sábado, 4 de abril de 2009

LVII - Uma breve crítica ao cristianismo e a sua mais atroz forma: o (neo)pentecostalismo - parte 5 de 16.


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§ 57







1.3. A educação e os fatores psicológicos




O terceiro tópico, que é mais subjetivo e difuso, ao qual me contentarei em denominar "educação e fatores psicológicos", ataca, principalmente, a maioria dos poucos intelectuais cristãos (e quando digo intelectuais refiro-me aos "verdadeiros", e não à maioria espúria e hipócrita), mas pode atacar, também, qualquer pessoas que, de certa forma, escolheu seguir a vida cristã mesmo tendo conhecimento dos muitos argumentos válidos que existem contra ela – trata-se, portanto, de um ato autêntico (conheceu-se os dois lados, não se fugiu de nenhum, escolheu-se aquele que se julgou o melhor).

Normalmente, tais fatores se desenvolvem na infância. É soberanamente difícil para alguém, por mais culto que se torne, negar o seu credo se, quando infante, viveu em família equilibrada e religiosa (com uma religiosidade igualmente equilibrada e sincera), teve vida pacata e bela, longe de conflitos familiares e sociais, longe de conhecer a miséria e o opróbrio – em suma, longe de qualquer coisa que poderia criar o mais leve vislumbre de negação da fé.

É ainda mais difícil se o infante, além de ter sido criado em um mundo de fantasia, tiver tido, em seus delírios infantis, alguma espécie de visão de anjos, santos, ou qualquer outra coisa análoga. As fantasias e mistificações repugnantes com as quais são educadas a maioria das crianças são, não tenho dúvida alguma, responsáveis pela manutenção de uma visão animista do mundo, mantendo-se assim muitas da crenças; do choque entre o mundo da infância e o mundo adulto morrem papai Noel, coelhinho da páscoa, bruxas e duendes (esses dois últimos, não para todo mundo), mas não morre deus.

A criança, principalmente por causa da educação mistificada que recebe, tem dificuldade de diferenciar o falso do verdadeiro – levando parte dessa dificuldade para a vida "adulta". Além disso, a criança pode ter tido uma série de pequenas experiências rotineiras (algumas, até, muito simples), as quais lhe são apresentadas como obra divina – o que calcifica em sua mente a religião de tal forma que razão alguma de lá a tira.

Muitas pessoas, ao conhecer argumentos que destroem sua fé, recusam-se a acreditar que a família a qual tanto amam tenha vivido, ou ainda viva, uma mentira. Negam-se a acreditar que desperdiçaram sua vida e seu tempo perante uma ilusão, a qual tanta alegria e sofrimentos lhes deu e diante da qual riram, choraram. amaram, imploraram, tremeram, etc.

1.4. Conclusão

Estes três tópicos nos ajudam a entender a permanência da fé na sociedade atual, não obstante os avanços do conhecimento humano. Eles ajudam-nos a compreender porque a maioria lastimosa dos seres humano insiste nas crenças mais tolas e repugnantes. Dessa forma, ajudam-nos a dissipar essa honesta ,porém totalmente falsa, convicção segundo a qual a "verdade" estaria com a maioria.



Atenção: Como eu já disse no § 46, esse texto foi escrito em 2002, quando eu tinha 16 anos. Muito do que está escrito aqui já não representa com exatidão a minha atual forma de pensar. Porém creio que o texto ainda pode ser útil para aqueles que atualmente vivem situações (de apostasia) semelhantes às que eu vivi à época em que escrevi isso.


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Tempore, quo cognitio simul advenit, amor e medio supersurrexit.

5 comentários:

Silas disse...

Acho que você pulou o essencial: a religião não é uma questão racional para comentarmos sobre ela do ponto de vista exclusivamente racional.

Acontece que o motor da religiosidade é o sentimento e as pessoas se negam a admitir idéias como o ateísmo pelo fato de que elas se sentiriam vazias e sem contato com o que há de mais profundo nelas mesmas (porque pensam que o profundo delas é Deus).

Não acho, honestamente, que se trate de uma questão exclusivamente cultural o fato de que as pessoas continuam a ser religiosas: é que o que se de ateísmo por aí (na internet) não passa de miséria.

É exatamente isso: pessoas que estão desiludidas e infelizes, sendo inteligentes ou não, e que vivem miseravelmente dizendo que a vida é vazia quando ela não é.

Nossa existência só é vazia só nos somos vazios ou se, por escolha, nos direcionamos ao vazio.

Eu costumo relacionar, creio que acertadamente, o a religião ao amor, graças à frase clássica do Deus é amor.

O amor real é interpessoal. Ou seja, na medida que o amor cresce em mim pelo objeto amado, o amor do objeto amado me corresponde: cresce na mesma proporção.
Fora disso o amor é uma ilusão.

E Deus, segundo dizem, ama as pessoas incondicionalmente, então por desejo de viver amorosamente, que é normal para seres humanos que querem ser felizes, eles buscam Deus para terem seu amor correspondido. Se sentem tão amados que quando você fala mal de Deus ou da religião ele se sentem ofendidos. Para eles qualquer banalidade é prova de amor.

É claro que não estou falando de todos, pois se sabe que há muitos neuróticos que usam a religião para justificar suas barbaridades.

Em suma, para mim a religião existe por causa desse amor, e continuará existindo por mais que se entenda que, em lógica, não há sentido nisso.

Os crentes dirão: você tem que sentir para entender, e os céticos dirão: o que você sente é uma ilusão.

Aí se inicia o ciclo infinito.
É uma questão bem elucidada pela tipologia psicológica junguiana.

Duan Conrado Castro disse...

Tudo que vc disse é razoável. Mas eu prefiro as perspectivas freudiana e schopenhauriana sobre a questão de deus. No mais, se vc ler mais esse blog, verá que eu sou alguém que se associa com a infelicidade e com a idéia de que a vida é vazia. O meu psicanalista, mesmo depois de 1,5 ano de terapia, não conseguiu me convencer que eu “escolhi” nascer. E certamente vc, Lacan ou Jung não vão me convencer, mesmo com todos os argumentos do mundo, que a vida não é vazia ou que eu escolhi ser infeliz. Por isso, amigo, vá desistindo disso.

Duan Conrado Castro disse...

Sua visão é cor-de-rosa demais. E não adiante me fazer propaganda do pensamento junguiano não...

“É uma questão bem elucidada pela tipologia psicológica junguiana.”

Sobre essa sua pretensão de ter “bem elucidado a questão” solicito que vc leia e comente (mas leia e tente entender realmente o que eu escrevi, não leia procurando “erros” do ponto de vista junguiano para depois vir me mostrar, isso eu nem vou ler mais, pois não sou masoquista):

http://outsidercaos.blogspot.com/2009/04/lviii-acerca-de-reflexoes-sobre.html

Silas disse...

É sempre subjetivo, Duan.

Eu posso te dizer, honestamente, que sou muito feliz e que a vida não é vazia pra mim.

Se é vazia para você eu não sei. se você acha que é, creio que você é a fonte mais confiável sobre si mesmo.

Mas não pense que o mundo é isso porque não é.

Minha visão pode até ser cor de rosa, e isso não me incomoda não.
Porque ser cor de rosa não faz dela uma visão falsa.

Vá no meu blog e leia “O andarilho”. É minha ultima postagem.

Não quero fazer propaganda do pensamento junguiano, assim como você não quer fazer propaganda do pensamento de Schopenhauer.

Mas eu cito Jung da mesma forma que você cita o Schopenhauer: porque concordo com ele e me vi no pensamento dele.

Eu elucidei essa questão para mim mesmo, e me sinto muito feliz com isso, mas não tenho a pretensão de ter elucidado universalmente. Acho que ninguém pode ter essa pretensão.

Aliás, muito do meu pensamento é mesmo de jung. Claro que há pontos em que não concordo, o que é natural, pois a psicologia dele vem da subjetividade dele não da minha, mas mesmo assim vejo equilíbrio e harmonia.

Ninguém vai te convencer de nada a não ser você mesmo. Nesse sentido eu acho que somos nós que buscamos.

Eu não apontei erros no seu raciocínio: só apresentei um outro diferente que parte de outras premissas e que se aplica na minha vida na prática.

Se você considerar meus comentários incômodos eu posso deixar de comentar sem problemas.
Adicionei o seu blog no meu.

Duan Conrado Castro disse...

Que assim seja.

Eu fui com a sua cara e vou fazer o esforço de pelo menos ler (com boa vontade) os seus eventuais comentários nesse blog.