sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

XC - Acerca de uma defenestração amorosa (flashback # 8 - 03/04/2007)

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§ 90







“Eu, com certeza, me apressei para você, na alegria de lhe encontrar. Eu mandei mensagens para você. Eu fiz você feliz. A doçura, para mim, do amor era essa opção que eu desejava para você sobre mim mesmo. Eu concedi direitos a você, a fim de me sentir unido. Eu tenho necessidades de raízes e galhos. Eu me propunha cuidar de você. Como da roseira que cultivo. Eu me submeto, portanto, à minha roseira. Minha dignidade não se ofende dos compromissos que assumo. E eu me entrego assim ao amor. Não temo, de modo algum, me comprometer e me tornei pretendente. Eu prossegui livremente, pois ninguém no mundo pode me barrar. Mas você se enganava a respeito do meu apelo, pois você leu no meu apelo a minha dependência: eu não era dependente – eu era generoso. Você contou os meus passos para você, não nutrindo você de modo algum com o meu amor. Você abusou do significado da minha atenção. Então vou me desviar de você para honrar apenas aquela que é humilde e que iluminará o meu amor. Eu ajudarei a engrandecer somente aquela a quem o meu amor engrandecerá (…). Eu preciso de um caminho, não de um muro. Você pretendia não o amor, mas um culto. Você barrou a minha estada. Você se ergueu sobre o meu caminho como um ídolo. Não preciso ter esse encontro. Eu ia para outro lugar…” (Saint-Exupéry, Cidadela)




Duan,


Está tudo bem com você? Espero que sim, pois eu estou ótima! E por quê? Porque eu me livrei de um peso imenso, de um grande mal, de um parasita obtuso que estava roendo a minha alma.

Eu cansei de chafurdar na lama da ignomínia e da desolação. Cansei do descalabro, do opróbrio e da podridão. Cansei de agüentar vilanias hipócritas e artimanhas rocambolescas. Estou cansada de toda essa nojeira, de despender meu sangue, meu suor e minhas lágrimas em troca de tão parco e ínfimo pagamento.

É...Você sabe do que eu estou falando, não sabe? Cansei de você, Duan! Você que, do alto do castelo de palavras construído com sua arrogância e com sua empáfia, se julga a coisa mais esplêndida que o mundo já viu. Mas não é, e está longe de ser.

Seu comportamento vergonhoso e despropositado me enganou no começo. Mas, como toda falsificação barata, não tardou em revelar o seu conteúdo espúrio, deplorável e desprezível, que agora me causa náuseas e repulsa no mais alto nível.

Não se engane. Você não é o suficiente para mim. Eu mereço algo melhor do que isso. Eu mereço algo superior a essa sopa rala e insalubre de arsênico e fel – indigna de mim – cuja imagem você vê no espelho todas as manhãs.
Tenho pena de você. Seu estado é sem salvação. Irreversível. Agora o que eu mais quero com relação a você é esquecer o seu vulto boçal, bronco e vulgar. Pois o esquecimento é a recompensa que indivíduos rasteiros e capciosos da sua estirpe merecem. Desperdício. Algumas pessoas simplesmente não servem para nada; e você, Duan, é uma delas.
Se pudesse lhe apagar da minha mente, certamente o faria, nem que para isso tivesse que me submeter a um lobotomia.
Melhor do que apagá-lo da minha memória seria apagá-lo do mundo. Não, eu não me refiro à morte não. O meu desejo não é que você morra. O meu desejo é que você nunca tivesse nascido, nunca tivesse surgido nesse planeta, cuja superfície é agora infectada por sua nauseabunda, lúgubre, nefasta, tresloucada e lamentável presença.
Maldito seja o dia no qual se disse “hoje nasceu Duan Conrado Castro”. Que o sol não brilhe nesse dia! Que os pássaros não cantem nesse dia! Que as sementes não germinem nesse dia! Que as mães não amamentem nesse dia! Que os lábios não desabrochem em sorrisos nesse dia! Que a dor e a agonia corroam os corações nesse dia desgraçado!
Adeus, espero não mais estabelecer qualquer forma de contato com sua existência sacripanta, tacanha e beócia.
Da desencantada, desiludida, mas finalmente livre e feliz!,

Martha.

P.S.: E faça o favor de desistir de se relacionar com mulher. Até o reino mineral sabe que vc é viado demais para isso...






***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

10 comentários:

Anônimo disse...

"Num homem, as mulheres notam facilmente se sua alma já tem dono; elas querem ser amadas sem rivais e lhe recriminam os objetivos que perseguem por sua ambição, seus deveres políticos, sua ciência e sua arte, se demonstram paixão por essas coisas.
A menos que, no entanto, consigam com isso sucesso - então elas esperam, ao se apaixonar por ele, conseguir ao mesmo tempo seu próprio sucesso; se assim for, elas apóiam o amado."

Nietzsche: Humano, Demasiado Humano. Capítulo VII - A mulher e a criança.

Silas disse...

Deprimente.

Por uns instantes eu imaginei que você mesmo escreveu isso.

Eu ja escrevi coisas assim pra mim mesmo.

Silas disse...

Posso usar algo desse texto no livro?

Duan Conrado Castro disse...

Silas,

Pode sim.

"A cobiça sexual, tanto mais quando concentrada e fixa em uma determinada mulher por meio da paixão, é a quintessência da trapaça total deste mundo nobre, uma vez que ela promete coisas tão inefáveis, infinitas e efusivas, e, depois, mantém tão miseravelmente pouco." (Schopenhauer, em A arte de lidar com as mulheres.

Maria Ligia Ueno disse...

não sei o que vc fez...
mas esse texto é bárbaro
e a martha queria era barbarizar suas genitais depois que ela arrnacasse-as fora a dentadas

Suprimentos para construçao civil disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Duan Conrado Castro disse...

Caro “Suprimentos para construçao civil “
Você deixou um comentário aqui e depois apagou. Mas eu recebi ele por e-mail...Se quiser dizer mais alguma coisa, você sabe qual é meu e-mail e qual é meu orkut.

Suprimentos para construçao civil disse...

Te mandei uma msg lá no orkut...Mas Parabéns pelo Blog.

Suprimentos para construçao civil disse...

Vc apagou minha msg???
Bem que eu vi que vc "Não gosta de pessoas efusivas", acho q me enquadro neste grupo.rsrsrsr.

Duan Conrado Castro disse...

Não, eu não apaguei não. Achei que você tinha apagado...?