sexta-feira, 24 de abril de 2009

LX - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 6 de 16.

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§ 60




2. Crítica ao cristianismo


2.1. Introdução


"Lida propriamente, a Bíblia é a força mais potente para o ateísmo jamais concebida." (Isaac Asimov)


Obviamente não serei eu quem vai matar e enterrar deus com meus simples argumentos. Afinal, não se pode matar um cadáver. Sim, deus já está morto, e seus algozes foram, apenas para citar alguns nomes, Kant, Sartre, Nietzsche, Dostoiévski, Freud, Sócrates (este último faleceu antes do advento do "salvador", porém seu pensamento é de importante valia para o agnosticismo).




2.2. A alma




Desde o princípio, a maneira mais eficaz de se detectar a morte era a falta de respiração - claramente visível no tronco humano. Desde o princípio, primitivos e crinças ficaram perplexos com a respiração: o encher e esvaziar de nosso interior com "nada" - os conhecimentos da massa e do volume dos gases são relativamente recentes, e, até hoje, por incrível que possa parecer, muita gente ignorante imagina que estamos rodeados por "nada".


É interessante notar que, até o século XVIII, todos os gases eram chamados de "espíritos", na verdade a palavra "espírito" foi empregada como sinônimo do atual "gás" (por que ninguém lhe ensinou isso na escola?). Apenas em 1772 Antoine Lavoisier comprovou que o oxigênio é responsável pela combustão e que, entre outras conclusões, não estamos rodeados por nada (que seria o vácuo atual), mas sim por gases (atmosfera).

Mas antes desta e de outras surpreendentes descobertas era perfeitamente lícito imaginar que "nada" havia ao nosso redor e que era este mesmo nada (invisível) que deixava de nos preencher à hora da morte. Logo, concluia-se: é o invisível que nos dá a vida. Essa noção se formou na mente dos primeiros homens e corresponde à crença no espírito, ou na alma - etmologicamente sinônimos (mas posteriormente foram diferenciados pelas estravagâncias do pensamento humano): espírito, em latim, é "que sopra" ou "vento" e alma, em hebraico, é "sopro" ou "hálito".

Aliando-se isso às fragilidades humanas (necessidades de segurança e proteção contra as adversidades da natureza impiedosa) e a sua completa ignorância de outrora acerca do mundo, da Terra e do Universo, armou-se o palco para o surgimentos das divindades espirituais. E como elas eram, primordialmente, invisíveis, foi possível dar a elas as características que bem se entendesse. (O onipresente vento era considerado manifestação de espíritos ancestrais, entre outros absurdos.)

Mas não é apenas isso, não. Será mera coincidência que as palavras "inspiração" e "aspiração" designem, simultaneamente, funções pisicológicas e fenômenos respiratórios? Os antigos acreditavam que todo conhecimento era transmitido pelo invisível que entrava na cabeça do indivíduo: a "inspiração divina".

Depois de formada a idéia, ela era comunicada aos demais pelas palavras: o invisível (gás) elaborado em som (ondas sonoras), capaz de trazer mensagens. O anjo é, segundo a definição dogmática, um puro espírito (puro ar) que traz uma mensagem de deus (palavra: onda sonora; "angelos" em grego quer dizer mensageiro). Assim, os anjos são representações pictóricas e animistas das palavras.

Desta maneira, um equívoco de nossos antepassados brutos e ignorantes, uma mentira dita mais de um trilhão de vezes ao longo da história humana, tornou-se uma verdade que, não obstante os avanços da ciência e da filosofia, é quase irrefutável, devido à pujança com que se agarra, pelo costume e pelo senso comum, às mentes, aos corações, e às fragilidades humanas. Essa mentira se tornou uma base da maioria, senão de todos, os credos existentes.



Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.

***

Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

6 comentários:

Silas disse...

É muito facil atribuir à equivocos a religião, mas eu sou levado a ver essa questão de outra perspectiva.

não é um equívoco linguistico o isos de inspiração e aspiração: é a linguagem incapaz de definir sentimentos profundos e que usa de analogias.

Eu me inpiro e sou perfeitamente capaz de dizer que vêm do meu inconsciente minhas inpirações, mas não há mal algum em dizer que elas v~em de espíritos oud e Deus.

A inspiração existe, sendo fruto do amor, so inconsciente ou de entidades metafísicas, e se a inspiração for matar o fato de que o indivíduo chama a inspiração de Deus não vai tornar a ação mais ou menos branda.

Religiões não são meros equívocos: são fruto da natureza humana. criar sentimentos negativos em relação a ela é como ter raiva de ex-namorada.

É o que acontece. A pessoa se apaixona por Deus e depois ele que, existindo ou não, demonstra não agir no mundo, a trai com sua indiferença.

isso causa aversão e idéias de negação à Deus, mas eu creio que afirmar ou negar a Deus é uma questão de sentimento. Quem supera o sentimento de Deus e alcança o amor próprio e por tudo simplesmente considera essa questão irrelevante, pois não tem sentimentos movendo á essa discussão.

Porque, olhando a coisa numa perspectiva lógica, não há sentido em falarmos se Deus existe ou não.
O motor aí é o sentimento. Não adianta buscar causa raiconal.

Duan Conrado Castro disse...

Silas
Já começou com tudo heim?

Concordo com tudo que vc disse (exceto a parte de que a vida não é vazia). Mas não se esqueça que esse texto simples (que escrevi quando tinha 15 anos - quando estava com raiva de Deus (o que eu já quase superei por completo)) obviamente não tem a pretensão de esgotar o tema, ou mesmo de analisá-lo da melhor perspectiva possível (seja qual for).

(P.S.: Putz, fui provocar um jungiano....agora estou ferrado)

Duan Conrado Castro disse...

Silas,

Então quer dizer que, após séculos de escolástica buscando fundir "fé e razão", a religião, graças a Jung e cia, pode finalmente admitir sem nenhuma vergonha aquilo que todos os céticos e ateus já sabem há muito tempo (e que Hume, por exemplo, já formalizava em seus maravilhosos textos): a religião está presa no domínio da irrazão.

Se tem gente que não vê problema nisso, eu, porém, vou repetir com Schopenhauer: "se queres submeter todas as coisas, submete-as à razão".

Com relação a esses textos de "crítica ao cristianismo e ao neopentecotalismo”, eles criticam a visão popular (e tosca) da religião, e não, obviamente, as sutilezas de raciocínio de um Jung (ou de um Hegel – os dois, aliás, eu faço questão de não perder meu tempo estudando). Sei porém que você, Silas, gosta de defender a visão do povão e gosta de tentar mostrar que a opinião deles têm valor: eis um ponto sobre o qual nossas opiniões estão para sempre irreconciliáveis (outro é a sua afirmação de que a vida não é vazia).

Já no que diz respeito a esse tal de "Deus" (de quem você se refere como a um velho conhecido) e suas supostas características, eu, infelizmente, não posso lhe dizer nada, pois, diferentemente de você, não conheço o rapaz.

"Não há mal nenhum em dizer que elas vêm de espíritos ou de Deus."

Bem essa é obviamente uma opinião SUA, com a qual eu, os céticos e os ateus obviamente não concordam. Sobre esse "não há mal nenhum" eu peço-lhe para ler o seguinte texto:

http://outsidercaos.blogspot.com/2008/03/1-eppur-si-muove.html


E você sabe muito bem que essa é uma discussão sem fim e que há muita gente que defende opiniões semelhantes à minha e que não adianta vir com argumentos semelhantes aos seus: eu os conheço, reconheço que eles possuem validade dentro de certos limites e certas circunstâncias e, mesmo assim, critico-os e não concordo que sejam suficientes para justificar uma recusa em se criticar a religião do ponto de vista racional.

Silas disse...

Eu sou do tipo que adora um bom debate.

Por mais que nunca cheguemos a um consenso, ja me agrada somente o fato de eu ver que sua opinião, apesar de divergente, também tem seu fundamento. A beleza do debate está no fato de que saímos do nosso mundo.

Ao observar sua opinião, como sendo diferente da minha, eu observo outro ser humano.

estou cansado daquela fase da vida em que só via a mim mesmo e às minhas verdades. É bem verdade que eu defendo o povão, e não vou te negar que o faço por causa de sentimentos. Não considero uma idéia inspirada por sentimentos falsa só por causa disso, pois os sentimentos são inerentes á natureza humana. Neguemos eles ou não.

Vamos ao tema...

Sim, a religião está presa a “irrazão” e Deus é um conceito totalmente irracional.

Mas acho que Schopenhauer se iludiu ao dizer que há como submeter todas as coisas se submetendo à razão. Pra mim, aliás, isso já foi muito sedutor, e mesmo lá pros 16 anos eu era tão viciado em Schopenhauer que cheguei a colocar a negação da vida em prática.
Lembro de ter lido naquele livro “pop” do yalom que uma vez Schopenhauer teve uma crise certa vez, em que pediu a mão de uma jovem em casamento compulsivamente, pedido que foi recusado.
Acho que em questão de seu próprio comportamento, Schopenhauer nunca submeteu a si mesmo, simplesmente porque queria viver uma vida incompleta negando os sentimentos.
Cadê o poder da razão na prática?
Tudo o que sentimos é tristeza e vazio, e dái usamos esse mesmo vazio pra justificar uma pretensa paz, que logo é interrompida por essa tristeza.

Em analogia, é como se uma mulher reclamasse com o marido porque ele bate nela e, em resposta a isso, ele batesse mais, porque ela só reclamou porque ele não bateu o bastante para ela se calar.

Essa filosofia não está no meu sangue, e logo isso caiu por terra. Como um poeta/pensador eu fui obrigado a buscar uma razão de vida que se adequasse completamente à minha natureza, e não uma visão parcial (para mim) como a de Schopenhauer, que só seduz metade de mim.

A visão popular, de fato, é bem desprezível no sentido neo-pentencostal, mas isso é porque os líderes assim o querem, e não porque o povo em si é estúpido.

Se algum dia eu já fui cristão é justamente por causa de amor, que naquela época eu chamava de Deus.

Eu hoje admito Deus como sendo parte da minha mente e o chamo de amor, e isso não o torna menos real.

A percepção sentimental me leva inevitavelmente ao amor.

Existe uma coisa chamada liberdade de opinião pessoal, e é nesse sentido que eu digo que não há mal em definir isso que chamo de amor como Deus, pois o efeito é o mesmo.

O problema aí é que alguns podem colocar Deus como sinônimo de violência(e a bíblia dá margem a isso).

É bem por isso que chamo Deus de amor. Porque se eu chamá-lo de Deus alguém entenderá que falo de uma criatura sanguinária que tortura sua criação.

Deus é um reflexo dos sentimentos do crédulo.

A religião violenta, creio e espero, está fadada a ser desconstruída pela ciência, mas a religião como manifestação do amor não é atingida pelos argumentos ateístas. A pessoa que sente o amor, quando ouve os argumentos, apenas pensa que o homem que comete violência não conhece a Deus, e que por isso faz o que faz. Além disso, pensa que o ateu só nega a Deus porque ele não pode sentí-lo. O ateu erra por não entrar em contato com o valor sentimental de Deus e chamá-lo automaticamente de ilusão, e o religioso erra por atribuir á Deus uma existência absoluta e universal, indo contra o senso crítico. Pra mim os dois erram.

Vi no seu blog uma boa oportunidade para oportunar alguém com comentários contraditórios, mas saiba que minha intenção, de forma algum, é incomodar, como eu disse no outro post.

obs: você poderia cadastrar meu e-mail na configuração do seu blog para eu ser notificado quando chegarem novos comentários?

silascou14@yahoo.com.br

Duan Conrado Castro disse...

Concordo que os sentimentos são inerentes à natureza humana. Eu não sou fã de Schopenhauer por motivos racionais (assim como alguém também não acredita em deus por motivos racionais).
Gostaria de saber mais sobre sua tentativa de colocar a negação da vida em prática. Se puder escrever sobre isso no seu blog eu agradaceria.
Sobre a minha opinião a respeito dos motivos pelos quais Schopenhauer não buscou uma vida mais, supostamete, coerente com sua filosofia, vc pode dar uma olhada naquele tópico "Schopenhauer teve filhos?" lá no orkut. Para mim Schopenhauer não buscou virar um santo pois não acreditava que isso lhe era possível. O psicanalista e biógrafo do filósofo (o autor de Vida de Schopenhauer) disse que esse argumento de Schopenhauer (que a santidade não pode ser alcaçada pelo esforço e pela vontade individual), e a explicação metafífica do Schopenhauer para se evitar o suicídio, são desculpas esfarrapadas. Já eu realmente acredito na sinceridade dele quanto a esses pontos (mesmo porque assim eu tenho uma justificativa para não me matar).
De alguma forma, Schopenhauer conseguia tirar alguma satisfação do seu próprio pessimismo. Comigo a coisa é parecida (há algum prazer em escarnecer o mundo que se despreza).
A filosofia schopenhauriana me seduz completamente, e muitas vezes, lendo Schopenhauer, eu sinto como se aquelas idéias fossem minhas, mas que eu não havia pensado nelas por falta de capacidade intelectual e de comunicação. Uma das coisas que me agrada no Schopenhauer é que ele é o único filósofo de renôme que não vai dizer que eu estou errado quando eu penso que a vida é uma bosta.
Sua visão sobre Deus/amor é coerente. Sobre esse amor, porém, não tenho nada a lhe dizer, pois não conheço ele (não tenho esse sentimento, nem aquela sensação de que a vida é boa, tão comum, pressuponho eu pela observação dos outro). E nesse sentido vc pode dizer que eu nego deus porque não o sinto (conheço). De forma inversa, eu me recordo de uma professora minha de sociologia que, sendo marxista, tentou ser atéia, mas que não consegui (provavelmente por associar a figura de deus a esse "amor", ou a alguma satisfação com a vida).
Lendo esse blog, vc terá a oportinidade de conhecer um pessimista que ainda não se redimiu (nem espera se redimir). Pouca gente pensa como eu; e dos pensam, poucos se dão ao trabalho de escrever seus pensamentos e publicá-los.

(cadastrei o seu e-mail, conforme o solicitado)

Silas disse...

Acabei falando tudo o que eu tinha que falar no outro tópico.

Da uma olhada lá.