráticos, acabei transferindo o texto que era para ficar no cap. 115 para o 123. Essa crítica ao "A origem" foi usada para "tapar o buraco" que ficou na programação do blog em função da transferência.
Paciência.
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