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A empresa siderúrgica de Camel & Co. opera na mesma escala de John Brown & Co. O diretor-gerente entregou seu depoimento por escrito ao comissário White, mas depois achou mais conveniente subtrair o manuscrito que lhe fora devolvido para revisão. Todavia, o comissário White tem boa memória. Ele se lembra exatamente que esses senhores consideravam ser impossível a supressão do trabalho noturno dos meninos e dos jovens; seria o mesmo que parar suas oficinas. Nestas, entretanto, os menores de 18 anos representam pouco mais de 6% e os menores de 13 apenas 1% (L.c., 82, p. XVII.)
Sobre o mesmo assunto, o senhor E. F. Sanderson, da firma Sanderson Bros & Co., com usinas de aço, laminação e forja, em Atterclife, declara:
“Surgiriam grandes dificuldades se menores de 18 anos fossem proibidos de trabalhar à noite. A principal seria o aumento dos custos com o emprego de adultos em vez de menores. Não posso dizer quanto isso custaria, mas provavelmente não seria tanto que justificasse o aumento do preço do aço pelo fabricante, de modo que o prejuízo recairia sobre ele, uma vez que os trabalhadores” (que gente cabeçuda) “se recusariam por certo a pagá-lo.”
O senhor Sanderson não sabe o quanto paga aos meninos, mas
“talvez eles recebam cada um de 4 a 5 xelins por semana... O trabalho dos menores é de uma espécie para a qual a força deles é geralmente” (geralmente, mas não sempre) “suficiente, e por isso não haveria nenhum ganho a obter da força maior dos adultos, para compensar o salário maior, a não ser nos poucos caos em que é pesado o volume de metal a manejar. Os homens não gostariam de não ter os menores entre eles, pois os menores são mais dóceis que os adultos. Além disso, os jovens têm que começar cedo, para aprender o ofício. Se só se permitir aos menores trabalharem de dia, esse objetivo não seria atendido”.
E por que não? Por que não poderiam os jovens aprender o seu ofício de dia? Quais são os vossos argumentos?
“Trabalhando os homens, ora de dia, ora de noite, em semanas alternadas, ficariam eles separados dos menores em metade do tempo de trabalho e perderiam metade do lucro que obtêm deles. O treino que dão aos jovens é considerado parte do salário dos menores e possibilita aos trabalhadores adultos obterem mais barato o trabalho do menor. Cada homem perderia metade do seu lucro”.
Em outras palavras, os senhores Sanderson teriam que pagar parte do trabalho dos adultos com dinheiro de seus próprios bolsos, e não com o trabalho noturno dos menores. O lucro dos senhores Sanderson cairia assim um pouco, e está é a boa razão que possuem pela qual os menores não posem aprender o ofício de dia. Demais, isso faria todo o trabalho noturno recair sobre os adultos, que atualmente se revezam com os menores, e eles não o suportariam. Em suma, as dificuldades seriam tão grandes que levariam provavelmente à supressão total do trabalho noturno. “Isso não faria a menor diferença”, diz E. F. Sanderson, “no que toca à produção do aço, mas...” Mas os senhores Sanderson têm mais o que fazer do que fabricar aço. A produção de aço é mero pretexto para a produção de mais valia. Os fornos de fundição, as oficinas de laminação, as construções, a maquinaria, o ferro, o carvão não se transformam, apenas, em aço. Além disso, absorvem trabalho excedente, absorvendo naturalmente mais em 24 horas do que em 12. Na realidade, dão aos Sandersons, por graça de Deus e da lei, um direito líquido sobre o tempo de trabalho de certo número de trabalhadores, durante as 24 horas do dia, e perdem seu caráter de capital, representando pura perda para os Sandersons, quando se interrompe sua função de absorver trabalho.
“Mas então existiria a perda resultante da ociosidade, durante metade do tempo, da maquinaria tão cara, e só poderíamos produzir o que produzimos com o sistema atual duplicando nossas instalações e equipamentos, o dobraria o nosso dispêndio.”
Por que exigem os Sanderson um privilégio em relação aos outros capitalistas que só têm autorização para o trabalho diurno e cujas construções, maquinaria e matérias-primas ficam ociosas de noite?
“É verdade”, responde E. F. Sanderson em nome de todos os Sanderson, “é verdade que essa perda oriunda da maquinaria ociosa atinge todas as indústrias que trabalham só de dia. Mas os usos dos fornos envolvem, em nosso caso, um perda adicional. Se forem mantidos acesos, com as máquinas paradas, haverá a perda inútil de combustível” (enquanto agora há a perda da força vital do trabalhador), “se deixamos eles se apagarem, haverá perda de tempo para acende-los e obter o grau necessário do calor” (enquanto privar do sono crianças de 8 anos é ganho de tempo de trabalho para o clã dos Sanderson), “e os fornos sofreriam com a variação de temperatura” (enquanto os mesmos fornos nada sofrem com o revezamento diurno e noturno de trabalho). ( Children’s Employment Commision. Fourth Report, 1865. 85, p. XVII.)
(Karl Marx, O Capital, Livro I, capítulo 8.4.)
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Os agentes econômicos respondem a estímulos na sua ação racional (i.e., ação capaz de formular estratégias e que não erra sistematicamente) e voltada ao seu interesse próprio (i.e., que busca a maximização de sua satisfação por meio do atendimento ótimo das suas necessidades).
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